Já comprou hoje o Público?

Não sei se a Avillez veio para ficar, mas espera-se que assim seja: o seu “artigo” na edição de hoje do Público é imperdível. O texto intitula-se O abismo, com Passos Coelho no olho do furacão (e está na secção de opinião e não no Inimigo Público). Nem sei se é o melhor pedaço de prosa, mas aqui fica o ponto 3:

‘3. Num pequeno-almoço ocorrido há dias em S. Bento, diante de um croissant e um sumo de laranja reedito, num mesmíssimo cenário, gestos antigos fazendo perguntas. Como com Soares, com Cavaco, com Guterres, com Sócrates, com ou sem croissants.

O primeiro-ministro, um homem de boas maneiras, tem o tique de explicar tudo como se cada pessoa fosse a única dos seus incertos dias, orquestrados pelo chefe de gabinete (é da boa colheita "Ribeiro de Meneses", chama-se Francisco e é diplomata).

E, então, Passos Coelho atendeu-me algumas dúvidas: a "Europa", a política que tarda em dar sinal de si na acção governativa, a falta de voz de Santos Pereira versus a voraz omnipresença de Gaspar, uma Justiça ainda silenciosa, a Madeira (onde lhe digo que o país lamentaria que ele fosse). Comendo com frugalidade e bebendo leite gelado, parece não ter pressa, embora tenha, não estar aflito ,embora esteja, não ter dúvidas, embora tenha.

Raras vezes observei político tão dono do seu próprio controlo: não se afastará um milímetro da rota, apesar de a saber duríssima e armadilhada. "As coisas são o que são", podia ter dito, mas não disse.

À tarde, o primeiro-ministro ia ao Parlamento enfrentar as oposições e o novo líder do PS. E à noite, ao regressar a sua casa nos arredores de Lisboa, talvez se permitisse - sozinho como gosta e costuma fazer - um ritual antigo, passeando o seu cão pelas ruas de Massamá.

O breve recreio entre a tempestade interna e o Inferno da realidade europeia.’