O artigo é constituído basicamente por duas partes distintas. Na primeira, Lains, numa aparente autocrítica, mostra como a aposta nos estarolas da São Caetano foi montada por “uma minoria silenciosa que se revelaria admiradora de Margareth Thatcher, Ronald Reagan, de George W. Bush e da guerra do Iraque – e que não têm um único herói na história da integração europeia.” Uma geração que, em contraciclo, se apropriou de ideias que outros, “lá fora”, deitaram fora no século passado.
E lembra os paradoxos dos nossos liberais:
- “Uma economia moderna não pode ser moldada pelo Estado, pois ela vai muito para além dele. É mais um paradoxo dessas ciências extremas que se dizem liberais, a favor do mercado, e depois usam o Estado para tentar enfiar a economia na sua "caixa negra" de eleição; e fazendo de conta que não se lembram de que o Estado é, fundamentalmente, uma gigantesca máquina de redistribuição de rendimento. Como os mais atentos observadores, incluindo gente do "outro" PSD, estão recorrentemente a lembrar.
Os Estados e as economias precisam de reformas como de pão para a boca, literalmente. Não há economias modernas sem reformas. Em todo o lado, dos Estados Unidos à Suécia, de Portugal ao Reino Unido. Está sempre tudo a mudar e se as instituições não mudam, incluindo as públicas, não há mudança. Mas as economias modernas não precisam de revoluções: fogem delas. É por isso que as revoluções acontecem, regra geral, nos países menos desenvolvidos, e são tentadas, apenas, nos mais enfraquecidos (pobre Portugal!).”
- “Então, o que deve ser feito? Duas coisas. Em primeiro lugar, tudo aquilo que não puser em perigo a recuperação futura da economia. Em segundo lugar, tudo aquilo que for prudente. Melhor dizendo, tudo o que não seja asfixiar a economia para que ela vá encontrar um novo equilíbrio financeiro num nível de rendimento em 20 ou 30% inferior ao da partida.”
- “Para terminar, duas contradições e um aproveitamento. A primeira contradição é que esse modelo deflacionista não impede que a economia volte a ser dependente de financiamento externo, na fase da recuperação. Pode, aliás, agravar essa dependência se o ajustamento estrutural for abrandado por causa dos rendimentos mais baixos. A segunda é que, quando o país voltar aos mercados (não sorrir), voltará a taxas semelhantes ou mesmo superiores às dos actuais programas de ajuda.
O aproveitamento é verdadeiramente perverso. Depois de uma quebra do produto de 20%, será fácil ter "recuperações" anuais do PIB de 2 ou 3% – e com isso ganhar novamente eleições, perante um eleitorado cansado e de memórias curtas.
Afinal, não se trata de uma geração inexperiente. Mas talvez o país, entretanto, desperte.”
1 comentário :
Entre tanto, seguramente despertará!
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