sexta-feira, novembro 25, 2011

Mais murros no estômago?

• Pedro Silva Pereira, Mais murros no estômago?:
    ‘O primeiro-ministro, tudo indica, continua a não ver em tudo isto mais do que sucessivos "murros no estômago". Do que se trata, porém, é de golpes que atingem, isso sim, o tronco da narrativa da crise que o actual Primeiro-Ministro perfilhou. À luz dessa narrativa distorcida, simplista e panfletária, a descida do ‘rating' de Portugal parecerá ao primeiro-ministro destituída de lógica: afinal, é ele e não Sócrates quem está a frente do Governo; nas Finanças está um liberal importado do BCE; as políticas de austeridade vão além do que a própria "troika" sugeriu e até o empobrecimento foi perfilhado como desígnio governativo. Mas onde verdadeiramente não há lógica é na "grelha de leitura" da crise que o primeiro-ministro teima em manter, para não pôr em causa a narrativa que lhe serviu para ganhar votos em Portugal - e que, aliás, é semelhante à que a chanceler Merkel mantém para tentar não perder votos na Alemanha.

    E aí o temos: em Portugal, insistindo numa austeridade que ultrapassa em brutalidade e injustiça as exigências de qualquer "troika"; na Europa, recusando, mesmo contra o Presidente da República e a Comissão Europeia, uma resposta efectiva e solidária da zona euro à crise das dívidas soberanas, preferindo fazer coro com a Chanceler Merkel na defesa da prioridade à disciplina orçamental dos países do Sul.

    Mas esta semana, quando a Alemanha falhou, pela primeira vez, uma emissão de dívida pública nos mercados financeiros, não consta que a chanceler Merkel se tenha queixado de ter sofrido um "murro no estômago". É mais provável que tenha finalmente compreendido que a realidade lhe estava a dizer alguma coisa. Se assim for, o primeiro-ministro que tome cuidado: em breve pode não ter com quem fazer coro. E ficará a falar sozinho.’

1 comentário :

Rosa disse...

Eu creio que perante o caos económico e financeiro que se nos apresenta, já ninguém tem "receitas" para nada...e Passos Coelho muito menos...direi, até, que ele deixará de ser ouvido por quem quer que seja, pois falará mais alto a aflição e a necessidade premente das pessoas.
Tem que haver bom senso e sensibilidade se não tudo será mais complicado...