quinta-feira, agosto 30, 2012

Ainda sobre A História de Portugal de Rui Ramos em fascículos (brinde de Verão do Expresso)

Reproduzi dois artigos de Manuel Loff no Público sobre A História de Portugal de Rui Ramos (aqui e aqui). A direita blogosférica, iluminada por esse vulto da cultura doméstica que dá pelo nome de Zé Manel, ficou à beira de uma apoplexia. O próprio Rui Ramos, que se tem distinguido sobretudo como dinamizador e divulgador das teses do “Compromisso Portugal”, viu o Público abrir-lhe as suas páginas para “defesa da honra”.

Tanto quanto me apercebi, Loff não chamou a Ramos “fascista” — mas tão-só que o promotor do “Compromisso Portugal” procurou adocicar o regime de Salazar, nomeadamente comparando-o com o mundo das trevas que era, em seu entender, a I República (como é comentado aqui).

Estranhamente, a defesa da honra por parte de Ramos não assenta na reprodução de passagens do brinde do Expresso, mas na transcrição de extractos de artigos avulsos publicados por si na imprensa.

Tendo a defesa da honra por parte de Ramos sido tão difundida na blogosfera, justifica-se voltar a dar a palavra a Manuel Loff, transcrevendo um extracto da sua resposta a Rui Ramos nas páginas do Público:
    ‘Sabendo bem como é inútil e desinteressante tornar estas discussões num o-que-eu-disse-mas-não-disse, é-me imprescindível insistir em que não escrevi que RR teria defendido "que a ditadura de Salazar não era uma ditadura, mas um regime democrático e pluralista", como ele me atribui. O que disse, e reitero, e documentei devidamente, é que procurou desmontar a natureza ditatorial do Estado Novo, relativizando algumas das suas caraterísticas essenciais enquanto tal: (i) tomando a sua retórica propagandística como realidade; (ii) comparando-o com o liberalismo inglês do séc. XIX (p. 640) e com "uma espécie de uma monarquia constitucional" (p. 632), metáfora que, ao contrário do que RR escreveu há dias atrás, não tem curso legal entre "historiadores e juristas de diversos quadrantes ideológicos"; (iii) pressupondo haver uma "persistência do pluralismo" relativamente ao sistema liberal (p. 650); (iv) travestindo partido único, sindicatos nacionais, grémios corporativos, casas do povo, de "associações" "cívicas", de "representação da população ativa", "de socorro e previdência", "desportivas e culturais" (pp. 627 e 644).

    Dois casos terão irritado mais diretamente RR: a sua avaliação da repressão salazarista e aquilo que eu entendo ser uma visão intelectualmente cínica de um salazarismo que, afinal, "não destoava num mundo em que a democracia, o Estado de Direito e a rotação regular de partidos no poder estavam longe de ser a norma na vida política" (p. 669). As duas questões convergem para uma mesma visão, para a qual ele pretende conduzir o leitor: o salazarismo foi um regime claramente menos repressivo que a I República e o período revolucionário de 1974-75 (cf. pp. 652 e 732), e menos até que "regimes democráticos contemporâneos na Europa [que] apresentaram contabilidades repressivas análogas ou piores" (p. 652). Se aceitássemos como legítimas semelhantes leituras manipuladas da História, muitos achariam que o salazarismo, como aqui escrevi, poderia voltar a ser um regime para o nosso tempo.

    Em contraste radical com a avaliação que faz do salazarismo, RR tem proposto um retrato especialmente retorcido do republicanismo e da I República portuguesa. É daquelas coisas que não há ninguém na historiografia portuguesa que não saiba. Sendo relativamente consensual discutir a democraticidade efetiva do sistema político republicano, sobretudo pela ausência de sufrágio universal, RR tem proposto comparações e interpretações que se qualificam a si próprias. Ele foi, por exemplo, capaz de encontrar semelhanças entre o republicanismo português e... o nazismo e a preparação do Holocausto. Não só ambos estiveram "umbilicalmente ligados a organizações esotéricas, de que retiraram símbolos e parte da retórica", como, sobretudo, "o ódio [republicano] aos jesuítas constituiu uma espécie de anti-semitismo da República. Aliás, algumas das medidas que Miguel Bombarda sugeriu contra os padres jesuítas (expulsão para uma ilha deserta, etc.) são semelhantes ao que os nazis alemães, alguns anos depois, pensaram fazer aos judeus, antes de se decidirem a exterminá-los" (A Segunda Fundação, 1890-1926, 1994, pp. 413 e 411). Para ele, "a República de 1910 (...) era um Estado confessional e de partido único" - exatamente aquilo que nega sobre o salazarismo, contrariando a maioria da historiografia -, tomado pela "ideia do "despotismo da liberdade"" que Ramos acha ser caraterística da "esquerda [que] dispôs sempre dos meios teóricos necessários para chamar "democracia" à imposição de uma vontade minoritária". "Depois de 1926, a restauração das "liberdades públicas" fez parte das reivindicações do reviralho" oposicionista de 1926-31, "mas essa piedosa e modesta reivindicação foi sempre a canção do bandido [!!] de quem estava na oposição." [Análise Social, vol. XXXIV (153), 2000, pp. 1062, 1064]. Uns equivalem-se aos outros, está visto...’

3 comentários :

Anónimo disse...

Conclusão:Se RRamos não é capaz de aguentar um simples contraditorio é porque a sua historia não é sólida. De notar a virulência das criticas perante uma saudavel e academica diferença de opinião. Os coros das virgens não pararam de soar, são delicias para os ouvidos de um republicano.

Teófilo M. disse...

Rui Ramos falhou!
Por muitos elogios que lhe possam ser tecidos sobre outras partes da história que escreveu a mancha indelével ficou.
Afirmar que o Salazarismo foi menos repressivo que a primeira República ou o período revolucionário de 75-75, é desonesto, faça-se a análise que lhe façamos.
A mesquinhez dos pequenos ódios não se sobrepõe à realidade, e os números estão por aí para quem os quiser ler, e RR sabe onde eles estão.
Bastará contar o nº de famílias afetadas pelas malfeitorias, erros, omissões e demais trapalhadas do Estado Novo, para a comparação se tornar incomparável.
Rui Ramos tem a seu favor ter sido um miúdo com 13 anos quando aconteceu o 25 de Abril, não sabe o que foi o Salazarismo, não o viveu, não o sentiu na pele, talvez lhe falte ainda o peso da idade para tentar entender aquilo de que já raramente se houve falar tal é o branqueamento que nos últimos anos se tem feito do defunto regime ditatorial.

Anónimo disse...

O Rui Ramos viu que lhe dão trela e vai daí... diz as vacalhices até se tornar famoso

Por falar deste "jumento" quem é o sr. RRamos