Polícia bom e polícia mau

Durante cerca de um mês e meio, Passos Coelho e Vítor Gaspar atraíram sobre si o ódio dos portugueses, em consequência das anunciadas alterações à TSU, que se traduziriam numa transferência nunca antes vista dos rendimentos do trabalho para o patronato, e do “enorme aumento de impostos” a que o Orçamento do Estado para 2013 dá forma. Paulo Portas tirou partido da inabilidade do PSD para se pôr ao fresco e foi dando gás a alguns dos seus funcionários para fazer crer que havia uma clivagem irremediável.

Estava criado o contexto para que Portas se apresentasse como um político com sentido de Estado e o CDS-PP pudesse, no meio do desvario da maioria de direita, exibir e transmitir sinais de ponderação e bom senso.

No entanto, subitamente, estalou o verniz com que Portas cobria o seu partido unipessoal e veio ao de cima a sua natureza. De facto, a realidade é muito teimosa e estraga tudo. Ficámos a saber que o ministro da Solidariedade e Segurança Social, uma figura proeminente do CDS-PP, tinha em carteira um conjunto de medidas muito peculiares para resolver os problemas nas áreas que tutela: reduzir em 10% o subsídio de desemprego aos 150 mil portugueses que recebem os valores mais baixos, para além de cortes no complemento social para idosos e no rendimento social de inserção.

Mais do que as ignóbeis medidas anunciadas por Mota Soares (que foi o primeiro governante a dar a cara pelas alterações à TSU), a circunstância de as justificar como uma forma de obrigar os desempregados e os espoliados a saírem da zona de conforto revela como esta gente encara com hostilidade — e não com insensibilidade — a existência de deserdados (que a sua política provoca e estimula). O facto de o Plano de Emergência Nacional não ter passado do papel, como em devido tempo aqui se referiu, só confirma esta evidência.

Que distingue, então, o polícia bom do polícia mau?