terça-feira, fevereiro 19, 2013

Da série “A Fenomenologia do Ser”: Ignorância ou má-fé? [27]

    O chefe do Governo defendeu que "o nosso Estado social não é suficientemente eficaz", exemplificando com o facto de a taxa de pobreza: “antes das transferências sociais, a taxa é inferior à média europeia, mas após as transferências sociais a taxa cai menos do que noutros países, de tal forma que se torna superior à média europeia". […] E deu um exemplo para demonstrar que o Estado social não funciona como deveria. “A taxa de pobreza é inferior à média europeia”, antes de se considerar as prestações sociais. “Mas depois das transferências sociais, a taxa cai menos do que noutros países, de tal forma que se torna superior à média europeia. O que devemos concluir? O nosso Estado social não é suficientemente eficaz. Não faz o que deveria fazer.

Haja alguém com um mínimo de paciência ou com uma réstia de compaixão que explique a este pobre ignorante, e vagamente estúpido, que não só não tem razão como nem sequer sabe ler os dados disponíveis.

A mim falta-me a paciência porque a estupidez é apenas a hipótese benigna.

O que aqui está em causa, como já esteve no caso do panfleto encomendado ao fmi, é a apresentação maliciosa dos dados e a deturpação premeditada de factos para efeitos políticos.

Gente de carácter defende os seus valores e as suas convicções, sejam elas o estado mínimo, a privatização da segurança social, o que seja, com coragem, com frontalidade, com argumentos sérios, com hombridade e não com recurso a deturpações grosseiras dos factos e dos dados. Infelizmente, o que temos, hoje, na governação do País é gente destituída de carácter e sem hombridade.

Aqui ficam os dados para que cada um julgue por si próprio:
    “A taxa de risco de pobreza em Portugal antes de efectuadas as transferências sociais para as famílias era de 25,4%, no ano de 2010. Após essas transferências monetárias, a taxa de risco de pobreza situou-se em 18,0%. Isto significa que as transferências de rendimento do Estado para as famílias diminuíram em 7,4 pontos percentuais e 29,1% o valor deste indicador. A taxa de risco de pobreza antes e após as transferências sociais era mais elevada em Portugal face ao registado em termos médios nos países da UE-27. Por outro lado, o impacto das transferências sociais na mitigação da amplitude desse indicador foi menor em Portugal face ao verificado em termos médios no conjunto de países da União.

    […]

    A taxa de risco de pobreza antes e após as transferências sociais em Portugal tem vindo a diminuir desde 2001, embora de forma não linear. Se em 2001 a taxa de risco de pobreza em Portugal após efectuadas as transferências sociais era de cerca de 20%, em 2010 esse valor é 2 pontos percentuais inferior. Comparando os valores de Portugal e da UE-27, verifica-se que enquanto em 2004 a taxa de risco de pobreza após efectuadas as transferências sociais em Portugal era três pontos percentuais superior ao resultado médio nos países da União, no ano de 2010 essa diferença diminui para 1,1 pontos percentuais.”

10 comentários :

Anónimo disse...

Os dados dão total razão a PPC como se pode ver no quadro reproduzido

Anónimo disse...

A questão é que enquanto em portugal cai 7,4 na UE cai 9,2

Prof. Xavier disse...


O que o Pedro Coelho quer dizer é que o Estado não faz bem as transferências sociais, ou seja, deveria fazê-las melhor.

O que as pessoas comuns ouvem (as que lêem o Correio da Manha e vêem as televisões mercantis), porém, é que assim, mais vale não haver transferências, ou seja Estado Social!

Portanto, "o problema" não é nenhum, ou melhor, não é um nem são dois, são três:

1º - o Estado português é menos eficaz neste aspecto do que a média europeia (poderá dizer-se que não é só neste aspecto, mas sim será talvez em todos...);

2º - O ainda 1º-"Menistro" até está consciente disto, mas não faz A MAIS PEQUENA IDEIA do que deve ser feito para melhorar essa eficácia (ler números qualquer um com a antiga 4ª Classe sabe!) - problema mais grave;

3º - O ainda 1º-"Menistro" não faz a mais pequena ideia do que está a fazer no cargo, mas vai aproveitando o tempo e a atenção merdiática para... ajudar a desinformar e a confundir a cabeça da brutalhada ignara!

Obrigado, ó Pedro. És um palhaço, impagável...

Cangalheiro disse...



IGNORÂNCIA E MÁ-FÉ!!

O puto que ainda se diz 1º-menistro de Portugal olha para o seu Estado, que "guverna" (?) há quase dois anos, como um taxista olha para o seu novo Mitsubishi, pensando que, se ele afinal não tem a potência de um Ferrari, o melhor é abrir-lhe o motor e chamar um bate-chapa para desmontá-lo e logo se vê.


E se "bem" o "pensou", "melhor" o fará (e o vai comunicando...)!


E deu este Povo nozes a quem nem maxilares tem...

Rui MCB disse...

Dois países iguais em termos de taxa de pobreza e nível de rendimento onde num o valor global das transferências é o dobro do outro conduzindo a que após as transferências esse país mais "generoso" tenha uma taxa de pobreza muito inferior é mais eficaz no combate à pobreza?

A "eficácia" de que fala o PM pode justificar-se por um maior ou menor afinco redistributivo e pode não ter nada a ver com a eficácia de cada euro empregue. Pelo menos com estes número não se pode aferir a eficácia. Só por ignorância ou má fé se retiram tais conclusões.

É tão legítimo afirmar que a diferença se deve à eficácia como se deve a transferências diminutas em Portugal face ao que se passa em média na Europa.

Se por ventura estes mesmos dados relativos a 2011 e 2012 apresentarem uma ainda menor capacidade das transferências em reduzir a taxa de pobreza (como se espera) isso quererá dizer que se perdeu eficácia ou que se reduziram dramaticamente as transferências, ou ambas?

André disse...

@ Anónimo: ter Fev 19, 12:47:00 PM: Achar que se pode medir eficácia ou tirar esse tipo de conclusões a partir de um quadro deste género é próprio de gente estúpida e desonesta que ou faltou às aulas do curso de economia ou tirou um curso colado com cuspo na Universidade do PSD vulgo Lusíada. Fico com a impressão que você deve ter sido colega de carteira do camelo que temos como primeiro ministro. E pelos vistos foi pior aluno do que ele!

Anónimo disse...

Não percebo como mas V. publicaram um quadro que dá razão ao PM!

Anónimo disse...

O quadro não dá razão ao PM, o quadro diz é que as transferencias sociais , apesar de diminuirem a pobreza AINDA NÃO SÃO SUFICIENTES para nos aproximar da média europeia. Qualquer cabeça que esteja habituada a pensar duas vezes percebe é que não se está a gastar o suficiente para diminuir a pobreza ao nivel do que faz a média europeia.
Ou seja, a interpretação correcta é aumentar as prestações e não diminui-las como quer fazer o putativo PM com a sua dita politica de "refundação".Mas para chegar a esta conclusão é preciso usar a cabeça, coisa que o PM e dois anónimos que aqui escreveram não estão habituados a fazer.
E muitas outras conclusões contrárias á doutrina deste burro PM se podem tirar observando os dados com fina atenção, mas enfim, pérolas a porcos...
Refundação um cú!

Jorge Candeias disse...

Desconfio que há quem só lá vá com um desenho. Portanto cá vai, o desenho.

Imaginem um país imaginário (ah pois) chamado Coelhistão. O Coelhistão tem 100 habitantes, nem mais, nem menos. Dos 100, 25 correm risco de pobreza antes das transferências sociais. Agora imaginem que, pelas transferências sociais, cada lingote de prata permite tirar 5 desses habitantes da pobreza e o governo coelhistanês gasta um. Quantos ficam em risco de pobreza após transferências sociais? Muito bem: 20.

Agora imaginem que o Coelhistão tem como vizinho outro país imaginário, o Lebristão. É quase igualzinho: tem 100 habitantes, 25 correm risco de pobreza antes das transferências sociais, e estas arrancam 5 a esse risco por cada lingote de prata gasto. O governo do Lebristão, no entanto, tem mais olho que o do Coelhistão e gasta dois lingotes em vez de um. Quantos habitantes ficam em risco de pobreza depois de transferências sociais? Isso mesmo: 15.

Conclusão estúpida: as transferências do Lebristão são mais eficientes do que as do Coelhistão. Estúpida e errada, porque a diferença está no dinheiro gasto, não na eficiência.

Outro desenho para perceberem ainda melhor. Imaginem que o Lebristão é tal como descrito acima, mas no Coelhistão um lingote de prata tira 6 habitantes da pobreza em vez de 5. Imaginem que o Coelhistão gasta um lingote e o Lebristão gasta dois, como acima. Quantos ficam em risco de pobreza? Pois. 19 no Coelhistão, 15 no Lebristão.

Conclusão MUITO estúpida: as transfertências no Lebristão são mais eficientes do que as do Coelhistão. MUITO estúpida e MUITO errada: na verdade, as transferências no Coelhistão são mais eficientes (retiram 6 habitantes da pobreza contra 5 pelo mesmo preço), mas de novo a quantidade gasta é menor, logo a quantidade de gente resgatada também é menor.

E agora ia dizer que achava que assim qualquer idiota perceberia isto, mas estaria a ser demasiado otimista. O Passos, por exemplo, nem assim chegava lá.

Desmonta-falácias disse...



Muito bem aos comentadores (mesmo aos dois burros, que se calhar não têm culpa de o ser - ao menos aqui têm quem perca tempo a tentar elucidá-los)!

Fica claro que o Passos Coelho é um imbecil, um perfeito anormal que brada aos céus de tanta estupidez e IGNORÂNCIA, mas falta ainda clarificar e evidenciar a parte da MÁ-FÉ: o propósito do Pedro (olá, tudo bem?) não é apenas "provar" que o nosso Estado é regra geral menos eficiente do que a média comunitária (grande novidade...), mas acima de tudo encontrar argumentos que legitimem a sua destruição!!!


Podemos e devemos, então, perguntar-lhe duas coisas:

1ª) Que garantia ele nos dá de que, após a "reparação" que ele propõe (?), o nosso Estado passe a ser (um pouquinho que seja) mais eficaz do que atualmente?

2ª) Que espécie de "mexidas" pretende ele operar e que tipo de destruição irão elas causar???


É que não basta dizer que as "botas" que temos não prestam! Se as deitarmos fora antes de termos outras, arriscamo-nos depois a andar com os pés descalços nas poças de água!!