domingo, julho 07, 2013

Sobre o GIP(R)¹

1. Passos Coelho experimentou ser primeiro-ministro por uns dias e não se deu bem com a coisa. Depois de Gaspar lhe ter devolvido a chefia do Governo, transferiu-a por isso para Paulo Portas, o afamado Paulinho das feiras, presidente de um partido que valeu nas últimas eleições cerca de 12% dos votos.

2. Não é a primeira vez que é criado o cargo de vice-primeiro-ministro nos 39 anos de democracia. Antes, porém, o cargo tinha uma natureza simbólica, uma espécie de ministro de Estado reforçado. Aconteceu com Freitas do Amaral nos governos de Sá Carneiro (em que era também ministro dos Negócios Estrangeiros) e de Balsemão, com Mota Pinto (e depois Machete) no governo do bloco central e com Eurico de Melo num dos governos de Cavaco (em que chegou a abraçar a pasta da Defesa).

No caso da recauchutagem em curso do Governo, é diferente. Portas assume a coordenação política da reforma do Estado, do relacionamento com a troika e dos assuntos económicos.

3. Assim sendo, para além de o CDS-PP manter a pasta da Agricultura e da Segurança Social (a que parece que se soma a do Trabalho), Paulo Portas passa a dirigir as pastas da Economia, da reforma do Estado (até aqui entregue a uma secretaria de Estado de Vítor Gaspar) e de tudo o que tenha a ver com a troika — das “reformas estruturais” (na Saúde, na Educação, na Segurança Social, no Emprego, na Justiça, na Defesa Nacional, etc.) ao “ajustamento” do défice e da dívida.

4. Neste contexto, a nomeação da Miss Swaps como ministra de Estado e das Finanças é um logro. Maria Luís Albuquerque tomou posse como ministra e vai exercer funções de subsecretária de Estado de… Portas.

5. Portas, que foi relegado por Gaspar para os países com moscas, poderá agora fazer a sua estreia na Europa. Quem representará Portugal nas reuniões do Ecofin e do Eurogrupo?

6. Por exclusão de partes, Passos Coelho irá coordenar as funções de soberania, a Educação, a Saúde, a Cultura, o Ambiente e os Transportes (se este sector não ficar na Economia). Resta saber o que acontecerá à gestão dos fundos comunitários.

7. Aqui chegados, que acontecerá ao ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares e ao ministro Adjunto do Primeiro-Ministro (a quem cabe a coordenação política do Governo)? Reportarão a Passos Coelho ou a Portas? E quem brifa Pedro Lomba para os aguardados briefings? O Paulinho das feiras?

8. Resta saber o futuro do Moedinhas, conhecido no seio do Conselho de Ministros como o “grilo falante da troika”, e dos boys que povoam a ESAME, que poderão ter a concorrência da malta do Caldas ainda não colocada.

9. Este governo é uma matrioshka: abarca no seu seio outro governo. Haverá um conselho de ministros autónomo para os assuntos económicos?

10. Passada a fase do fanatismo ideológico, a coligação de direita quer entrar na fase do pragmatismo: ir tão longe quanto a corda esticada o permitir, mas sem a deixar partir.

11. Para isso, a quota dos “independentes” é reduzida e o Governo vai recrutar nos aparelhos da São Caetano e do Caldas (por mais que alguns pareçam vir da sociedade civil).

12. Num certo sentido, o anúncio da morte do passismo não é manifestamente exagerado: há um reforço de cavaquistas e barrosistas na fragilizada quota do PSD.

13. Nesta partilha de poder à mesa do Orçamento, o desemprego, o empobrecimento e a degradação das condições de vida em geral são olhados como danos colaterais.

14. Juntar num mesmo cocktail a amoralidade de Paulo Portas à falta de auto-estima de Passos Coelho é uma mistura explosiva.

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¹ Governo de iniciativa presidencial (reconstruído).

5 comentários :

Anónimo disse...

É tudo DISSIMULAÇÃO e FINGIMENTO.

Anónimo disse...

A pasta dos fundos comunitários vai para o bolso de quem desde o inicio sempre a cobiçou : o cervejeiro e amigos.
Pensavam que tinha sido um lambuzar no pote com Socrates? Meus amigos, ainda não viram nada...

Anónimo disse...

Há facções que não hesitam em transformar uma missa numa manifestação partidária.

E se Igreja consente sem reagir, será a única a perder...

Anónimo disse...

A igreja prestou-se ao serviço porque é assim que têm de ser. É assim que sempre foi neste país : igreja e direita de mãos dadas. Ambos gostam e ambos estão felizes desde ontem, pois tudo voltou a ser como sempre foi, os 40 anos de interregno de revolucionárias ideias modernistas ficaram para trás. Agora sim, temos pátria, igreja e familia de novo! Tudo está bem e como manda a lei de deus!

Eisenstein disse...



O Portas vai "mandar" mas é na pilinha dele.

Foi ensaboado com mais algumas palhinhas das grossas mergulhadas no melaço mauis fundo, mas "mandar", tá quieto!

Para isso está lá a Dona Suápia, ao serviço da Tríade.


O Portas esgotou a sua manilha seca, agora vai fazer uma vazas de palha e depois começa a ver o chão a fugir-lhe...

É ele e o Seguro. Estão amarrados para todo o sempre à sorte do carcereiro Passos e do carrasco Cavaco. O problema vai começar quando os figurantes todos tomarem conta do "plateau" e derem um chuto na "equipa técnica" e nos "artistas" todos!

Temos Filme, para a "rentrée". E que Filme.