quarta-feira, janeiro 08, 2014

Não voltemos ao início


• Pedro Nuno Santos, Não voltemos ao início:
    ‘São cada vez mais os que no campo da social-democracia acham que "esquerda" e "Europa" são incompatíveis; uns recusam-se a deixar de ser de esquerda e outros recusam-se a abdicar do projecto europeu. A ideia de uma Europa unida é um elemento essencial da identidade política da social-democracia europeia e dificilmente será abandonada. O período que se seguiu ao final da Segunda Guerra Mundial não foi só de edificação dos Estados sociais, foi também de construção europeia. Se os Estados sociais foram construídos por toda a Europa em parceria com a democracia-cristã europeia, com o projecto de construção europeia não foi diferente. A diferença é que os primeiros foram construídos durante os 30 anos a seguir a 1945 - período em que o keynesianismo era hegemónico - enquanto em relação à "Europa", apesar de os primeiros passos terem sido dados logo a seguir ao fim da guerra e de o Tratado de Roma ter sido assinado em 1957, a sua constituição económica começa a ser delineada com o Acto Único Europeu, assinado em 1986, e é consolidada pelo Tratado de Maastricht, assinado em 1992 - período em que o neoliberalismo e o monetarismo já eram hegemónicos. Os erros da social-democracia europeia foram a incapacidade de se reinventar após o fracasso da resposta keynesiana ao choque do lado da oferta sofrido na década de 70 e ter cedido em aspectos fundamentais à direita europeia em nome do horizonte de uma Europa unida. Temos, portanto, uma União Europeia com um forte enviesamento liberal, que põe em causa as próprias realizações dos primeiros 30 anos a seguir ao fim da guerra. A esquerda social-democrata cometeu erros graves nas cedências que foi fazendo, mas a solução não é voltar ao ponto de partida abdicando do euro e da própria União Europeia. O caminho é o da resistência à destruição dos Estados sociais, é o de afirmação enérgica e combativa de uma alternativa à União Europeia e o da rejeição absoluta e determinada de mais austeridade no plano nacional.’

1 comentário :

Rosa disse...



Certíssimo, Pedro Nuno Santos!