sexta-feira, outubro 30, 2015

Marcelo entre Cavaco e os patrocínios

José Pacheco Pereira, na revista Sábado:
    «(…) 7. Como ele próprio [Marcelo] já o disse, Cavaco deixou-lhe a pior das heranças, ao determinar que a questão central das eleições será se demite ou não um governo PS-BE-PCP, e se dissolve o parlamento para haver novas eleições, mesmo havendo uma maioria de governo, ou não. Este dilema vai ser o centro da campanha que vai ter que fazer, longe da que desejava fazer. Ao proceder como procedeu. Cavaco Silva mobilizou toda a direita para a exigência de que o primeiro acto do novo Presidente seja fazer eleições, e os seus eleitores do ex-PAF não lho vão pedir, vão exigi-lo.

    O clamor será tal que Marcelo, que em condições normais não o faria sem haver uma grave crise de natureza institucional, pode ter que o fazer, mobilizando com esse acto toda uma frente de esquerda que se sentirá não só vitimizada, mas em risco de ser excluída do sistema político. Não vai ser bonito de ver, com responsabilidade directa de Cavaco que envenenou toda a campanha de Marcelo e condicionou os passos iniciais da sua presidência caso ganhe.

    8. No entanto, embora ninguém ligue a isso, a candidatura de Marcelo tem aquilo que chamei uma "mancha ética" que não vai ser fácil de apagar tanto mais que a ela se deve muito do seu putativo sucesso. Que diríamos nós, que diria Marcelo, de alguém que usasse abusivamente dos recursos da sua profissão não só para se colocar numa vantagem em relação aos seus pares, como para deliberadamente os prejudicar numa qualquer competição?

    O problema não é o facto de Marcelo ter um espaço televisivo ímpar, que conquistou com o seu mérito de comunicador. O problema é que pelo menos nos últimos dois anos, em bom rigor quase sempre, o ter usado até ao limite para promover a sua candidatura e para argumentar contra a daqueles que poderiam ser seus adversários eleitorais. Usou o seu comentário contra Durão Barroso, Santana Lopes e Rui Rio, quando pensava que estes podiam ser seus adversários eleitorais, colocando-se sempre como observador desinteressado. Ninguém acreditava nisso, mas a cumplicidade que este tipo de silêncios gera não é sadia na vida pública portuguesa.

    9. E não adianta comparar Marcelo com qualquer outra pessoa que faça comentário e que tenha uma carreira política que beneficie do acesso ao pódio televisivo, porque nem toda a gente que comenta a política pretende ter uma carreira política e eleitoral, ou há contraditório ou é um comentário de representação partidária que já quase ninguém ouve. Claro que foi a TVI que lhe permitiu isso, e Marcelo é em primeiro lugar o candidato da TVI. E sabemos porque a TVI o fez, o que também faz com que Marcelo seja um candidato que foi patrocinado.

    10. Deixemos para outra altura outro tipo de patrocínios, igualmente perigosos para o fair play eleitoral, como seja o modo como muitos jornalistas portugueses são completamente acríticos face a Marcelo, para não dizer mais.»

3 comentários :

Anónimo disse...

Excelente texto que dá gosto ler, como todos os que aqui surgem no Câmara Corporativa! Obrigada. Subscrevo inteiramente. Na minha opinião, Marcelo é optimo comunicador, mas é um grande trafulha e um salazarento igual ao cavaco, só está à espera de ganhar para por as garras de fora. O povo que abra os olhos agora que ainda é tempo! Espero que à beira das eleições os candidatos de esquerda desistam e vote tudo em Sampaio da Nóvoa. Só unidos podem derrotar a direita que de certeza vai tentar boicotar o trabalho do Governo liderado por António Costa. M.

Anónimo disse...

É isso sem tirar nem pôr.
Como perguntar não ofende, digam-me: quem é o travesti que está com ele na foto?

Anónimo disse...

Se a direita fez uma coligação a esquerda coligada conseguirá melhores resultados.
José C.