- "Logo no primeiro dia da semana, pelas sete e pouco da manhã, quando chegaram os pimeiros trabalhadores ao café vizinho da fábrica, para a cavaqueira que faz acordar de vez e até dá força para mais um dia no duro, se notou que ali havia coisa: portaria sem a segurança habitual, portôes fechados, tudo apagado, nenhum barulho de máquinas que têm de aquecer um bocado antes de cairem as oito horas...
Uma espreitadela rápida à casa-quinta do patrão deu logo para ver, com tudo tão fechado, silencioso e meio escuro, que se tinha posto ao fresco.
Comunicada a ocorrência ao sindicato, a mensagem foi simples e clara: a gente vai já para aí, é preciso que toda a gente não arrede pé de junto do portão da fábrica ...
Ao meio da manhã já não faltavam tarjas, bandeiras, cartazes e toques de telemóvel de camaradas da classe operária, nem jornais, rádios e televisões...
Entretanto fez-se logo ali um plenário, apalavraram-se as intervenções que seriam metidas nos directos da televisão e, chegada a hora, uma trabalhadora lamentou ter dado os melhores trinta anos da sua vida a uma fábrica que nunca deu prejuízo e agora foi fechada nas costas das pessoas, o delegado sindical considerou ilegal o fecho de uma fábrica a que não faltam encomendas, matérias primas e máquinas modernas, e o dirigente sindical exigiu medidas do governo.
Desmobilizada a concentração, a Veva perguntou à Tona:
- Se temos encomendas e a fábrica por nossa conta, porque é que não andamos como aquelas trabalhadoras lá de cima do Minho, a quem o patrão delas fez o mesmo há uns anos e elas assumiram a produção até hoje?
- Se o sindicato não falou disso – esclareceu a Tonas - é porque não é por aí que nós defendemos os nossos postos de trabalho e os nossos direitos...
(Na televisão, um “defensor dos trabalhadores” reclama medidas políticas, económicas e sociais de ataque à crise – mas esquece os tempos em que “auto-gestão” e “controlo dos meios de produção” eram apresentados como escadas para o “sol” redentor...
Outros tempos!)"
1 comentário :
Saudades do PREC?
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