segunda-feira, janeiro 30, 2012

Os pobres que paguem a crise?

Helena Garrido, Os pobres que paguem a crise?:
    '"O governo anunciou que vai alargar por mais um ano o programa de prevenção de execuções para evitar que as famílias percam as suas casas". Diria que isto acontece em que parte do mundo? Na Europa? E aqui, em Portugal? Pois está enganado. É nos Estados Unidos.

    Em Portugal foram 6900 as casas entregues aos bancos por falta de pagamento dos empréstimos, um aumento de 17% em 2011. Quase metade dos casos aconteceram nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, com especial relevo para as zonas que funcionam como dormitórios.

    (...)

    Há umas semanas, num das análises à crise, o director da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, José Ferreira Machado, fez uma constatação muito interessante. Nos Estados Unidos, a sociedade e o governo responsabilizaram os bancos, ou seja, os credores, pela sua crise da dívida. Na Europa culpam-se os devedores. Atitudes que estão a determinar medidas e políticas completamente diferentes nos dois lados do Atlântico.

    (...)

    A culpa é da troika? Claro que não. O retrato dos números do desemprego, das execuções e das insolvências devia fazer ver ao Governo como é urgente adoptar medidas que também são exigidas pela troika, como a redução da factura das parcerias público-privadas e dos subsídios da electricidade. Há no programa de ajustamento medidas que tardam a chegar e que reduzem a factura da crise que os mais frágeis estão a pagar.

    "Os pobres têm de se sacrificar porque os ricos têm muitas despesas", diz ironicamente quem quer desdramatizar o desespero das conversas sobre a crise. Esperemos que este não seja o catecismo reinante. Os pobres que paguem a crise não é nenhum princípio liberal. É imoral.'

4 comentários :

Luís Lavoura disse...

Este texto parte do curioso princípio de que quem comprou uma casa a crédito é um pobre.
Ora, que eu saiba, em Portugal os bancos sempre exigiram uma boa parte do capital à cabeça na compra de uma casa. Em Portugal os pobres não compraram casa a crédito, porque os bancos não lhes concederam crédito. Quem comprou casa a crédito era, no mínimo, remediado, enfim, era classe média.
Há que saber distinguir entre uma política de apoio aos pobres e uma política de apoio à classe média. São coisas totalmente distintas!

Fernando Romano disse...

Muito bem Helena Garrido!´Mete-se pelos olhos dentro, parece fácil de escrever, mas é preciso ter-se coragem para não escrever ao modo de uma certa casta de malandros que esperam angustiados que o jagunço político Relvas lhes arrange um emprego no céu.

Vou ganhando esperança de que o povo português vai julgar a sacanagem que nos governa, mais depressa do que imaginava.

A onda vai crescendo, a verdade vai ganhar. Só que tem que ser depressa. Um povo com fome, dividido, durante muito tempo...

Mete-se pelos olhos dentro que os bandos que tomaram o poder no dia 5 de junho são inimigos do povo e do País e à medida que se vai aproximando o seu estertor podem causar danos trágicos.

É imperioso que os jornalistas portugueses assumam o seu papel em defesa do povo que os pariu.

É imperioso e urgente!

Anónimo disse...

Espantoso, este omnisciente Lavoira! Junta-se tudo na "bimby" e deixa-se cozer...


Ficamos a saber o inestimável, através deste brilhante e lavórico exercício de análise socio-económica: a classe média comprou casa nos dormitórios de Lisboa e do Porto! Será que a classe alta que se mudou para Benfica e Telheiras? Deve ser "ingenhero"...

Anónimo disse...

Lavoura provou mais uma vez que há anos não põe os pés fora de casa.
Ou não vive em Portugal.É á escolha.