quarta-feira, janeiro 30, 2013

Por uma nova política económica

• Fernando Medina, Por uma nova política económica:
    ‘A estratégia do Governo é conhecida. Prosseguir a austeridade até obter saldos orçamentais que sustenham o crescimento da dívida. Aguardar que a normalização de financiamento da República se transmita à economia, levando ao crescimento através do investimento privado. Ir gerindo os riscos que a degradação da economia possa trazer às finanças através de expedientes de recurso, "gerindo à vista" a evolução do défice e da dívida. Prosseguir a desvalorização competitiva interna, através da queda dos salários.

    Este programa não é exequível, não é eficaz e por isso não é credível. Funda-se na ilusão de um crescimento por milagre, sempre adiado trimestre após trimestre. Insiste numa austeridade brutal sobre uma economia em recessão profunda. Ilude a questão da dívida, com "gestão à vista" do seu nível, sem cuidar das dinâmicas de fundo dos juros e do crescimento. Ignora os efeitos sociais e políticos de uma estratégia de empobrecimento sem fim.

    Precisamos pois de uma nova estratégia de ajustamento. Uma nova política que se funde no realismo da debilitada economia portuguesa, no quadro de uma Europa que não vai crescer tão cedo. Que tenha a ambição e os instrumentos para, com credibilidade, contrariar esse destino. Que enfrente a dívida com a prudência de uma visão de médio prazo, adequando os juros e maturidades ao previsível baixo crescimento. Que abandone a austeridade gratuita, em favor de políticas estruturais profundas de reforço da sustentabilidade das finanças. Que promova um novo Acordo de Rendimentos, como pilar central da estabilização das expectativas e da competitividade. Que mobilize os recursos de que dispomos, nomeadamente comunitários e extraordinários, em favor dos factores críticos de competitividade (como a qualificação ou fiscalidade), da sustentabilidade da despesa, e do reforço da coesão.

    Em síntese, precisamos de uma nova política económica e de um projecto político que a corporize. Uma visão difícil e exigente certamente. Mas com o realismo capaz de projectar o futuro, e assim agregar a esperança colectiva. Voltaremos ao tema e a estas ideias em próximos artigos.’

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