sábado, novembro 29, 2014

As três tarefas de António Costa


• Augusto Santos Silva, As três tarefas de António Costa:
    «Já muito se escreveu sobre as circunstâncias delicadas em que decorre, este fim de semana, o 20.º Congresso do Partido Socialista. Não vale a pena repeti-las. Nem será também de grande utilidade retirar delas efeitos supostamente definitivos. Como dizia um antigo primeiro-ministro britânico, a lição básica da atividade política é que cada semana é uma eternidade......

    Nada disto diminui, antes aumenta, a responsabilidade do novo secretário-geral do PS. É ela que pretendo considerar.

    Do ponto de vista do juízo público sobre a sua personalidade, António Costa não tem nenhum problema; até acumulou bom capital. Eis a razão por que julgo que a disputa interpartidária não vai ser dominada pelo seu mérito pessoal, nem pela sua dependência face a outros. Se assim fosse, Costa facilmente bateria Passos Coelho. As tarefas que tem pela frente, e são de monta, estão noutro lado.

    A primeiro é focar o PS na ação política. Não pode perder a dinâmica criada pelas eleições primárias. E não pode permitir que o debate em torno do inquérito judicial a José Sócrates contamine a agenda partidária.

    Claro que esse debate existe e é bom que exista. Se, nos termos constitucionais, a justiça se faz em nome do povo, não se vê como é que o povo há de alhear-se. As perplexidades são muitas e as convicções dividem certamente a sociedade portuguesa. O bloco sociopolítico que Costa tem de liderar será irremediavelmente atingido por essa divisão, mais ou menos apaixonada. Mas não poderá deixar-se condicionar por ela, no que diz respeito à sua ação presente e futura.

    Depois, António Costa tem de intensificar a oposição ao Governo. A mais forte arma de que os seus adversários, na maioria ou à esquerda do PS, dispõem contra ele é inverter-lhe o estatuto, tratando-o como virtual primeiro-ministro. Porém, a circunstância talvez lhe venha a facilitar a vida. Por mais uma das viragens em que a política é fértil, Costa passou subitamente de vencedor antecipado a possível vencido. Muda o palpite, mas não muda o exagero. O que bem lhe poderá servir para acentuar a lógica de oposição, que é própria de um partido que almeja vencer eleitoralmente o Governo incumbente.

    Para essa intensificação, tanto quanto vejo, o mais remunerador é o movimento em tenaz. De um lado, o exame crítico do programa de ajustamento e do que ele significou em matéria de decadência económica, retrocesso social e perda de recursos. Marcando, pois, o papel do Governo como subalterno e devoto da troika. Do outro lado, a denúncia dos erros e fracassos que foram devidos, não à imposição da troika, mas a decisão própria. A barafunda vivida nos ministérios da Educação e da Justiça, a destruição da estrutura técnica da Segurança Social ou a total paralisia da Agricultura são bons exemplos.

    Finalmente, a terceira tarefa de António Costa é construir o programa político alternativo. A orientação estratégica já ficou conhecida, com a "Agenda para a década". Importa agora concretizá-la para o próximo quadriénio.

    Enão parece que possa andar longe da seguinte triangulação. Na frente interna, a proposta de um acordo tripartido que estabilize as políticas de rendimentos e impostos, associando-as a metas e ganhos de produtividade, e maximize o aproveitamento do novo quadro comunitário. Na frente europeia, um referencial para a renegociação dos termos e prazos da consolidação orçamental. Na frente das reformas, a prioridade a programas que não só exigem mais despesa pública como, pelo contrário, a diminuem, de que a descentralização para regiões e municípios e o relançamento da modernização administrativa me parecem ser os exemplos mais óbvios.

    Um dos mais fortes atributos públicos de António Costa é a teimosia com que segue o seu plano de operações, indiferente ao ruído à sua volta, interno ou externo. Neste momento, essa qualidade ou defeito pode ser mesmo a sua vantagem principal

3 comentários :

Pedro Carrilho disse...

Este país precisa romper com todos os incompetentes instalados não só a nivel de administração central, mas também da local e regional, só a título de exemplo, o município de Oeiras publicou hoje um anúncio num jornal nacional, em que, através dos seu serviço de execuções fiscais, publicitava uma dívida de 60 euros referente ao não pagamento de taxa de saneamento, ora só o custo da publicitação é substancialmente superior ao valor em dívida, alguém viu alguma das 307 restantes câmaras do país fazer algo idêntico? Claro que não, isto é a antítese das finanças do paga primeiro e reclama depois, estes atos de má gestão de dinheiros públicos, que de gestão só têm mesmo ser maus e ou ilegais praticados por dirigentes sem preparaçãoe ou de má fé, multiplicados pelos milhares de orgãos a nivel nacional, são a razão primeira e última da falência do nosso país, e é disto que António Costa nos tem de resgatar, e acho que é Homem para, pelo menos tentar!

Anónimo disse...

Se realmente António Costa e o PS procederem assim como este texto expõe (e bem!) terão o meu voto, se tentarem colar-se ao psd/pp e ao neoliberalismo desumano que a direita nos impõe diariamente, então terei de votar noutro, mas também não será nos vendidos à direita como têm sido o be e o pcp!
M.

Anónimo disse...

sáb Nov 29, 05:22:00 da tarde,

Ó pá vota no Marinho e não chateies.