José Manuel Fernandes (JMF) é um cidadão preocupado com a escola pública. O director do
Público, segundo escreve no editorial de hoje, tem um “conselho [a dar], que mão amiga me fez ontem chegar, (…) extraído do
Ratio Studiorum da Companhia de Jesus, uma obra de… 1599.” É este o conselho: “nada deve ser mais importante nem mais desejável (...) do que preservar a boa disposição dos professores (...). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (...). Com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações.”
“Preservar a boa disposição dos professores”: como é que ninguém se tinha lembrado, antes da “mão amiga” de JMF, de uma coisa tão óbvia e tão simples de proporcionar?
Bem, JMF ainda hesitou se esse será o melhor caminho a seguir, mas depois veio-lhe à memória que se, “passados mais de quatro séculos, os jesuítas continuam a gerir algumas das escolas mais procuradas em todo o mundo (Bill Clinton estudou numa delas, a celebrada Universidade de Georgetown) é porque algum nexo teriam as regras que sempre seguiram.” JMF não explica como concluiu que “a boa disposição dos professores” se deve a regras que se mantêm há quatro séculos.
No momento em que
está em causa a avaliação dos professores, JMF vem defender que o que faz sentido é garantir a “boa disposição” dos professores, mesmo que isso implique que estes não sejam avaliados.
É uma espécie de
eduquês para professores: para assegurar a melhor
performance dos professores, nada como garantir a sua “boa disposição” e evitar a sua “amargura de espírito”. Por outras palavras, não precisamos de ciências da educação — Inácio de Loyola, há quatro séculos, já sabia tudo.
Imagine-se quão empolgados não seriam os editoriais (e as manchetes) do Público se alguém viesse defender que, relativamente aos alunos, era preciso garantir a sua “boa disposição” e evitar a sua “amargura de espírito”.
Até ler hoje este editorial do director do
Público eu estava convencido de que o fundamental na escola pública deveria ser o trabalho contínuo para uns e para outros — em particular para os professores, dado que eles são, nesta relação, os profissionais pagos para ensinar. Mas eu estava enganado.