sexta-feira, dezembro 31, 2010

Viagens na Minha Terra

"2011: um ano difícil em que a economia portuguesa deverá evoluir positivamente na resolução dos seus problemas"

• Manuel Caldeira Cabral, 2011 = 2009×(-1):
    Em 2009, quem tinha empréstimos viu a sua taxa de juro descer. Quem trabalhava para o Estado viu o seu salário subir. O comércio, apesar da crise, foi pouco afectado. Nesse ano, a crise fustigou principalmente os empresários e trabalhadores dos sectores exportadores, que logo no início do ano tiveram quebras de encomendas que, em vários sectores, ultrapassaram os 30%, ou mesmo os 40%. No total do ano, as exportações caíram 11% em termos reais, e o desemprego nas zonas industriais disparou.

    Em 2010, as exportações recuperaram a um ritmo que surpreendeu todos, devendo continuar a crescer em 2011.

    De facto, quando se compara o que se espera para 2011 com o que se passou em 2009, constata-se que a situação se inverteu. Em 2011, será no sector público que haverá maior quebra de rendimento, quebra que, em conjunto com a contenção salarial no sector privado, deverá ter um efeito negativo na evolução do consumo e da despesa interna, e que, dessa forma, acabará por afectar os não transaccionáveis, prevendo-se quebras de procura no comércio, restauração e outros sectores virados para a procura interna.

    Uma diferença importante entre o que aconteceu em 2009 e o que se pode prever para 2011 é a magnitude dos efeitos e o número de pessoas afectadas. Enquanto em 2009 os efeitos de perda de procura na indústria foram muito fortes, sendo focados em alguns sectores e tendo consequências directas e imediatas no desemprego, as perdas previstas para 2011 serão mais moderadas, afectando de forma menos intensa uma proporção maior da população.

♪ Coisas de 2010 [6]



Seasick Steve

Ready For Love

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Lavandaria Crespo, para as nódoas difíceis


Mário Crespo, verdade seja, tem mantido um genuíno interesse pela relação entre Cavaco Silva e o caso BPN. Por isso, já o vimos tentar embaraçar alguns incautos no seu, digamos assim, noticiário.

Agora, que o caso BPN saltou - e de que maneira! - para a campanha das presidenciais, quem é que o Crespo teve que gramar no seu, digamos assim, noticiário, para explicar, digamos assim, o caso?
Joaquim Aguiar, o próprio. Que entre metáforas e insinuações lá tratou de tentar passar a batata quente para o... Governo.

Obviamente, nem Crespo nem Aguiar se incomodaram a informar os espectadores de que Aguiar, o próprio, integra, nada mais nada menos, que a Comissão Política da candidatura presidencial de Cavaco.
Nenhum deles o poderia fazer - nem Aguiar, nem principalmente Crespo, são homens livres.

Cavaco e o banco do cavaquismo [2]



1. Quando rebentou o escândalo do BPN, Cavaco veio a público dizer que não tinha nada a ver com este banco. Depois, soube-se que tinha acções da SLN, que é proprietária do BPN. Nunca ninguém lhe perguntou por que não disse isso logo nessa altura e andou a fazer-se desentendido. Mas há mais questões que Cavaco nunca esclareceu, por mais que se passe a pente fino o célebre site da Presidência da República, como, por exemplo, estas:
    • Não estando a SLN cotada em bolsa, aonde é que comprou as acções e a quem?
    • Como é que deu a ordem de compra?
    • Quem é que vendeu as acções e quem fez o preço?
    • Nesse dia ou nessa semana, houve outras transacções fora da bolsa a esse valor?
Sabe-se apenas, salvo erro através do Expresso, que a família Cavaco sacou a Oliveira Costa, presidente da SLN/BPN, as seguintes mais-valias:
    • Cavaco a mais-valia de 147.500 euros, uma vez que, tendo comprado 105.378 acções da SLN/BPN, a um euro cada uma, vendeu-as a 2,4 euros;
    • A filha de Cavaco a mais-valia de 209.400 euros, tendo vendido as suas acções ao mesmo tempo que o pai e pelo mesmo valor (2,4 euros).
Perante as dúvidas suscitadas, é inaceitável que Cavaco se refugie em sucessivos jogos de palavras e que a comunicação social confirme que, em relação ao ainda inquilino de Belém, tem um comportamento muito suave.




2. Cavaco tem não só a obrigação de explicar como se processou a negociação privada com Oliveira Costa para a compra e a venda das acções — porque a SLN/BPN não estava cotada em bolsa — como também tem a obrigação de esclarecer se realizou outras operações com a SLN/BPN, designadamente a obtenção de empréstimos, e se foram cumpridas as condições que a lei impõe para a sua concessão.

Uma vez que tanto Cavaco como a sua filha compraram e venderam acções da SLN/BPN na mesma data, parecendo ter-se tratado de operações feitas em conjunto, o esclarecimento sobre eventuais outras operações realizadas com a SLN/BPN deve naturalmente abranger aqueles que lhe são próximos.



3. Hoje sabe-se que o banco do cavaquismo foi criado a partir dos múltiplos perdões fiscais “de favor” concedidos pelos governos de Cavaco Silva, era Oliveira Costa então o secretário de Estado do Assuntos Fiscais. A coisa teve direito, nos anos 90, a uma comissão parlamentar de inquérito, presidida por Rui Machete (do PSD), que depois surge, como que por encanto, nos órgãos sociais do BPN.

A única conclusão a tirar é que Cavaco, na sequência da derrota com Jorge Sampaio nas eleições presidenciais, pensou retirar-se da política e ir ganhar a vidinha. Depois, em 2003, reconsiderou. Para preparar a candidatura às eleições de 2006, Cavaco procurou cortar os laços às malfeitorias do cavaquismo, alienando as acções da SLN/BPN. Vamos aguardar para ver se a telenovela não tem outros episódios ainda não conhecidos.

Da série "Frases que impõem respeito" [548]


O Governo não permitirá, em circunstância alguma, é que se proceda a um branqueamento de responsabilidades criminosas na gestão do BPN da antiga administração do banco, e que levou à situação em que se encontra, e ainda por cima transferindo a responsabilidade para os que agora o tentam salvar.
      Pedro Silva Pereira, numa alusão às palavras de Cavaco Silva sobre o BPN no debate de ontem com Manuel Alegre, afirmando ainda o ministro que se trata de “uma acusação muito grave à actual administração da caixa Geral de Depósitos (CGD), que é a responsável pela gestão do BPN. E por isso compete à administração da CGD defender a sua honra e é o que o Governo espera que fará

Cavaco e o banco do cavaquismo [1]


Faria de Oliveira e Norberto Rosa, governantes de Cavaco
que estão na administração da Caixa e do BPN


Mais tarde ou mais cedo, teria de acontecer. Quando se soube da roubalheira do BPN, Cavaco fez-se desentendido. Depois, o ainda Presidente da República segurou até limites impensáveis o homem que o acompanhava desde que se fez político: Dias Loureiro. Agora, quando se está a tentar recuperar o BPN, Cavaco atira-se à actual administração, deixando em sossego a gatunagem que levou o banco à ruína.

Para os mais distraídos, convém recordar que os bancos ingleses com que Cavaco quis comparar o BPN estiveram em dificuldades por força da crise internacional — e não devido a pilhagem dos seus activos, como no caso do BPN.

Por outro lado, fazem parte da actual administração da Caixa Geral de Depósitos elementos da área política de Cavaco, sendo que dois deles fizeram parte dos governos do próprio Cavaco:
    Faria de Oliveira, actual presidente da Caixa, que esteve, sem interrupções, nos três governos de Cavaco (de 1985 a 1995); e
    Norberto Rosa, vogal da Caixa e agora vice-presidente do BPN, que foi secretário de Estado do Orçamento de Cavaco (1993 a 1995) e de Manuela Ferreira Leite (de 2002 a 2004).
Quando se trata de salvar a sua pele, Cavaco não hesita em atirar ao tapete nem aqueles que estão próximos de si. Fernando Nogueira que o diga. A Dr.ª Manuela também, que ficou pendurada no arame, em vésperas das eleições legislativas, com o caso da inventona de Belém.

Viagens na Minha Terra

A Presidência da República e o “Dia da Raça” em Viana do Castelo

Esclarecimento de Defensor Moura:
    Depois do debate com Cavaco Silva, um jornal diário de Lisboa solicitou-me uma entrevista para esclarecimento de algumas das afirmações feitas, a que eu acedi imediatamente porque, o escasso tempo concedido aos candidatos na TV é insuficiente para a cabal explanação dos temas abordados.

    Infelizmente, hoje verifico que, certamente por falta de espaço, as minhas afirmações foram muito reduzidas por aquele jornal e, por isso, decidi publicitar o meu resumo da citada entrevista:

    Disse que Cavaco Silva não é isento nem leal, favoreceu amigos e correligionários e tolerou e beneficiou com negócios considerados ilícitos pela justiça, além de lhe faltar cultura política para se identificar com eventos relevantes da história recente do país, tendo eu afirmado que esses atributos são importantes na avaliação dos candidatos ao cargo de Presidente da República.

    Informei ainda o referido jornal que, no Dia de Portugal de 2008, recusei a comenda de Grande Oficial da Ordem de Mérito, que o Presidente da República me quis atribuir, não só por considerar que o trabalho em Viana do Castelo tinha sido realizado por uma vasta equipa e não apenas por mim mas, também, por não aceitar ser distinguido por quem tinha tido uma série de atitudes pouco edificantes durante a preparação do evento.

    No debate televisivo, fiz referência a vários factos ocorridos durante a preparação do Dia de Portugal em Viana do Castelo em 2008 que, na minha opinião, demonstram claramente que Cavaco Silva não tem perfil para ser PR e que só naquele momento, “olhos nos olhos” com o agora recandidato, senti o dever cívico de os revelar para que os portugueses o conheçam melhor, ultrapassando o poderoso aparelho de propaganda que lhe construiu a imagem de isenção e seriedade que “só em duas vidas” os outros portugueses poderiam alcançar.

    A falta de isenção de Cavaco Silva foi revelada quando recusou o convite (mostrado ao jornalista) que lhe fiz para realizar o Dia de Portugal em Viana do Castelo em 2009, para encerrar as comemorações dos 750 anos do Município, antecipando-o para 2008.

    Na altura o PR alegou que, sendo 2009 ano de eleições autárquicas não queria beneficiar nenhum município e, por isso, as comemorações seriam realizadas em Lisboa, com carácter mais nacional.

    Afinal, em 2009 as comemorações realizaram-se num município liderado pelo PSD.

    Para demonstrar o seu favorecimento de amigos e correligionários, considerei suficiente mostrar ao jornalista a proposta feita à Câmara Municipal pela Presidência da República para se contratar a fadista, que tinha sido mandatária da juventude na candidatura de Cavaco Silva, para um espectáculo público em Viana do Castelo.

    A proposta indicava ainda um maestro e um palco especial para a actuação, tudo orçado em mais de 90 mil euros, com IVA incluído. A Autarquia recusou a proposta presidencial e realizou um espectáculo, de não menor qualidade, com artistas vianenses, que custou apenas seis mil e quinhentos euros.

    Mas o despesismo da Presidência de Cavaco Silva, ainda foi mais exuberante no arranjo da sala para a cerimónia solene do Dia de Portugal. Não foi aceite a proposta da autarquia de a realizar no magnífico Teatro Municipal e, o arquitecto da equipa do PR, fez um projecto de decoração interior de um pavilhão de exposições, que constituiu uma verdadeira tenda gigante e que orçou em 165 mil euros, para um acto de apenas uma hora e meia!

    Apesar de eu ter resistido o mais que pude a realizar tão grande despesa e até ter discutido o orçamento com a empresa, que fora indicada pela equipa presidencial, a Câmara Municipal teve de assumir aquele encargo perante a exigência presidencial da maior dignidade para as comemorações, sempre com a “ameaçadora hipótese” de o evento poder ser transferido para outra cidade.

    A propósito da dispendiosa tenda alugada e paga por Viana do Castelo, cumpre-me denunciar que, numa clara atitude de favorecimento da Presidência de Cavaco Silva, uma tenda semelhante e para o mesmo acto em 2009, foi financiada pela Presidência da República e não pela autarquia liderada pelo PSD, certamente porque Cavaco Silva já começava a ter “preocupações com a pobreza e a fome”, que agora sem pudor utiliza na campanha eleitoral , e decidiu poupar aquela despesa ao município amigo.

    Mas, ainda tivemos de recusar outras dispendiosas propostas da Presidência da República, substituindo-as por realizações menos onerosas para a autarquia, como por exemplo um espectáculo multimédia para os convidados da Presidência que custava mais de 60 mil euros, substituída por uma sessão de fogo de artifício orçada em 14 mil euros, que foi oferecida aos convidados do PR e ao público vianense.

    Por toda esta evidente diferença de postura, quer na gestão de dinheiros públicos, quer de isenção no exercício de cargos oficiais, achei muito estranha a vontade de Cavaco Silva me condecorar no Dia de Portugal e, em carta dirigida ao Chefe da Casa Civil, que mostrei ao jornalista como toda a correspondência relativa aos factos relatados, comuniquei que recusava receber a comenda de Grande Oficial da Ordem de Mérito.

    Refira-se que estes factos ficaram sempre no restrito âmbito do meu gabinete e da vereação, porque entendi que a sua revelação perturbaria o evento que todos os vianenses desejavam ser um sucesso para o município, com foi.

    Só agora decidi revelá-los, olhos nos olhos com o recandidato, por serem factos indesmentíveis e nesta altura de escolha do novo PR sentir a obrigação cívica de revelar a falta de isenção e lealdade, favorecimento e despesismo de Cavaco Silva no exercício do cargo, atributos absolutamente contrários aos que ele com despudor se atribui publicamente.

    Sobre a deslealdade institucional de Cavaco Silva com o Governo, na inventona das escutas e não só, e, também, a deslealdade pessoal com os seus correligionários Fernando Nogueira e Santana Lopes, bem como sobre a forma como pactuou com os responsáveis do BPN e teve chorudos benefícios com as acções da SLN, que qualquer leigo só considera possíveis com negócios ilícitos, são factos do conhecimento público que referi de passagem no debate e a que nada pretendo acrescentar.

    Devo dizer, no entanto, que ao longo dos anos, vários factos semelhantes me foram relatados por autarcas e outros protagonistas políticos que, por razões diversas, não foram revelados.

    A terminar quero refutar veementemente a acusação de Cavaco Silva de que estarei a participar numa campanha suja contra o ainda Presidente da República, afirmando sem temor que sujas e altamente criticáveis foram estas e outras atitudes de Cavaco Silva no exercício do mandato presidencial e, com esta minha denúncia, pretendo que os portugueses fiquem a saber que o agora recandidato não é aquele político exemplar e acima de todas as suspeitas que a sua propaganda divulga há quase três décadas.

♪ Coisas de 2010 [5]



The Avett Brothers

Shame

Fazer pela vidinha

• Manuel António Pina, Fazer pela vidinha:
    O "sensato" conselho de Cavaco Silva para comermos e calarmos de modo a que "os nossos credores" não se zanguem connosco e nos castiguem com juros cada vez mais altos espelha uma cultura salazarenta de conformismo que, sendo muito mais antiga que Cavaco, ele representa na perfeição, até nos seus, só na aparência contraditórios, repentes de arrogância.

A subversão dos magistrados

• Leonel Moura, A subversão dos magistrados:
    Que os magistrados ganhem bem e tenham mais mordomias do que a maioria dos portugueses não está em questão. Não há que ser invejoso. É, aliás, legítimo que um juiz tenha um bom ordenado, dada a sua responsabilidade e até, porque a carne é fraca, como forma de evitar tentações. Mas não é aceitável que os magistrados se recusem a acompanhar a realidade do seu próprio país. Ou, ainda menos, que se tornem numa força de subversão de um sistema de que eles são a garantia.

    Os magistrados, obnubilados pela defesa agressiva das suas regalias, vão perdendo a noção do seu próprio papel e responsabilidades no sistema democrático. Em boa medida assumem-se como oposição. Envolvem-se ativamente na luta política. E isto que pode animar aqueles que não apreciam o atual sistema constitucional, da extrema-esquerda à extrema-direita, não é aceitável, já que abre caminho às maiores arbitrariedades. E já agora o PSD que se cuide. Porque hoje pode parecer que o alvo é o governo de Sócrates, mas amanhã será qualquer outro governo.

"Financiar a escola privada com o dinheiro dos contribuintes"

• João Cardoso Rosas, Polémica na educação:
    O segundo argumento contrário às medidas do Governo é o da "liberdade de escolha". De acordo com esta perspectiva, o Estado, ao diminuir o financiamento da educação privada, estaria também a comprometer a liberdade de escolha da escola mais adequada para os nossos filhos. No entanto, tal argumento é apenas retórico. A liberdade de escolha está perfeitamente assegurada em Portugal. Aquilo que os defensores da liberdade de escolha pretendem é financiar a escola privada com o dinheiro dos contribuintes.

    (…) o segundo não é decisivo (depende da visão ideológica de cada um). Por isso espero que o Presidente da República não se intrometa demasiado nesta polémica e evite aparecer como porta-voz de interesses especiais, ou de uma parte do espectro partidário.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Abandono escolar diminui

Pronto, esqueça-se o PISA, mas vamos ver como está a educação. Uma publicação do INE hoje divulgada — Indicadores Sociais — revela que a taxa de abandono precoce de educação e formação em 2009 (31,2 por cento), quando comparada com a de 2003, apresentou uma diminuição de 10 pontos percentuais.

WikiLeaks: e agora?

• João Pinto e Castro, Guerra e paz no Jardim do Éden digital:
    'A História sugere, pois, que, quando a informação é libertada, segue-se a disputa pelo seu controlo. A questão importante é o que se consegue fazer com essa informação e, desde logo, quem está em condições de fazer algo com ela. Quando se diz que vivemos na era da informação, isso significa antes de tudo que há informação a mais e capacidade a menos para interpretá-la e dotá-la de sentido. Nas palavras de T.S. Eliott: "Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação?"

    Compreender uma determinada informação exige tempo, esforço e capacidade interpretativa, condições que por definição não existem quando constantemente somos bombardeados por alegados factos, dados e números. A má política, como o mau jornalismo, caracteriza-se hoje, acima de tudo, pela capacidade de nos confundir a capacidade de julgamento com meias-verdades descontextualizadas que desavergonhadamente exploram as limitações cognitivas do cidadão - não apenas as do ingénuo e iletrado, mas até as do mais culto e perspicaz.

    Somos assim alimentados quotidianamente por pedaços de informação avulsos, quantas vezes enquadrados em narrativas capciosas, interesseiras ou meramente imbecis. E pouco interessa que mais tarde eles sejam desmentidos, porque, como a sabedoria popular ensina e a neurociência demonstra, as primeiras impressões são as que perduram.

    Chegamos assim à constatação de que só a intermediação competente e responsável da imprensa nos permitirá tanto extrair o que há de bom como conjurar o que se afigura ameaçador neste universal desvendamento de todos os segredos, sejam eles públicos ou privados. Infelizmente, a digitalização da informação que impulsiona a transparência ameaça em simultâneo a sobrevivência dos jornais e revistas, que são precisamente os media mais susceptíveis de promoverem a reflexão sobre a informação revelada.

    Não devemos esperar que a disponibilização instantânea de um repositório de informação praticamente infinito sobre tudo o que sucede nos ofereça o Paraíso na Terra. Quando o acesso à informação em bruto se torna ilimitado, a batalha pelo controlo das mentes faz-se menos pela gestão dos segredos do que pelos processos de filtragem que condicionam o modo como a realidade é entendida. É aqui, portanto, que cabe focalizar as nossas atenções.'

♪ Coisas de 2010 [4]



Horse Feathers

Thistled Spring

Informação relevante [*]


[DE, primeira página, 29 Dez 10]

[*] Apesar do erro de português.

terça-feira, dezembro 28, 2010

A mandatária para a juventude de Cavaco foi contratada por ajuste directo?



A Presidência da República e Kátia Guerreiro saíram a terreiro para esclarecer as afirmações sobre a contratação da fadista e mandatária para a juventude de Cavaco. Nada do que foi dito contraria as palavras de Defensor de Moura.

Com efeito, o ex-presidente da Câmara de Viana do Castelo disse que não aceitou contratar Kátia:
    “Para demonstrar o seu favorecimento de amigos e correligionários, considerei suficiente mostrar ao jornalista a proposta feita à Câmara Municipal pela Presidência da República para se contratar a fadista, que tinha sido mandatária da juventude na candidatura de Cavaco Silva, para um espectáculo público em Viana do Castelo.

    A proposta indicava ainda um maestro e um palco especial para a actuação, tudo orçado em mais de 90 mil euros, com IVA incluído. A Autarquia recusou a proposta presidencial e realizou um espectáculo, de não menor qualidade, com artistas vianenses, que custou apenas seis mil e quinhentos euros.”
O agente de Kátia Guerreiro confirma isto mesmo, ao afirmar que as despesas com a contratação da fadista correram pela Presidência da República:
    «(…) a agência da fadista Kátia Guerreiro contestou as acusações, garantindo ter recebido cheque de Belém e não de Viana do Castelo. "É importante salientar ainda que todas as despesas relativas a essa actuação de Kátia Guerreiro nas comemorações do Dia de Portugal foram integralmente suportadas pela Presidência e não pela autarquia, como alegou Defensor de Moura ao afirmar que não houve comparticipação de custos por parte da Presidência."»
Tendo-se tratado de uma contratação por ajuste directo, observa-se que nem a contratação de Kátia Guerreiro nem nenhuma outra por ajuste directo se encontra registada na base de dados da contratação pública em que a entidade adjudicante seja a Presidência da República. Curioso, não é?

Diz-me com quem convives, dir-te-ei quem és


[António Martins, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, em entrevista ao Correio da Manha, 28 Dez 10]


Tendo em conta os juízes que temos, seria sensato conviver bem?

O SNS está bem e recomenda-se [2]



Hoje, no Jornal de Negócios, p. 7

Notícias que já nascem tortas


Esta manchete do Público é muito interessante, na medida em que é reveladora da posição permanentemente cínica em que a generalidade dos media se coloca e a que os jornalistas preferem chamar de 'sentido crítico'. Na verdade, a manchete do Público - e basta ler o artigo para perceber isso - poderia ser (e até se poupava uma linha):

Obras nas auto-estradas cumprem a lei.

A crise passeia pelas lojas o seu esplendor (2)

27 Dez 10:
Natal/Comércio: vendas abaixo de 2009 mesmo com promoções

28 Dez 10:
Compras por Multibanco cresceram 14,6% na semana do Natal

Confirmam-se as suspeitas: as associações de comerciantes não são de confiança.

O SNS está bem e recomenda-se [1]


Hoje, no Jornal de Negócios, p. 7


“As Unidades de Saúde Familiar (USF), que começaram a ser criadas há quatro anos, permitiram atribuir médica de família a mais de 400 mil portugueses.”

Assim vai o sindicalismo…




A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) e o seu dirigente máximo Paulo Rodrigues¹ desdobram-se em pedidos de demissão do ministro da Administração Interna. O ponto que fundamenta o pedido de demissão é a denúncia do contrato de aquisição dos blindados. A empresa que os devia fornecer está em falta há mais de um mês e o Governo Civil de Lisboa denunciou o contrato, tal como havia sido acordado entre as partes.

No entanto, para a ASPP o culpado é o ministro e não a empresa que está em falta. Na opinião da ASPP e do Sr. Paulo Rodrigues, o Estado deveria ficar à espera dos blindados em falta toda a vida e mais seis meses.

A razão desta extraordinária posição da ASPP é fácil de perceber no site da ASPP. Aí propagandeia-se uma parceria precisamente entre a ASPP e a Milicia, a empresa que fornece os blindados, que abrange artigos desportivos e de lazer.

Conclusão: a posição de Paulo Rodrigues nesta matéria é a posição desportiva e de lazer.

________
¹ Paulo Rodrigues ainda será “profissional da polícia”, tendo em conta o tempo que gasta a calcorrear os estúdios de televisão?

Geometria variável

Nós consideramos que não estão verificados os pressupostos para estes cortes, desde logo excluindo, numa primeira fase, o sector privado, mas dentro da própria administração pública, fazendo esses cortes de uma forma desigual, desproporcional e desadequada”, justificou João Palma à TSF sobre a razão do recurso aos tribunais.

Se o critério é a desigualdade, a desproporcionalidade e a desadequação, é curioso que o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público não tenha demonstrado idêntico zelo quando o Governo decidiu, em meados deste ano, reduzir os salários dos políticos, que sofreram (e apenas eles), assim, um corte adicional de cinco por cento relativamente ao resto da população. Gato de fora com o rabo escondido. Ou já nem isso.

♪ Coisas de 2010 [3]



Bill Callahan

Our Anniversary

Leituras

Da série "Frases que impõem respeito" [547]


É mais do que provável que da herança política de José Sócrates não venha a constar o papel determinante que exerceu na descriminalização da posse e consumo de droga em Portugal. Mas a verdade é que sem o então ministro adjunto do primeiro-ministro, com as tutelas da Toxicodependência, Juventude e Desporto, talvez ainda acreditássemos que o abuso de drogas se vencia dando as mãos e largando com regularidade uma razoável quantidade de endorfinas.

Público, 28 Dez 10

A diferença que um computador faz


Sem computador e internet, o fosso entre os alunos pobres e os alunos ricos vai acentuar-se - alertam na Grã-Bretanha.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

A palavra aos leitores — "Golpe de Estado?"

De e-mail do leitor Francisco V.:
    'Preocupa-me muito o "Sobe e Desce" do "Público", de hoje. Não há nenhum membro do Governo com seta para baixo (também não há com seta para cima, mas isso seria impensável). Terá havido algum golpe de Estado dentro do periódico? Terá o jornal sido comprado por alguma empresa pública, sem que o "Corta Fitas" soubesse?'

♪ Coisas de 2010 [2]



The Mynabirds

Numbers Don't Lie

Dicas sobre o descalabro

domingo, dezembro 26, 2010

♪ Coisas de 2010 [1]



Lower Dens

I Get Nervous

_________
* Se o leitor quiser saber o que de melhor foi publicado em 2010, o melhor é passar por aqui.

Contem connosco em 2011

sábado, dezembro 25, 2010

♪ Natal (só até aos três anos)¹ [7]

          "Só há prenda para a mais nova, as outras já não são crianças. Os adultos este ano não têm presentes porque não há meios para isso".

          "Não me vou endividar para estimular a economia."
            Passos Coelho, cujo partido costuma dar aos líderes um vencimento igual ao de vice-primeiro-ministro


Jingle Bell Rock

__________
¹ Com o Alto Patrocínio da Walt Disney.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Da série "Frases que impõem respeito" [546]


Serei sempre um presidente acima dos portugueses.
      Cavaco Silva, no debate de ontem com Defensor de Moura

Confissão de Natal sobre um deslize da história

Não se pode pedir a um ex-assessor da Dr.ª Manuela que defenda o salário mínimo nacional. Nem sequer se lhe pode exigir que conheça um pouco de história para compreender por que “o Partido Socialista, social-democrata, se chama socialista e não tem o programa do Partido Comunista, e por aí adiante.”

Mas, tendo em conta a gente distraída que anda por aí, é bom registar esta confissão: “Só posso falar por mim: não sou social-democrata e tenho a social-democracia por um anacronismo anormal [sic]. O facto de ser militante de um partido que ostenta esse anacronismo no seu nome é um deslize da história.”

Ai essa memória, Dr.ª Manuela



Todos estamos lembrados de como foi difícil a escolha do actual provedor de justiça. O PSD da Dr.ª Manuela, numa atitude de total obstrução, foi rejeitando sucessivos nomes, o último dos quais o do Prof. Jorge Miranda, personalidade acima de qualquer suspeita de falta de isenção.

Como compreender então o “artigo” que a Dr.ª Manuela escreve no Expresso, em que pergunta pela “ética” e pelo “sentido de serviço público” a propósito da “escolha das pessoas que deverão constituir o grupo de trabalho para reavaliar as parcerias público-privadas e as grandes obras públicas”? Ou estará a dar uma alfinetada na São Caetano?

♪ Natal (só até aos três anos)¹ [6]

          "Só há prenda para a mais nova, as outras já não são crianças. Os adultos este ano não têm presentes porque não há meios para isso".

          "Não me vou endividar para estimular a economia."
            Passos Coelho, cujo partido costuma dar aos líderes um vencimento igual ao de vice-primeiro-ministro



Here Comes Santa Claus

__________
¹ Com o Alto Patrocínio da Walt Disney.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

“Dívida externa cai pelo segundo trimestre consecutivo”

A Fitch quis ir comemorar o Natal mais cedo e esqueceu-se de ler o Boletim Estatístico do Banco de Portugal.

O Prof. Cavaco é mesmo o agente da artista Kátia Guerreiro?



No debate desta noite com Cavaco, Defensor de Moura contou que, no “Dia da Raça” comemorado em Viana do Castelo, a presidência da República quis que Kátia Guerreiro abrilhantasse o evento, tendo de imediato fornecido os valores para a sua contratação.

aqui e aqui tinha estanhado a circunstância de, nas deslocações ao estrangeiro de Cavaco, ser fatal como o destino a fadista fazer parte da comitiva. Como escrevi então, o próprio site da Presidência da República parece uma página de Kátia Guerreiro no Facebook. Que diabo, o music hall indígena não tem outros artistas de gabarito internacional?

Mesmo sem outdoors

Cavaco Silva é o candidato que prevê gastar mais na campanha.

Viagens na Minha Terra

Com o meu vestidinho preto nunca me comprometo

Quando se tornou imperioso que a utilização das SCUT fosse paga pelos seus utilizadores, o Governo quis introduzir pagamentos sem abrir excepções. O PSD, curvado aos caciques locais, exigiu para viabilizar a coisa que fosse criada uma série de excepções.

Agora, Passos Coelho, como vem sendo habitual, critica a lei e assobia para o lado. Valha-nos que a dimensão dos cérebros da São Caetano não permite senão estes voos rasteiros.

Da série "Frases que impõem respeito" [545]


Em face dos factos, a capacidade da Espanha e de Portugal responderem à dívida das contas públicas e estimularem o crescimento económico é muito melhor do que os mercados pensam actualmente.
      Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos

PISA: tudo está bem quando acaba bem

Há dias, Pedro Lomba escreveu no Público mais um artigo manhoso, no qual insinuava que a amostra dos alunos portugueses que participaram no estudo do PISA teria sido manipulada. Para dar tempero à coisa, nem se esqueceu de dizer que consultara a OCDE, a qual não lhe tinha dado, em seu entender, uma resposta satisfatória.

Muita gente terá ficado surpreendida com as palavras de Lomba, tanto mais que o próprio jornal em que ele escreve já havia esclarecido como decorrera o processo de escolha dos alunos. Fernanda Câncio, por exemplo, fez questão de também consultar a OCDE, tendo, por isso, questionado o que teria Lomba solicitado a esta organização internacional:
    “Quem desconfie de que um estudo internacional foi manipulado no seu país através da escolha cirúrgica das escolas e dos alunos (que é o que Lomba insinua) só pode começar por fazer uma pergunta: "Quem, e com que critério, escolheu as escolas e os alunos?" A segunda será, claro, "Os governos têm/podem ter alguma interferência nesse processo?" O pedido da lista só faz sentido acompanhado destas duas questões, sob pena de, caso a lista não seja facultada, se ficar com o mesmo grau de desconfiança de que se partiu - desta vez por deliberação apriorística.”
Durante uns dias, Lomba não se ouviu. Hoje, ainda visivelmente combalido, dá a mão à palmatória no Público (sem link):
    “Ficámos todos mais esclarecidos por termos indagado e, não fosse a pressão pública [sic] para que o ministério libertasse informação relevante, nunca poderíamos ter tomado conhecimento de como foi construída a amostra.”
De mais esta historieta de manipulação à escala doméstica, ficam-nos duas certezas, uma boa e outra má: a má é que a estatística não é o forte de Pedro Lomba; e a boa que a desonestidade em política pode ser um tigre de papel. Assim se queira desmontá-la.

Imagine



• Daniel Oliveira, Imagine se fosse Sócrates:
    'Imagine que era gente muito próxima de Sócrates envolvida no caso BPN. Imagine que as suas ligações ao banco pareciam evidentes. O que se investigaria e se escreveria?

    Imagine que um homem próximo de José Sócrates estava envolvido na gestão criminosa de um banco e que isso custava cinco mil milhões ao Estado. Imagine que um outro homem ainda mais próximo de Sócrates (Armando Vara, por exemplo) também estava envolvido no caso. E que Sócrates, como primeiro-ministro, vinha a publicamente defender a sua permanência num cargo político.

    Imagine que se suspeitava que o banco em causa, quase exclusivamente composto por pessoas do círculo político próximo de José Sócrates, tinha contribuído financeiramente para a sua campanha anterior. Imagine que Sócrates e familiares seus tinham comprado acções desse grupo financeiro e vendido a tempo.

    Imagine que, sabendo-se tudo isto, Sócrates apoiava a nacionalização dos prejuízos deste banco. E imagine que essa nacionalização ajudaria a explicar a situação calamitosa do país.

    Imagina o que se escreveria sobre o assunto? A quantidade de vezes que o primeiro-ministro teria de explicar as suas ligações ao banco? Os esclarecimentos que teria de dar? As declarações que teria de fazer ao País? Como tudo seria investigado até ao mais ínfimo pormenor? Como todos os documentos seriam vasculhados? Não foi assim nos casos da licenciatura, das casas projectadas, da Face Oculta, do Freeport, da TVI? E muito bem.

    Não se percebe porque é que, num caso muitíssimo mais grave nas suas consequências para o país, parece dispensar-se qualquer tipo de vigilância democrática quando a pessoa que está em causa é, em vez do primeiro-ministro, o Presidente da República.'

maradona

• Ferreira Fernandes, Ler é um prazer leia só do bom:
    (…) a média da escrita quotidiana em Portugal é melhor nos blogues do que entre os profissionais. Ninguém me agrada mais, pela enésima vez o digo, que maradona, assinado assim, em minúsculas, que já passou (uma só vez, julgo) pelos jornais e falhou. O seu blogue A Causa Foi Modificada é quase sempre bom - e compensa-me por eu não ter tido os Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Millôr e Stanislaw Ponte Preta que fizeram dos jornais brasileiros o que nunca foi nem será a tosca e retorcida escrita oficiosa caseira. Há em maradona um não se tomar ao sério, próprio de quem sabe que é muito bom mas que também suspeita de que não chega aos calcanhares de uma formiga a andar.

♪ Natal (só até aos três anos)¹ [5]

          "Só há prenda para a mais nova, as outras já não são crianças. Os adultos este ano não têm presentes porque não há meios para isso".

          "Não me vou endividar para estimular a economia."
            Passos Coelho, cujo partido costuma dar aos líderes um vencimento igual ao de vice-primeiro-ministro


Rudolph The Red-Nosed Reindeer

__________
¹ Com o Alto Patrocínio da Walt Disney.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

'tá a ver? O rico quer que faça um desenho?

A auto-estrevista de Cavaco Silva a Maria João Avilllez, na Sábado de hoje, tem perguntas assim:

As sobras do Natal - um serviço público CC


Não sabe o que fazer às sobras da ceia de Natal?
A Associação Portuguesa de Nutricionistas pensou em si e editou uma e-brochura muito útil.
Vá lá, não desperdice as sobras!

FMI


Teresa Ter-Minassian, a mulher que o FMI mandou em 1983
a Portugal para acabar com o desvario da AD


Cavaco, no debate com Francisco Lopes, considerou que uma eventual “entrada” do FMI significaria que “o Governo falhou”. Convém recordar a Cavaco duas coisas:
    1. Estamos a passar pela maior crise económica e financeira global dos últimos 80 anos. O candidato Cavaco pode aperceber-se disso se começar a dedicar mais do que cinco minutos por dia a ler jornais.

    2. O FMI “entrou” em Portugal em 1983, depois de os Governos da AD terem, por motivos eleitoralistas, levado o país à bancarrota, sem que houvesse uma crise internacional. Eu sei que isso aconteceu há 27 anos, pelo que as falhas de memória são compreensíveis, mas talvez ajude o candidato Cavaco a recordar-se do episódio que levou o país a bater com a cabeça na parede se conseguir fazer vir à memória quem era então o ministro das Finanças (uma segunda escolha, é certo) de Sá Carneiro.

Reacções à coligação negativa

Excelente análise do Daniel Oliveira sobre o financiamento público do ensino privado, que merece ser lida na íntegra. Permita-se-me no entanto que destaque a parte em que se estranha o comportamento do PCP e do BE, que, ao lado do CDS e do PSD, viabilizaram um projecto para que continue a escorrer dinheiros públicos para os colégios privados:
    Aconteceu uma coisa estranha: ou para agradar aos professores do sector privado - que estão legitimamente preocupados com a sua situação laboral - ou apenas para atacar o PS, Bloco de Esquerda e PCP viabilizaram, através da abstenção, a proposta de Paulo Portas. Quando a perspectiva meramente sindical ou táctica cria este tipo de enviesamento ideológico percebemos que alguém anda desnorteado.

    Nos próximos anos, à boleia da crise, serão muitas as tentativas de, por portas travessas, conseguir o velho sonho de privatizar a Escola Pública. Que Cavaco Silva seja um aliado natural desta estratégia, não espanta. Essa é uma das razões que assusta a ideia de o ter em Belém quando Passos Coelho chegar a São Bento. Que a esquerda à esquerda do PS, por razões táticas ou meramente sindicais, não perceba o que está em causa neste espisódio já me deixa mais preocupado. Estou certo que, na especialidade, tratará de corrigir o tiro. Há combates demasiado importantes para estar a pensar em ganhos de circunstância.

“Bom senso” e “ponderação”, pede ele

Há dias, um Cavaco muito assertivo pedia, naquele jeito sincopado que só ele e Marques Mendes sabem usar, “bom senso” e “ponderação” a propósito da redução dos apoios financeiros às escolas privadas. Concluir-se-ia que o Governo decidira fechar completamente a torneira, como, de resto, se justifica, salvo quando o Estado não esteja em condições de garantir o acesso à escola pública (haverá algum lugar nesta situação?). Afinal, lê-se nesta entrevista da ministra da Educação que está previsto “um corte de 20% nas verbas para o ensino privado”. Que mais “bom senso” e “ponderação” quer Cavaco?

Quando se trata de mentir, a imaginação não tem limites


Os posts são como as cerejas...
Estava a ler o texto do Miguel sobre o analfabetismo da TVI na Alta Velocidade e lembrei-me de um caso tão ou mais 'engraçado' a que assisti ontem na mesma televisão.
Como se sabe, em 2011, o Governo vai transferir para as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) 1.251 milhões de euros, mais 2 por cento que no ano anterior.
Ora como deu a TVI essa notícia?
Que as transferências do Estado para as IPSS vão baixar em 2011.
E como chegou a TVI a tão espantosa conclusão?
Fácil: como a inflação prevista é de 2,2% e as comparticipações sobem 2, logo...
A TVI "esqueceu-se" que muitos pagamentos das IPSS (salários, por exemplo) não são necessariamente afectados pela inflação, pelo aquele tipo de leituras não faz sentido.
Mas o pior nem é isso: será que no dia em que foram anunciados aumentos de transportes entre 3,5% e 4,5%, a TVI abateu a inflação esperada e anunciou que os aumentos eram entre 1,3% e 2,3%?

♪ Natal (só até aos três anos)¹ [4]

          "Só há prenda para a mais nova, as outras já não são crianças. Os adultos este ano não têm presentes porque não há meios para isso".

          "Não me vou endividar para estimular a economia."
            Passos Coelho, cujo partido costuma dar aos líderes um vencimento igual ao de vice-primeiro-ministro


Deck The Halls

__________
¹ Com o Alto Patrocínio da Walt Disney.

Um espetanço a Alta Velocidade

Acontece aos melhores. Agora que o Pedro Correia tem andado a lembrar às massas o Programa do Governo — especialmente nos capítulos em que, ao fim de apenas um ano, a concretização ronda os 100% —, logo haveria de ser traído pela precipitação e pelo analfabetismo dos jornalistas da TVI.

Na realidade, a Alta Velocidade não foi adiada e o jornalista da TVI nem sequer se deu ao trabalho de tentar perceber a diferença entre "postponed" e "delayed".

Mais importante para a tese da TVI (porque de uma tese se trata), em ponto algum da resposta da Comissão Europeia se pode concluir que os fundos europeus destinados a aplicação até 2013 podem ser utilizados depois dessa data.

Quanto ao Pedro Correia, quando for novamente de férias para o Algarve, vai ver que a viagem de comboio vai ser mais rápida. A "propaganda", às vezes, é de grande utilidade para as pessoas.

Portugal tiene "una prensa muy suave" (para alguns)

Daniel Oliveira e Vítor Dias mostram como Cavaco tinha razão quando afirmou que Portugal tiene "una prensa muy suave".

A indústria da pobreza [13]

Este gráfico, também retirado do site da Fundação Res Publica, mostra a evolução das desigualdades no rendimento: olhando para 1995, fica-se a conhecer o estado em que Cavaco entregou o poder a Guterres; o retrocesso ocorrido nos primeiros anos deste século evidencia a forma como o PSD e o CDS-PP, quando governaram o país, encararam a questão das desigualdades. Veja-se:

Acerca do Estado Social

• Vital Moreira, A primeira condição do Estado social (ontem, no Público):
    Todos os dias, porém, a nossa esquerda radical proclama a "destruição do Estado social" às mãos da austeridade orçamental. É evidente que a redução substancial da despesa pública, conjugada com a estreita margem de aumento da receita (desde logo pelo débil crescimento da economia), não pode deixar de incluir a contenção ou mesmo a diminuição da despesa social, bem como a busca de uma maior eficiência financeira dos serviços públicos e das prestações públicas. Mas nem por isso se pode falar responsavelmente de "ataque ao Estado social", desde que os seus traços essenciais se mantenham, como é o caso.

    Antes de mais, o Estado social não tem um programa absoluto nem uma dimensão canónica. O perímetro concreto não é intangível. Muito menos pode ser insensível às crises orçamentais. Por exemplo, as prestações conferidas a título transitório para atenuar os efeitos sociais de uma crise económica, como sucedeu recentemente, não podem dar-se por intocáveis, uma vez passadas as circunstâncias que as justificaram.

    Entre nós, quase todos os casos de redução de prestações sociais decorrem da descontinuação de prestações extraordinárias criadas em 2008 e 2009 para atenuar o impacto social da severa recessão económica (o que conseguiram). (...)

    Muito menos se pode considerar como "ataque ao Estado social" a retirada de prestações àqueles que a elas não têm direito, como sucede com quem beneficia indevidamente de subsídio de desemprego (por estar efetivamente a trabalhar) ou do "rendimento social de inserção" e outras prestações não contributivas, por não passar no teste da "condição de recursos". As notícias relativas ao número dos que indevidamente recebiam tais prestações sociais devem ser saudadas como um avanço na redução de abusos e não como uma censurável demonstração da impiedade das medidas de austeridade.

Limonadas



Dois leitores chamaram esta manhã a minha atenção para este post sobre as “deambulações gastronómicas” de Fernando Lima — o assessor de Belém afastado (e imediatamente reintegrado, não fosse o dito diabo tecê-las) “depois de se ter sabido que passara informação vagamente paranóica a um jornal”.

Acontece que já havia feito alusão aos serões do assessor de Belém, que se dedica a fazer dossiês com dados dos políticos (e afins) em actividade.

Sabiam que...

… em 1993 apenas 16% dos processos de adopção plena duravam até três meses, enquanto em 2009 77% terminaram naquele espaço de tempo?

[Fonte: PORDATA]

terça-feira, dezembro 21, 2010

Contas públicas continuam a melhorar

Duas notas:

Um espectro paira sobre a Europa — o espectro da especulação

Por muito que a direita procure colar o Governo à maior crise mundial dos últimos 80 anos, a realidade sobrepõe-se: depois dos PIIGS, a França e a Bélgica são os novos alvos dos especuladores.

A palavra aos leitores — TGV

Texto do leitor Francisco Rodrigues na caixa de comentários deste post:
    As pessoas são contra o "TGV", por conveniência política ou por pura ignorância, pois não conhecem a Grand Vitesse (GV) e toda a sua história.

    Eu compreendo que em finais dos anos 70, em França, quando é proposta a alternativa de uma linha utilizando as mais modernas normas de engenharia de infraestrutura ferroviária, permitindo velocidades na ordem dos 270 km/h, para colmatar a saturação do troço Paris-Lyon da "Linha Imperial", tivesse havido muita conversa, de facto, compreendo. Miterrand, de certeza que naquele dia do ano de 1981, deve ter pensado muito, "será que isto vai dar?", não só deu, como mostrou ao mundo que o caminho-de-ferro de passageiros, tem futuro, relegando o meio aéreo para a sua verdadeira vocação, além de que resolveu um dos grandes imbróglios da rede ferroviária francesa.

    Em 1992, os espanhóis, pensaram do mesmo modo, para resolver o problema causado por um estreitamento em via única na linha Madrid-Sevilha, hoje estão na linha da frente da GV, com resultados espantosos.

    Os italianos, os grandes investigadores da tecnologia pendular (outra demagogia dos detractores da GV), para as suas linhas novas preferiram investir na infra e ter linhas GV, relegando a tecnologia pendular para a sua verdadeira vocação, colmatar as limitações das vias clássicas e no caso italiano em traçados onde seria inviável linhas de GV (i.e.: montanhosos).

    TGV (FRA), Eurostar (UK-FRA-BEL), Eurostar (ITA), ICE (ALE), Thalys(FRA-BEL-ALE-HOL), Shinkansen (JAP), AVE (ESP), são hoje nomes de sucesso no sector dos transportes e, NENHUMA, repito, NENHUMA ligação onde estas marcas operam se traduziu em algo contrário a um sucesso esmagador.

    Está comprovado pela investigação na área que as distâncias viáveis entre os extremos de uma linha GV, são entre os 300 a 800 km, ou seja a distância, quer do Porto, quer de Lisboa a Madrird, entre mais ou menos neste esquema, o traçado permite a viabilidade de uma linha GV, investir numa linha clássica com tecnologia de atamanco (pendular) seria uma anedota, seria puro 3º mundismo a nível da mobilidade (os EUA, são por exemplo 3º mundo nesse campo).

    Nas linhas de GV podem circular todo o tipo de comboios, para quem pensa que um mercas não pode passar por lá, em França todas as noites circulam "expressos" de mercadorias pelas linhas GV.

    Deixemos de secundarizar o Caminho-de-ferro, tal como é tradição desde Duarte Pacheco, o avião é um meio poluidor, vocacionado para distâncias superiores a 1000 km, não venham com Low Cost, porque é um termo que ainda vai dar muita dor de barriga, além disso os caminhos-de-ferro também têm as suas estratégias Low Cost (ex: IDTGV).

    E como será óbvio este investimento será benéfico para as linhas clássicas, pois o investimento nestas será inevitável, de modo a articular todo o tráfego.

    Se Portugal teve nas últimas décadas um desenvolvimento astronómico em termos de auto-estradas, porque não um pouco de megalomania relativa ao caminho-de-ferro, não iremos ficar à fome por isso, além disso não podemos descurar os compromissos europeus.

    É preciso ter cuidado com aquilo que ouvimos dos nossos comentadores de bancada, mais ainda com uma comunicação social, que anda mais interessada no apoio pouco subtil a certas agendas políticas de lateralidade mais dextra.

A indústria da pobreza [12]


Não há nada melhor do que um boneco para nos apercebermos de como a direita e a esquerda tratam a pobreza.

O gráfico retirado do site da Fundação Res Publica mostra o estado da pobreza no fim do consulado de dez anos de Cavaco Silva e o seu agravamento nos anos em que o PSD e o CDS-PP governaram o país no início deste século. Veja-se:


PS — Este gráfico é importante, mas Pedro Magalhães saberá melhor do que eu que não se pode ver a situação só em termos comparativos, uma vez que é preciso atender ao ponto de partida de cada país.

A reserva moral do cavaquismo



Rui Rio diz que "seria um erro não realizar as corridas da Boavista".

Viagens na Minha Terra (actualizado)