quinta-feira, março 31, 2011

Notinhas soltas

1. Cavaco decidiu voltar a levar à cena o espectáculo montado e apresentado na tomada de posse.

2. De tanto apregoar a verdade, Cavaco esqueceu-se de a praticar:
    “Nessas audiências, todos os partidos políticos, sem excepção, expressaram a opinião de que, no actual quadro parlamentar, não é possível gerar uma outra solução de governo com condições para resolver os problemas do País. Os partidos reafirmaram, aliás, a posição que haviam tomado quando os ouvi em Outubro de 2009, na sequência das eleições desse ano. Em consequência, todos defenderam a dissolução da Assembleia da República e a realização de eleições legislativas.”
Como o Presidente da República se recordará se fizer um esforço, o PS propôs conversações a todos os partidos representados no parlamento para a formação do governo em 2009, mas eles recusaram liminarmente.

3. A posição de mestre-escola que assumiu na sua declaração — pretendendo dizer aos partidos o que devem ou não fazer — revela que Cavaco sabe que em política o efeito de boomerang é devastador.

4. Não tendo mexido uma palha para evitar a crise política, Cavaco quer agora que o Governo de gestão assuma compromissos externos que a Assembleia da República recusou há dias — provavelmente em condições mais gravosas pela passagem do tempo.

E se Cavaco fosse estudar o que os governos de gestão podem fazer?

Ao cuidado de quem acha que o Governo, estando em gestão, pode negociar com o FMI um pacote de austeridade (depois de se ter demitido por o Parlamento ter recusado essa mesma austeridade):
    “actos que, seja qual for a função do Estado em que se integrem, devam ser considerados em absoluto vedados aos Governos de gestão. São eles, em nossa opinião:
    [...] - os actos contraditórios com os fundamentos da demissão, no caso de serem determináveis, designadamente se a demissão resultou de votação parlamentar. Pretender pôr em prática as orientações que conduziram à negação da confiança parlamentar ao Governo seria uma ofensa grave à Representação nacional - seria aquilo a que, no direito inglês, se chama contempt of Parliament.”
      in Diogo Freitas do Amaral, Governos de Gestão, 2.ª edição, p. 34

Saúde e educação: PSD deixa constitucionalistas à nora


Público de hoje

Eis, então, a "campanha limpa" (2)



Como dizia o outro, estava escrito nas estrelas. O Diário de Notícias, na edição online, repesca o artigo de opinião anónimo (!) publicado pelo ultra-conservador espanhol ABC, que nada fica a dever a peças de outras campanhas sujas do passado.

O artigo é de dia 27, mas para o DN mantém toda a actualidade (chegam a escrever no texto que foi escrito hoje) e até merece destaque na homepage.

A SIC-Notícias está a fazer o mesmo - e também diz que o artigo é de hoje, em vez de dizer que foi hoje que o PSD lhes fez chegar o link.

Critérios jornalísticos


Diferentes países, diferentes culpados. Na Áustria, houve mãozinha do Eurostat, mas em Portugal foi o “Governo” que falhou a meta.
    Pedro T.

Mudança de epígrafe

A rasteira está dada. Hoje, com a reunião do Conselho de Estado, cumprem-se apenas os formalismos. Sendo assim, é o momento para actualizar a epígrafe do CC.

Retira-se esta:
    “Governo terá de levar uma rasteira e sair.” — António Capucho, conselheiro de Estado, em 14.02.2011
Coloca-se esta:
    “Votámos contra o PEC porque não foi tão longe quanto devia” — Passos Coelho à agência Reuters, em 28/03/2011.

Ainda vamos ter saudades do i

José Sócrates foi a Coimbra assistir à cerimónia de atribuição do grau honoris causa a Lula da Silva. Os jornalistas preferiam, porém, que José Sócrates falasse de outra coisa qualquer - por exemplo, da hipótese de o Brasil comprar dívida pública a Portugal.
José Sócrates já comentou essa hipótese dezenas de vezes nos últimos meses, mas os jornalistas, sempre ávidos de novidades, queriam ouvir o mesmo comentário uma e outra vez...
Na cerimónia de atribuição do grau honoris causa a Lula da Silva, José Sócrates insistiu em falar (imagine-se).... da atribuição do grau honoris causa a Lula da Silva.
A generalidade dos jornalistas - a começar pelos das televisões, sempre muito inteligentes - ficaram muito zangados. Os do i levaram a coisa mesmo muito a mal - que Sócrates fale de Lula numa cerimónia dedicada a Lula é, ah sim, campanha eleitoral.
Pelo meio, o i ainda revela uma "conversa privada". Qual Código Deontológico, qual carapuça!? Estava em causa o superior interesse nacional - não é o que os jornalistas costumam dizer quando violam as leis? Então não é que Sócrates disse numa "conversa privada" que o mais certo é termos eleições lá para Maio ou Junho? Um escândalo, uma vergonha...

As renováveis, uma paranóia tipicamente portuguesa [2]

As renováveis, uma paranóia tipicamente portuguesa [1]

Viagens na Minha Terra (act.)

Um caso sério de demagogia (2)

O Diário de Notícias, cheio de boa vontade, ainda tentou, numa divertida "leitura simplificada", ver se algum fundo, nem que seja um fundozinho, permitia salvar o PSD, isto é, permitia a transferência de dinheiro das "grandes obras" para os tais projectos sociais, ou de emergência social. E encontrou um Fundo que permite tal coisa - o FEDER. Só que - azar! - tais verbas estão comprometidas para... escolas, lares e creches!

E nem a Caixa resistiria ao vendaval

Pedro Lains, Caixa Geral de Depósitos?:
    'Todos são contra a privatização da Caixa Geral de Depósitos, assunto de que se fala sempre a medo. Agora alguém ganhou alguma coragem, embora só tenha falado de "privatização parcial". Mesmo isso faz sentido? Objectivamente, não.

    (...) A Caixa também serviu ao longo da sua história como regulador mais ou menos formal, do mercado bancário e financeiro nacional.

    Todas as contas feitas, as coisas não têm corrido mal. A Caixa é uma boa fonte de receitas para o Estado e uma boa fonte de política financeira, sendo ao mesmo tempo um banco como os outros. Privatizá-la, para quê? Só se for para pagar uma parte da dívida nacional. Mas isso seria bom?

    Objectivamente, não, pois seria uma parte diminuta da dívida e, mais importante, o que interessa não é tanto pagar a dívida, mas sim garantir que ela não volte a crescer como até aqui, o que deve ser feito obrigando os mercados a dar os sinais correctos, resultado que não seria seguramente ajudado por um resgate artificial. A história acaba sempre por absolver. Mas quem privatizar a Caixa vai ter algum trabalho em passar pelo crivo. Sobretudo agora, que a venderia com um grande desconto.'

E o impossível aconteceu mesmo

Marina Costa Lobo, E as fragilidades políticas continuam:
    'Na semana passada, aquilo que parecia impossível aconteceu mesmo.

    Toda a oposição votou em conjunto para remover o Governo de Sócrates num período em que Portugal está no centro de todas os ataques dos mercados. As fragilidades políticas do País conjugaram-se para precipitar mais um abalo económico e financeiro para Portugal.

    Os resultados imediatos não se fizeram esperar. Segundo observadores estrangeiros, as probabilidades de um pedido de ajuda externa aumentaram. Naquilo que tem sido um ano negro, a verdadeira avalanche começou depois do anúncio da queda do Governo.'

♪ Traz Outro Amigo Também [5]

“Pedro és uma nódoa negra”

António Ribeiro Ferreira, Pedro és uma nódoa negra:
    ‘Ainda estupefactos com o que se tinha passado em Portugal, os líderes conservadores não perderam a oportunidade para falar a sós com o presidente do PSD. Claro que Angela Merkel foi um deles. A reunião durou uns bons minutos. O conteúdo foi revelado pouco tempo depois pela chanceler alemã, quando exigiu ao PSD a divulgação imediata de um pacote de austeridade para garantir as metas do défice para 2011, 2012 e 2013. Mas uma fonte bem próxima da líder alemã confidenciou ao ‘Correio Indiscreto’ que a conversa tinha sido muito dura e crispada.

    Com um sentido de humor muito apurado, a mesma fonte fez questão de salientar que Passos Coelho conseguiu sair do encontro sem nódoas negras no corpinho, o que já não foi nada mau. Mas para a líder alemã, o seu parceiro do Partido Popular Europeu não deixa de ser uma verdadeira nódoa negra. E está de acordo com Sarkozy, presidente francês, que até ficou mais alto depois de falar com Passos.’

Défice de 2010 nos 6,8


O INE explica que as alterações realizadas na metodologia pelo Eurostat obrigaram a uma revisão em alta do défice para 2010 em 1,8 pontos percentuais.
Em causa está a incorporarão nas contas nacionais das imparidades com o Banco Português de Negócios (BPN), que acrescentam um ponto percentual ao défice de 2010, 0,5 pontos percentuais provenientes das empresas de transporte e 0,3 pontos percentuais relativas ao Banco Privado Português (BPP). A nova metodologia aplicada em diversos países leva assim no caso de Portugal a uma revisão do défice inicialmente previsto em 6,8 por cento para os 8,6 por cento hoje divulgados.

ACT: Austrian 2010 Deficit Wider Than Expected on Rail, Bank Debt

Avaliação ou classificação de professores?
Não há questão que resista à mente brilhante de Passos Coelho


O PSD publicou na sua página oficial um conjunto de princípios — ou seja, de ideias vagas e vagamente inteligíveis — sobre a avaliação — ou seja, sobre a avaliação e a classificação (sim, porque são coisas diferentes, não sabiam?) de professores.

Recomenda-se vivamente uma leitura integral, até porque o texto — ou seja, o prolixo desfiar de tautologias e outras considerações igualmente redondas e vazias de sentido útil — fala por si, dispensando quaisquer comentários.

De todo o modo, sempre vou destacando algumas pérolas:

"O quadro legal que venha a ser definido deve tratar autonomamente a avaliação do desempenho e a classificação do desempenho" - De facto, Passos Coelho já o tinha dito na entrevista à SIC. Mas, já agora, será que alguém consegue explicar, em português perceptível, qual é a porra da diferença?

"O modelo de avaliação e classificação do desempenho deve ser desenvolvido com a colaboração estreita dos actores a quem se destina, substituindo a lógica da imposição pela lógica da aceitação" - Que ingenuidade... Vê-se mesmo que não conhecem o Mário Nogueira! Nem imaginam a peça que vão apanhar pela frente...

"O modelo de avaliação e de classificação do desempenho não deve ser universal, isto é, não deve ser o mesmo para contextos científicos e pedagógicos diferentes" - Ou seja, não deve ser um modelo, mas uma colecção multiforme de experiências e casos especiais.

"A avaliação do desempenho deve privilegiar a avaliação do desempenho da Escola, enquanto somatório do desempenho dos seus actores" - Quer dizer, a qualidade de cada fatia depende da qualidade do bolo como um todo, enquanto somatório das várias fatias. É mais ou menos isto, não é?

"A avaliação do desempenho deve visar a gestão do desempenho" - Ah, pronto, já podiam ter dito. Agora é que eu fiquei esclarecido!

"A avaliação e a classificação do desempenho devem ser consequentes, num quadro de correspondência bem definida entre autonomia e responsabilidade" - OK, mas isto significa exactamente o quê?!

Por fim, deixo apenas um conselho: para a próxima, por favor, escrevam em inglês. Pode ser que se assim se consiga perceber o que pretendem. Eu, pelo menos, fico à espera da tradução...

Avaliação dos professores: a coerência do PSD





Enviado pelo leitor Rocha F.

quarta-feira, março 30, 2011

Que mais pode fazer Passos Coelho para chamar o FMI, o seu aliado natural?

Ainda na redacçãozinha feita para o Wall Street Journal, Passos Coelho não parece convencido de que a crise política que desencadeou seja suficiente para conseguir que o FMI atravesse a fronteira, a fim de ajudar o PSD a impor o seu programa. Daí que, embora a execução orçamental dos dois primeiros meses do ano revelem que o país está no bom caminho, o líder do PSD faz questão de dizer no estrangeiro que acha que Portugal não cumprirá o défice de 4,6% em 2011.

À atenção dos trabalhadores do Estado

Para que conste: Passos Coelho escreve um artigo no "Wall Street Journal" em que acusa o governo de arrastar os pés nas reformas "likely to affect, directly or indirectly, state financed-employment" ocultando deliberadamente uma das medida mais duras tomada por este Governo - a redução de salários dos funcionários públicos. Esta é a política de verdade que resta ao PSD.
    Pedro T.

Eis mais um exemplo da "campanha limpa"

Luís Filipe Menezes é presidente de uma câmara municipal. Ao contrário de Fernando Negrão, ele tem a obrigação de saber que o decreto-lei hoje revogado não tem nada a ver com “ajustes directos”. Ao acabar de dizer na SIC-N que o diploma permitia que os governantes autorizassem “ajustes directos de milhões”, o presidente da Câmara de Gaia agiu de má-fé. É que ninguém acreditaria que, depois de estar à frente de um município durante tantos anos, não tivesse conhecimento da lei.

Um deputado útil

O PSD escolheu Fernando Negrão para tomar a defesa da revogação do diploma a que se referem os dois posts anteriores. É a escolha certa. O deputado que, quando foi candidato à presidência da Câmara de Lisboa, não conseguia distinguir a EPAL da EPUL é, de facto, a pessoa indicada para revelar, com toda aquela convicção que o céu dá aos pobres de espírito, a sua piedosa ignorância.

Ainda o regime de autorização das despesas inerentes aos contratos públicos [2]
– agora com um exemplo

O António e o Bruno são administradores do condomínio. Têm um orçamento de 10 mil euros. Como não estão no prédio a maior parte do dia, o Carlos, já reformado, teve a bondade de se disponibilizar para ajudar, ficando com a competência de realizar as despesas do dia e dia e respectivos pagamentos.

O regulamento do condomínio, já antigo, diz que qualquer despesa acima de 50 euros tem de ser aprovado pela assembleia de condóminos. Atento a este valor, o Carlos apenas estava autorizado a realizar despesas de metade deste valor, ou seja, 25 euros.

Todos os condóminos consideravam que isto era impraticável. Então, reuniram-se em assembleia e decidiram o seguinte:
    • Os administradores passam a poder realizar despesas até 500 euros sem necessidade de ir à Assembleia de Condóminos;
    • Podem delegar despesas até 200 euros a qualquer dos condóminos;
    • As despesas acima dos 500 euros têm de ser aprovadas pela Assembleia de Condóminos;
    • Conforme já era regra, as despesas acima dos 400 euros continuam a apenas poder ser realizadas mediante cheque visado pelo banco.
Esta alteração veio dar mais autonomia ao António, ao Bruno e também ao Carlos, tornando muito mais eficaz e célere a gestão corrente do condomínio. O orçamento da administração manteve-se, evidentemente, o mesmo. Nem isso alguma vez tinha estado em causa – nem podia, visto tratarem-se de coisas absolutamente distintas.

Duarte, um vizinho que queria ver aquela administração pelas costas, veio, manhosamente, colar cartazes em todos os andares do prédio a dizer o seguinte:
Alerta
    • Administração aumenta (e muito) os gastos.
    • Gastos em dinheiro vivo (e não por cheque visado) vão aumentar exponencialmente.

Ainda o regime de autorização das despesas inerentes aos contratos públicos [1]

Parece que a oposição conjugará hoje esforços em mais uma santa aliança eleitoralista. Desta vez, para revogar o decreto-lei que estabelece o regime de autorização das despesas inerentes aos contratos públicos a celebrar pelo Estado, autarquias locais e outras entidades públicas.

Não me vou demorar a tentar explicar, uma vez mais, o embuste gerado em torno deste tema. O CC já o fez aqui e aqui (pela pena de um leitor quase convencido a juntar-se ao “colectivo Abrantes”). Também aqui se procurou esclarecer devidamente esta questão.

Gostaria apenas de acrescentar duas breves notas.

A primeira é como é que um diploma que trata de quem tem competência para autorizar despesa se tornou no diploma do aumento dos ajustes directos (aqui e aqui)? Desafio desde já quem tenha a paciência para encontrar qualquer referência no diploma a ajustes directos. Simplesmente não existe.

A segunda é a questão suscitada ontem pelo PCP, de que o diploma padeceria de uma ilegalidade por o Governo ter deixado caducar a autorização legislativa, que terminou a 31 de Dezembro de 2010 (artigo 42.º). Ora, o decreto-lei em causa foi aprovado pelo Governo no Conselho de Ministros de 23 de Dezembro, respeitando integralmente os termos da autorização.

Coisas cómicas

"Eu estou no PPE, faço parte dos órgãos do grupo parlamentar do PPE e, portanto, a posição é claríssima sobre essa matéria. Outra coisa são os primeiros-ministros de outros países que falam a nível do Conselho. Uma coisa é falar a nível institucional, outra coisa é falar a nível político. Não há que confundir os planos. Mas não tenham dúvidas de que a chanceler Merkel quando vir o Governo do PSD vai respirar de alívio".

Paulo Rangel

Viagens na Minha Terra

Eis, então, a "campanha limpa"

O expediente é o do costume.
Primeiro, faz-se publicar "a história" lá fora. "Validada" dessa forma, depois é só pôr "a história" a correr cá dentro.

Note-se no excerto que o blogue oficial do passismo foi retirar a este artigo do ultra-conservador jornal espanhol ABC. Precisamente o parágrafo com o rol de falsidades com que, ao longo dos últimos anos, se tentou destruir o carácter de José Sócrates.

E a campanha, ou diremos 'campanha', ainda nem sequer começou.

Act: no 31 da Armada, estavam tão excitados a cumprir as ordens de cima que se atropelaram. Resultado: um dos assessores parlamentares teve de apagar o post acabadinho de escrever:

A invasão dos carros eléctricos


[Jornal de Negócios, 30 Mar 11]

Toda esta semana, há carros eléctricos em várias cidades do país. Uma pena que os afazeres profissionais impeçam a participação do especialista em redes sociais Rodrigo Moita de Deus.

Tudo e o seu contrário

Passos Coelho está contra a actualização (que é anual) do PEC porque:
    • [Para consumo doméstico] se está “a lançar exigências adicionais sobre aqueles que sempre são sacrificados”;
    • [Para inglês alemão ver] as medidas propostas são “insuficientes”.
O leitor Luís P. deixa na caixa de comentários deste post mais um vídeo, juntando estas duas declarações antagónicas:

Um caso sério de demagogia





[Público, 30 Mar. 11]



Às pinguinhas, o PSD vai concretizando as propostas que tenciona apresentar aos portugueses, em eventuais eleições legislativas.
Imitando a dra. Manuela, que já imitava Durão Barroso - "Não haverá TGV enquanto houver uma criança com fome" - a rapaziada da São Caetano atira-se novamente às chamadas "grandes obras públicas" e quer mesmo transferir os fundos europeus que lhes estavam destinados para... a segurança social.
Vejamos um caso: o TGV.
Como se pode constatar aqui, o projecto de Alta Velocidade será financiado por dinheiros comunitários oriundos de dois fundos - o Fundo das Redes Transeuropeias de Transportes (RTE) e a o Fundo de Coesão.
O Fundo das RTE, obviamente, destina-se a... transportes, e não se entende como poderão as suas verbas financiar a segurança social.
O Fundo de Coesão tem regras muito claras e há muito conhecidas: no domínio do ambiente e no das redes transeuropeias de infra-estruturas de transportes.
Conclusão: Passos Coelho prepara-se para enganar os portugueses.

♪ Traz Outro Amigo Também [4]

O que é difícil é começar a mentir¹




¹ Rapinado indecentemente a André Salgado

E Passos Coelho consegue dizer tudo isto sem corar?

E da manga sai uma solução verdadeiramente promissora: um "programa de emergência de apoio aos mais carenciados e às 'vítimas' das medidas de austeridade aplicadas nos últimos meses". O país não pode esperar pelos pormenores desse programa - é que se a situação é de emergência, a pior coisa a fazer era deixar as vítimas na incerteza.

Ora, tendo em conta que o líder do PSD:

- acha que o país tem pensado de mais, no passado recente, em redistribuir o pouco que tem em vez de crescer e enriquecer;
- não quer uma "sociedade subsídio-dependente";
- não tem nenhuma simpatia pelos actuais "sistemas de redistribuição burocratizados e pouco inteligentes";
- não sabe reconhecer as elementares tendências de redução da pobreza e desigualdade nos últimos anos, elas próprias resultado positivo das mesmas políticas que Passos Coelho desvaloriza;
- que as propostas na área do emprego que lhe são conhecidas - o tributo solidário e a possibilidade dos contratos de trabalho serem "orais" - fazem parte da pré-modernidade das políticas sociais, são indignas de qualquer sociedade europeia, denotam uma ignorância espantosa tanto dos traços dos problemas como das soluções possíveis (como a diferença entre prestações contributivas e prestações não-contributivas);
- e que o capítulo dedicado às políticas sociais na sua “Moção Global de Estratégia ao XXXIII Congresso Nacional do PSD” é, no essencial, dedicado às IPSS, dando a ideia de que o Estado deve ceder-lhes a sua posição no combate à pobreza e à exclusão...

...as expectativas não podem deixar de ser as mais elevadas.

O país anseia - exige! - conhecer as condições de acesso e o conteúdo próprio do que podemos chamar o PEAVA: "Programa de Emergência de Apoio às Vítimas da Austeridade".
    Contributo do Pedro T.

Por que os monárquicos lusos não vingam?


Para absoluto espanto nosso, os monárquicos domésticos deixaram passar uma oportunidade histórica para fazer valer os seus pontos de vista. Nunca foi tão óbvia, como neste momento, a associação de um presidente da República a uma facção do espectro político.

Quando se esperaria que os monárquicos defendessem que um rei jamais seria o patrocinador de uma facção — colocando-se, portanto, acima dos partidos —, eles deixam-se ficar nas covas. Será difícil que apareça outra situação que lhes dê tantos pretextos para defenderem a restauração da monarquia.

terça-feira, março 29, 2011

Para memória futura

José Sócrates, hoje:
    A situação [de Portugal] está pior do que tínhamos antes” porque “a somar à crise económica há uma crise política”, acrescentando que “a oposição quis abrir uma crise política” e “fizeram-no não por uma razão objectiva, mas por cobiça de poder.”

    Lamento que isso tenha acontecido e que os partidos não tenham a responsabilidade de apresentarem medidas. Não basta dizer que se comprometem. O que é importante é que digam quais são as medidas para chegar a esse défice.”

    Fui o único responsável político que avisou para que esta situação pudesse ocorrer. Passei 15 dias a dizer isso” e a apelar aos partidos da oposição para negociar com o Governo. Mas os partidos “não quiseram um compromisso com o Governo. E não apresentaram alternativas.”

Prémio Nobel da Arquitectura…

… para Souto Moura (o Eduardo, aquele que é muito bom no que faz).

Continue, continue…

Às vezes, um segundo basta para fazer ruir a imagem postiça de estadista, que oscila entre o mau gosto e a pose melodramática.

A dissolução dos cravos

Parlamento suspende o 25 de Abril — mas a democracia continua.

Outro homem invulgar




Leite Campos, vice-presidente do PSD

Da série "Frases que impõem respeito" [589 - dose múltipla]

Parece uma perda de tempo não se aprovar o PEC IV e a seguir reafirmar-se os objectivos do Orçamento.


A evolução dos mercados requereria que os políticos se debruçassem mais sobre a forma de abordar os mercados".


Há muita especulação sobre a vinda do FMI. Isso é legítimo, dada a situação política que o País se encontra.


Vejo muitos analistas e economistas a diabolizarem o FMI e acho que têm razão. A chegada do FMI tem consequências enormes para a economia.

Ricardo Salgado, presidente do BES

Cultura democrática, essa coisa que não está à venda nas feiras

Há situações que marcam indelevelmente a natureza dos partidos políticos. Um partido constituído por gente que combateu o Estado Novo e se robusteceu na luta contra as tentativas ditatoriais de sinal contrário, como é o caso do PS, tem enraizada uma cultura democrática que o protege dos vendedores de feira que lhe apareçam pela frente. É este lastro democrático que falta ao PSD, esse amontoado de cacos da Acção Nacional Popular (ANP) reconvertidos à pressa.

O terrível Ângelo não entende esta diferença abissal — e outras mais há — entre o PS e o PSD. Por isso, naquele estilo rançoso do tempo das “forças vivas” da ANP, o político-empresário Ângelo Correia quer agora, depois de ter andado a fabricar líderes do PSD, alargar a sua actividade ao Partido Socialista. Deixemo-lo andar ao engano.

Prestar atenção

    “Acredito muito naquilo que os padres do deserto diziam, que o grande pecado é a distracção.”
      Através do Pedro chegamos a José Tolentino Mendonça

Matem o Sócrates !



António Ribeiro Ferreira, com aquela inocência dos malucos, diz hoje no Correio da Manha o que toda a direita pensa, mas não tem coragem de dizer:
O secretário-geral do PS foi reeleito este fim-de-semana com mais de 93 por cento dos votos. Um resultado que supera os obtidos há dois anos.
Uma sondagem da TVI, realizada depois da demissão do Governo, dá 32,8% das intenções de voto dos portugueses ao Partido Socialista. Vários senadores desta triste República andam por estes dias a congeminar soluções para salvar esta terrinha de Santa Maria.
Depois de muitos neurónios queimados, chegaram à conclusão que é urgente defender o País do senhor engenheiro relativo. A bem ou a mal. Mesmo que os indígenas entendam o contrário e não queiram dar o seu aval a rapazinhos sem uma única ideia sólida na cabecinha. A democracia é mesmo uma maçada. Resta uma solução. Em nome da Pátria, matem o homem.

Outro que está contra o oportunismo do PSD em relação à avaliação dos professores



Enviado pelo leitor Luís P.

A Caixa de Pandora

Dr. Passos & Mr. Coelho




Este fim-de-semana ficou demonstrado que Passos Coelho sofre de um severo distúrbio de dupla personalidade.

Quando fala a partir de Portugal, em língua portuguesa e para os Portugueses, ele é o Dr. Passos, um político preocupado com os mais desfavorecidos, que chumbou o PEC porque continha um conjunto de “novas medidas gravosas e extremamente injustas.”

Mas quando fala no estrangeiro ou para órgãos de comunicação social estrangeiros, em língua inglesa, ele transforma-se (quer dizer, revela-se) e é então que surge Mr. Coelho, um político da linha dura, que chumbou o PEC porque as medidas de austeridade aí previstas eram “not sufficient and not efficient enough” ou, noutra formulação: “We voted down the austerity package not because it went too far but because it didn't go far enough to deliver results on public debt”. Também em inglês, o PSD emitiu um comunicado em que admite a necessidade de levar a cabo reformas que ponham em causa o “state financed employment”, ou seja, o emprego na função pública e no sector empresarial do Estado. Tudo coisas que o Dr. Passos, em português e no seu tom delicodoce, não nos diz.

Já no que diz respeito ao IVA, não é sequer necessário adoptar a língua inglesa para as personalidades se começarem a desmultiplicar. Num dia, em pleno Parlamento português, o PSD chumba o PEC porque este “mantém a receita preferida deste Governo: a solução da incompetência. Ou seja, se falta dinheiro, aumentam-se os impostos”. No dia seguinte, o próprio Passos Coelho, em Bruxelas, admite a subida do IVA. Para, logo a seguir, em entrevista à SIC (ou seja, novamente em Portugal), desconversar sem se comprometer seja com o que for.

Mas é no que diz respeito à privatização da Caixa Geral de Depósitos que a esquizofrenia atinge o seu pico máximo. Há dois anos atrás, Passos Coelho propôs com pompa e circunstância a privatização do banco do Estado. Entretanto, sobreveio a maior crise de sempre no sector financeiro e Passos Coelho “meteu a viola no saco”, recuando nesta sua intenção: “Julgo não ter avaliado bem a reacção das pessoas, que mostraram intranquilidade perante a minha ideia”. Em 2010, apareceu a dizer que a Caixa deveria ficar “livre de negócios como seguros e saúde e a funcionar como banco de desenvolvimento”. Esta semana, porém, em entrevista à Reuters, voltou a recuperar uma ideia que de que nunca mais tinha falado: a privatização (agora parcial) da Caixa Geral de Depósitos.

Em suma, este Senhor tem várias caras. Quem é que confia nalguém que diz uma coisa cá dentro e outra lá fora? Quem é que acredita em alguém que muda de opinião ao sabor do vento? E ainda tem ele o descaramento de dizer que derrubou o Governo por uma questão de credibilidade…


Imagem oferecida pela Fátima Rolo Duarte

Ilusionismos

Avelino Jesus foi colocado pelo PSD na comissão de avaliação das parcerias público privadas para se demitir alegando que o Governo não facultava a documentação necessária.
O truque falhou - o presidente da referida comissão veio esclarecer que toda a documentação solicitada tinha sido entregue.

Um aborrecimento: Avelino Jesus já tinha opinião formada e só precisava dos papéis oficiais para a exprimir. "Os consultores dizem o que as pessoas que fazem a encomenda querem ouvir" - diz agora, revelando às claras a função para a qual tinha sido escolhido.

Estatuto dos Açores revisitado

Lembram-se da polémica em torno do Estatuto dos Açores? Lembram-se do ar grave com que Cavaco Silva, interrompendo as suas férias estivais, se dirigiu ao país à hora dos telejornais? E será que alguém ainda se lembra do que então estava em causa? Quais os motivos da indignação presidencial?

Eu ajudo: o novo Estatuto dos Açores previa que o Presidente, para dissolver a Assembleia Legislativa Regional, tivesse que ouvir entidades que a Constituição não exigia que fossem ouvidas, como por exemplo o Presidente da Assembleia Legislativa Regional. E Cavaco Silva viu nisto uma compressão intolerável dos seus poderes presidenciais.

Agora façam um fast forward para a actualidade. No contexto da actual crise política e com vista - ao que tudo indica - à dissolução da Assembleia da República, o Presidente tem vindo a realizar audições. Recebeu na passada sexta-feira os partidos políticos, recebeu hoje o Presidente da Assembleia da República Jaime Gama, e convocou para a próxima quinta-feira o Conselho de Estado.

Sucede que, nos termos do artigo 133.º, alínea e) da Constituição, para dissolver a Assembleia da República o Presidente só tem de ouvir os partidos nela representados e o Conselho de Estado. Nada o obriga a ouvir o Presidente do Parlamento.

Ou seja, Cavaco Silva fez agora - voluntária e opcionalmente - aquilo que, em 2008, a propósito do Estatuto dos Açores, considerou que era uma limitação inaceitável dos seus poderes. O que só vem comprovar que o que estava em causa no Estatuto dos Açores não era assim tão grave nem justificava tamanha agitação e que tudo aquilo não passou, afinal de contas, de uma tempestade num copo de água.

Ou isso, ou o Presidente decidiu submeter-se desde já ao projecto de revisão constitucional do PS, que prevê - justamente - que o Presidente da República tenha que ouvir o Presidente da Assembleia da República antes de dissolver a dita.

♪ Traz Outro Amigo Também [3]


Simone e Ivan Lins

Passos Coelho chamado à cabine de som (para se explicar) [2]

Outra forma de colocar a coisa — a Pimco, a maior gestora de fundos a nível mundial, diz que a crise política "selou o destino de Portugal".

Os mercados, os tais mercados que a rapaziada da São Caetano venera, não têm dúvidas do que está na origem deste acréscimo de dificuldades para os portugueses: a crise política desencadeada alegremente pelo PSD.

Passos Coelho chamado à cabine de som (para se explicar)


Fitch: Crise política tornou intervenção do FMI inevitável:
    'Numa nota enviada aos investidores sobre Portugal, a agência de "rating" diz que o Orçamento ia no bom caminho para cumprir as metas prometidas. Mas a crise política minou a confiança de que estas venham a ser cumpridas. Para a restaurar é preciso agora uma intervenção externa.'


Imagem oferecida pela Fátima Rolo Duarte.

'O eleitorado, especialmente num momento tão grave para os portugueses, é suficientemente maduro para não querer meter os ovos todos no mesmo cesto'

Mário Soares, A demissão consagrou-se:
    ‘A perspectiva de aumentar o IVA - que Passos Coelho anunciou, como teste - deve tê-lo convencido, pelas reacções negativas que provocou, que terá escolhido o pior momento para desencadear uma crise política, desejada por alguns, com certeza, mas cuja oportunidade o eleitorado em geral não compreende nem aprova. Nem pela maioria dos empresários que temem, com razão, a recessão que está à vista...

    É certo que o líder do PSD deve ter sido muito pressionado pelos seus correligionários, ávidos de poder, que não escondem, aliás, que não o suportam e o querem substituir, uma vez realizada a sale besogne, como dizem os franceses. Isto é: o trabalho mais impopular e difícil. Como outros queriam "fritar em lume brando" José Sócrates. Mas ele não os deixou fazer...

    E agora? Vamos ter eleições, que se anunciam para fins de Maio, princípios de Junho. E até lá? Vai ficar o Governo demissionário, sem autoridade, a fazer o menos possível. Porque não é lógico que faça, como é óbvio, a política que o Parlamento rejeitou. Este é um dos imbróglios em que estamos metidos. Dois meses decisivos, sem que ninguém saiba para onde vamos. Foi, por isso, que me permiti alertar o senhor Presidente da República para o perigo de cairmos num vazio de poder. Mas, ao que disse, parece que "foi tudo muito rápido, e não teve espaço de manobra para intervir".’

Esperança reciclada

Enquanto o PSD acha a situação do país é tão grave que pode deixar-nos às escuras quanto às suas grandes soluções para o país, Miguel Relvas sempre vai dizendo que o partido vai apresentar aquilo que classifica de "“projecto de esperança”".

Onde é que nós já ouvimos isto? Será que o Relvas foi à pressa a ler Obama? Nada disso. A linguagem da "esperança" está nos genes políticos de Relvas. Então não foi ele que nos quis convencer, em Outubro de 2004, que o Orçamento de Estado de 2005, de Bagão Félix e Santana Lopes, transmitia uma mensagem de "esperança no futuro"?

Foi o que se viu. Relvas não merece uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão.
    Contributo do Pedro T.

A palavra aos leitores

A propósito da entrevista de Diogo Leite Campos, referida aqui, o leitor Manuel L. enviou este e-mail:
    'O PSD continua a inovar a vida política portuguesa, batendo todos os recordes de brejeirice. Hoje, foi Diogo Leite Campos a dizer que quem anda a "mamar no Estado" vai ter de apertar o cinto. Populismo à parte, a linguagem chocarreira das gentes que tomaram conta do PSD mete dó - mas mete também medo (...).'

Definição de partido responsável

É já hoje


segunda-feira, março 28, 2011

Mais um historiador que dispensa o distanciamento


O Público teve uma excelente ideia - encomendou para o fim-de-semana (sábado, 26) um texto ao historiador Filipe Ribeiro de Meneses (autor da recente e badalada biografia de Salazar) sobre a actual crise política.
Infelizmente, saiu um texto sem grande nexo e tendencioso.
O autor tenta fazer um paralelo com 1928 e 1891, a partir da ideia da insustentabilidade das nossas Finanças. Percebe-se a causa - o enorme desequilíbrio entre o que produzimos e o que gastamos - mas não se descortina o paralelismo nas consequências.
Na análise à situação actual, o historiador faz duas ou três citações de Paulo Portas, outras tantas de Passos Coelho, uma ou duas de Cavaco e ainda de... Luís Amado.
É claro que um texto, ou uma tese, não pode ser avaliado apenas pelas citações. Mas, neste como noutros casos, elas são reveladoras.
O historiador tentou analisar a crise actual a partir do olhar de Portas, Passos, Cavaco e Amado. Mas não daquele que, em seu entender, é o fautor da actual crise: Sócrates.
Ou seja, a análise do historiador, que o Público (presume-se...) pretendia mais densa e distanciada, acaba por padecer da principal pecha do jornalismo e do "comentarismo" doméstico - sustentar uma tese pré-concebida, sem sequer se dar ao trabalho de ouvir (e ouvir implica tentar compreender) a argumentação de uma das partes.
Mais do mesmo, portanto.

Da série "Frases que impõem respeito" [588]

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O FMI não resolve o problema de Portugal, como não resolveu o do Brasil. Criou mais problemas do que soluções.
      Lula da Silva, hoje, em Lisboa, com Mário Soares e José Sócrates

Todos à TVI 24, está lá Diogo Leite Campos (acabadinho de receber autorização para sair da prateleira)

Referindo-se à situação portuguesa, o inimitável Diogo Leite Campos, vice-presidente do PSD, acaba de dizer à TVI 24: “Se isto não é o FMI, não sei o que é o FMI.”

A partir de amanhã, a gente vai ver o que o FMI anda a fazer por aí. Como o Pedro já começou a mostrar aqui.

Afinal, os conselheiros nacionais do PSD são ouvidos

Passos Coelho decidiu chumbar a actualização anual do PEC numa madrugada de sexta para sábado. Provavelmente, terá conversado com os seus colaboradores mais próximos: Relvas, Marco António e Moedas. Mas só na terça-feira seguinte o líder do PSD reuniu a comissão permanente e a comissão política, para lhes dar conta de um facto consumado.

O conselho nacional, principal órgão do PSD entre congressos, não foi chamado a pronunciar-se sobre a decisão da rapaziada da São Caetano de abrir a maior crise política das últimas décadas. No entanto, eis que repentinamente Passos Coelho decide arrancar os conselheiros do seu remanso para os consultar. Para ratificar o que Passos Coelho decidiu antes, sem ouvir os órgãos competentes do PSD?

Nada disso, para além da rotineira “análise da situação política” a que nenhuma reunião de partido foge pela natureza das coisas, o ponto alto do conselho nacional será a avaliação das “contas do partido”. Ou a malograda Dr.ª Manuela deixou o PSD insolvente ou isto é uma brincadeira pegada.

Mas os conselheiros nacionais é que sabem…

Eleitores know it better

Os alemães do Baden-Württemberg afastaram o partido de Merkel do poder, o que acontece pela primeira vez desde há 58 anos. Entre outros factores, os eleitores desde importante land alemão não terão apreciado o volte-face da chanceler relativamente à energia nuclear, considerado eleitoralmente oportunista, contrariando o que até há poucos meses defendia. Penalizaram aquilo a que poderíamos chamar uma autêntica cambalhota política.
    Contributo do Paulo F.

Se até a Renascença o diz...

• Raquel Abecasis, Maus Sinais:
Ao colaborar com a esquerda e com o CDS na iniciativa de acabar, a meio do ano lectivo, com o processo de avaliação que tanto custou ao Governo cessante implantar, o PSD dá mostras de optar pelo facilitismo e pela lógica, tão portuguesa, de estragar tudo o que foi feito pelo Governo anterior, só porque não é da mesma cor política.

É um péssimo começo para quem, em circunstâncias tão difíceis, pretende chegar ao poder. Portugal não está em estado de continuar a brincar aos governos e se Passos Coelho não dá rapidamente mostras de que percebeu isto, melhor seria não ter provocado esta crise.

Se quer ter hipótese de ganhar eleições, o PSD deve preocupar-se em mostrar o que vai fazer de diferente e não como vai desfazer a herança do Governo anterior.

O Pedrito…

… deve ter alguma coisa a ver com isto: Los inversores redoblan su acoso contra Portugal

… e com isto:
Pelo menos, a imprensa económica refere que a Europa ainda está banzada com a crise política provocada pelo PSD.

A palavra aos leitores

Comentário da leitora Ernestina Sentieiro, publicado na caixa do post em que se reproduz um excerto do editorial de Helena Garrido no Jornal de Negócios:
    Para conhecer a sondagem TVI, deu-me para seguir o Jornal Nacional de domingo. A custo. Muita gente olha para Marcelo como se fosse um videirinho desacreditado. Não — o caso é mais sério! A "missa" é uma enorme violência, tão desbragada é a manipulação. Disparou contra José Sócrates (assim manda a idiota campanha laranja), fingindo que interpretava dados que, porém, não existiam. Comentou cenários assentes em resultados... não mostrados. Sem pingo de vergonha. E tão prolixo foi que se "esqueceu" de avaliar a prestação de Passos Coelho. A "lata" é enorme, mas já nem chegou para forjar qualquer coisinha boa sobre o PPC.

    A cena vergonhosa a que se refere Helena Garrido é mais um capítulo da saga em que vários mastins procuram, a qualquer preço, abocanhar os votos dos professores. Tenho muitos na família e a honra de ser amiga de muitos deles. Quem pensa que eles são todos parvos engana-se.

Ainda que mal pergunte... [27]


Já alguém se perguntou como reagiria Portugal a uma crise das dívidas soberanas se ela tivesse ocorrido em 2004?

O retrato de um jovem desorientado

• Helena Garrido, Tirem-nos deste filme:
    'Irresponsabilidade, incompetência, partidarismo carreirista e mediocridade. São estas a características do que se pode dizer, de forma minimamente educada, sobre aquilo a que temos assistido durante os últimos quinze dias em Portugal.

    A última cena deste filme de terror de baixa qualidade - já não tem a dignidade de uma peça de teatro - é a eliminação da avaliação dos professores aprovada em tempo recorde pelos partidos da oposição, sexta-feira, na Assembleia da República. Deitou-se para o lixo mais de quatro anos de trabalho e persistência de uma das melhores e mais corajosa ministra da Educação que o país teve, Maria de Lurdes Rodrigues. Tudo porque os partidos de poder que estão na oposição, o PSD e de alguma forma o CDS, caíram na tentação bacoca de conquistar os eleitores que são professores. Devem pensar que não só o país mas também os professores são parvos. O acto da eliminação da avaliação dos professores é não só grave como tem um enorme valor simbólico. Vale mais do que milhares de análises sobre pelo menos duas décadas perdidas de tentativas de reformas estruturais. Os grupos de pressão em Portugal, principais responsáveis pelo estado em que o país se encontra, têm nos partidos os seus grandes aliados. Da construção que conseguiu que se fizessem estradas desnecessárias até à banca, justiça, saúde e educação, todos os protagonistas destes sectores manipulam com grande sucesso partidos políticos recheados de militantes anónimos que, na sua maioria, vivem à mesa do Orçamento do Estado e fazem tudo menos pensar nos interesses do país.


      Todo o processo que levou ao irresponsável "não" do dito PEC IV é mais um exemplo da irresponsabilidade e falta de sentido de Estado que enxameia nestes tempos as lideranças políticas. Os analistas dos bancos internacionais com quem o Negócios foi falando desde a Cimeira de 11 de Março tiveram grande dificuldade em compreender como foi possível Portugal deitar pela janela fora um apoio europeu que nem a Grécia nem a Irlanda tiveram. Os gregos imploraram ajuda, os irlandeses foram empurrados para a ajuda e os portugueses, dizia um dos analistas, atiraram-se para a ajuda. Imaginem como já está a imagem de Portugal.


        O que torna o "não" ao PEC IV e a precipitação para eleições antecipadas ainda mais incompreensíveis é tudo o que aconteceu a seguir, tendo como personalidade central o líder do PSD. As declarações de Pedro Passos Coelho durante os últimos quatro dias revelam uma desorientação e até um desconhecimento sobre a dimensão do problema financeiro português e europeu que são assustadoras. Não queremos acreditar que Passos Coelho desconhecia que o PEC IV era uma peça integrada na nova estratégia europeia de combate à crise do euro. Nem é possível acreditar que Passos Coelho não tinha uma estratégia já definida para o dia seguinte ao chumbo do PEC IV que não fosse contradizer o que tinha dito antes ou permitir que pessoas da sua equipa fizessem declarações sobre as taxas de juro e o risco da República que se aproximam de manifestações de fé.'

      O programa que chega às pinguinhas…



      “Votámos contra o PEC porque não foi tão longe quanto devia”.

      Novidade, novidade

      são as críticas de Francisco José Viegas a Passos Coelho et al. Isso sim.

      Bagão Félix revisto por Friedrich Nietzsche

      O estado de pecado no homem não é um facto, senão apenas a interpretação de um facto, a saber: de um mal-estar fisiológico, considerado sob o ponto de vista moral e religioso. O sentir-se alguém «culpado» e «pecador», não prova que na realidade o esteja, como sentir-se alguém bem não prova que na realidade esteja bem. Recordem-se os famosos processos de bruxaria; naquela época os juízes mais humanos acreditavam que havia culpabilidade; as bruxas também acreditavam; contudo, a culpabilidade não existia.

      Friedrich Nietzsche, in 'Genealogia da Moral'

      Novo conselheiro de Estado usa por 75 vezes a palavra "culpa" num artigo onde não poupa críticas a Sócrates.

      Ignorância ou má-fé?



      Sobre a ideia falsa — absolutamente falsa — de que o Decreto-Lei n.º 40/2011, de 22 de Março, permitiria ao Estado gastar mais, já escrevi há bocado. Convinha que alguns leitores lessem, ao menos, esse post antes de escreverem os seus comentários. Ponham os olhos nas tristes figuras que anda a fazer Miguel Relvas desde ontem, após a secção laranja do DN, através de um Maneta, ter publicado um “artigo” sobre o assunto.

      Em todo o caso, o nosso amigo Paulo F. enviou-nos o seguinte texto, que ajuda a perceber o erro em que incorrem os menos atentos:
        O DN fez uma notícia. Foi assim mesmo. Não deu uma notícia, que é o que normalmente os jornais fazem, mas fê-la. O texto é este: ”Lei autoriza Estado a gastar (muito) mais já em Abril" e a mensagem resume-a o lead “Numa altura em que o discurso político vai no sentido da conter custos, Governo aumenta os montantes que podem ser gastos por ajuste directo e sem concurso público”.

        Conforme pode ver qualquer pessoa que se dê ao trabalho de espreitar o diploma, as alterações não introduziram qualquer alteração no Código dos Contratos Públicos, que é onde estão definidos os critérios para os concursos públicos e ajustes directos.

        É o que facilmente se pode ler na explicação, em “linguagem clara”, que o Diário da República disponibiliza: “Para um contrato público ser celebrado, é necessário que a despesa que acarreta – o valor total a pagar – seja previamente autorizada. Quem autoriza a despesa vai depender do valor do contrato. Quanto mais elevado o valor, mais alto na hierarquia tem de estar o órgão que autoriza”.

        Assim, e tendo em conta a evolução dos preços nos últimos anos (os valores em vigor resultavam de legislação de 1999), “são aumentados os valores máximos que podem ser autorizados por cada órgão da entidade que celebra o contrato”.Enquanto estou a escrever isto, oiço Tiago Duarte, professor de direito na Universidade Nova de Lisboa, a confirmar na SIC-N (revista de imprensa) o óbvio: “Não há alterações na substância. Não há aumento de despesas nem aumento dos ajustes directos. Limita-se a rever regras sobre quem pode autorizar das despesas(desde que orçamentadas) e quais os limites”. “É um não tema”, remata.

        Claro que o PSD não se comove com estas minudências e, espreitando aqui mais uma oportunidade de discurso populista e demagógico, já veio repetir a mentira (que este diploma permite mais gastos) e dizer que chamaria o decreto-lei ao Parlamento ao Parlamento.

        Domingos Farinho questionava-se ontem se a notícia do DN resultaria de ignorância ou má fé (não há terceira hipótese). A mesma pergunta se impõe para o PSD: ignorância ou má-fé?
          Paulo F.

      Das sondagens e da sua manipulação (um mail)

      De Luís Queirós, presidente da Marktest, recebemos o seguinte mail, relacionado com o que escrevemos aqui 1 2 3 4 e 5:

      Meu caro
      Não há sondagens certas ou erradas. Há sondagens feitas com seriedade, isenção e transparência. E isso, posso garantir-lhe, não é tarefa fácil!
      Se tiver dúvidas, e quiser esclarecê-las, passe por aqui (Rua de São José, 183, 2º - envie email para acertar a hora!). Terei muito gosto em mostrar-lhe como trabalhamos, e quais são os princípios com que nos regemos. E responder, sem rodeios nem reservas, a todas as questões que quiser colocar. E, querendo, pode trazer consigo as pessoas que desejar.
      E fica, desde já, autorizado a publicar esta mensagem no seu blog.
      Cumprimentos

      Eis o essencial do que aqui escrevemos:

      1. A Marktest foi a empresa de sondagens que mais falhou nas presidenciais. O Barómetro das Legislativas, que já existia antes, continua a revelar um desvio enorme em relação à média dos estudos similares (o que poderá não querer dizer nada - talvez desta vez a Marktest acerte).

      2. O trabalho jornalístico realizado pelo DE a partir desta sondagem é altamente deficiente. Além de vários erros factuais e de interpretação, o jornal omite na abordagem jornalística uma informação relevante, que constava de um texto do próprio Luís Queirós - os dados recolhidos mostravam uma evolução temporal que introduzia algum grau de dúvida acerca do resultado final apresentado.

      Como vê, caro Luís Queirós, de nada valeria uma visita às instalações da Marktest, mas agradecemos o convite.

      Paulo Rangel e o oportunismo do PSD em relação à avaliação dos professores

      Viagens na Minha Terra

        • André Salgado, E passaram 48 horas:

          ‘1. Ratings a descer e juros a subir em flecha. Diz que é por causa de uma tal de instabilidade política.
          2. Os parceiros europeus da própria família política do PSD estão banzados.
          3. Passos Coelho começou a escrever cartas em inglês a garantir que vai cumprir os compromissos assumidos pelo país. Ou seja, as medidas que chumbou como inaceitáveis e que o levaram a rasteirar o governo.
          4. Apareceu em todo o lado um beto excitado, o Moedas, a dizer coisas alucinadas, sendo a mais brilhante a promessa de que bastaria os mercados começarem a incorporar as intenções do PSD para os ratings desatarem a subir.
          5. Passos Coelho admitiu a necessidade de subir o IVA. Ou seja, e como certamente os Henriques Raposos não deixarão de assinalar, resolver as contas públicas pelo lado da despesa. E que é só o oposto do que defendeu, há poucos meses, como exigência para deixar passar o Orçamento do Estado.
          6. Carrapatoso, o homem de Passos Coelho para a sociedade civil, veio dizer que havia lá margem para isso e falou antes em cortes no 13º mês.
          7. O grupo parlamentar do PSD achou boa ideia suspender a avaliação dos professores, até porque estes são, como sabemos, uns bons 200 mil votos. Pacheco Pereira classificou a iniciativa do seu próprio grupo parlamentar como demagógica e populista.

          E ainda só passaram 48 horas.
          Sócrates era o quê, mesmo?’

        • João Galamba, O pecado capital dos intelectuais 2:

          ‘O Paulo Pedroso já tinha comentado parte da entrevista de António Barreto. Para além dos pecados que o Paulo aponta, há um mais grave: o da ignorância. A ignorância de Barreto é evidente quando este pede que Carlos Costa (e Cavaco) faça, rapidamente, uma auditoria às contas públicas. Com este pedido Barreto mostra duas coisas, ambas graves. Mostra que não lê jornais e, por isso, não sabe que a Comissão Europeia e o BCE acabaram de fazer exactamente aquilo que Barreto diz ser necessário; e, mais grave, mostra não saber que o Governador do Banco de Portugal faz parte do BCE e que, portanto, Barreto está a pedir que Carlos Costa vá contra a instituição a que pertence, pondo em causa a credibilidade deste comunicado.’

        • A. Moura Pinto, PSD - Governo Sombra - Educação
        • André Salgado, Assim que os mercados descubram quem é o Carlos Moedas, até vão chover bifes do lombo
        • António P., Boas notícias : "o Dr. Pedro Passos Coelho sabe pegar nos talheres"
        • A.R., Escutas, por partes II e Vidrinhos
        • Domingos Farinho, Nem uma semana
        • Eduardo Pitta, DISPOSTOS A TUDO
        • Estrela Serrano, Em Portugal não há jornais de esquerda?
        • Francisco Proença de Carvalho, Mas
        • Osvaldo Castro, PSD, Trapalhadas e Contradições
        • Porfírio Silva, a tese do abalozinho (post dedicado a certa categoria de esquecidos)
        • Sofia Loureiro dos Santos, Desempenhos e Inqualificável
        • Tomás Vasques, Sejam realistas, exijam o impossível
        • Valupi, Afinal, Ferreira Leite tinha razão
        • Vital Moreira, Rendição e PSD faz História

      Lobo Xavier sobre o desnorte de Passos Coelho

      Ataque duríssimo de Lobo Xavier a Passos Coelho, na Quadratura do Círculo, sobre a rejeição do PEC. Entende que Passos Coelho não traz nem uma ideia, não tem um rumo:


      Evidências


      [El Pais, 27 Mar 11]

      ♪ Traz Outro Amigo Também [2]


      Tina Turner

      A separação das águas

      Duas frases, ambas proferidas na sexta-feira passada, captam o essencial da escolha que seremos chamados a fazer dentro de dois meses.

      Disse o Primeiro-Ministro José Sócrates, numa conferência de imprensa no final do Conselho Europeu de Bruxelas: “Isto tem de parar e vai parar aqui. Portugal não precisa de nenhum fundo de resgate ou de ajuda externa e vai defender-se. Espero que isso fique claro.”

      Disse o líder do PSD, Passos Coelho, em entrevista à SIC: “Não vale a pena estarmos a diabolizar o FMI. Nós fazemos parte do FMI e o FMI existe para ajudar os países a superar crises de pagamentos.”

      Esta é a diferença que separa um homem preocupado com o seu país, que defende Portugal com unhas e dentes e fará tudo para nos proteger de uma intervenção externa, do político calculista, que qualifica o nosso país como um dos PIGS e está pronto a entregar-nos nas mãos do FMI e da sua receita de empobrecimento forçado.