segunda-feira, agosto 14, 2006

oh, those were the days




Via educação sentimental:

    «A vida num colégio de Oxford é incrivelmente ordeira. Almoçamos e jantamos a horas certas, e a cozinha fecha gentilmente à hora marcada. Nunca assisti a discussões, muito menos ao levantar da voz. «Never lose your temper» continuava a ser a máxima de um «gentleman». As pessoas cruzam-se, cumprimentando-se polidamente – e muito brevemente. Nas «high-tables», jantei com os mais bizarros esquerdistas, que vestiam capa e gravata, e aguardavam de pé a oração de graças.

    De quinze em quinze dias, tomava chá com o meu supervisor, Sir Ralf, depois Lord Dahrendorf. Nascido alemão, tinha sido prisioneiro num campo nazi, depois ministro, depois comissário alemão da Comissão Europeia, depois director da London School of Economics, finalmente «warden» do meu colégio, o St. Antony's. Se eu sou anglófilo, não sei que dizer dele.

    Aprendi com Dahrendorf e a Inglaterra coisas simples e inesquecíveis. Encontrávamo-nos à hora marcada. Cumprimentávamo-nos vagamente – um aperto de mão era aceitável, mas não indispensável. E nunca tratávamos imediatamente de negócios (a tese de doutoramento). Filosofávamos sobre o tempo, usualmente chuvoso, e a vida em Oxford. Ele ia recordando que era um «London man», e que achava Oxford vagamente adolescente. (Em Oxford, por exemplo, usa-se «tweed» e «brogues» castanhos; em Londres, prefere-se o fato de riscas e «brogues» pretos).

    Ocasionalmente, jantávamos fora. Dahrendorf pedia champanhe antes da refeição, numa homenagem a Winston Churchill, nosso herói comum. E tinha uma grande divergência com os americanos, embora fosse casado com uma americana: eles queriam que as refeições não durassem mais do que uma hora. Depois, se era preciso chamar um táxi, ele insistia absolutamente: «só quero um 'London cab'». Tínhamos de esperar mais tempo, mas lá íamos, num simpático táxi antiquado e muito confortável.»

    [João Carlos Espada, «Recordações de Inglaterra», Expresso, 12.08.2006; hiperligações nossas]

1 comentário :

Anónimo disse...

E este cretino é assessor do PR... mon dieu, o estado a que isto chegou...