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quarta-feira, abril 22, 2015

A palavra à UTAO

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    «Segundo a UTAO [Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República], o PEC do Governo assenta todo o seu otimismo no crescimento da procura interna, sobretudo consumo privado. A acusação de que o PS privilegia a procura e os rendimentos das famílias torna-se, por esta razão, uma acusação absurda e contraditória com as próprias previsões do governo.

    A grande diferença entre os documentos do Governo e do PS é a seguinte: enquanto o PS tem políticas para apoiar rendimentos e procura interna, o que justifica as suas previsões, o Governo tem o oposto. Não há maior descredibilização do que isto: o Governo prevê crescimento da procura interna, mas assume políticas que a penalizam, como o corte de pensões (600 milhões) e o adiamento da reposição dos cortes salariais e da sobretaxa para o fim da legislatura.»

quarta-feira, março 11, 2015

Sentimento de urgência

    «(…) Independentemente da posição que tem vindo a ser assumida pelo Governo grego, concordemos ou não com as suas propostas e com a sua atitude, é inaceitável assistirmos à tentativa de branqueamento do que aconteceu nos países sob assistência financeira, em particular, em Portugal, onde se apresentam os resultados do programa de assistência financeira como um caso de sucesso. O expoente máximo desta encenação foi a figura muito infeliz da ministra das Finanças portuguesa numa conferência de imprensa ao lado do ministro das Finanças alemão, a servir de cobaia e simultaneamente a procurar, deliberadamente, enfraquecer a posição negocial do Governo grego que estava ativamente a questionar as políticas e os resultados alcançados e a pedir mudanças. (…)»

segunda-feira, março 09, 2015

Regresso à casa de partida (despojado de quaisquer bens)

A OCDE confirma desaceleração na recuperação da actividade económica em Portugalem contraciclo com o que está a ocorrer na zona euro. Nada que não fosse expectável.

No triénio 2011/2013, foram destruídos 350 mil empregos e o investimento sofreu uma redução de 30%. Em lugar da reestruturação da economia portuguesa, ocorreu um violento empobrecimento do país.

O anémico crescimento verificado em 2014 (0,9%) pode o Governo agradecer ao Tribunal Constitucional, que obstou que se consumassem na totalidade os cortes previstos no Orçamento do Estado. Ou seja, o que a direita tanto criticou — o crescimento por via da procura interna — permitiu travar a recessão, mas não impediu a degradação da balança externa.

Após ter posto o país a ferro e fogo durante quatro anos, o Governo reconduz a economia portuguesa ao ponto de partida. Mas imensamente mais pobre. É o seu legado.

sexta-feira, novembro 28, 2014

Voltar à casa de partida… mas mais pobres

Hoje no Público

Quase três anos e meio depois de o Governo de Passos & Portas ter tomado posse, é possível fazer um balanço mais rigoroso da política de «ir além da troika». Os dados divulgados pelo INE sobre a evolução do PIB são elucidativos.

O frouxo crescimento registado no 3.º trimestre — em termos homólogos, um aumento de 1,1% — deve-se à decisão do Tribunal Constitucional de pôr um travão nas sucessivas doses de austeridade do Governo, o que permitiu uma aceleração da procura interna, sobretudo das despesas de consumo final das famílias. Simultaneamente, com o crescimento das importações, a procura externa líquida registou um contributo negativo para o PIB.

Foi sob o pretexto de que era imprescindível criar um modelo de crescimento assente nas exportações que o Governo arrasou a economia portuguesa. Passados três anos e meio, os ténues sinais são dados pela aceleração da procura interna. Ou seja, temos uma economia devastada, que parece saída de uma guerra civil, encontrando-se o país exactamente na casa de partida, mas muito mais pobre.

sexta-feira, novembro 07, 2014

O novo Álvaro dissecado por Pedro Nuno Santos



Admito que Pires de Lima, mais habilitado a vender cerveja, não estivesse preparado para ouvir o diagnóstico que Pedro Nuno Santos fez da economia portuguesa. O deputado do PS foi demolidor, mostrando através de dados oficiais que o Governo não tem nenhuma estratégia para a economia, em especial para o incremento das exportações. E o momento mais dramático para Pires de Lima aconteceu quando Pedro Nuno Santos lhe recordou que o actual governo vive a crédito dos investimentos feitos quando José Sócrates era primeiro-ministro: a refinaria de Sines, a fábrica da Portucel no distrito de Setúbal, a Embraer, os Magalhães, etc., etc..

Pires de Lima não tinha nada para contrapor aos investimentos efectuados na «década perdida». E por isso o novo Álvaro foi-se abaixo, protagonizando o lamentável episódio que deixou o país boquiaberto.

segunda-feira, setembro 01, 2014

Schäuble e Maria Luís, a mesma luta


• João Galamba, Schäuble e Maria Luís, a mesma luta:
    «Maria Luís Albuquerque não percebe que vivemos uma crise que é da exclusiva responsabilidade de quem, como ela, insiste em pôr em prática políticas que são tão absurdas e irracionais que até o BCE as contesta.

    No seu discurso em Jackson Hole, Mario Draghi fez aquilo que nenhum presidente do BCE havia feito até hoje: disse que a eficácia da política monetária depende da política orçamental e falou da importância da procura agregada - um conceito keynesiano que Frankfurt tende a desprezar. Na actual conjuntura económica - marcada por desemprego elevado, baixo investimento e crescimento baixo ou mesmo nulo - os países da zona euro devem explorar toda a flexibilidade dos tratados e pôr a política orçamental ao serviço da economia, isto é, os países da zona euro devem abandonar o dogma austeritário e pensar em políticas amigas da economia e do emprego. Com as cautelas que um presidente do BCE não pode deixar de ter, foi isto que Draghi disse no encontro mundial de banqueiros centrais.

    Como não podia deixar de ser, as reacções dos sacerdotes da austeridade não se fizeram esperar. Schäuble, ainda não refeito do choque, disse que Draghi tinha sido mal-interpretado. Maria Luís Albuquerque fez exactamente o mesmo. Para Maria Luís Albuquerque, a flexibilização das regras orçamentais é um erro, sobretudo para um país como Portugal, que tem uma dívida pública e privada muito elevada. Mostrando que não aprendeu nada, a ministra das finanças continua a achar que se reduz a dívida com austeridade.

    Sim, a ministra das finanças de um dos países que mais tem sofrido com a viragem austeritária e pré-keynesiana que se impôs na Europa aquando da crise grega (Maio 2010), ao invés de ver no discurso de Draghi uma oportunidade, tratou-o como uma ameaça que tinha de ser imediatamente travada. Não é a primeira vez que isto acontece. Depois da polémica em torno dos multiplicadores orçamentais, que mostrava que os efeitos negativos da austeridade tinham sido grosseiramente subestimados, o Governo português volta a mostrar que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade (para pôr em causa as políticas que objectivamente prejudicam o interesse nacional).

    Quando vemos Maria Luís Albuquerque dizer que "enfrentámos ao longo deste três anos a maior crise dos últimos 80 anos" percebemos melhor o que se passa. Mais do que o dogmatismo ideológico de Vítor Gaspar, a actual ministra das finanças decidiu apagar da sua memória a verdadeira crise, a que começou em 2007/8, e inventou outra, que terá começado algures em Junho de 2011. Maria Luís Albuquerque não percebe que vivemos uma crise que é da exclusiva responsabilidade de quem, como ela, insiste em pôr em prática políticas que são tão absurdas e irracionais que até o BCE as contesta. Numa coisa Maria Luís tem razão: há, de facto, uma enorme crise que começou em 2011. Foi a crise que este Governo fabricou ao instalar-se e que só acabará quando a actual maioria sair de cena.»

sábado, agosto 30, 2014

O "Keynes" de Frankfurt e os patetas do comentariato luso

• Jorge Nascimento Rodrigues (no Facebook), O "Keynes" de Frankfurt e os patetas do comentariato luso:
    «Há para aí um grupo de patetas -- para usar um eufemismo -- que volta e meia se assanha contra uns fantasmas "keynesianos".

    Quando Olivier do FMI veio revelar o que diziam os famosos "multiplicadores", os patetas engoliram em seco e fizeram o possível para enterrar o primeiro sinal de que a "austeridade expansionista" era um logro intelectual e uma guerra contra a economia. Continuaram a esgrimir panelas contra os moinhos do "keynesianismo".

    Mesmo depois do próprio Rogoff ter insistido que as conclusões do seu artigo inicial com Reinhart sobre um alegado "teto" vermelho de dívida nos famosos 90% do PIB (que empurraria para a recessão económica, diria o padrão do estudo empírico) já tinham sido por eles dois retificadas, os patetas continuaram com o mantra do rácio. Ainda por cima quando este, depois da milagrosa cura de austeridade, ter... subido para novos máximos históricos em Portugal (vamos a ver em quanto ficam a dívida bruta e a líquida na segunda feira quando o BdP divulgar o final de julho).

    Agora que Mr Draghi veio dizer fora de portas, a curtir no resort de Jackson Hole, que a política orçamental na zona euro seguida desde 2010 "esteve menos disponível e foi menos eficaz especialmente se comparada com outras grandes economias desenvolvidas" e a exigir que as baterias sejam viradas para "o estímulo da procura agregada" (usado em subtítulo inclusive) e que é menos arriscado em tempos "anormais" fazer demasiado do que pouco, os patetas levantaram-se qual Quixote - sem a grandeza deste - contra o keynesianismo.

    Draghi, tal como a Madame Lagarde do FMI, não são keynesianos, nem velhos, nem cristãos-novos, nem mesmo "bastardos" como chamava Joan Robinson a alguns contemporâneos que se penduraram no John Maynard depois de morto. Mas percebem os dois de "procura agregada" (essa coisa que o Maynard resolveu transformar em objeto de política em tempos "anormais"), uma coisa que os patetas do comentariato não entendem ou fingem não entender, o que é pior.

    O "Keynes" de Frankfurt apenas disse o óbvio. Mesmo que o ruído Schaübliano, de que estavam a "empolar" o italiano, tenha trazido o clube dos amigos do austerismo para a ribalta de novo contra os moinhos keynesianos.

    Draghi e Lagarde querem que a Europa ataque o problema da "procura agregada". Ponto. Empurram Jean-Claude Juncker para a fogueira e o Jean-Baptiste Hollande (um pateta que nem é carne nem peixe, que ainda acredita numa alegada "lei" de Say, do seu conterrâneo Jean-Baptiste, temperada com algum keynesianismo de algibeira).

    Draghi e Lagarde sabem que a política monetária do BCE caminha para se esgotar e que o FMI não é pai-natal, para mais com a Madame em apuros "legais" em França e os emergentes a cobiçar-lhe o lugar.

    Por isso, os dois preferem trocar o austerismo (sem o nomear) por um "estímulo da procura agregada", que deixe de fora da barrela de água suja aquilo de que eles gostam de facto - as tais de reformas estruturais no mercado laboral e na concorrência. O resto é fralda descartável. Só os descartáveis ainda não o entenderam mesmo.»

terça-feira, agosto 26, 2014

Pântano

• Manuel Caldeira Cabral, A retoma que não chega e a consolidação que não acontece:
    «(…) Num ano em que se esperava que o crescimento, puxado pela procura externa, estivesse a contribuir para uma recuperação do emprego e uma melhoria progressiva e sustentável dos desequilíbrios externo e orçamental, vemos que Portugal se mantém num pântano em que o pouco crescimento que teve se reflectiu de imediato em degradação do saldo externo e em que, perante mais uma derrapagem do processo de consolidação, poderá outra vez assistir a medidas de austeridade a comprometerem as já fracas perspectivas de retoma.»

quarta-feira, julho 16, 2014

Fragilidade, disse ela

• Hugo Mendes, Fragilidade, disse ela:
    «(…) 2. Merkel tem razão: a "retoma" europeia é mesmo muito frágil. Em vez de falar do BES, a chanceler alemã podia ter listado outros indicadores sobre a periferia europeia, onde o PIB recuou uma década ou mais; onde o desemprego exclui entre 1/3 e 1/4 da população ativa do mercado de trabalho; onde a deflação em curso torna as dívidas públicas insustentáveis; onde o investimento, necessário para qualquer retoma, está a níveis historicamente baixos, condicionado pela ausência de procura, pelo elevado endividamento privado e pelos altos custos de financiamento. Enquanto Merkel usa o argumento da "fragilidade do euro" para explicar por que não cede um milímetro na estratégia de combate à crise europeia - que assenta numa redução rápida dos défices e das dívidas que force uma reconfiguração duradoura das relações entre o Estado e o mercado -, estes indicadores mostram como a estratégia não só não está a funcionar, como não pode vir a funcionar.

    3. A Europa está presa por arames precisamente porque Merkel, em coro com outras instituições europeias, continua a fechar a porta ao único instrumento que podia, no imediato, retirar a Europa da estagnação: uma politica de estímulo orçamental coordenada à escala europeia. Enquanto a recuperação continuar a depender dos efeitos (incertos) de um qualquer cocktail de medidas de política monetárias - ignorando que as empresas europeias queixam-se sobretudo de falta de procura, que podia ser criada por um estimulo orçamental - , a fragilidade europeia irá continuar por muitos anos.»

segunda-feira, julho 14, 2014

«Estar prisioneiro de um dogma económico
que bloqueia todas as verdadeiras soluções»

• João Galamba, A dogmática do Eurogrupo:
    «(…) a Áustria e a Alemanha, os dois países com as taxas de desemprego mais baixas da zona euro (cerca de 5% face a uma média de 12%), precisam de reformas urgentes; mas a Grécia, que tem uma taxa de desemprego de 27%, o Chipre, que tem 15%, e a Eslováquia, que tem 14%, não têm de fazer nada. Basta isto para se perceber que, mais do que uma solução para um problema, a agenda do Eurogrupo é puramente doutrinária.

    A possibilidade da austeridade ser um obstáculo à criação de emprego e ao crescimento económico nem sequer é admitida. No actual consenso europeu, o volume de austeridade é irrelevante para as discussões em torno do crescimento e do emprego, pois estes são entendidos como dependendo exclusivamente da concretização das famosas reformas estruturais. É isso que explica que o Eurogrupo recomende que a redução da carga fiscal sobre o emprego seja compensada com cortes na despesa ou aumento de outros impostos. Não se trata de reduzir a austeridade. O objectivo é, dentro do quadro austeritário actual, tentar criar emprego e crescimento económico baixando custos.

    Como o volume de austeridade se mantém, a procura manter-se-á estagnada. A tese do Eurogrupo é a de que a oferta, liberta de alguns custos fiscais, gere, por si só, dinamismo económico. E isto aconteceria por duas vias: os trabalhadores tinham incentivos a trabalhar mais, as empresas tinham incentivos a contratar e a investir mais. Que os estudos (empíricos) mostrem que os trabalhadores não trabalham mais porque não há emprego e que os empresários não contratam mais porque não tem expectativas de vendas que o justifique são pormenores que têm de ser ignorados.

    Obcecado com uma ideia de competitividade que elege como prioridade absoluta a redução dos custos, o Eurogrupo parece incapaz de perceber que não podemos resolver nenhum dos problemas macroeconómicos da zona euro por essa via. O desemprego e a estagnação económica são problemas graves. Mais grave, contudo, é estar prisioneiro de um dogma económico que bloqueia todas as verdadeiras soluções.»

segunda-feira, julho 07, 2014

«A deflação não é um acidente»

• João Galamba, (Mais) um beco sem saída:
    «(…) Se as actuais políticas económicas e orçamentais se mantiverem, não há instrumento nem política que o BCE possa pôr em prática que inverta ou anule os efeitos que o desemprego, a compressão salarial e a austeridade têm nos preços. O BCE pode dar dinheiro barato e ilimitado aos bancos para estes emprestarem, mas há uma coisa que não consegue fazer: não cria procura do nada. Sem procura, e com o euro a não desvalorizar, não há maneira do BCE criar inflação.

    A deflação não é um acidente, é o resultado inevitável da actual estratégia europeia. As únicas políticas que podem combater a deflação são as que travam as suas causas, isto é, são as que combatem o desemprego, são as que invertem a actual dinâmica salarial, são as que apostam no investimento; são, em suma, as que aumentam a procura.

    Se queremos mesmo evitar uma espiral deflacionária, resta-nos reconhecer que a política monetária, sozinha, não pode nada; e que só uma inversão da política orçamental, juntamente com uma política económica que abandone a actual obsessão com a competitividade salarial, pode verdadeiramente tirar-nos do beco sem saída em que estamos metidos.»

quarta-feira, maio 21, 2014

«A taxa de crescimento das exportações portuguesas abrandou
desde que entrou o novo Governo e a Troika»

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• Manuel Caldeira Cabral, Arrefecimento do crescimento das exportações e queda da economia:
    «(…) Pelo menos tão preocupante como a queda registada no PIB em cadeia, é a causa desta queda: O contributo negativo da procura externa líquida.

    O crescimento de Portugal deverá assentar tanto na procura interna como na procura externa. No entanto, se quisermos evitar políticas de "stop and go", e desejarmos manter o equilíbrio externo, que exigiu tantos sacrifícios aos portugueses conseguir, temos de, no médio prazo subordinar o ritmo de crescimento da procura interna ao do crescimento das exportações.

    O desejável aumento da procura interna gera sempre um aumento das importações, que só não será um problema se for acompanhado pelo crescimento das exportações.

    A taxa de crescimento das exportações não abrandou apenas no primeiro trimestre de 2014, face ao crescimento de 2013. A taxa de crescimento das exportações portuguesas abrandou desde que entrou o novo Governo e a Troika - ver gráfico. E abrandou de forma muito acentuada.

    O abrandamento foi imediato, sugerindo que a falta de crédito e a quebra de confiança introduzidas pela crise política de 2011 e pelas medidas da Troika tiveram também um efeito forte e imediato nas empresas exportadoras. A taxa de crescimento das exportações passou de 11% na primeira metade de 2011, para 3% no segundo semestre do mesmo ano, caindo para valores negativos em alguns trimestres de 2012.

    Apesar da quebra no crescimento das exportações, a forte contracção da procura interna conseguiu garantir em 2012, o crescimento das exportações líquidas (exportações menos importações), garantindo a melhoria do saldo externo e um contributo positivo das exportações liquidas para o crescimento.

    Em 2013, a situação inverte-se com as importações a passarem a registarem um crescimento superior às exportações. O crescimento do PIB registado nos três últimos trimestres de 2013, assentou assim totalmente na procura interna. No primeiro trimestre de 2014, a taxa de crescimento das importações foi o dobro da das exportações, acentuando-se o contributo negativo da procura externa líquida.

    O período do programa de ajustamento foi um período de quebra do crescimento das exportações e não o contrário. Entre 2011 e 2013 as exportações cresceram a uma taxa muito inferior à registada no período anterior, mesmo se o período anterior inclui o ano de 2009, um ano de forte quebra das exportações em todo o mundo.

    Mesmo que as exportações acelerem ao longo de 2014 e 2015 e cresçam 2 ou 3 vezes mais do que o que conseguiram crescer em 2012 e 2013, o mais certo é que se registe na actual legislatura um crescimento das exportações tão fraco como o registado entre 2000 e 2005. Este é um facto muito negativo. Que demonstra que há muito a fazer para colocar Portugal a crescer de forma sustentada, e que salienta que a ideia de que o aumento da competitividade pela baixa dos salários trazia soluções milagrosas é apenas isso, uma ideia, baseada na ideologia, mas que a evidência teima em não confirmar.»

sexta-feira, maio 16, 2014

O «milagre económico» que o INE não reconhece

Ontem na TVI 24 (primeiros 27 minutos)

Vale a pena ver este debate entre João Galamba e Luís Menezes: de um lado, uma análise da situação da economia portuguesa ancorada nos dados oficiais; do outro lado, uma indigente conversa da treta para abafar os sinais de que o «milagre económico» era, afinal, só fumaça.

domingo, maio 04, 2014

Las Vegas versus Detroit

Não é o momento para analisar as razões por que a mistura explosiva entre a banca comercial e a banca de investimento se deixou encandear pelas inovações financeiras, favorecendo os investimentos especulativos em detrimento dos investimentos produtivos. Sabe-se que, em última instância, se vai sempre bater à mesma porta: a estagnação dos salários contrai o consumo das famílias e torna os investimentos produtivos menos aliciantes.

O que a crise mostrou é que aparecem sempre umas augustas figuras dispostas a arriscar as poupanças dos outros em jogadas de alto risco. E, ao contrário do que o título sugere, este post é (também) sobre Portugal.

quarta-feira, abril 16, 2014

O ABC da economia portuguesa


Excelente intervenção de Pedro Nuno Santos
na audição do ministro da Economia no parlamento

terça-feira, abril 15, 2014

O «soldado disciplinado» Pires tem boa imprensa

Pires de Lima foi alçado a ministro da Economia após uma bem-sucedida campanha contra o malogrado Álvaro. Perdeu logo a seguir a grande batalha do IVA da restauração e meteu a viola no saco, assumindo-se como um «soldado disciplinado».

Para se manter à tona, foi criando, a partir de então, um mundo paralelo, salpicado aqui ou ali por umas graçolas de gosto duvidoso. O ponto de partida foi a aparição de um «milagre económico». Foi essa súbita visão do Além que permitiu ao «soldado disciplinado» Pires construir uma explicação para a queda menor do que se previa da procura interna (que se deveu aos chumbos do Tribunal Constitucional) que o coloca como potencial candidato ao Nobel da Economia.

De acordo com o «soldado disciplinado» Pires, cortar rendimentos às famílias provoca tanta confiança que, no final, é como se estas tivessem mais dinheiro, dispondo-se, assim, a consumir mais. Se não acredita, é só ler a sua tese mágica: «Como foi possível estabilizar o consumo privado com tão agressivo aumento de impostos que levou a que, só em sede de IRS, a receita do Estado crescesse 30%? A única explicação que encontro será a de que a sensação de angústia em relação ao futuro foi cedendo espaço à confiança.» É certamente a fada da confiança do Caldas, uma conhecida milagreira, com evidentes poderes místicos.

Cerca de quatro meses depois, tendo a realidade entrado de rompante no seu mundo paralelo, o «soldado disciplinado» Pires viu-se constrangido a retractar-se: o «milagre económico» de que havia falado foi um «excesso de linguagem».

Acontece que, para não ser tomado por um espectro do Álvaro, o «soldado disciplinado» Pires teve de cerzir o rasgão que a realidade havia provocado no seu mundo paralelo. O «milagre económico» apareceu agora sob novas roupagens: «passámos da condição de patinhos feios para cisnes elegantes aos olhos dos investidores.»

O «soldado disciplinado» Pires tem boa imprensa. Com a confiança plena de que ninguém o questiona, pode dizer tudo o que lhe vem à cabeça. A sua mais recente «ambição é continuar a reduzir o desemprego de modo a que os nossos níveis se aproximem dos países da Europa central», ou seja, de taxas de 4% ou 5%. O «soldado disciplinado» Pires rapa, mais uma vez, do seu pensamento mágico para escamotear os efeitos da estratégia do empobrecimento, que está a provocar um desemprego estrutural muito superior à «ambição» enunciada por estes dias, como se pode ver neste gráfico elaborado pelo insuspeito governador do Banco de Portugal:


Há gente assim: podem dizer as maiores barbaridades, porque estão protegidos por um escudo invisível. Por muito menos, o Álvaro foi trucidado.

segunda-feira, abril 14, 2014

Um final necessariamente infeliz

• João Galamba, Um final necessariamente infeliz:
    «Não há melhor exemplo da euforia irracional que se apoderou dos mercados da dívida do que ver um país que, quer em termos de PIB, quer em termos de desemprego, quer em termos de investimento está numa depressão económica, que tem um rácio da dívida pública em percentagem do PIB próximo dos 180% e que está em deflação fazer uma emissão de dívida pública no mercado primário com juros inferiores ao que tinha antes do início da chamada crise das dívidas soberanas e com uma procura quase sete vezes superior à oferta. Falo, como é evidente, da Grécia, que celebrou este estrondoso sucesso no mesmo dia em que via uma bomba explodir nas ruas da sua capital. Nem Fellini se lembraria de tamanha farsa.

    A Grécia é um excelente exemplo de como o que se tem passado nos mercados da dívida pública é uma típica bolha especulativa que não tem qualquer relação com os chamados fundamentais da realidade económica do país e que, mais cedo ou mais tarde, vai rebentar, porque é insustentável. A Grécia, para todos os efeitos, é um país falido, com uma economia devastada, com um tecido social à beira da rutura (se é que não passou já desse ponto) e que nunca poderá pagar o que deve sem uma radical inversão de política. Se é assim, como explicar a queda vertiginosa dos juros da sua dívida pública?

    Os juros descem na Grécia, descem em Portugal, descem em Espanha e descem em todos os periféricos. E descem tanto mais quanto mais altos estavam antes de toda esta euforia começar. Como mostrou o economista Paul de Grauwe, depois da garantia de Draghi de que o BCE faria tudo o que fosse necessário para evitar o desmembramento do euro, o que melhor explica a descida dos juros é o nível inicial desses mesmos juros: quanto mais alto era o nível, maior é a queda. E descem porque, fruto das políticas expansionistas dos bancos centrais, há um excesso de liquidez nos mercados, que, por não haver oportunidades de investimento real, tem forçosamente de ser investido no que resta, que são os ativos financeiros. Se juntarmos a isto a saída de capitais dos mercados emergentes, as baixíssimas taxas de rentabilidade disponíveis, torna-se mais fácil entender por que razão há tanta procura pela dívida pública dos países da chamada periferia: é o que permite garantir alguma rentabilidade num mundo financeiro que não pode existir sem essa rentabilidade. Num certo sentido, e independentemente da sua sustentabilidade, o investimento na dívida de todos estes países é feito por necessidade, não por escolha.

    Esta situação é o resultado inevitável da estratégia que consistiu em mobilizar todos os recursos públicos para inflacionar o preço dos ativos financeiros sem cuidar de reabilitar a realidade económica que lhe subjaz. Inundar o sector financeiro de liquidez ao mesmo tempo que se destrói a economia e a procura com políticas de austeridade tinha de resultar na criação de dois mundos, um mundo financeiro cheio de dinheiro para aplicar, outro com uma economia onde não vale a pena investir. Perante isto, o setor financeiro vê-se forçado a investir em si próprio e nos ativos que estão disponíveis. A bolha é, pois, o resultado racional de uma estratégia que é, em si mesma, irracional e que, mais cedo ou mais tarde, vai rebentar. Podemos adiar o confronto com a realidade, mas ele, em algum momento, terá de chegar: países com mais dívida e menos capacidade de a pagar não podem garantir um final feliz para esta história

sexta-feira, abril 04, 2014

A balada de Wall Street

• Fernanda Câncio, A balada de Wall Street:
    «(…) Tudo tão joia que o WSJ, mais uma vez alinhado com o Governo, associa a recuperação da economia portuguesa prevista pelo Banco de Portugal ao "aumento das exportações desde 2008" e ao seu peso relativo no PIB (que o PIB tenha encolhido não interessa nada). "Ao mesmo tempo", diz, "o desemprego caiu para 15%, muito alto ainda mas com redução suficiente para possibilitar a animação da procura interna." Confrontado com o facto de, ao contrário, as análises do BdP atribuírem o reavivar da economia à procura interna, Nixon nega ter atribuído o efeito às exportações e aconselha à releitura do seu texto. Releia-se, sim. Por exemplo o final: "Muito depende da capacidade de os três principais partidos portugueses serem capazes de assegurar que manterão a estratégia que já deu resultados positivos. Quanto maior o comprometimento, mais suaves as condições. Claro, se o compromisso fosse realmente credível, Portugal talvez não precisasse de uma rede de segurança." Houvesse dúvidas de que esta peça do WSJ, despudoradamente baseada na propaganda do Governo e da troika, visa certificar "o sucesso" do "ajustamento português" e pressionar o PS, ei-las desvanecidas. Só falta mesmo perceber o que está o Journal a fazer no título da publicação.»

segunda-feira, março 31, 2014

Voltar à casa de partida, mas muito mais pobres

• João Galamba, Sucesso a martelo:
    «Os defensores da estratégia da austeridade e das chamadas reformas estruturais embandeiraram em arco quando viram as últimas previsões do Banco de Portugal (BdP). Neste jornal, António Costa, ufano, chegou mesmo a escrever que a economia tinha regressado, mas, agora, mais equilibrada e sustentável e sem os desequilíbrios externos que (alegadamente) nos trouxeram até à 'troika'. Um sucesso que justifica todos os disparates que se escreveram sobre o manifesto dos 74 e que nos permite olhar para o futuro com otimismo, sem necessidade de pensar em alternativas, que, como mostram as previsões do BdP, se tornaram desnecessárias. Esta história seria, sem dúvida, edificante, não fosse não fazer grande sentido.

    Não sei que números é que António Costa viu, mas não foram seguramente os do BdP, porque o que o BdP nos diz é que, em termos de crescimento e do seu perfil, o pós-'troika' não é melhor que o pré-'troika', antes pelo contrário. No período 2000-8, a economia cresceu, em média, 1,3%, o contributo da procura interna foi 1,3% e o da procura externa líquida 0%. No triénio 2014-6, o BdP prevê que a economia cresça, em média, 1,4%, o contributo da procura interna seja 1,3% e o da procura externa líquida 0,1%. Tendo em conta que o desemprego e a dívida pública em percentagem do PIB são mais do dobro do que eram no período pré-'troika', que o investimento caiu mais de 30% nos últimos 3 anos, torna-se difícil, para não dizer impossível, olhar para estes números e vislumbrar o tal sucesso económico que permita encarar o futuro com otimismo.

    A tão falada transformação estrutural pura e simplesmente não existiu. A suposta marca do crescimento mais equilibrado e sustentável - o facto de o défice externo ter sido eliminado - não se deve a qualquer transformação qualitativa da economia portuguesa, deve-se, isso sim, ao facto do PIB estar ao nível do que estava em 2000, do desemprego estar acima dos 15% e das importações terem caído a pique. Ou seja, tirando a destruição causada pela austeridade, nada de estruturalmente positivo foi construído. O alegado sucesso depende, pois, da manutenção da recessão e do desemprego, porque, quando vemos o crescimento económico regressar, este não só tem taxas de crescimento muito semelhantes ao período pré-crise, como tem exatamente o mesmo perfil. Por outras palavras, quando o PIB recuperar da destruição dos últimos anos, o desequilíbrio externo regressará.

    Se olharmos para previsões anteriores do BdP, o que mudou foi que, súbita e misteriosamente, o crescimento económico do pós-'troika' deixou de assentar na procura externa líquida, tendo a procura interna voltado a ser o motor (exclusivo) da economia... como no passado. Não deixa de ser bizarro ver instituições que sempre disseram que o único crescimento sustentável era o que assentava na procura externa líquida, e que previram que as reformas estruturais assegurariam esse perfil de crescimento no pós-'troika', virem agora, quando nos aproximamos do fim do programa da 'troika', celebrar a negação de tudo isto. A explicação para esta pirueta é simples: o BdP (e o Governo e o António Costa) decidiu decretar que este programa tinha de ser um sucesso. Se necessário, um sucesso a martelo e ao arrepio de todos os factos. É o caso.«