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sábado, setembro 19, 2015

«Então, os nossos amigos portugueses têm uma boca!»

• Mário João Fernandes, E que tal um Primeiro Ministro inteligente?:
    «No primeiro Conselho Europeu em que participou, António Guterres surpreendeu os chefes de Estado e de Governo com uma intervenção original, bem estruturada e capaz de encontrar uma solução negocial para mais uma contorcida disputa europeia. Não vele a pena esmiuçar o ponto, basta lembrar que depois da década de silêncio cavaquista, Helmut Kohl não se conteve e comentou a distância audível para a delegação portuguesa: “So, unsere portugiesischen Freunde haben einen Mund!” (…)»

sábado, agosto 01, 2015

De mentira em mentira


• Pedro Silva Pereira, A confusão:
    «Vergonhosamente desmentido pelo próprio presidente da Comissão Europeia quanto à atitude de Portugal na crise da Grécia, Passos Coelho acusa Jean-Claude Juncker de fazer "confusão". Já vimos este filme: ele está sempre certo, os outros é que estão confusos.

    Convém lembrar que a história desta legislatura começou, justamente, com uma mentira de Passos Coelho. Como se recordarão, em Março de 2011, no auge da crise das dívidas soberanas, o Governo socialista tinha conseguido obter em Bruxelas o apoio dos parceiros europeus e do BCE para o chamado PEC IV, um programa de consolidação orçamental moderado mas necessário para poupar Portugal ao doloroso pedido de ajuda externa. Passos Coelho, porém, viu aí uma fantástica oportunidade de chegar ao poder e, indiferente às consequências, preferiu provocar uma crise política, provocando a demissão do Governo minoritário socialista. Para o sucesso eleitoral dessa operação, Passos precisava de um argumento forte, capaz de justificar a conivência silenciosa do Presidente da República e de suscitar a profunda indignação dos eleitores.

    Foi então que, com o maior dos descaramentos (lembram-se?), Passos resolveu inventar que só tinha sido informado das linhas gerais do PEV IV através de um simples "telefonema" do malvado primeiro-ministro socialista. Caiu o Carmo e a Trindade: um "escândalo!", uma "deslealdade institucional!", haveria de gritar a direita, numa campanha furiosa. Soube-se, depois, que era tudo mentira: afinal, antes da apresentação do PEC IV em Bruxelas, o próprio Passos Coelho, como líder da oposição, tinha sido convidado para ir ao Palácio de S. Bento e ali esteve, em pessoa, numa reunião de várias horas (!) com o primeiro-ministro, que lhe deu toda a informação disponível. De tão reveladora, esta história, absolutamente verdadeira, vale bastante mais do que mil palavras. E devia ter-nos preparado para o que viria a seguir.

    Não é por acaso que esta legislatura termina exactamente como começou, com Passos Coelho constantemente apanhado em explicações falsas ou trapalhonas e a ser vergonhosamente desmentido, em Portugal e no estrangeiro. Por cá, é o permanente "martelar" dos números do emprego, a despudorada negação da estratégia de empobrecimento e do apelo à emigração dos jovens (que tenta agora transformar num mero "mito urbano"), a narrativa aldrabada sobre as contas alegadamente "mal feitas" do memorando inicial (apesar de validadas pelo Eurostat...) para justificar a sua própria opção pela austeridade "além da troika" e as desculpas esfarrapadas para o falhanço colossal que é o enorme aumento da dívida pública nos últimos quatro anos (que disparou para os 129,6% do PIB).

    Mas, de entre todos, não haverá embaraço maior do que os sucessivos desmentidos que os principais responsáveis europeus têm vindo a fazer sobre as declarações de Passos Coelho quanto ao papel de Portugal na crise da Grécia. Na semana passada, foi o presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk - também andará confuso? - que se lembrou de vir explicar, com grande detalhe, que, por acaso, a ideia que esteve na base da solução para o último ponto do acordo com a Grécia foi originalmente sugerida pelo primeiro-ministro da Holanda, não por Pedro Passos Coelho. Esta semana, foi a vez do próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que veio arrasar a versão idílica de Passos Coelho sobre a pretensa "unanimidade" no Eurogrupo e sobre a alegada atitude "generosa e construtiva" de Portugal nas negociações, revelando que o próprio Passos Coelho se opôs, por mero calculismo eleitoral, a um compromisso calendarizado para resolver o problema estrutural da dívida grega. É caso para dizer que entre as eleições e a Grécia, Passos não teve dúvidas: que se lixe a Grécia!

    É certo, o Presidente da Repúbica, com aquele apurado sentido de isenção que se lhe reconhece, apressou-se a vir em defesa do Governo. E não fez a coisa por menos: a versão de Juncker "não corresponde à informação que me foi dada", garantiu ele. Dada por quem? Infelizmente, isso não disse. Mas como o Presidente da República, ao contrário de Juncker, não esteve lá, pode sempre acontecer que esteja a fazer alguma confusão

quarta-feira, julho 15, 2015

A boa notícia sobre a noitada de Bruxelas


• Ferreira Fernandes, A boa notícia sobre a noitada de Bruxelas:
    «A única boa notícia sobre a noitada de Bruxelas é que vai haver mais noitadas destas. O problema da Grécia foi empurrado com a barriga por líderes extenuados. Tão extenuados que o seu esgotamento dá alguma credibilidade à hipótese de terem ouvido uma ideia de Passos Coelho. Só de pensar nessa hipótese dá ideia da deriva da Europa. (…)»

terça-feira, julho 14, 2015

«Por acaso foi uma ideia minha»

Il Sole 24 Ore

Se dúvidas houvesse sobre a forma como decorreu a última reunião do Conselho Europeu, Pier Carlo Padoan, ministro das Finanças italiano, desvaneceu-as: no final, «apenas nós, os franceses e o pequeno Chipre estávamos lá para atingir um compromisso», tendo os restantes países da zona euro ficado ao lado da Alemanha na «posição mais dura» para a Grécia.

Varoufakis confirma o alinhamento constante do governo português com as posições de Schäuble. E refere que a circunstância de Portugal surgir entre «os mais enérgicos inimigos» da Grécia tem uma explicação simples: «se nós conseguíssemos negociar com êxito um acordo melhor, isso liquidá-los-ia politicamente: teriam de explicar ao seu próprio povo por que não negociaram como nós fizemos».

Conhecendo-se agora o modo como decorreu a reunião do Conselho Europeu, o facto de Passos Coelho ter vindo reclamar os louros do desbloqueamento do acordo com a Grécia dá-nos a medida exacta da natureza do pantomineiro que se alçou a São Bento há quatro anos.

segunda-feira, julho 13, 2015

O novo caniche de Merkel

Não há razão para suspeitar de que, desta vez, Passos Coelho esteja a mentir: «por acaso foi uma ideia minha» que desbloqueou o acordo com a Grécia. Segundo o próprio, é da sua autoria o destino a dar ao fundo de 50 mil milhões de euros que Schäuble exige que seja constituído com o recheio das privatizações na Grécia.

No entusiasmo juvenil de se pôr em bicos de pés, Passos Coelho perdeu uma oportunidade única de se fazer passar por estadista. Bastaria ter questionado, em lugar do palpite avulso, como é que a Grécia vai arranjar 50 mil milhões de euros. Vendendo as seis mil ilhas? Leiloando o Partenon?

Mas Passos Coelho é um homem que se deslumbra com pouco, porque não discute o que julga ser a ordem natural das coisas: «Foi justamente uma ideia que eu sugeri e que acabou por ser utilizada pelos negociadores com o primeiro-ministro grego». Ao reclamar a autoria do palpite, nem passou pela cabeça ao (alegado) primeiro-ministro português que a circunstância de ter estado 17 horas numa sala à espera que os «negociadores» chegassem, no compartimento ao lado, a um entendimento com Tsipras não o prestigia. Aproveitar uma ida de Merkel à casa de banho para se mostrar um aluno aplicado só reforça a posição subalterna a que é votado nos corredores do poder.

Com a aposentação de Barroso, o novo caniche de Angela Merkel dá pelo nome de Pedro.

Schäuble: Grexit com nomeação de um procônsul

Le Monde, amanhã
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sexta-feira, janeiro 16, 2015

Melhor que nada

Passos Coelho, sempre fiel à "linha dura", a ver os dogmas
em que se fundou a política de austeridade a cair uns atrás dos outros

• Pedro Silva Pereira, Melhor que nada:
    «Depois de cinco anos de política de austeridade, a Comissão Europeia clarificou os termos em vai finalmente adoptar uma leitura mais flexível das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Não sendo suficiente, é alguma coisa. E é certamente mais do que Passos queria.

    Os dogmas em que se fundou a política de austeridade, que orientou a resposta errada da União Europeia à crise financeira, estão a cair uns atrás dos outros. Afinal, nem o mandato do BCE impedia uma resposta mais eficaz à especulação instalada nos mercados de dívida soberana, nem as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento são incompatíveis com uma política orçamental menos danosa para a economia e para o emprego .Sem alterar uma vírgula no Tratado de Lisboa ou nas regras do Pacto, o tom da resposta europeia à crise começa a mudar: primeiro, graças à política monetária expansionista do BCE (em breve reforçada com um programa de Quantitative Easing); depois, pela nova orientação da Comissão Juncker, com o seu plano de investimento (público e privado) e a sua abertura à flexibilidade orçamental.

    Duas razões explicam esta evolução. A primeira, é a própria evidência do fracasso da política de austeridade. A segunda, é a forte pressão política dos socialistas em todas as frentes da política europeia: no Parlamento Europeu (em que o seu voto é decisivo); no Conselho (graças à liderança de Matteo Renzi na presidência italiana) e no interior da Comissão (desde que o socialista francês Pierre Moscovici substituiu o liberal Olli Rhen nos assuntos económicos). Não será ainda a mudança de que a Europa precisa mas é bastante melhor do que tínhamos com a Comissão Barroso - que era nada.

    Finalmente, a "flexibilidade" orçamental deixou de ser um conceito vazio para ganhar sentido e substância, embora com latitude diferente para quem esteja ou não em défice excessivo. Doravante, a Comissão promete tomar em conta o contexto do ciclo económico e a realização de reformas estruturais na ponderação dos esforços orçamentais de cada país e mesmo na permissão de desvios em relação às metas do défice. Mas também promete uma política orçamental mais amiga do investimento, por duas vias: primeiro, não contabilizando no défice as contribuições dos Estados para o novo Fundo europeu de investimento; segundo, adoptando uma interpretação mais generosa da chamada "cláusula de investimento" de modo a permitir que os Estados que não estejam em défice excessivo se desviem temporariamente das metas do défice para aumentarem o investimento público. Esta evolução, embora ainda tímida e compromissória, é da maior importância também para Portugal. É certo que a nova formulação da "cláusula de investimento" não permite aos Estados em situação de défice excessivo, como é o nosso caso, isentar do défice a comparticipação nacional dos projectos financiados com fundos comunitários da mesma forma que se isentam as contribuições para o Fundo europeu de investimento - um manifesto absurdo, que importa corrigir.

    Mas, além das vantagens indirectas que sempre virão para as exportações portuguesas de políticas orçamentais menos restritivas dos nossos parceiros europeus com mais margem de manobra, Portugal beneficia directamente de três importantes implicações desta nova flexibilidade: primeiro, pode desde já aceder a um calendário de ajustamento mais alargado em contrapartida da realização de reformas estruturais; segundo, as suas metas passam a ser definidas e avaliadas ponderado o impacto orçamental das quebras da actividade económica que escapem ao controlo do Governo; terceiro, a despesa pública que Portugal fizer em contribuição para o Fundo europeu de investimento não será contabilizada para o défice. Tudo isto, é claro, Passos Coelho combateu, sempre fiel à "linha dura" da austeridade. Mas de tudo isto Portugal poderá beneficiar, apesar dele.»

domingo, outubro 26, 2014

Passos: elogio a Sócrates antes da saída de sendeiro

1. O Governo fez constar que iria fazer voz grossa no Conselho Europeu. Estava em causa o pacote Clima Energia da União Europeia 2030, havendo uma forte resistência da França à proposta portuguesa de que fossem contempladas metas vinculativas para a interligação das redes eléctricas da Península Ibérica com o resto da Europa.

Passos Coelho chegou ao Conselho Europeu a ameaçar que vetaria as conclusões, em matéria de política climática e energética, se as reivindicações de Portugal não fossem aceites. O alegado primeiro-ministro perdeu em toda a linha, como Tiago Antunes explica aqui.

2. Acontece que o brilharete que o alegado primeiro-ministro desperdiçou assenta nas energias renováveis, lançadas pelos governos de José Sócrates. Dê-se a palavra a Passos Coelho: «Depois das reformas estruturais que fizemos em Portugal e dos esforços para reduzir os gases com efeitos de estufa, o aumento das energias renováveis para produzir energia eléctrica era importante para podermos exportar». Para que não restassem dúvidas, Passos Coelho acrescenta: «Nós fizemos esforços muito grandes do ponto de vista estrutural para poder ter uma energia mais competitiva e estamos alinhados com a ideia de ter um mercado interno de energia que possa funcionar plenamente».

Mais uma involuntária vénia à «década perdida».

segunda-feira, outubro 13, 2014

Em defesa de Passos Coelho

Via David Crisóstomo (aqui)

Tendo em conta a forma como discursa, ainda pensei que este projecto de resolução tivesse sido escrito pelo próprio Passos Coelho. Mas parece que não foi — pelo menos, é assinado por Luís Montenegro, Carlos Abreu Amorim e Teresa Leal Coelho.

Estes três deputados confessam que não têm nada preparado sobre a protecção das crianças, das famílias e da natalidade e sugerem, por isso, aos restantes grupos parlamentares que pensem no assunto. Até porque é preciso dar uma mãozinha ao alegado primeiro-ministro, que «propôs no Conselho Europeu de Junho que a promoção da natalidade seja uma prioridade da Comissão Europeia para os próximos cinco anos.»