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segunda-feira, dezembro 07, 2015

Fazer a economia crescer


• João Galamba, Fazer a economia crescer:
    «O PIB do terceiro trimestre, cujos detalhes foram conhecidos na passada segunda-feira, mostra que a tese segundo a qual a economia estaria em aceleração até às eleições não tem qualquer fundamento. O crescimento homólogo passou de 1,6% para 1,4%, sendo nulo o crescimento entre os segundo e terceiro trimestres. Isto é o oposto de uma economia em recuperação.

    dMais do que desmentir a narrativa eleitoral de PSD e CDS, se há algo que estes dados tornam evidente, é a absoluta necessidade de executar, quanto antes, as medidas de estímulo à economia que constam do programa do novo Governo. O que explica a desaceleração da economia é o comportamento menos favorável do consumo (crescimento passou de 3,2% para 2,3%) e da formação bruta de capital fixo (crescimento passou de 5,3% para 1,9%).

    Depois de vários trimestres a crescer acima dos dois dígitos, a compra de automóveis desacelerou, o que mostra que, mais do que um consumo assente na recuperação sustentável e duradoura do rendimento, tínhamos um consumo que se limitava a recuperar da forte queda ocorrida entre 2011/3 e que não tinha condições de sustentabilidade para perdurar no tempo.

    Para garantir que o consumo mantém taxas de crescimento robustas no futuro, é necessário apostar na recuperação sustentável e duradoura do rendimento. E é isso que o programa do Governo propõe. Ao contrário da compra de automóveis, que é feita essencialmente recorrendo ao crédito e que tem um forte conteúdo importado; o consumo corrente, que é aquele que tem uma ligação mais directa ao rendimento disponível das famílias, tem um conteúdo importado menor que o consumo de bens duradouros. A aceleração da reposição do rendimento das famílias, com particular incidência nos escalões mais baixos de rendimento, tem, pois, um duplo objectivo: maximiza o efeito no PIB e minimiza o impacto negativo na balança externa.

    A formação bruta de capital fixo (FBCF), que recuou ao nível de meados dos anos 80, não está a recuperar. A tese segundo a qual bastaria aumentar a rentabilidade do capital (baixando salários, desprotegendo trabalhadores e reduzindo o IRC) pode funcionar em alguns modelos, mas, na realidade, limita-se apenas a agravar a já desigual repartição do rendimento, sem efeitos visíveis na FBCF. Como não se cansam de dizer os empresários portugueses no Inquérito da Conjuntura publicado pelo INE: sem procura não há investimento. O aumento do rendimento das famílias é, pois, uma importante componente de qualquer retoma da FCBF, porque é a única forma de garantir que os empresários têm clientes a quem vender. Esta aposta no rendimento, como é evidente, não esgota as medidas para estimular a FCBF que constam do programa de Governo, mas é um pilar essencial a qualquer recuperação dessa componente do PIB.

    Constatar que a realidade económica é pior do que sustentavam PSD e CDS antes das eleições não é uma desculpa. É a mera constatação da urgência de uma mudança de políticas, que assegure o que as políticas anteriores manifestamente não foram capazes de assegurar

segunda-feira, setembro 14, 2015

O papão do consumo


• João Galamba, O papão do consumo:
    «Passos Coelho é especialista em mitos cuja maioria nem chega a ser urbano. No seu debate com António Costa, o líder da coligação PSD-CDS tentou agitar o papão do regresso ao passado.

    Não apresentou argumentos, apenas repetiu, muitas vezes em desespero e porque não tinha mais nada para dizer, as palavras "regresso ao passado" e "Sócrates". Passos Coelho afirma - o que não é o mesmo que argumentar - que as propostas do PS são um perigo porque assentam em estímulos ao consumo. Vamos por partes.

    Em primeiro lugar, Passos tem de perceber que houve um estímulo ao consumo significativo durante o seu mandato. Não porque Passos Coelho o desejasse, mas porque lhe foi imposto. É preciso recordar que, no final de 2012, Passos Coelho anunciou querer cortes adicionais de quatro mil milhões de euros nos rendimentos dos portugueses. Em Abril de 2013, na sequência de mais um acórdão do Tribunal Constitucional (TC), Passos Coelho reafirmava esse plano de cortes violentos nos rendimentos de muitas centenas de milhares de portugueses, alertando, à semelhança do que faz hoje com as propostas do PS, para os perigos de não fazer esses cortes, alegadamente salvíficos.

    Acontece que - felizmente - esses cortes foram sucessivamente travados e os rendimentos de pensionistas, funcionários públicos e de quem recebe prestações sociais como subsídio de desemprego e subsídio de doença, acabaram por ser muito mais elevados do que desejava Passos Coelho (cerca de três mil milhões de euros mais elevados). O resultado é conhecido: o efeito conjunto das decisões do TC, da queda do preço de petróleo e das taxas de juro constituiu um choque no rendimento dos portugueses que teve efeitos poderosos na procura interna. Portugal saiu da recessão de 2011/13 à custa da procura interna, praticamente toda explicada pela recuperação do consumo.

    Em segundo lugar, Passos, embora agite o papão do consumo, prevê, no seu PEC 2015/19 enviado a Bruxelas em Abril deste ano, uma evolução da economia praticamente toda assente na recuperação desse indicador. Em 2019, último ano das projecções do PEC da coligação, é suposto que o consumo represente 65% do PIB, percentagem superior à verificada em 2010, quando era apenas de 62%. A retórica de Passos critica aquilo que lhe permitiu, no passado, sair da recessão e critica aquilo que assegura grande parte do crescimento previsto até 2019. Se já estamos habituados a que o discurso de Passos Coelho não bata certo com a realidade, aqui a contradição é ainda maior: é o discurso de Passos Coelho que não cola com as suas próprias previsões. Em matéria de consumo, a grande diferença entre o programa do PS e o "programa" da coligação não é a sua evolução e o seu peso na retoma.

    Tanto o PS como a coligação prevêem crescimentos do consumo, porque, como vimos nos últimos anos, não há recuperação económica possível sem uma evolução positiva deste indicador. A diferença entre os dois programas é que só o do PS tem medidas de recuperação de rendimento que sustentem essa evolução. O corte de 600 milhões nas pensões previsto para 2016, o adiamento, para o final da legislatura, da devolução dos cortes nos vencimentos dos funcionários públicos e a ausência de quaisquer medidas adicionais que aumentem o rendimento dos portugueses contrariam as previsões da própria coligação para a evolução positiva do consumo e, ao invés de reforçar a retoma prevista, penalizam-na.

    Embora a recuperação do consumo seja necessária, ela não é suficiente. Se só houver consumo, a recuperação não é sustentável e gera desequilíbrios. É por isso essencial criar condições para que, juntamente com o crescimento do consumo, também haja uma forte aceleração do investimento (público e privado) que aumente a capacidade produtiva do país, garantindo que podemos crescer de forma sustentável. Não há retoma sem consumo e não há retoma sustentável sem que haja investimento modernizador. Por essa razão, o PS propõe actuar simultaneamente do lado da procura e do lado da oferta. Se não houver uma retoma robusta do investimento, os bancos continuarão dedicados a aumentar o crédito ao consumo, em vez de canalizar o dinheiro para as empresas. Consumo assente no crescimento do rendimento, e não no crédito ao consumo para a compra de automóveis, investimento assente na cooperação estratégica entre o estado e os agentes económicos, para que, conjuntamente, Portugal possa crescer de forma robusta e sustentada, criando emprego de qualidade.»

quinta-feira, agosto 27, 2015

Maduro chamado à cabine de som


    «(…) Nesta altura do quadro financeiro plurianual 2014-2020, em que os projectos necessitariam de estar consolidados e resultarem de estudos técnicos e económicos rigorosos, altamente “blindados” a inconformidades, de modo a sustentarem as candidaturas elegíveis, a lista publicada revela que, em antecipação, não foi feito o trabalho de casa. (…)»

quarta-feira, agosto 19, 2015

Depois do Pontal, o regresso à realidade


    «De acordo com a Síntese Económica de Conjuntura publicada hoje pelo INE, a Formação Bruta de Capital Fixo (o chamado Investimento) terá sido negativo no segundo trimestre de 2015:
      "O indicador de FBCF diminuiu significativamente entre abril e junho, interrompendo o movimento ascendente iniciado em março de 2013. A evolução observada no último mês deveu-se à redução dos contributos de todas as componentes, sobretudo da componente de construção" (página 11).
    Ou seja, temos procura externa líquida negativa (importações crescem mais que exportacoes) e não estamos a importar para investir, mas para consumir, sobretudo automóveis. A coligação pode fazer a propaganda que quiser, estes dados são preocupantes e estão longe, muito longe de serem positivos.»

segunda-feira, maio 11, 2015

Uma coligação para subdesenvolver Portugal


• João Galamba, Uma coligação para subdesenvolver Portugal:
    «Um dos principais objectivos da atual maioria era criar as bases para que o crescimento fosse mais elevado e mais sustentável do que antes da crise. Tudo leva a crer que aconteceu o oposto. A economia portuguesa cresce menos do que no passado, mesmo num contexto favorável de queda dos juros e do preço do petróleo e desvalorização do euro, e não parece ser capaz de crescer sem penalizar fortemente a balança externa. A recessão e o empobrecimento dos últimos anos foram sacrifícios que não produziram qualquer transformação estrutural positiva para a economia portuguesa. Antes pelo contrário.

    Depois de três anos de recessão, a economia portuguesa cresceu em 2014 menos do que na chamada década perdida, e em 2015, mesmo de acordo com as previsões mais otimistas, vai ficar abaixo do crescimento de 2007 (2.4%) e provavelmente abaixo do de 2010 (1.9%). Tudo isto num contexto externo altamente favorável, com as taxas de juro próximas de zero ou mesmo negativas, com o petróleo 50% mais barato, e com o euro a desvalorizar 30% face ao dólar.

    Se olharmos para aquilo que são considerados os determinantes do PIB potencial de uma economia, o stock de capital e trabalho, é fácil de perceber por que razão não estamos melhor do que no passado. Como o investimento caiu 30% e cresce hoje a uma taxa inferior à amortização do stock de capital existente, a nossa capacidade produtiva está a deteriorar-se todos os anos. Do lado do trabalho a situação é ainda pior, porque houve um triplo choque negativo: no volume, na produtividade presente e na produtividade futura. Desde que este governo entrou em funções, há menos cerca de 400 mil trabalhadores empregados e todos os anos emigram mais de 100 mil portugueses, muitos deles jovens qualificados. O desemprego de longa duração, para além dos elevados custos sociais, deteriora a produtividade desses trabalhadores, e o desinvestimento em educação e formação assegura que a produtividade de todos os trabalhadores, presente e futuros, será penalizada.

    A actual maioria parece defender a bizarra tese de que, mesmo deteriorando fortemente os stocks de trabalho e capital existentes e objectivamente degradando o PIB potencial, mesmo desinvestindo nos principais bloqueios estruturais do país, Portugal está em vias de ser ‘uma das nações mais competitivas do mundo’. Isto acontece porque, na cabeça de alguns, seguir à risca o receituário liberal — privatizar, desregular, reduzir salários e baixar impostos às empresas — equivale, por definição, a aumentar a competitividade e o potencial de crescimento de uma economia. Não é assim.

    A única maneira de inverter a actual deterioração do PIB potencial passa por políticas que dinamizem o investimento público e privado e aumentem o volume e a qualidade do emprego. E não haverá retoma do investimento se não houver fortes estímulos à procura e, simultaneamente, um conjunto de reformas estruturais que, em vez de seguir uma certa dogmática doutrinária, procure responder aos verdadeiros bloqueios estruturais do país. Investir na melhoria das qualificações dos trabalhadores existentes, investir nas qualificações dos trabalhadores do futuro; investir na ciência e na inovação, quer nos centros de produção de conhecimento, quer em instituições e políticas que facilitem a transferência desse conhecimento para o mundo empresarial. Investir na modernização e capacitação da economia nacional, em vez de apostar na sua degradação e desqualificação.»

terça-feira, abril 14, 2015

Diz que é uma espécie de retoma


• Manuel Caldeira Cabral, Diz que é uma espécie de retoma:
    «(…) A retoma desejável e sustentada, teria de ser baseada, em primeiro lugar, na recuperação do investimento e na aceleração das exportações. Os números dos trimestres seguintes confirmaram a manutenção de crescimento, mas sem aceleração, e de um crescimento baseado na procura interna, mais do que no reforço do investimento e do crescimento das exportações.

    No último trimestre de 2014, o crescimento homólogo do PIB foi de 0,7%, metade do registado um ano antes. O investimento cresceu pouco mais de 2% face aos valores do ano anterior, o que contrasta com a queda de mais de 30% verificada com o ajustamento.

    As exportações apresentaram, em 2014, o pior crescimento dos últimos cinco anos. E nos primeiros dois meses do corrente ano cresceram ainda menos (cerca de 1% em termos homólogos).

    Todos estes dados sugerem que se mantém a retoma, mas esboçam um quadro de retoma lenta, pouco sólida, e pouco sustentável.

    (…)

    Isto é ainda mais estranho num momento em que a descida do preço do petróleo e as melhorias no quadro europeu, no crescimento e no financiamento, estão a dar um contributo positivo. Estranho porque, depois de uma contracção tão forte do PIB, do emprego, do investimento e dos salários, e de tantos sacrifícios e alegadas reformas, que deviam colocar o país a crescer com mais força, os dados apresentam uma retoma fraca e hesitante.

    A resposta do Governo tem sido apenas a de negar estes problemas, culpar os mensageiros que apresentam estes dados, e afirmar, contra a abundante evidência, que tudo está a correr bem no programa de ajustamento. Não está.

    Nos últimos quatro anos a economia portuguesa ficou mais pobre e mais fraca. Perdeu capital e perdeu força de trabalho, para a emigração e para a desmotivação. Desinvestiu na ciência, abandonou e minou a confiança dos seus cidadãos nas instituições públicas. Prometeram reduzir gorduras. Mas reduziram músculo e cérebro.

    Com um "stock" de capital mais baixo, menos trabalhadores, instituições de ciência e tecnologia asfixiadas, e menor confiança dos cidadãos e investidores nas instituições públicas e privadas, é hoje mais difícil conseguir criar a riqueza. Este foi talvez o maior erro da troika e de quem entusiasticamente quis ir mais longe do que esta. A destruição da capacidade de criar riqueza não reforça a solvabilidade de nenhum país.

    O maior problema do adiar de uma retoma mais forte é que, ao manter as mesmas condições, mantém o mesmo incentivo à saída de jovens, a mesma incerteza nos investidores, que significam que o país poderá continuar por mais alguns anos a perder "stock" de capital e trabalhadores, perdendo capacidade de produção, se não actuar urgentemente em alterar esta situação.»

quarta-feira, abril 08, 2015

Emprego e investimento vistos à lupa (com Pires de Lima a assistir)


Intervenção de Pedro Nuno Santos no âmbito da audição,
hoje ocorrida, do ministro da Economia, Pires de Lima,
incidindo sobre a queda do emprego (que se verifica
há seis meses) e o investimento

terça-feira, março 31, 2015

O Público errou

Hoje no Público: Crescimento potencial português ameaçado por falta de investimento

    «O Público tem hoje uma infografia sobre Investimento. Pequeno problema: os dados não estão correctos; a realidade, infelizmente, é muito pior.

    Segundo dados do INE, a Formação Bruta de Capital Fixo foi de 38.098 em 2010 e de 26.299 em 2013. Ou seja, a queda é de 31%, não de 11%.

    Se o Publico errou grosseiramente na queda do Investimento em 2010-13, os números previstos para a recuperação também estão incorrectos e sobrestimam a recuperação. Ao contrário do que diz o Publico, e tendo em conta os dados do Investimento de 2014, a recuperação prevista para 2013-16 é de 8.5%, e não 13.2%.

    Em resumo: o Investimento caiu o triplo do que nos diz o Público e prevê-se que recupere mais devagar do que nos diz o Público.»

sexta-feira, março 27, 2015

Miss Swaps vê a catástrofe
como «um ajustamento meramente técnico»

    «Com a revisão em baixa do PIB de 2012 (passou de -3.4% para - 4%) e de 2013 (passou de -1.4% para -1.6%), anunciada ontem pelo INE:
      - o PIB de 2014 ficou 1.9 mil milhões de euros mais baixo, recuando 15 anos;
      - o investimento de 2014 ficou cerca de 500 milhões de euros mais baixo, recuando exactamente 30 anos, para valores iguais aos que existiam em 1984, antes da adesão à CEE e antes da entrada de fundos europeus em Portugal;
      - a revisão em baixa dos níveis de PIB e do Investimento, mais do que anulam os aumentos do PIB e do investimento verificados em 2014: PIB aumentou cerca de 1500 milhões, mas foi revisto em baixa 1900 milhões; investimento tinha aumentado cerca de 210 milhões de euros, mas a revisão em baixa foi próxima dos 500 milhões.
    Perante esta catástrofe, a ministra das finanças diz que estamos perante um ajustamento meramente técnico, que não tem grande relevância. Olhando para os factos acima descritos, parece-me que a posição de Maria Luís Albuquerque se comenta a si própria.»

quinta-feira, março 26, 2015

Quatro anos depois do chumbo do PEC 4: os resultados

Depois dos avisos sobre as consequências do chumbo do PEC 4, eis alguns dos desastrosos resultados ao fim de quatro anos de devastação do tecido económico e social do país (infografias do Acção Socialista):

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quarta-feira, março 25, 2015

Custos de oportunidade


• Hugo Mendes, Custos de oportunidade:
    «Há duas semanas, a imprensa dava conta de que a PSA Sines vai investir 40 milhões de euros em 2015 na expansão do Terminal XXI sem qualquer "apoio público". Na verdade, a notícia devia ser outra: a de que, na proposta inicialmente apresentada ao Governo, a PSA se dispunha a investir 130 milhões de euros, desde que o Governo investisse outros 70 milhões de euros (e prorrogasse o prazo da concessão). Como o Executivo respondeu que não há dinheiro para investimento público, o resultado do processo foi este: o setor privado investiu três vezes menos do que estava disposto (40 milhões de euros em vez de 130 milhões de euros) e o país beneficiou de um investimento cinco vezes inferior (40 milhões de euros em vez de 200 milhões de euros) ao que poderia ter sido realizado.

    O que tem este caso a ver com as declarações da ministra das Finanças sobre os ‘cofres cheios'? Ele demonstra que a prioridade de curto prazo do Governo, que se traduz na constituição de uma almofada que vale 14% do PIB, em nada contribui para resolver os desafios fundamentais do país, que passam por garantir que consegue crescer e assegurar a sustentabilidade da sua dívida. Se a estratégia de ter os ‘cofres cheios' representa um seguro contra um risco futuro que passa, para muitos, por inatacável prudência (ou, noutra leitura, por incomunicável pânico face a qualquer alteração no enquadramento financeiro externo), ela tem custos: não apenas os custos financeiros que resultam dos juros pagos pela dívida emitida e pelo facto de a taxa de depósitos do BCE ser negativa, mas os custos de desperdiçar oportunidades de investir no futuro do país. Ao mesmo tempo que compra dívida que paga para ter no ‘colchão' do BCE, o Governo sinaliza que não percebe um dos bloqueios que mais condiciona o desenvolvimento da economia nacional: preso ao quadro cognitivo do ‘crowding out', o Governo é incapaz de compreender que o investimento privado não arrancará realmente enquanto o investimento público se mantiver em mínimos dos últimos 20 anos.»

segunda-feira, março 16, 2015

Bodo aos ricos

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A reforma do IRC (imposto sobre os lucros das empresas) não resiste ao teste mais simples: foi concebida para servir as grandes empresas. Para além da descida da taxa nominal, há um conjunto alargado de medidas com o propósito de diminuir a carga fiscal que incide sobre as grandes empresas:
    Regime de privilégio de afiliação (participation exemption), através do qual as sociedades ficam isentas de IRC quando recebem dividendos e mais-valias do estrangeiro ou distribuam capitais para o exterior, impondo o cumprimento de um conjunto de requisitos muito mais flexíveis — de resto, “em contraciclo relativamente a algumas iniciativas internacionais em matéria de erosão das bases tributáveis (nomeadamente ao nível da OCDE e G20) e mesmo dos nossos vizinhos espanhóis (ver o recente "Plan Anual de Control Tributario y Aduanero de 2013")” (vide o ponto 2 do artigo de Henrique de Freitas Pereira no Jornal de Negócios );

    Regime dos grupos de sociedades, aligeirando a possibilidade de os grupos poderem ser tributados pelo resultado consolidado das empresas que o constituem;

    Outras medidas para o encurtamento da base tributável (quando seria expectável que a uma descida da taxa correspondesse um alargamento da base tributável), de que são exemplos (i) alterações à regra geral da indispensabilidade dos gastos para que sejam aceites para efeitos fiscais (regra que vigora em Portugal há pelo menos 50 anos) e (ii) ao reporte de prejuízos (alargado de cinco para 12 anos) e (iii) e a criação de uma nova norma para permitir a dedutibilidade do custo de aquisição de activos intangíveis, propriedades de investimento e activos biológicos não consumíveis (vide o ponto 3 do artigo de Henrique de Freitas Pereira no Jornal de Negócios).

A justificação do Governo para este autêntico bodo aos ricos era a de que, na sequência do aumento dos lucros, as empresas iriam apostar no investimento. Acontece que o Dinheiro Vivo fez um estudo (cf. quadro supra) relativamente às empresas não financeiras que integram o PSI 20 e concluiu que «as empresas da Bolsa de Lisboa têm sido autênticas máquinas de remunerar os accionistas». Nem a redução da dívida nem o investimento parecem ser prioridades destas empresas.

Entretanto, a maioria de direita não pensa abster-se de, ano após ano, continuar a reduzir a taxa de IRC.

Entre um investimento de 40 ou de 200 milhões de euros,
o Governo opta por qual?


O Jornal de Negócios informa de que o alegado primeiro-ministro vai hoje a Sines por causa de um investimento privado de 40 milhões de euros. Mas a notícia devia ser que a PSA, cuja empresa-mãe é de Singapura, propôs ao Governo que o Estado português investisse 70 milhões de euros, estando então a PSA disponível para avançar com outros 130 milhões — para o prolongamento do cais, de forma a poder receber três navios em simultâneo.

Portanto, em vez de o país ter realizado um investimento estratégico de 200 milhões de euros, será feito um investimento cinco vezes mais pequeno. Esta posição mostra a cegueira do Governo: por causa do preconceito em relação ao investimento público, o país perde a oportunidade de um grande investimento estratégico.

segunda-feira, março 09, 2015

Regresso à casa de partida (despojado de quaisquer bens)

A OCDE confirma desaceleração na recuperação da actividade económica em Portugalem contraciclo com o que está a ocorrer na zona euro. Nada que não fosse expectável.

No triénio 2011/2013, foram destruídos 350 mil empregos e o investimento sofreu uma redução de 30%. Em lugar da reestruturação da economia portuguesa, ocorreu um violento empobrecimento do país.

O anémico crescimento verificado em 2014 (0,9%) pode o Governo agradecer ao Tribunal Constitucional, que obstou que se consumassem na totalidade os cortes previstos no Orçamento do Estado. Ou seja, o que a direita tanto criticou — o crescimento por via da procura interna — permitiu travar a recessão, mas não impediu a degradação da balança externa.

Após ter posto o país a ferro e fogo durante quatro anos, o Governo reconduz a economia portuguesa ao ponto de partida. Mas imensamente mais pobre. É o seu legado.

segunda-feira, março 02, 2015

O estado da economia portuguesa


Declaração de João Galamba sobre a economia portuguesa

A não retoma do investimento


• João Galamba, A não retoma do investimento:
    «Depois do investimento ter caído 30% em três anos, chegando a níveis que só encontram paralelo no distante ano de 1986, a alegada retoma do investimento, efusivamente celebrada por Paulo Portas, resume-se afinal a uma taxa de crescimento de 2.3%.

    Os 5.2% de que tem falado Paulo Portas incluem a variação de existências, isto é, a variação de stocks de matérias primas e produtos produzidos ou em fase de produção que ainda não foram vendidos. A variação de existências é considerada investimento apenas para efeitos contabilísticos. O investimento propriamente dito é a formação bruta de capital fixo, que cresceu apenas 2.3%.

    Depois de todos as reformas estruturais, depois do super crédito fiscal, depois de duas reduções da taxa de IRC - e depois de todas as políticas convencionais e não convencionais do Banco Central Europeu - a taxa de crescimento do investimento que Paulo Portas está a festejar - a real, de 2.3%, não a de 5.2% - não permite sequer compensar a depreciação do stock de capital existente, o que significa, na prática, que não estamos a aumentar a capacidade produtiva. Este facto parece ser confirmado pelo Inquérito de Conjuntura ao Investimento, publicado pelo INE a 30 de Janeiro.

    Com a taxa de crescimento de 2014, Portugal levaria dezasseis anos só para recuperar o investimento perdido nos últimos três.

    Paulo Portas tem toda a razão quando diz que o investimento é o dado mais crítico da economia portuguesa. Mas não tem nenhuma razão quando proclama o sucesso das políticas do que governo a que pertence. Não haverá retoma significativa do investimento privado enquanto o investimento público não inverter a tendência dos últimos anos. É preciso não esquecer que o investimento público foi cortado em 60% (quase seis mil milhões de euros a menos do que em 2010). (…)»

Celebram o quê?

Hoje no Diário Económico (via Nuno Oliveira)
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sábado, fevereiro 28, 2015

E depois há os números

    «Paulo Portas, em modo propaganda, anda entusiasmadíssimo com o crescimento do investimento. Acontece que grande parte do aumento do investimento se deve, não à Formação Bruta de Capital Fixo - que é a rubrica que interessa -, mas à Variação de Existências. Se olharmos apenas para a FBCF (+2.3%), não só o aumento é medíocre, não permitindo sequer recuperar da queda do ano anterior (-6.3%), quanto mais as quedas dos últimos anos, como anda longe de ser o melhor dos últimos 15 anos, como diz Portas. Em 2007, por exemplo, a FBCF cresceu 3.1%.»