“
Sinto vergonha por a diplomacia ser chefiada por Rui Machete”, disse ontem Augusto Santos Silva, condensando numa frase o que resulta dos vários episódios que envolvem o ainda ministro. E, hoje, Daniel Oliveira faz uma boa síntese da
actuação de Rui Machete na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas da Assembleia da República: “
Machete ensandeceu ou pior do que isso”. Mas vale a pena fazer também uma breve referência às posições assumidas pelos partidos políticos na audição de Machete.
Como seria de esperar, o CDS e o PSD fizeram uma defesa acéfala de Machete, com a particularidade de o grupo parlamentar laranja se ter feito representar por António Rodrigues, exactamente o deputado que há dias jurava a pés juntos que Machete — a propósito das acções do BPN que o desmemoriado ministro expressamente disse nunca ter adquirido — não havia mentido, mas que apenas tinha escrito uma “
inverdade”.
O PCP, esse,
não exige a demissão de Rui Machete, porque quer a demissão do Governo. A fórmula do “ou tudo ou nada” é o meio encontrado pelo PCP para actualizar a coligação negativa com a direita política mais extremista que o país conhece desde 1974. Assim sendo, depois de tranquilizar o Governo antecipadamente de que não pediria a cabeça de nenhum governante, o PCP aproveitou a presença de Machete e seus ajudantes para discorrer abundantemente sobre a problemática da investigação tropical, dos professores colocados no estrangeiro e dos protocolos de cooperação. Como se vê, questões magnas que estão no topo das preocupações dos portugueses. Por isso, a prestação do PCP foi ontem elogiada por Machete.
O BE foi directo à inqualificável declaração de Machete à Rádio Nacional de Angola. Depois de uma
primeira intervenção incisiva, a deputada Helena Pinto sublinhou, na
segunda intervenção, o modo ostensivo como Machete tinha ignorado as questões concretas que colocou, tendo por isso prescindido de o voltar a questionar.
A primeira intervenção do PS esteve a cargo de Pedro Silva Pereira. Confirmou a exigência de demissão de Rui Machete, em conformidade com a posição expressa por António José Seguro. Esta intervenção demolidora pode ser vista no
vídeo reproduzido em cima.
A segunda intervenção do PS coube a Maria de Belém Roseira fazê-la. Quando se esperaria que insistisse nas questões colocadas por Pedro Silva Pereira e não respondidas por Machete, a deputada do PS, depois de afirmar que é amiga do ministro há 37 anos, lançou uma série de perguntas que pressupõem a sua continuidade como ministro — fazendo-me, de resto, recordar uma outra menos feliz intervenção que teve aquando da audição parlamentar de Paulo Portas no episódio do avião do Presidente da Bolívia, Evo Morales.
Daí a pergunta em título: afinal, a oposição exige ou não a demissão de Machete?