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quarta-feira, novembro 25, 2015

Regresso à normalidade


• Maria de Lurdes Rodrigues, Regresso à normalidade:
    «(…) Estes relatórios revelam bem a herança que o governo de coligação PSD/CDS nos deixou em matéria de ciência, ensino superior e educação. Chegou ao fim sem ter querido ouvir ou compreender a posição dos outros partidos nestas matérias. A troika e a crise financeira serviram de pretexto para políticas de ciência e de educação baseadas em preconceitos, para políticas disruptivas e destruidoras do que tinha sido conseguido no passado com os governos do PS e do PSD. É tempo de regressar à normalidade.»

quarta-feira, agosto 26, 2015

«A produtividade que precisamos
não é a que resulta da redução do salário,
mas do aumento do valor produzido»

Terceira carta do secretário-geral do PS destaca conhecimento e inovação

• António Costa, O conhecimento e a inovação são a chave do desenvolvimento:
    «Nestas eleições, temos uma decisão de fundo a tomar sobre o nosso modelo de desenvolvimento: aceitamos, como a direita defende, que só com empobrecimento e precariedade seremos competitivos ou, em alternativa, batemo-nos por um modelo que investe no conhecimento e na inovação como a chave do desenvolvimento?

    Os nossos setores económicos tradicionais são mesmo o bom exemplo do rumo certo para alcançarmos os resultados desejados. Quando foram considerados sem futuro, que fizeram? Prosseguiram a estratégia de reduzir custos com recurso à mão de obra infantil e à contrafação? Não, não fizeram isso. Pelo contrário! Apostaram na inovação, na qualificação da gestão, na diferenciação dos seus produtos, competindo pelo valor acrescentado. E assim se modernizaram importantes setores no calçado, no têxtil, no agroalimentar ou na metalomecânica.

    A cultura, a ciência, a educação e a formação ao longo da vida são os pilares da sociedade do conhecimento, garantia de uma cidadania ativa, condição da capacidade para enfrentar as incertezas do futuro, habitat natural de uma economia empreendedora, criativa, inovadora e que se internacionaliza.

    Para crescer, temos de recuperar competitividade. A direita defende que é empobrecendo coletivamente, reduzindo salários, eliminando direitos laborais, privatizando o estado social, diminuindo os impostos sobre as empresas, que seremos competitivos. O resultado desta estratégia está à vista. Regredimos a 2002 no PIB, a 1990 no investimento… E mesmo as tão faladas exportações limitaram-se a evoluir em linha com o período 2005/2008 e graças a investimentos decididos antes de 2011.

    Não podemos prosseguir esta trajetória de retrocesso. O nosso caminho é o da inovação e inovar exige investimento no conhecimento. Esta é a primeira grande opção sobre o modelo de sociedade em que queremos viver. Porque esta opção tem consequências várias, por exemplo, na visão sobre o mercado de trabalho ou na fiscalidade. Não há empresas inovadoras assentes na precariedade. Inovação exige investir na qualificação e na formação ao longo da vida dos trabalhadores. A precariedade é o incentivo errado. A produtividade que precisamos não é a que resulta da redução do salário, mas do aumento do valor produzido. Temos de realinhar os incentivos: em alternativa à redução indiscriminada do IRC ou da TSU, devemos ser seletivos, concentrando os incentivos nos investimentos em inovação e no combate à precariedade laboral.

    Por isso, o que é prioritário? Promover a cultura e a ciência, combater o insucesso escolar e garantir os 12 anos de escolaridade, apostar na educação de adultos e na formação ao longo da vida, valorizar o ensino superior, investir em centros tecnológicos e no emprego massivo de jovens licenciados na modernização do tecido empresarial, apoiar a capitalização das empresas, o empreendedorismo, a internacionalização.

    Queremos travar o êxodo dos jovens mais qualificados? Queremos aumentar a natalidade? Apostemos na inovação, pois só assim teremos emprego de qualidade. Ao contrário do que a direita pensa, as reformas que precisamos no mercado de trabalho não são as que nos permitem competir pela pobreza, mas sim as que nos permitem travar o êxodo migratório dos jovens, com emprego digno, que atraia, fixe e dê confiança no futuro às novas gerações.

    Esta é a primeira opção de fundo que temos de fazer nestas eleições. A minha escolha é clara e é essa que vos proponho. Defendo um modelo de desenvolvimento assente no investimento no conhecimento e na inovação e no combate à precariedade e ao empobrecimento

sexta-feira, maio 29, 2015

segunda-feira, maio 18, 2015

«Só pode haver conhecimento aplicável
se antes houver conhecimento»

• João Galamba, Shark Tank:
    «(…) Se a produção de conhecimento for determinada por estratégias comerciais e mercantis das empresas, perde a produção de conhecimento e perdem as empresas. Porque não é assim que o conhecimento é produzido, nem pode ser assim que as universidades funcionam. E as empresas, ao contrário do Secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, sabem isto: não consta que as empresas que mais investem em inovação, como a Bosch, defendam que a melhor maneira de aproximar as universidades das empresas passe por desinvestimento público nas universidades, nos centros tecnológicos e nos laboratórios do Estado. Só pode haver conhecimento aplicável se antes houver conhecimento.

    Pedro Gonçalves, que vem do setor financeiro, olha para as universidades como se estas fossem start-ups que devem atrair financiamento de investidores privados. Só através do recuo do Estado, que obriga as universidades a sair da sua zona de conforto em procura de financiamento alternativo, podemos verdadeiramente saber que parte do sistema científico nacional tem qualidade e merece sobreviver. O modelo de financiamento da ciência e da inovação que o Secretário de Estado tem em mente parece ser uma versão do Shark Tank.»

sábado, maio 16, 2015

Pôr a investigação a desenrascar os grupos económicos:
política do Governo para o conhecimento, a inovação e a ciência

    «No Expresso da Meia Noite, quando Maria de Lurdes Rodrigues e Elvira Fortunato confrontaram Pedro Gonçalves, o Secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, com o estrangulamento financeiro das universidades e com o brutal desinvestimento em ciência, este respondeu que a aposta do Governo era na ligação do conhecimento ao mercado e às empresas, mas invertendo a lógica tradicional de produção de conhecimento.

    Para Pedro Gonçalves, é o mercado e as empresas que devem determinar qual o conhecimento que é produzido. E deu como exemplo um protocolo entre a Bosch e a Universidade do Minho.

    Ninguém questiona a importância do protocolo entre a Bosch e a Universidade do Minho. Mas Pedro Gonçalves parece ter esquecido que esse protocolo só existe porque alguém antes investiu na Universidade do Minho. E não foi a Bosch. Sem esse investimento anterior não havia protocolo, porque a Bosch não quer fundar, financiar e assegurar a existência da Universidade do Minho, quer recorrer aos seus serviços e quer que estes sejam de excelência.

    Se a produção de conhecimento for determinada por estratégias comerciais e mercantis das empresas, perde a produção de conhecimento e perdem as empresas. Porque não é assim que o conhecimento é produzido, nem pode ser assim que as universidades funcionam. E as empresas, ao contrário do Secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, sabem isto: não consta que as empresas que mais investem em inovação, como a Bosch, defendam que a melhor maneira de aproximar as universidades das empresas passe por desinvestimento público nas universidades, nos centros tecnológicos e nos laboratórios do Estado. Só pode haver conhecimento aplicável se antes houver conhecimento.

    Neste caso, como em tudo, o Governo PSD-CDS guia-se pela seguinte máxima: é preciso que o Estado desinvesta para que os privados o façam, e para que o façam melhor. Dificilmente encontramos uma área onde isto seja mais falso do que a do conhecimento, investigação e ciência.»

segunda-feira, abril 20, 2015

Estado empreendedor

— A inovação cabe-nos a nós, a vocês basta comprar o que produzimos.

• João Galamba, Estado empreendedor:
    «Todos concordam que um dos desafios do país é produzir mais e de forma mais justa. O problema vem a seguir. Podemos dizer que uma economia de um país é tanto mais produtiva quanto mais produtivo for o conjunto dos seus trabalhadores e quanto mais produtivo for o seu stock de capital*. Mas esta afirmação, embora verdadeira, pode induzir em erro, porque dá a ideia que faz sentido olhar para uma realidade chamada produtividade dos trabalhadores e uma outra chamada a produtividade do capital, como se qualquer uma delas pudesse ser analisada independentemente da outra. Quando isso acontece, e quando crê nos axiomas de uma certa vulgata liberal, o resultado é trágico.

    Olhemos para a produtividade dos trabalhadores portugueses e dos trabalhadores alemães. Os alemães são mais produtivos que os portugueses, mas não são mais produtivos porque trabalham mais ou porque são mais esforçados, nem são mais produtivos porque trabalham melhor ou pior do que os portugueses. Mesmo que os portugueses fossem trabalhadores piores ou menos qualificados que os alemães, a principal razão por que os alemães (ou japoneses ou americanos) produzem mais do que os portugueses é porque a economia portuguesa é diferente da economia alemã. Os trabalhadores portugueses exercem a sua actividade no contexto de economia que tem um perfil produtivo que, por muito que os trabalhadores se esforcem, por muito que tentem, não permite atingir os níveis de produtividade da economia alemã. Num certo sentido, a produtividade dos trabalhadores tem muito pouco a ver com os trabalhadores propriamente ditos.

    Portugal nunca poderá aumentar a produtividade dos seus trabalhadores forçando-os a trabalhar mais horas, com menos direitos e com menores salários. No contexto europeu, os portugueses já trabalham mais horas do que outros países mais produtivos, não consta que tenham mais direitos do que na generalidade dos países europeus, e não têm seguramente salários demasiado elevados. Se o objectivo for o subdesenvolvimento do país, podemos sempre apostar nessa via, como é evidente. Não consta que seja uma opção viável, muito menos aceitável.

    A actual maioria, prisioneira de uma visão da economia onde o Estado é visto como um entrave ao dinamismo, criatividade e capacidade de inovação da iniciativa privada, não concebe outra política económica que não a fragilização da situação do trabalhador (quanto menor a protecção maior o incentivo a trabalhar) e a entrega de recursos ao sector privado, prioritariamente reduzindo o IRC e reduzindo os custos salariais. Tudo isto financiado por desinvestimento público, para evitar aumentar o défice. Na cabeça de alguns, isto é o caminho para a prosperidade.

    Os crentes nesta estratégia acham que, se o Estado desinvestir na educação, desinvestir na ciência e na tecnologia, a iniciativa privada toma conta do recado. E se, por qualquer razão, essa verdade axiomática não se estiver a verificar, então é porque o Estado ainda não facilitou o suficiente. Trata-se uma espécie de visão mecânico-liberal do desenvolvimento: Estado recua, privados emergem, mais fortes, mais pujantes e mais criativos, e o milagre acontece. O PCP defende algo semelhante, mas ao contrário.

    Em alternativa a esses dois extremos encontra-se a realidade da grande maioria dos países desenvolvidos, onde o Estado e a iniciativa privada foram e são parceiros no desenvolvimento do país, cada um desempenhado a sua função, de forma complementar, e onde o trabalho não é uma mera variável de ajustamento económico. O Estado não se resume a ser facilitador, como se bastasse o seu recuo ou não intervenção para produzir milagres. Mas também não é um simples regulador de mercados, fornecendo os meios para o seu regular e justo funcionamento. Faz mais do isso e também cria mercados.

    É uma ilusão pensar que basta investir na regulação pública dos mercados e nas qualificações dos trabalhadores (presentes e futuros) para que a produtividade aumente. Trata-se de um investimento essencial, sobretudo num país como Portugal, mas está longe de ser suficiente. Se não houver investimento na qualificação e na modernização do contexto onde exercem a sua actividade, o investimento em qualificações, por si só, servirá de pouco e, por falta de oportunidades internas, tenderá a ser exportado, via emigração. É o que tem acontecido.

    É por esta razão que, para além de investimento em qualificações, é fundamental investir em ciência, na inovação e na modernização do nosso tecido produtivo. Todos estes investimentos requerem - directa ou indirectamente - o Estado e dependem da existência de políticas públicas adequadas. Não se trata de nacionalizar ou privatizar, mas de reconhecer uma política que mobilize todos os actores - administração pública, laboratórios e centros tecnológicos público e privados, instituições de ensino superior, empresas e sindicatos - com o objectivo de alterar e qualificar o perfil produtivo da economia nacional. Isto envolve necessariamente financiamento público directo e indirecto. E é uma estratégia que não é compatível com a ideia de um Estado meramente facilitador e muito menos com a diabolização do investimento público que tem sido e continua a ser uma das bandeiras da actual maioria.

______
* O conceito de stock de capital é problemático, porque, ao contrário do stock de trabalhadores, não é algo mensurável em unidades físicas. Podemos somar trabalhadores, não podemos somar uma fábrica de automóveis com uma cimenteira ou com um cabeleireiro. Para fazê-lo, precisamos de uma unidade de valor monetário, sem o qual o conceito de capital não tem significado. Isto leva a que a função matemática que a generalidade dos economistas usa para representar o lado da oferta de uma economia tenha graves problemas metodológicos.»

quinta-feira, abril 16, 2015

Mais inovação, melhor economia


Mariana Mazzucato é Professora de Economia da Inovação na SPRU – Science Policy Research Unit – da Universidade de Sussex. É actualmente uma das mais destacadas pensadoras internacionais sobre economia da inovação, sobre finanças e crescimento económico e sobre o papel do Estado no capitalismo moderno.

Em 2013 publicou o livro “The Entrepreneurial State: debunking private vs. public sector myths”, considerado por muitos uma obra imprescindível para a compreensão e discussão sobre os rumos do capitalismo moderno e listado pelo Financial Times como livro do ano. Nele, Mazzucato mostra que o Estado tem um papel central nos processos de inovação, ao contrário da percepção comum de que é o sector privado o motor da inovação e que ao Estado cabe apenas o papel de regulador. Da Apple até as chamadas tecnologias “limpas", passando pela indústria farmacêutica, Mariana Mazzucato mostra que o sector privado só aposta depois de o Estado ter feito investimentos ousados e de maiores riscos.

O longo dos dois últimos anos, Mariana Mazzucato tem participado em inúmeras conferências e de fóruns de discussão organizados por instituições públicas, nacionais e europeias, incluindo partidos europeus da família política do PS, em temas como:
    • “financiamento da inovação”;
    • “repensar o papel do Estado na inovação”;
    • “crescimento inclusivo, inovação e tecnologia”;
    • “práticas financeiras, dinâmicas de inovação e fontes de desigualdade económica”;
    • “governação, inovação e inclusão social”; entre outros.

É conselheira económica do governo escocês, comissária do World Economic Forum e membro permanente do grupo de especialistas em Inovação da Comissão Europeia. Em 2013 venceu o prémio SPERI de Política Económica.

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Queimar sábios: manual de instruções

• Manuel Pedro Ferreira, Queimar sábios: manual de instruções:
    «Não fora Passos um filisteu, pudera ter rematado o seu comentário sobre a Ciência pondo versos exactos nos próprios lábios: “Vendo bem, incendiámos tudo: Alexandria — e os sábios.”»

terça-feira, fevereiro 18, 2014

A chatice das pessoas que pensam pela sua cabeça


• José Vítor Malheiros, A chatice das pessoas que pensam pela sua cabeça:
    ‘(…) É evidente que existem no pensamento de Leonor Parreira [secretária de Estado da Ciência, ajudante de Crato] algumas confusões que deram origem a actos menos reflectidos da sua parte, mas é importante que os analisemos.

    A primeira confusão diz respeito ao papel do CNCT. A secretária de Estado ou não sabe que o CNCT é um órgão consultivo ou não sabe o que significa “consultivo” ou sabe ambas as coisas mas está decidida a não se deixar acanhar por estas minudências. É grave que um membro do Governo tente pressionar um órgão consultivo para que este emita uma “opinião” que sirva determinados interesses políticos. Mas tão ou mais grave do que isso é que a secretária de Estado não perceba que existe valor numa posição que nasce de uma discussão livre no seio de um órgão colegial (cujos membros, para mais, foram escolhidos a dedo pelo próprio Governo) e que uma opinião encomendada pelo poder não vale sequer o papel em que possa ser escrita. Esta confusão na cabeça de Leonor Parreira — motivada, sem dúvida, por aquilo que o seu discernimento lhe sugere serem os mais altos interesses nacionais — é tanto mais grave quanto nos faz duvidar não só da sua capacidade de valorizar a importância de uma opinião livre mas nos faz duvidar de todos os casos em que a própria tenha emitido uma opinião. Se Leonor Parreira interferiu na acção do CNCT da forma como o fez, é porque pensa que tem o direito de o fazer. E se pensa que tem esse direito é porque considera que um cientista (ou um colégio de cientistas) apenas deve emitir as opiniões que convêm ao Governo ou aos partidos que ocupem num dado momento o Governo. Digamos que esta é, no mínimo, uma posição difícil de conciliar com a atitude científica.

    Outra das confusões é quanto ao seu papel como “presidente em exercício” do CNCT. Leonor Parreira parece não ter compreendido que o seu papel neste caso lhe permite orientar os trabalhos, mas não lhe dá autoridade para mexer no texto final. O texto é dos conselheiros, não do presidente. Como parece não ter compreendido que o envio prévio do texto era uma cortesia e não uma oportunidade para usar o lápis azul.

    Mais grave do que tudo acima, Leonor Parreira não parece perceber esta coisa da democracia, com estas coisas da liberdade de discussão e de opinião e o confronto de ideias — o que é igualmente estranho para um cientista. Para Leonor Parreira, as críticas do CNCT demonstram “má-fé” porque só pode estar de boa-fé quem concorda com o Governo ou escreve o que o Governo dita mesmo que não concorde.

    Curiosamente, a todas estas questões vem somar-se uma aparente ingenuidade difícil de admitir num governante. Como é que a secretária de Estado pode ter imaginado que conseguia mandar calar estes vinte cientistas respeitados e obrigá-los a mudar o seu texto? Haverá algo, na sua prática como governante, que a fez acreditar nisso? (…)’

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Génio à solta


Rui Machete, alegado Ministro dos Negócios Estrangeiros, anunciou esta semana no Parlamento a extinção do Instituto de Investigação Científica Tropical e a sua integração na Universidade de Lisboa. Entre os seus muitos afazeres, Jorge Braga de Macedo lá arranjou tempo para, com a sua gestão ruinosa, lançar num plano inclinado e finalmente liquidar esta instituição científica prestigiada, cujas origens remontam a 1883. Que génio! Muitos parabéns!!

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Novas da asfixia democrática

Nuno Crato incumbiu a sua ajudante de pressionar o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia — órgão para aconselhar o Governo nas questões de ciência e presidido por Passos Coelho — para que não fosse divulgado o comunicado de imprensa relativo à reunião de 23 Janeiro, no qual se tecem duras críticas ao sistema científico português e, em particular, à razia na aprovação de bolsas de investigação, sendo pedida uma “auditoria aos processos de avaliação” da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Estando o comunicado elaborado desde o dia 31 de Janeiro, não foi divulgado. Acontece no entanto que o Conselho dos Laboratórios Associados, rede de 26 instituições científicas, não se conformou com este inaceitável acto de censura e emitiu um comunicado no qual refere explicitamente o comunicado censurado do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. A situação de Nuno Crato e da sua equipa é cada vez mais insustentável.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

"Com amigos assim quem precisa de inimigos?"

Vale muito a pena ler o artigo que o historiador Diogo Ramada Curto escreve hoje sobre A questão do financiamento da universidade.

Mas aqui fica apenas o post-scriptum:
    ‘P.S.: É assim que penso, por paradoxal que pareça a dois defensores de um liberalismo de pacotilha que passo a nomear: João Carlos Espada e José Manuel Fernandes. Os dois licenciados pela universidade portuguesa? Pelo menos o primeiro, que foi meu aluno, tenho a certeza que obteve o diploma. Próximos de Nuno Crato, actual ministro da Educação e Ciência, na defesa do seu amigo Rui Ramos, ambos me atacaram sem nunca terem a coragem de me nomear nas páginas do PÚBLICO (27 e 31-1-2014). O primeiro imbuído de uma suposta tradição oxoniana que, de tão snob, mais parece coisa de aviário ou de neófito convertido fora de época. O segundo para se comprazer na rememoração da cloaca maximae de evocações escatológicas. Nem por sombras lhes pintarei o retrato e bem podem calçar meia branca que não me comovem. Direi apenas que a sua atitude estudada de indignação é idêntica à das vítimas ofendidas quando reagem com uma violência sem limites. Mas não resisto a perguntar: com amigos assim quem precisa de inimigos?’

sábado, fevereiro 08, 2014

Primeiro como comédia, depois como tragédia

O homem pôs o país a rir à gargalhada com os Briefs do Lomba. Retirado de cena, ainda ameaçou voltar, altura em que foi fechado a sete chaves. Regressa agora com o propósito de transformar o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural num arremedo de AICEP para a captação de cérebros, exactamente no momento em que o Governo de que faz parte eleva a fasquia na política de incentivo à emigração: coube agora aos cientistas e investigadores serem atirados para fora da zona de conforto.

Mas os estragos que Lomba ameaça consumar têm efeitos mais nefastos do que a pouca vergonha de querer captar cérebros estrangeiros ao mesmo tempo que enxota os que o país produziu, numa espécie de política ariana invertida. Veja-se o que hoje diz Pedro Silva Pereira no Expresso:

Hoje no Expresso, partilhado por Nuno Oliveira
Clique na imagem para a ampliar

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Ciência a ferro e fogo (2)

— Ó Pedro, já viste bem o que dizem de ti?

Novos desenvolvimentos sobre a reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (aqui referida): Governo pressiona Conselho para não divulgar críticas.

Ciência a ferro e fogo

O Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia — órgão consultivo presidido pelo primeiro-ministro e do qual fazem parte investigadores como António Coutinho, Alexandre Quintanilha, Elvira Fortunato, Maria João Valente Rosa, Mónica Bettencourt-Dias ou Pedro Magalhães — esteve reunido para analisar o modo como decorreu o último concurso da Fundação para a Ciência e a Tecnologia para atribuição de bolsas. Muito embora a reunião tenha ocorrido no dia 23 de Janeiro, ainda não foram divulgadas as conclusões a que o Conselho chegou, devido ao tom crítico do documento com que se refere às políticas do Governo para a área da ciência e da investigação em Portugal.

E mente e mente e mente...

Quando Passos Coelho se sente atrapalhado para justificar as decisões do Governo, ele não hesita em flagelar a realidade. Ontem, o alegado primeiro-ministro, a fim de legitimar a contra-revolução em curso no âmbito das políticas públicas de ciência, que se traduzem na repartição do bolo entre as empresas e o mandarinato universitário, asseverou: “Quando medimos o número de patentes registadas e o número de artigos publicados, o resultado e a qualidade desse resultado passávamos de indicadores que pareciam comparar muito bem com os países que nos gostamos de comparar para comparar muito mal sempre que olhávamos para a substância”.

João Jesus Caetano foi verificar os dados da Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência sobre Ciência, Tecnologia e Inovação e mostra, relativamente aos artigos publicados, que Passos Coelho se equivocou, para não dizer que mente despudoradamente:

terça-feira, janeiro 28, 2014

O novo paradigma da ciência: a avaliação opaca

• José Vítor Malheiros, O novo paradigma da ciência: a avaliação opaca:
    ‘A FCT [Fundação para a Ciência e Tecnologia] sempre foi objecto de críticas por parte da comunidade científica, quase sempre justas. Mas algumas coisas nunca tinham sido postas em causa até hoje: a dedicação e a competência do seu (escasso) staff e a honestidade dos seus dirigentes. Hoje, os concursos deixam suspeitas de favorecimento, de atropelo às regras (veja-se o caso do concurso Investigador FCT, com 1700 candidatos a denunciar irregularidades processuais) e são de uma opacidade a toda a prova. É a reforma do Estado que a direita quer. Estamos servidos.’

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Rui Ramos no Canal Q: um novo António Sardinha?

• Diogo Ramada Curto, Rui Ramos no Canal Q: um novo António Sardinha?:
    ‘(…) O novo Sardinha vê tramóias em todo o lado, porque constrói o mundo à sua imagem. Com a consciência das duras realidades, chama a si a inimputabilidade e uma estratégia de vitimização. Aos seus amigos sopra-lhes a ideia de que a investigação é coisa obscurantista. Por isso, há que reduzi-la e dispensar os que a ela se dedicam. Melhor será fazer como antigamente, só para alguns, muito poucos. E, num estilo sério, mesmo muito sério, o Sardinha new age finge não suportar o estilo chocarreiro deste seu retrato.

    – Olha, Daisy, até que, se se tiver em conta o novo Álbum de Glórias de que este retrato chocarreiro faz parte, nem é assim tão mau. Verás que a notoriedade sobe.

    Pouco importa que quem defende que o Estado se retire – aliás, de onde nunca esteve, a julgar pelo que se faz por essa Europa fora – continue a ser um funcionário público, que não abdica de nenhum dos seus cargos e privilégios. A moral de apregoar aos outros aquilo que o próprio não pratica só tem um fundamento: não somos todos iguais, os que já se safaram e que são os beneficiários do sistema não querem partilhar com mais ninguém a estabilidade e tudo o que é bom. A eles o mandarinato e os privilégios, aos outros a dura realidade.

    – Tudo o resto, menino, uma chatice em relação à qual só me resta exprimir a minha dramática indignação: que ferro!’