1. Cinco ex-presidentes do PSD — Balsemão, Marcelo, Santana, Mendes e Menezes — prestaram, de uma forma ou de outra, vassalagem a Passos Coelho. A ausência (para não dizer indigência) de debate no congresso revela que a elite laranja dá cobertura à política de empobrecimento. A crise é uma oportunidade e a elite agarrou-a. Passos Coelho, isolado no país, saiu do Coliseu com um cheque em branco na mão. Não existe oposição interna, salvo um ou outro foco de resistência inconsequente.
2. A este propósito,
Rodrigo Moita de Deus, vogal cessante da Comissão Política, resumiu bem o comportamento da elite laranja (mostrando ao mesmo tempo que a reputação do barrosismo está muito degradada):
3. José Luís Arnault, outro barrosista, abandonou de fininho a presidência da Comissão Nacional de Auditoria Financeira. Passos Coelho promoveu-o no congresso anterior, apesar do
caso Somague. Foi removido agora. Qual é o significado: o governo pode negociar com a Goldman Sachs, mas o PSD não? Pedro Reis, que o substitui, não teve grande êxito na AICEP, com excepção dos salvo-condutos
gold para chineses. Vai agora fiscalizar as OPA sobre o PSD.
4. Neste contexto, o regresso do Dr. Relvas não é propriamente uma surpresa. Aliás, ele nunca abandonou o
inner circle de Passos Coelho, a despeito de isso poder ter constituído um choque para a maioria dos delegados laranjas. A lista para o Conselho Nacional proposta pelo presidente do PSD obteve a mais fraca votação de sempre:
5. A guarda pretoriana de Passos Coelho foi reforçada: a Pedro Pinto, Marco António e Teresa Leal Faria, juntam-se Matos Correia e Carlos Carreiras.
6. O populismo histérico do Pinguim — alcunha que os passistas puseram a Rangel — pode ser travado se Francisco Assis mostrar que há um outro caminho a percorrer na Europa.
7. Depois de os comentadores terem cantado loas a Marcelo, Ricardo Costa, um dos que aplaudiu o seu número de
vaudeville, faz esta síntese espectacular: “
Marcelo fez o discurso mais importante, mas sem qualquer mensagem política.”
8. Marcelo, vindo da Madeira, apanhou um táxi e, a meio do percurso, deu-lhe um “
vaipe afectivo” que o levou directo ao congresso. Fica por esclarecer onde deixou a mala de viagem, porque a sua saída do Coliseu foi filmada pelas televisões e o comentador “cata-vento” ia de mãos a abanar. É o grande mistério do congresso: onde Marcelo deixou a mala de viagem?