Conhecidos os resultados das eleições na Grã-Bretanha, o pantomineiro-mor não perdeu tempo para se agarrar aos fundilhos de
David Cameron, deixando subentendido que a situação em que está é similar à que deu a vitória ao «
colega inglês» [
sic]. Acontece que não é. Veja-se:
1. A economia britânica cresceu a um ritmo mais rápido no final de 2014 do que o estimado. Um crescimento impulsionado pelo aumento das exportações e do orçamento anual familiar, o mais elevado em mais de quatro anos. Com efeito, o PIB cresceu 2,8%, como já não acontecia desde 2006.
Há cerca de um mês,
Angus Campbell, analista da FX Pro, resumia a situação nestes termos: «O quadro geral e as perspectivas económicas para o Reino Unido ainda parecem relativamente cor-de-rosa. O desemprego está a cair, os salários a subir. Isso deve manter a confiança do consumidor bastante forte nos próximos meses».
A verdade é que nem a asfixia democrática chega para dissimular o estado em que se encontra a sociedade portuguesa: um crescimento anémico da economia que não impede que o desemprego volte a aumentar; uma dívida que não pára de crescer; um orçamento do Estado que, apesar das sucessivas doses de austeridade, não evita o procedimento da Comissão Europeia por défice excessivo; um agravamento indecoroso da pobreza e das desigualdades.
2. Ao longo do tempo, os estudos de opinião mostraram que os eleitores preferiam David Cameron a Ed Milliband. Em Portugal, acontece exactamente o oposto: em todas as sondagens, os portugueses vêm indicando que preferem António Costa a Passos Coelho, que, de resto, se vai afundando à medida que o tempo passa.
Acresce que António Costa revelou — com o documento dos 12 economistas — que há alternativas, no quadro europeu, à política austeritária de «ir além da
troika». Uma política que serviu para uma enorme transferência de recursos do trabalho para o capital, mas que falhou os próprios objectivos a que se comprometera.
Em consequência, o que a direita de Passos & Portas tem para oferecer para a próxima legislatura, de acordo com o Programa de Estabilidade enviado para Bruxelas, é mais do mesmo: cortes para os pensionistas (salvo para as de montante mais elevado) e funcionários públicos, manutenção do «enorme aumento de impostos» para as famílias (com a garantia de que para as grandes empresas a tributação continuará a baixar), redução dos apoios sociais e asfixia progressiva do SNS.
A tentativa de se colar a Cameron denuncia que o alegado primeiro-ministro está em pânico. A pose de vendedor do elixir da longa vida esconde o pavor da aproximação da data do ajuste de contas.