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terça-feira, maio 12, 2015

Acerca da dispersão de votos por várias alternativas

• Manuel Caldeira Cabral, Reino Unido: riscos, surpresas e lição dos resultados eleitorais:
    «(…) Que lições tirar destes resultados? O que é que estes podem dizer sobre o que vai acontecer noutros países, como Espanha e Portugal?

    Poucas lições se podem tirar. As circunstâncias económicas são muito diferentes. O Reino Unido tem um dos mais baixos desempregos da UE. Espanha e Portugal são dois dos países com maior nível de desemprego, e os resultados dependeram muito do sistema eleitoral inglês, muito diferente do de Portugal e Espanha No entanto, é importante salientar que o resultado desta eleição se deveu ao facto de os trabalhistas não terem conseguido conquistar mais do que uma pequena parte dos 15% que o Partido liberal perdeu. Foi isto que permitiu aos conservadores ganhar e ter maioria. Nesse sentido, o que aconteceu em Inglaterra pode ser um aviso para as eleições que se seguem em Espanha e mesmo em Portugal. A dispersão de votos por várias alternativas e movimentos teve como resultado que, mesmo num quadro de diminuição dos votos dos partidos que apoiavam o governo, se garantiu a manutenção da mesma política e dos mesmos conservadores no poder.»

segunda-feira, maio 04, 2015

Da série "Frases que impõem respeito" [912]


A verdade é que em 2014 o cenário é muito pior do que em 2011 em quase todas as frentes económicas: mais dívida, menos capacidade de produção, o PIB potencial baixou, menos investimento, menos pessoas, desinvestiu-se na ciência e ensino superior e as instituições merecem menos confiança.
      Manuel Caldeira Cabral, hoje em entrevista ao Jornal de Notícias

terça-feira, abril 28, 2015

Actuar simultaneamente nas condições de oferta e de procura


• Manuel Caldeira Cabral, Actuar simultaneamente nas condições de oferta e de procura:
    «O documento "Uma década para Portugal", do grupo de trabalho em que participei, tem tanto medidas do lado da oferta como do lado da procura, incluindo medidas com efeito mais imediato, que deverão permitir acelerar a retoma e medidas que visam melhorar as condições de crescimento de longo prazo da economia portuguesa.

    No debate, alguns salientaram mais uns aspectos do que outros. Muitos defenderam como óbvio que ouse opta por privilegiar as condições de oferta e as empresas (por exemplo, comprimindo os custos salariais) ou se opta por proteger e repor os rendimentos dos trabalhadores, e que ou se opta pelo curto prazo ou pelo longo. Esta visão insere-se bem na forma como foi guiada muita da discussão pública nos últimos três anos, em que prevaleceram ideias de que só enfraquecendo as instituições públicas se pode conseguir que o sector privado prospere, ou a de que só empobrecendo (baixando salários) é possível ter empresas mais competitivas, e assim maior crescimento das exportações e do investimento privado.

    Nestes anos, os salários baixaram muito (especialmente em 2012 e 2013), as instituições públicas foram enfraquecidas, por cortes, mas também por perda de autonomia e aumento de burocracia, mas isso não impediu que o investimento privado caísse fortemente, e não dê até agora sinais claros de recuperação, nem colocou as exportações a crescer a maior ritmo, mas antes a desacelerar conseguindo em 2014 o pior crescimento desde 2009.

    O nosso documento nega esta visão maniqueísta, salientando que para criar confiança nos investidores é necessário dar melhores condições de investimento às empresas (com incentivos do lado da oferta), mas simultaneamente dar perspectivas de uma retoma mais forte do crescimento. Defendemos também que a competitividade das empresas e de uma economia não depende apenas do custo dos seus factores, mas também da sua capacidade tecnológica e de criar valor pela inovação e da qualidade das suas instituições públicas e privadas.

    Muitas empresas produtoras de bens transaccionáveis começam a vender para o mercado interno e têm neste uma importante base. Sem sinais de melhoria sólidos, podem continuar a adiar investimentos e contratações, como têm feito, o que se acabará por reflectir na sua capacidade de produzir bens para exportação ou para concorrer com importações.

    É também por isso que as medidas de incentivo ao investimento só são eficazes se houver uma aceleração da retoma. Daí que as medidas com efeito mais imediato de recuperação do rendimento (baixa da TSU para os trabalhadores, reposição de salários na função pública, redução da sobretaxa de IRS) surjam simultaneamente com medidas de apoio à oferta (como a redução da TSU para as empresas, que apoia mais empresas criadoras de emprego e beneficia menos as empresas mais lucrativas) e de estímulo ao investimento e de reforço da competitividade das empresas (crédito fiscal ao investimento, aceleração da execução dos fundos comunitários, reforço do financiamento a instituições de apoio à inovação e internacionalização, formação e colocação de recursos qualificados na área da internacionalização).

    As medidas, que reflectem a urgência da retoma, para estancar a saída de trabalhadores, são coerentes com as medidas de médio prazo que se centram na redução da fiscalidade sobre os factores e ao mesmo tempo no aumento da produtividade, pela melhoria dos recursos humanos, da tecnologia e da criação de valor pela inovação.

    O documento apresenta uma estratégia coerente de competitividade e crescimento, porque parte da defesa do reforço da competitividade baseado na criação de valor, no aumento da produtividade e no aumento dos factores de produção (pela qualificação e atracção dos recursos humanos, e pelo aumento do investimento), e pela melhoria e valorização dos recursos e instituições que temos, e não de uma estratégia de competitividade exclusivamente assente na diminuição de custos laborais, que podendo ter efeitos marginais na competitividade de curto prazo, não é, nem pode ser uma estratégia de crescimento, pois assenta na necessidade de empobrecimento para manter a competitividade. (…)»

terça-feira, abril 14, 2015

Diz que é uma espécie de retoma


• Manuel Caldeira Cabral, Diz que é uma espécie de retoma:
    «(…) A retoma desejável e sustentada, teria de ser baseada, em primeiro lugar, na recuperação do investimento e na aceleração das exportações. Os números dos trimestres seguintes confirmaram a manutenção de crescimento, mas sem aceleração, e de um crescimento baseado na procura interna, mais do que no reforço do investimento e do crescimento das exportações.

    No último trimestre de 2014, o crescimento homólogo do PIB foi de 0,7%, metade do registado um ano antes. O investimento cresceu pouco mais de 2% face aos valores do ano anterior, o que contrasta com a queda de mais de 30% verificada com o ajustamento.

    As exportações apresentaram, em 2014, o pior crescimento dos últimos cinco anos. E nos primeiros dois meses do corrente ano cresceram ainda menos (cerca de 1% em termos homólogos).

    Todos estes dados sugerem que se mantém a retoma, mas esboçam um quadro de retoma lenta, pouco sólida, e pouco sustentável.

    (…)

    Isto é ainda mais estranho num momento em que a descida do preço do petróleo e as melhorias no quadro europeu, no crescimento e no financiamento, estão a dar um contributo positivo. Estranho porque, depois de uma contracção tão forte do PIB, do emprego, do investimento e dos salários, e de tantos sacrifícios e alegadas reformas, que deviam colocar o país a crescer com mais força, os dados apresentam uma retoma fraca e hesitante.

    A resposta do Governo tem sido apenas a de negar estes problemas, culpar os mensageiros que apresentam estes dados, e afirmar, contra a abundante evidência, que tudo está a correr bem no programa de ajustamento. Não está.

    Nos últimos quatro anos a economia portuguesa ficou mais pobre e mais fraca. Perdeu capital e perdeu força de trabalho, para a emigração e para a desmotivação. Desinvestiu na ciência, abandonou e minou a confiança dos seus cidadãos nas instituições públicas. Prometeram reduzir gorduras. Mas reduziram músculo e cérebro.

    Com um "stock" de capital mais baixo, menos trabalhadores, instituições de ciência e tecnologia asfixiadas, e menor confiança dos cidadãos e investidores nas instituições públicas e privadas, é hoje mais difícil conseguir criar a riqueza. Este foi talvez o maior erro da troika e de quem entusiasticamente quis ir mais longe do que esta. A destruição da capacidade de criar riqueza não reforça a solvabilidade de nenhum país.

    O maior problema do adiar de uma retoma mais forte é que, ao manter as mesmas condições, mantém o mesmo incentivo à saída de jovens, a mesma incerteza nos investidores, que significam que o país poderá continuar por mais alguns anos a perder "stock" de capital e trabalhadores, perdendo capacidade de produção, se não actuar urgentemente em alterar esta situação.»