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quarta-feira, junho 12, 2013

Década perdida? Investimento em bens “não transaccionáveis/ construção”?

• Fernando Medina, Chuva:
    'A queda do investimento no 1.° trimestre foi recebida pelo ministro das Finanças com uma explicação curiosa: condições meteorológicas adversas terão estado por detrás de uma queda inesperada da construção (- 25,7%) que terá arrastado a queda do investimento em geral (-16,8% face ao mesmo período do ano anterior). Esqueçamos a crise do euro, a procura, a austeridade, os juros ou a confiança: foi a chuva.


    Como não tínhamos o "Borda d'Água" à mão, fomos rever a série longa da FBCF desde 1978 (Gráfico 1) e concentrámos a atenção nas décadas mais recentes. Entre 1996 e 2001 assiste-se a um rápido e fortíssimo crescimento do investimento (+42%), processo que decorre directamente da queda das taxas de juro originada pela convicção dos mercados da adesão de Portugal à moeda única (convicção formada a partir da 1.° metade da década de 90).

    Entre 2003 e 2007 o investimento mantém-se relativamente estabilizado, sem recuperar para os níveis anteriores, mas a partir de 2008, com o deflagrar da crise financeira, assiste-se ao início de uma trajectória de queda. Este movimento de queda acelera significativamente a partir de 2011.

    Nos últimos cinco anos o investimento caiu quase 40%, mas caiu quase 30% nos últimos dois anos. Esta evolução coloca-nos hoje, no 1.° trimestre de 2013, com um nível de investimento que só compara com o registado no 1.° trimestre de 1988, i.e., há vinte e cinco anos atrás. Esta é aliás uma das áreas em que as projecções do Programa de Assistência mais falharam, com a 7ª avaliação a antecipar uma queda de 32% entre 2010 e 2013, face à previsão inicial de queda de 15% com crescimento já em 2013.


    A análise da evolução das principais componentes da FBCF (Gráfico 2) permite ilustrar melhor cada um destes períodos. Entre 1996 e 2001, o forte crescimento do investimento decorre de um processo simultâneo quer na construção quer na componente "máquinas e equipamentos" (este último tido como o investimento mais "directamente produtivo"), mas a partir de 2001 as trajectórias separam-se.

    O investimento em máquinas e equipamentos inicia a recuperação em 2003, atinge os anteriores máximos em 2005, e chega a novos máximos em 2008, num processo só aí interrompido pelo deflagrar da crise financeira Pelo seu lado, o investimento em construção entra em queda contínua a partir de 2001, tendo em 2011 regressado a níveis de 1996 (15 anos antes). O ritmo de perda acelera a partir daí, colocando o investimento em construção do 1.° trimestre de 2013 ao nível de 1978, i.e., de há 35 anos atrás.

    É difícil ver nestes dados um "fontismo radical" (ou mesmo moderado) na década de 2000. Como também é difícil dar crédito às narrativas da "década perdida de crescimento", em particular aquelas que remetem as dificuldades para um exótico fechamento e enquistamento do país nos "não transaccionáveis/construção", perante evidência do contrário: a marca dos últimos 15 anos é a longuíssima e profunda perda da construção, e o facto de desde 2008 não mais ter sido possível contar com a dinâmica favorável do restante investimento. É por fim difícil entender a racionalidade por detrás de opções como a paragem de todo o investimento de iniciativa pública (mesmo aquele com financiamento),a travagem na execução do QREN, ou a ausência de uma política de reabilitação urbana com eficácia.

    Mas há algo que é claro em tudo isto: a queda do investimento não é chuva ou aguaceiro. É uma verdadeira tempestade seguida de tsunami que tudo está a destruir.'

segunda-feira, abril 01, 2013

O descalabro

João Ferreira da Cruz, economista, no Público:
    ‘Com dois anos de ajustamento, os desequilíbrios agravam-se e os desvios agigantam-se. Entre 2010 e 2013, o PIB irá contrair-se 7% e não os previstos 3%, o desemprego atingirá os 18,2% em vez de 13,3%, o investimento não cairá 15%, mas sim 32%, e as exportações aumentarão 12% e não 20%. A dívida atingirá 124%, em 2014, muito acima dos 115% previstos.’

quarta-feira, março 27, 2013

Por uma nova política económica - IV

• Fernando Medina, Por uma nova política económica - IV:
    ‘Os resultados da 7.ª avaliação chocaram o país pelos números dramáticos na economia e no desemprego. Volvidos quase dois anos desde o memorando original, o processo de ajustamento encontra-se em completo e irremediável desequilíbrio: entre 2010 e 2013 o PIB irá contrair 7% (face aos 3% previstos), o investimento irá cair 32% (antes 15%), as exportações subirão 12% (antes 20%) e o desemprego atingirá 18,2% (antes 13,3%). A dívida será superior a 122%, bem acima dos 115% antecipados.

    Mas o pior resultado desta 7.ª avaliação é outro. É o facto de Portugal manter uma estratégia de ajustamento sem qualquer credibilidade face à situação económica do país e do exterior.’

quarta-feira, março 06, 2013

A catástrofe

• Valter Lemos, Mentiras, tragédias e pecados [hoje na Gazeta do Interior]:
    'Face ao absoluto descalabro quer da economia, quer das contas públicas, o governo e os partidos da maioria voltaram a acentuar o discurso da culpa do governo anterior, mostrando, uma vez mais, que, à incompetência quase sempre se alia a falta de coragem política. Como dizia Pacheco Pereira, um ex-líder parlamentar do PSD, este governo quer tomar-nos a todos por parvos, mentindo constantemente, pelo que o mínimo, para evitar tal figura, é olhar para os números e assim cada um pode concluir como quiser sobre a dimensão do embuste com que somos diariamente bombardeados.

    1ª Mentira: a dívida portuguesa aumentou com o governo Sócrates muito mais do que a dos outros países europeus

    O quadro seguinte mostra bem que até 2009 a dívida portuguesa foi sempre inferior à média da UE e só em 2010 ultrapassou aquela.


    2ª Mentira: Os juros da dívida subiram devido à falta de confiança no governo Sócrates

    Como se vê no gráfico seguinte a subida dos juros acontece a partir do chumbo do PEC IV e correspondente demissão do anterior governo, mas, especialmente após a tomada de posse do atual governo. E note-se ainda que, com Sócrates, os juros de Portugal eram iguais aos da Irlanda e com Passos Coelho… foi o que se vê no gráfico (e que só se alterou com a decisão do BCE de garantir a dívida dos países do euro, o que o governo quis dar a entender que se devia a si próprio, acrescentando assim mais uma mentira).



    3ª Mentira: o que o governo está a fazer é o que consta do memorando assinado pelo governo anterior

    O quadro seguinte mostra as metas do Memorando da Troika e os resultados obtidos pelo Governo (e as previsões do próprio para 2013). Em todos os indicadores apenas um resultado positivo (a menor queda do PIB em 2011, ainda com um orçamento do governo anterior. Em 2012, no entanto, o PIB afundou quase o dobro). A dívida aumentou brutalmente acima do previsto no memorando, quase 30 pontos percentuais face a 2010! A taxa de desemprego mostra-se não só muito acima do previsto no memorando como completamente fora de controlo.


    4ª Mentira: Não foi a política do atual governo que conduziu o país a uma espiral recessiva

    Basta olhar para a evolução do PIB nos últimos anos para perceber que a economia estava a crescer em 2010 e que em 2011 começou em queda, afundando de forma brutal em 2012 e o próprio governo prevê que tal continue em 2013.


    Muitas outras mentiras deste governo são desmontadas com a simples apresentação dos dados e todo o jornal não seria provavelmente suficiente para tal, dado o número das mesmas. Mas, o mais grave, é que as mentiras são justificações para conduzir o país para o abismo. Basta olhar alguns dados, como a evolução do desemprego, para ter a noção da dimensão da catástrofe e da rutura social que se está a produzir.


    As consequências de uma política baseada em mentiras e desculpabilizações da incapacidade e da incompetência próprias de quem não tinha as mínimas condições para governar estão pois bem à vista. Podemos acrescentar ainda:


    Os dados apresentados mostram bem a dimensão da catástrofe económica e da tragédia social a que o país está a ser conduzido. Com a agravante de que ninguém, nem o próprio governo, prevê melhorias. Alguém verdadeiramente acredita que todos estes números não irão piorar em 2013? (...)'

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Passos resolveu reagir a tudo isto com uma enervante tranquilidade, própria de quem não tenciona tomar nenhuma medida para enfrentar o problema


      "Os números hoje divulgados são números preocupantes, estão razoavelmente em linha com as previsões do Governo".
        Passos Coelho, quando foram divulgados os dados sobre a tragédia do desemprego

• Pedro Silva Pereira, Razoavelmente em linha:
    ‘O Governo tentou desmentir a espiral recessiva mas a espiral recessiva encarregou-se de desmentir o Governo. Ao contrário das falhadas previsões de Gaspar, os números do INE não enganam: em 2012, a recessão em Portugal agravou-se para o dobro (-1,6% em 2011 e -3,2% em 2012). E não vamos ficar por aqui. Ao que se percebe, o Governo, apesar de todas evidências, insiste em manter a sua opção por uma austeridade "além da troika" e isso, evidentemente, terá um preço: vamos para o terceiro ano de uma recessão profunda, sem precedentes na história da democracia portuguesa. Nunca aconteceu uma coisa destas.

    Vale a pena consultar os registos. Desde a normalização democrática, em 1976, até à crise internacional de 2008-2009, Portugal viveu 4 anos de recessão económica: em 1983 e 1984 (no Governo do Bloco Central, com Mário Soares), em 1993 (com Cavaco Silva) e em 2003 (com Durão Barroso e Paulo Portas). Destes, o pior registo foi o alcançado por Cavaco Silva em 1993, com uma quebra de -2% do PIB. Depois disso, a economia portuguesa só voltou a recuar em 2009, durante a recessão global que por essa altura atingiu todos os países. Sujeita a condições externas anormalmente severas, a economia portuguesa caiu então -2,9% (estava Sócrates no Governo), para recuperar logo em 2010, ano em que já cresceu 1,9%.

    Estes dados ajudam-nos a colocar em perspectiva a gravidade da situação actual: depois de já ter sofrido uma queda acentuada em 2011, a economia portuguesa caiu em 2012 mais do que em qualquer outro ano na história da democracia portuguesa, incluindo o ano da maior recessão global dos últimos 80 anos. E vai cair ainda mais. É obra!

    Os efeitos desta situação sobre o emprego são dramáticos. Como revelou o INE esta semana, no último trimestre de 2012 a taxa de desemprego atingiu o valor impensável de 16,9%, furando a estimativa do Governo para a média anual de 2012 (que se fixou nos 15,7%, acima dos 15,5% previstos por Vítor Gaspar). Pior: este valor compromete desde já a previsão do Governo para a taxa média anual de desemprego de 2013 (16,4%), na base da qual foram calculados os encargos com subsídios de desemprego na elaboração do Orçamento deste ano.

    Também aqui vale a pena consultar os registos. Convirá lembrar que ainda há pouco, em Junho de 2011, quando o actual Governo entrou em funções, a taxa de desemprego estava em 12,1%, contabilizando-se 675 mil desempregados. Agora, apenas um ano e meio depois, a taxa de desemprego disparou para os 16,9%, registando-se 923 mil desempregados. Nunca se viu nada assim: uma subida de 4,8 p.p. na taxa de desemprego e um aumento de 248 mil desempregados em apenas dezasseis meses!

    O mesmo se diga do número de pessoas com emprego. Esse número era de 4893 mil em Junho de 2011 e passou para apenas 4531 mil no final de 2012. Contas feitas, a economia portuguesa registou uma destruição líquida de emprego de 362 mil postos de trabalho em apenas ano e meio!

    Para espanto do País, o Primeiro-Ministro resolveu reagir a tudo isto com uma enervante tranquilidade, própria de quem não tenciona tomar nenhuma medida para enfrentar o problema: "isto ainda vai piorar", garantiu ele, não fosse alguém embandeirar em arco. E acrescentou: está tudo "razoavelmente em linha" com as previsões do Governo. Só nos faltava mais esta: o comboio descarrilou e o maquinista não deu por nada.’

terça-feira, janeiro 15, 2013

“Espiral recessiva”, uma novela sobre a vida dos portugueses (em fascículos)


Aí está o Boletim de Inverno do insuspeitíssimo Banco de Portugal — com a confirmação de que a história da espiral recessiva está a ser contada aos portugueses em fascículos. Uma novela em que o prometido fim em beleza é adiado trimestre após trimestre.

Estamos, com efeito, na época do ano em que se dá início às “revisões em baixa”. Lá para o Outono (se Cavaco ainda mantiver o Governo ligado à maquina), virão as previsões optimistas para o ano seguinte.

A leitura do Boletim de Inverno não deixa margem para dúvidas: o ano de 2013 será terrível. E será ainda bem pior do que o Banco de Portugal anuncia, porque as suas projecções não têm em conta os efeitos do orçamento rectificativo anunciado por Gaspar (cortes de cerca de 800 milhões de euros) — quando, aliás, já se pode antecipar que a recessão 'destrói' o próprio plano B do Governo.

A consolidação orçamental à moda de Gaspar soçobrou, desde logo porque falhou a sua aposta na procura externa: a receita da austeridade aplicada também nos principais países com os quais temos trocas comerciais conduzirá à estagnação das exportações. O resto é o que se sabe: uma quebra significativa da procura interna, com o investimento a cair 7,4 %, “o que perfaz uma acumulada de quase 36 por cento no período 2009-2013, com implicações sobre a evolução do stock de capital e sobre a capacidade de incorporação de progresso técnico e, em última instância, sobre o crescimento do produto potencial.” [p. 13 do Boletim]

Para ficar com uma ideia mais precisa da herança que este governo deixará às gerações futuras, importa dizer que, a par da destruição de mais 88 mil empregos, os níveis de riqueza produzida no país e de consumo das famílias regressam este ano ao início da década passada, quando foi adoptada a moeda única.

É o resultado do que Passos Coelho disse: “Só vamos sair da crise empobrecendo”. Ele avisou — depois de se alçar a São Bento.

segunda-feira, janeiro 14, 2013

Governação em ‘outsourcing’

• João Galamba, Governação em ‘outsourcing’:
    ‘Este relatório [do FMI] considera que políticas sociais justas são aquelas que combatem pobreza extrema, e apenas essas. Não admira, portanto, que se encontrem tantas injustiças e desperdícios no Estado Social que efectivamente temos, pela simples razão de que o nosso Estado Social não é apenas para os pobres. É inteiramente legítimo que haja quem pense que isto tenha de ser refundado. O que já não é aceitável é distorcer o objecto em análise e proclamar que este deve ser avaliado à luz de princípios que contestam os seus fundamentos.

    Dizer que "20% dos rendimentos mais altos têm 33% do rendimento que é redistribuído, 20% dos rendimentos mais baixos apenas conseguem 13% do rendimento redistribuído", e que isto é injusto, é não perceber a natureza contributiva de uma parte muito significativa das nossas prestações sociais. A injustiça, que obviamente existe, reside na distribuição primária dos rendimentos, não no modo como, partindo desses rendimentos e respectivas contribuições, se chega a um conjunto de prestações sociais de natureza contributiva. Quem não percebe isto, ou não entende o sistema que está a avaliar ou está deliberadamente a distorcer a realidade.

    Se o objectivo for apresentar um diagnóstico do nosso Estado Social, convém ter presente que não só gastamos menos em percentagem do PIB do que a média da OCDE, como os resultados dessa despesa estão em linha com os dos nossos parceiros. A redistribuição de riqueza via transferências monetárias e impostos reduz o índice de Gini (indicador de desigualdade) em 24% - semelhante à média da OCDE, que é de 25% - e, quando olhamos para transferências associadas aos serviços públicos, essa redução é de 21%, quando a média da OCDE é 20%. Acresce que, desde 1995, a redução das desigualdades e a redução da taxa de pobreza, sobretudo a dos idosos, foi a maior da Europa.’

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Exportações a desacelerar


Segundo o INE, as exportações diminuíram 0,1% no trimestre terminado em Novembro de 2012 face ao período homólogo de 2011 (Setembro/Novembro de 2011).

sexta-feira, janeiro 04, 2013

A credibilidade internacional de Gaspar

As previsões de todas as instituições internacionais apontam para uma nova quebra substancial do PIB português em 2013. Gaspar, o mesmo que vai ter um desvio colossal em 2012 (mesmo contando com a atençãozinha da troika), continua no seu mundo alucinado: o PIB português, na projecção do Governo, terá uma variação negativa de 1%. Ora as instituições internacionais já estão a rever as suas projecções aqui referidas. A Economist acaba de agravar a sua previsão de recessão para Portugal:

quinta-feira, dezembro 13, 2012

E&Y: “Previsão invernosa para Portugal” com risco de uma “espiral negativa”

E&Y: mais uma previsão a juntar a outras neste quadro

O relatório da Ernst & Young de Outono previa uma queda de 2% do produto interno bruto (PIB), mas o de Inverno agrava as suas previsões: o PIB vai encolher, na melhor das hipóteses, cerca de 2,5% em 2013. Acresce que a austeridade pode afectar ainda mais os gastos no consumo, que desceram cerca de 6% este ano, e que se espera que venham a descer mais 3,6% no próximo ano. No sector público, os cortes vão levar a mais desemprego, que se prevê que chegue aos 17%, em 2014. O investimento diminuiu também 15%, esperando-se que diminua mais 6,3% em 2013, e 1,1% em 2014. A única “surpresa” é o volume de exportações, que aumentou 6,6% este ano, esperando-se que nos próximos dois anos abrande o ritmo de crescimento.

Com o anúncio do Banco Central Europeu para a compra ilimitada de acções no mercado secundário, a confiança dos investidores em Portugal aumentou, mas os juros continuam muito elevados devido às previsões de crescimento baixas. “Isto sugere que Portugal irá necessitar de mais ajuda financeira da UE e do FMI”, adianta o relatório.

Naturalmente, perante um quadro aterrador como este, só um governador de um banco central como Carlos Costa é que se lembraria de invocar Sinatra (na verdade, Paul Anka) para dizer: “Estamos no bom caminho. As sucessivas avaliações do Programa de Assistência Financeira efectuadas pela União Europeia e pelo FMI revelam que este tem sido globalmente cumprido.

Devemos ser nós a pagar a factura de o Governo ter ido “além da troika”?

O buraco colossal de Gaspar e a “refundação” [vídeo]


Enfiar o país num buraco e depois perguntar: querem cortar aqui, ali ou acolá? [vídeo]

quarta-feira, dezembro 12, 2012

A austeridade a empurrar Portugal para fora da euro


Pedro Nuno Santos, A solução não é desistir do euro:
    ‘O horizonte político que me move é o de uma Europa unida, e o euro tem sido um elemento importante do projecto político chamado Europa. O grande problema é que este processo assumiu, a determinada altura da sua história – e perante o silêncio generalizado da social-democracia europeia –, o neoliberalismo como a sua constituição económica: o mesmo neoliberalismo que impediu que o euro fosse, neste processo de construção, acompanhado de uma arquitectura institucional e política adequada. Hoje a solução não é desistir do euro. O combate da esquerda, no plano europeu, deve antes estar focado na construção dessa arquitectura institucional e política e na derrota definitiva do neoliberalismo e do monetarismo. Do ponto de vista nacional, o combate da esquerda deve continuar focado na derrota da austeridade como resposta política à crise. É precisamente a austeridade que está a empurrar Portugal para fora da euro.’

terça-feira, dezembro 11, 2012

Com que então Portugal foi caso único de gastos do Estado para combater a crise?

Gráfico rapinado aqui

“Os passos de Passos são passos perdidos”


• Daniel Amaral, Passos perdidos:
    ‘A mensagem deste [Passos Coelho] era clara: para vencer a crise, era preciso cortar nas "gorduras", e ele tinha um plano prontinho para entrar em acção; logo que iniciasse funções, seria cortar, cortar, cortar... Mas o mundo dá muitas voltas e em breve o plano virou de pernas para o ar. As "gorduras" que ele escolheu para cortar eram salários, subsídios e pensões. Foram passos em falso.

    Mas, para quem tanto prometera, o melhor ainda estava para vir. Se partirmos de 2010, a que atribuímos o índice 100, o PIB em 2012 terá caído para 88 e o investimento para 67, o que significa o colapso total da economia. Isto se as projecções estiveram certas. O mais provável é que não estejam, porque isso é coisa a que Passos nunca ligou. Sendo o investimento a mola real da economia, que faz crescer o produto e o emprego, é óbvio o desastre que aí vem e com o qual a ‘troika' tanto nos elogia. São passos suicidas.

    O impacto no desemprego foi imediato. Números do INE do último trimestre apontam para uma população de 10.598 milhares, dos quais 5.527 constituem a população activa. E, desta, 871 mil estão desempregados, o que dá uma taxa de desemprego de 15,8%. Mas Passos assobiou para o lado. E se a estes números juntarmos a parte não trabalhada do emprego a tempo parcial, mais os inactivos disponíveis que não procuram emprego, aquela taxa dispara para mais de 20%. E a dos jovens para quase o dobro. São passos arrepiantes.

    Juntando os cacos, chegamos à dívida pública, que há-de ser o nosso coveiro. No final de 2010 era de €162 mil milhões, 94% do PIB. Mas a previsão para 2013 já vai nos 205%, mais do dobro do valor anterior! Ignoro se, ao olhar para tudo isto, Passos não sente uma espécie de bloco de gelo a percorrer-lhe a coluna de cima a baixo. O facto é que a dívida terá de ser reestruturada, em prazos e taxas de juro, por mais que ele esperneie a dizer que não. Desliguem. Outros terão de fazer o que ele não quer. Os seus passos falharam.

    Descobriu-se entretanto que as famosas "gorduras" de que Passos falava visavam as funções sociais - Educação, Saúde e Segurança Social -, em que vai ser necessário cortar mais €4.000 milhões até 2014. Admito que não será este o momento de avaliar o impacto que estes novos cortes vão ter no dia-a-dia das pessoas. Mas, sabendo-se como já são as limitações actuais, tenho extrema dificuldade em avaliar como é que depois da passagem deste ‘tsunami' os portugueses vão viver em Portugal. À beira do abismo - um passo em frente?

    Os passos de Passos são passos perdidos.’

domingo, dezembro 09, 2012

Gaspar/2012: nove mil milhões de austeridade para o galheiro


Ontem no Expresso-Economia (p. 3)

O défice orçamental para 2011 deveria situar-se em 5,9% do PIB (10.020,2 milhões de euros). Sem o artifício da transferência de uma parte dos activos dos fundos de pensões da banca, o défice orçamental real no final de 2011 situou-se em 7,5% (12.737,8 milhões de euros).

Para 2012, o Governo e a troika resolveram, à margem da Assembleia da República, reduzir o défice para 4,5%, mas, com a deterioração das finanças públicas, a troika teve uma pequena atenção para com Gaspar, tendo permitido que o limite do défice subisse para 5% do PIB.

Para atingir o défice orçamental inicialmente previsto (4,5%), o Governo intensificou o propósito de “ir além da troika”. É assim que, quando o “Programa de Assistência Económica e Financeira” exigia medidas de consolidação orçamental no valor de 5.073 milhões de euros, o Governo decidiu agravar a austeridade, elevando-a para 9.042,3 milhões (Relatório do OE-2012, p. 22, na versão em papel, ou p. 30, na versão on-line).

Ora, quando as estimativas que se vão conhecendo apontam para que, uma vez mais, não será cumprida a meta acordada (e revista) com a troika, podemos, sem qualquer risco, tirar uma conclusão sobre o brilhante trabalho de Vítor Gaspar no Ministério das Finanças: para conseguir uma redução de cerca de um por cento (1%) do défice orçamental, o Governo derreteu mais de 9.000 milhões de euros. Foi você que falou numa espiral recessiva?

“Poderemos prolongar a queda acentuada do investimento produtivo?”

• J.A. Vieira da Silva, Ajustamento externo de Portugal — o que ainda falta dizer [ontem no Expresso-Economia]:
    ‘(…) a seriedade política e intelectual impõe que se analisem os motores desta correção. Os dados mais recentes do comércio internacional da economia portuguesa permitem-nos perceber a natureza da excecional quebra do défice comercial. Trabalhando perto de 100 sectores económicos da chamada Nomenclatura Combinada, e comparando os dados de janeiro a setembro de 2012 com os valores homólogos para 2008, importantes dados se revelam.

    A redução do défice foi de 65% em termos nominais, cerca de 9.6 mil milhões de euros. Mas a análise por sectores/produtos desta variação merece uma leitura mais cuidadosa.

    Cinco sectores concentram cerca de 60% da melhoria global verificada: automóvel; máquinas, aparelhos e material mecânico; elétrico; obras de ferro e aço e metais preciosos. Nos três primeiros sectores as importações caíram 4.5 mil milhões de euros e as exportações estagnaram.

    É nesta concentração sectorial da redução da balança de bens que os problemas se adensam. Porque nesses sectores há um fortíssimo contributo da diminuição de importações apenas parcialmente contrariado pelas exportações do sector automóvel e pelo "fenómeno ouro"; porque estas atividades não possuem significativa capacidade de substituir importações no prazo curto; e porque se verifica uma quebra dos valores exportados em bens duradouros da fileira eletromecânica fazendo com que a quebra de importações tenha que compensar as exportações perdidas.

    Estes fatores evidenciam de forma indiscutível a fragilidade deste ajustamento e até, em alguns casos, o seu efeito perverso em termos de modernização da economia e acréscimo do PIB potencial.

    É certo que estes dados não diminuem o importante contributo da nova capacidade gerada na fileira floresta/papel/mobiliário, a solidez exportadora do sector do calçado, o progresso na fileira agroalimentar. Mas este esboço sintético mostra com evidência que os progressos não se aprofundarão sem um regresso do investimento produtivo em muitas destas atividades.

    Valorizemos o que de bom se passa na modernização da nossa economia e no dinamismo de muitas empresas. Mas não é menos verdade que uma parte substancial da mais recente "correção estrutural" simplesmente não o é. Em grande parte ela é, antes, fruto de uma substancial quebra no consumo das famílias e de uma brutal quebra do investimento.

    Podemos prolongar sustentadamente uma quebra na importação de bens de consumo duradouro? Em parte sim, teremos que o fazer.

    Mas poderemos prolongar a queda acentuada do investimento produtivo? Seguramente que não, se queremos voltar a crescer.’

sexta-feira, dezembro 07, 2012

"Ir além da troika" (ainda sem os dados de um dezembro sem Natal)

E depois chegam os números e ouve-se por aí dizer: — Ah, foi pior do que o esperado. Segundo o INE, o Produto Interno Bruto (PIB) registou uma diminuição de 3,5% no 3.º trimestre de 2012 face ao mesmo período de 2011 (variação de -3,1% no trimestre anterior). Veja-se a evolução desde que os estarolas se alçaram a São Bento:


O que é engraçado nesta caminhada para o abismo é os jornais entenderem que a situação já não é notícia, remetendo as contas nacionais trimestrais do INE para um canto perdido das suas páginas on-line.

terça-feira, novembro 27, 2012

Ganhar tempo para partir a espinha ao Estado social


Foi hoje aprovado o Orçamentado do Estado com as projeções macroeconómicas menos sérias de que há memória. Ninguém acredita nos números de Gaspar – tirando, claro, a troika, a quem ele está acorrentado.

Veja-se a comparação entre as projeções do Governo/troika para o PIB em 2013 e as de outras instituições nacionais e internacionais para percebermos a fraude que Gaspar construiu para ganhar tempo: o tempo necessário para partir a espinha ao Estado social antes de, provavelmente, voltar a um exílio germânico.
    Pedro T.

sábado, novembro 24, 2012

O rumo

Constança Cunha e Sá, O rumo:
    ‘Como é evidente, tendo em conta os resultados de 2012, o ministro não se compromete totalmente com as metas que ele próprio traçou – na sua opinião, não estamos propriamente num “campeonato de previsões” que nos obrigue a cumprir as metas estabelecidas no Orçamento do Estado. A estratégia é bastante mais subtil e traduz-se na necessidade de manter a todo o custo o rumo traçado, mesmo que pelo caminho tudo o resto esteja sujeito aos mais variados percalços. Caso alguns espíritos não tenham percebido, este é o ponto fundamental em que assenta a política do governo: a existência de um rumo que se define essencialmente pelo fracasso dos objectivos definidos.

    Só assim se explica que o ministro das Finanças nos anuncie radiosamente que Portugal é hoje uma luminosa história de sucesso depois de ter falhado todas as previsões em 2012 e de rever em baixa o crescimento económico para os próximos anos. O défice ficou acima do previsto, as receitas fiscais não se cumpriram, o consumo interno caiu drasticamente, o número de falências aumenta de dia para dia, o desemprego atinge proporções alarmantes, o investimento privado está em queda acentuada? O governo não se comove: falhados os objectivos, resta-lhe repetir a receita para o ano de 2013, com um toque de imaginação. Para manter o rumo e compensar o fracasso da sua política, o governo decidiu brindar o país com um “enorme” aumento de impostos, cujos efeitos recessivos ignora olimpicamente, e um corte na despesa de “pelo menos” 4 mil milhões de euros – que entretanto o primeiro-ministro tentou embrulhar num debate-relâmpago sobre as funções do Estado que deve ocorrer algures entre o Natal e o Ano Novo.’