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domingo, dezembro 06, 2015

Um Pedro Guerra em cada programa de debate?


Confesso que Paulo Rangel é uma criatura que me causa irritação. Faz lembrar aqueles meninos com manifestas dificuldades de socialização, que, em consequência disso, se desforram nos serões de família, nos quais encantam as tias velhotas com as mais variadas aptidões não reconhecidas fora de portas.

Acontece que o programa Prova dos 9 não é um serão de família e os telespectadores não podem ser tratados como as tias velhotas extasiadas com as façanhas de um qualquer Paulo Artur. Ora os apartes histriónicos e as insuportáveis interrupções ao estilo de Pedro Guerra estragam o programa. Se Paulo Rangel o quisesse boicotar, não faria melhor.

Sugeri por isso a Constança Cunha e Sá um método mais ou menos inortodoxo mas expedito: dissolver um Xanax no copo de água do ex-afilhado da Dr.ª Manuela, de modo a que o debate não se transforme numa algazarra impossível de acompanhar.

Não faço ideia se a sugestão foi acolhida, mas a verdade é que, na quinta-feira, Paulo Rangel começou por intervir num tom sereno, muito embora lá para o final já estivesse completamente desencabrestado (como as imagens acima documentam). Que tal, Constança, dar-lhe mais meio comprimido?

Pode ser confirmado aqui o desempenho de Paulo Artur.

sexta-feira, outubro 30, 2015

Marcelo entre Cavaco e os patrocínios

José Pacheco Pereira, na revista Sábado:
    «(…) 7. Como ele próprio [Marcelo] já o disse, Cavaco deixou-lhe a pior das heranças, ao determinar que a questão central das eleições será se demite ou não um governo PS-BE-PCP, e se dissolve o parlamento para haver novas eleições, mesmo havendo uma maioria de governo, ou não. Este dilema vai ser o centro da campanha que vai ter que fazer, longe da que desejava fazer. Ao proceder como procedeu. Cavaco Silva mobilizou toda a direita para a exigência de que o primeiro acto do novo Presidente seja fazer eleições, e os seus eleitores do ex-PAF não lho vão pedir, vão exigi-lo.

    O clamor será tal que Marcelo, que em condições normais não o faria sem haver uma grave crise de natureza institucional, pode ter que o fazer, mobilizando com esse acto toda uma frente de esquerda que se sentirá não só vitimizada, mas em risco de ser excluída do sistema político. Não vai ser bonito de ver, com responsabilidade directa de Cavaco que envenenou toda a campanha de Marcelo e condicionou os passos iniciais da sua presidência caso ganhe.

    8. No entanto, embora ninguém ligue a isso, a candidatura de Marcelo tem aquilo que chamei uma "mancha ética" que não vai ser fácil de apagar tanto mais que a ela se deve muito do seu putativo sucesso. Que diríamos nós, que diria Marcelo, de alguém que usasse abusivamente dos recursos da sua profissão não só para se colocar numa vantagem em relação aos seus pares, como para deliberadamente os prejudicar numa qualquer competição?

    O problema não é o facto de Marcelo ter um espaço televisivo ímpar, que conquistou com o seu mérito de comunicador. O problema é que pelo menos nos últimos dois anos, em bom rigor quase sempre, o ter usado até ao limite para promover a sua candidatura e para argumentar contra a daqueles que poderiam ser seus adversários eleitorais. Usou o seu comentário contra Durão Barroso, Santana Lopes e Rui Rio, quando pensava que estes podiam ser seus adversários eleitorais, colocando-se sempre como observador desinteressado. Ninguém acreditava nisso, mas a cumplicidade que este tipo de silêncios gera não é sadia na vida pública portuguesa.

    9. E não adianta comparar Marcelo com qualquer outra pessoa que faça comentário e que tenha uma carreira política que beneficie do acesso ao pódio televisivo, porque nem toda a gente que comenta a política pretende ter uma carreira política e eleitoral, ou há contraditório ou é um comentário de representação partidária que já quase ninguém ouve. Claro que foi a TVI que lhe permitiu isso, e Marcelo é em primeiro lugar o candidato da TVI. E sabemos porque a TVI o fez, o que também faz com que Marcelo seja um candidato que foi patrocinado.

    10. Deixemos para outra altura outro tipo de patrocínios, igualmente perigosos para o fair play eleitoral, como seja o modo como muitos jornalistas portugueses são completamente acríticos face a Marcelo, para não dizer mais.»

domingo, outubro 25, 2015

A palavra aos leitores — Acerca do pluralismo na televisão


Texto do leitor G. Meirelles na caixa de comentários deste post:

    «É um facto que se têm verificado grandes momentos de comédia televisiva.

    O meu combate favorito até agora data de há dois ou três dias. Não me recordo, infelizmente, do canal nem da hora deste match de extrema violência, porque tenho procurado vê-los todos, e não estou em condições de reproduzir o diálogo com fidelidade absoluta, mas posso garantir que foi muito próximo do que se segue.

    Protagonistas do match: o árbitro, um dos âncoras do canal (de que não conheço o nome, mas que me pareceu um pouco acabrunhado), e... no canto direito (lado esquerdo da teletela) Maria João Avillez, no canto direito (lado direito da teletela) Joaquim Aguiar.

    Às tantas, depois de uma longa intervenção do Aguiar, pontuada por longos suspiros e exclamações de apoio admirativo da Avillez, intervenção do âncora, dirigindo-se à mesma: «não quer contradizer?». E a Avillez, surpreendida: «não, não...».

    Impagável.
    »

«Um episódio inédito dos "Monty Python"»

Apanhei a meio a situação a que faço alusão aqui. Vele a pena ler o que Vasco Pimentel escreve, porque a razão do «debate» em causa é uma entrevista de Judite de Sousa a Jerónimo de Sousa. Eis o post de Vasco Pimentel:


    «A TVI24 acaba de transmitir um episódio inédito dos "Monty Python": entrevistado pela Judite de Sousa, o Jerónimo recorda que as suas afirmações públicas são sistematicamente analisadas, nas televisões, por painéis "em que um diz mata e o outro diz esfola". A Judite, muito ofendida, rebate a acusação. A entrevista termina daí a minutos. Composição do painel reunido pela Judite de Sousa para ajuizar da pertinência das afirmações do Jerónimo: o "Mata", o "Esfola" e a "Arranca-lhe as Unhas Uma a Uma com uma Pinça Enferrujada".»

sábado, outubro 24, 2015

Mais plural não há


Se o leitor acabou de ler o post anterior, não vale a pena mudar de canal — pelo menos para a TVI 24. É que aqui estão a exibir-se neste momento Sofia Vala Rocha (aquela moça do PSD na Barca do Inferno), João Miguel Tavares e David Dinis. A pluralidade em todo o seu esplendor.

Isenção, isenção, isenção


Estamos a assistir a uma OPA da direita radical sobre a RTP3. Ontem, por exemplo, tivemos direito a uma conversa afável sobre a situação política entre José Manuel Fernandes e Miguel Pinheiro, o ex-director da Sábado que o trabalho mais à esquerda que redigiu foi uma biografia de Sá Carneiro. Para hoje está anunciada a presença de Helena Matos e de um tal Viriato, muito requisitado desde que vem defendendo que Passos & Portas devem continuar a lambuzar-se no pote. Tem sido quase todos os dias assim. E quando aparece, certamente por equívoco, uma voz desafinada, lá está Rodrigues dos Santos a repor a ordem.

terça-feira, outubro 13, 2015

360º? Era preferível 180º…


Ontem, no programa 360º da RTP3, tivemos José Rodrigues dos Santos a entrevistar Álvaro Beleza, antes de abrir um debate sobre a situação política. Se bem entendi a selecção dos comentadores, caberia a dois militantes do Blasfémias — Zé Manel Fernandes e Helena Matos — a defesa do defunto governo, enquanto a Filipe Luís e a Nuno Saraiva estaria confiada a hercúlea tarefa de explanar pontos de vista opostos.

Ainda incrédulo com a intervenção (e até com a presença) de Helena Matos na estação de serviço público de televisão, aguardava-se com moderada ansiedade que Nuno Saraiva, a quem Rodrigues dos Santos deu a palavra a seguir, rebatesse as suas posições. Mas eis que o subdirector do DN surpreendeu tudo e todos, ao apropriar-se dos pontos de vista da direita radical, alegando que o fazia em nome da Constituição: «O que está inscrito na Constituição é que, tendo em conta os resultados eleitorais, o Presidente da República convida a formar Governo o partido mais votado em cada eleição. É isso que está inscrito na Constituição.»

Ora não faria mal a Nuno Saraiva frequentar um curso rápido sobre a Constituição da República Portuguesa, dando uma especial atenção ao capítulo sobre a formação do Governo. Se os afazeres profissionais não lhe permitirem esta perda de tempo, poderia, ao menos, ler o artigo 187.º, n.º 1: «O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.»

sábado, outubro 10, 2015

Foi você que falou em asfixia democrática?

• Alberto Arons de Carvalho, O pluralismo da comunicação social:
    «(…) Nos últimos anos, no que tange ao seu alinhamento político-ideológico, o panorama da imprensa portuguesa generalista de cobertura nacional sofreu uma evolução assinalável. A par de jornais fiéis a um modelo de pluralismo interno e de independência editorial (exemplos do Público, do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias, e também da Visão), outros houve que optaram por um alinhamento mais ou menos evidente com o centro-direita do espectro político: Sol, i, Correio da Manhã, Sábado, Expresso (nos momentos decisivos…) e o Observador. Não há, hoje, um único jornal associado ao centro esquerda ou à esquerda.

    Não está em causa a legitimidade dessas opções, embora muitas vezes elas não sejam assumidas pelos próprios jornais e contradigam a isenção político-ideológica proclamada nos estatutos editoriais. Nos regimes democráticos, relativamente à imprensa, o pluralismo deve desejavelmente resultar da diversidade e da concorrência entre órgãos de informação – o chamado pluralismo externo, ancoradas na liberdade de criação de empresas jornalísticas, nas regras que asseguram a não concentração e a transparência da propriedade e em direitos dos jornalistas como a garantia da independência e o direito de participação.

    Em contrapartida, a lei impõe a todos e a cada um dos operadores de rádio e televisão (generalistas ou temáticos informativos de cobertura nacional) que assegurem uma informação que respeite o pluralismo, atenta a forma imediata e generalizada como chegam aos espectadores e o compromisso assumido nos respetivos processos de licenciamento ou de autorização. Na rádio, da Antena1 aos operadores privados, essa obrigação de pluralismo interno tem sido cumprida sem controvérsias. Na televisão, ainda que de uma forma geral não se possa falar de parcialidade, favorecimento ostensivo de uma ou outra força política ou de ausência de pluralismo, há duas situações inaceitáveis.


    A primeira tem a ver com os comentários políticos na SIC e na TVI a cargo de dois militantes e antigos líderes do PSD, sem que pessoas associadas a outras forças políticas beneficiem de idêntico espaço. Desrespeitando deliberações da ERC, violando as obrigações legais de pluralismo, que não podem ser postergadas ou anuladas pela liberdade editorial, a situação, já de si grave, tornou-se nas últimas semanas ainda mais insustentável quando, em plena campanha eleitoral, os referidos ex-dirigentes surgiam sucessivamente em horário nobre nos ecrãs televisivos vestindo, ora a camisola de participantes em atividades de campanha pelo seu partido, ora a de comentadores televisivos…

    A segunda diz respeito à lei sobre a cobertura eleitoral. Ela consagrou o esvaziamento do princípio constitucional da igualdade entre forças concorrentes às eleições face à liberdade editorial/comercial dos operadores. A total exclusão dos partidos não representados na anterior Assembleia de qualquer debate eleitoral apenas se pode explicar por critérios relacionados com as audimetrias. Nesta matéria, a RTP1 foi inultrapassável: 1) tentou, sem conseguir, impor um debate entre os partidos do parlamento cessante, excluindo os Verdes, mas incluindo, além da coligação eleitoral PaF, o CDS/PP, que não concorreu enquanto tal às eleições; 2) promoveu entrevistas em horário nobre apenas com dirigentes daqueles partidos -incluindo o CDS/PP!...-, mas não com qualquer dos partidos concorrentes não representados no parlamento cessante; e 3) nem foi capaz de imitar a Antena1 (da mesma empresa…), que, além de uma cobertura irrepreensível da campanha, organizou um debate com os referidos partidos não parlamentares. Pior era difícil…»

quinta-feira, outubro 08, 2015

Pode o Telejornal da RTP
ser apresentado por um imbecil ultramontano?


José Rodrigues dos Santos representa, e faz questão de o demonstrar amiúde, uma mistura explosiva que combina o que há de mais reaccionário na sociedade portuguesa com uma imbecilidade sem fronteiras.

Ontem, voltou a provar que não tem o mínimo de sensatez e equilíbrio para ser o pivot do principal jornal da RTP. Aproximava-se o Telejornal do fim (44:45 minutos), quando, ao apresentar uma peça sobre os deputados eleitos, este imbecil ultramontano se refere ao cientista Alexandre Quintanilha, cabeça de lista do PS no Porto, nos seguintes termos: «O deputado mais velho tem 70 anos e foi eleito ou eleita pelo PS».

Não é suficiente um pedido formal de desculpas a Alexandre Quintanilha, ao PS e à própria Assembleia da República. A Administração da RTP vai ter de assumir se considera que Rodrigues dos Santos reúne as condições para continuar a ser a cara do principal jornal do serviço público de televisão.

Em tempo:

1. A Direcção de Informação da RTP emitiu um comunicado, no qual tenta lançar poeira para os nossos olhos para salvar a pele do imbecil ultramontano que apresenta o Telejornal. Fez mal. A questão é demasiada grave e cabe à Administração da RTP resolvê-lo — até porque o que Rodrigues dos Santos disse não deixa margem para dúvidas: «O deputado mais velho tem 70 anos e foi eleito ou eleita pelo PS».

2. Em todo o caso, o comunicado da Direcção de Informação da RTP revela quão profissional é Rodrigues dos Santos. Ao sustentar que ele desconhece as peças que lança nos telejornais, admite que estamos perante um mero leitor de teleponto. Não ganhará de mais para um simples locutor de televisão?

3. Os órgãos que representam os jornalistas não deveriam pronunciar-se acerca deste acto de homofobia?

4. A Shyznogud colocou aqui o vídeo desta indecorosa proeza de Rodrigues dos Santos. A RTP mandou-o apagar. O Sérgio Lavos editou-o outra vez. Enquanto o lápis azul não actua, veja-se:

terça-feira, julho 14, 2015

Censura também se faz assim

    «Ora aqui estou de novo a dar os esclarecimentos que penso dever aos espectadores de 'Os Porquês da Política':

    1. Nos termos da rescisão unilateral do contrato pela TVI, e tal como me foi explicitamente comunicado por escrito, a rubrica termina no próximo dia 28 de julho. Isto significa ser exibida hoje, 14, e nos próximos dias 21 e 28.

    2. A última confirmação do dia e da hora da rubrica de que sou autor foi-me dada ontem à noite: seria hoje, às 22h00. Em consequência, preparei-me e desloquei-me do Porto para Lisboa.

    3. Às 16h52, portanto a cerca de 6 horas do início da rubrica (que é emitida em direto), recebi um telefonema do Departamento de Agenda da TVI, comunicando-me que o programa Política Mesmo, em que a rubrica se insere, não seria exibido, sendo substituído por um debate sobre a entrevista do primeiro-ministro à SIC. Perguntei porquê, foi-me respondido que se tratava de uma decisão editorial.

    4. Deixemos por enquanto de lado a má educação de tudo isto: eu, autor de 'Os Porquês da Política', vou ser impedido de realizar o meu próprio programa, de que sou responsável nos termos de um contrato de prestação de serviços que se encontra em vigor até ao fim de julho.

    5. Isto tem um nome: censura. Censura é impedir administrativamente que alguém com direito à palavra a possa exercer, para que o conteúdo dessa palavra não seja acessível ao público. Não resta nenhuma espécie de dúvida: fui censurado pela TVI. 41 anos depois do 25 de abril, a censura está de regresso a Portugal.

domingo, julho 12, 2015

Ainda o saneamento político de Augusto Santos Silva da TVI24


    «1. Agradeço a referência, neste artigo, ao meu afastamento da TVI24.

    2. E posso esclarecer o José Azeredo Lopes e todos os interessados: a direção de informação da TVI não desmentiu nenhum dos factos relatados por mim porque todos são verdadeiros. O que aconteceu foi o que relatei: nem mais nem menos.

    3. Havendo, aliás, prova documental de todos eles, que só não publico porque me considero um homem honrado, que não divulga mensagens privadas. Mas desde já autorizo o meu interlocutor nelas a divulgá-las integralmente, se entender.

    4. Uma especificação adicional: a decisão da TVI não foi não renovar o contrato, coisa que teria todo o direito de fazer, no prazo contratual definido. Foi terminá-lo abruptamente, por rescisão unilateral.

    5. Um último facto, para que todos os interessados possam fazer os juízos éticos que entenderem. No momento em que decidiu provocar a rescisão unilateral do contrato, a direção de informação da TVI sabia que eu havia recusado várias propostas de outra estação de televisão - baseado unicamente na condição de ter um contrato em curso com TVI e querer cumpri-lo

Acerca da asma democrática

• Azeredo Lopes, Um veto obsceno e sintomas de asma democrática:
    «(…) 2. Gosto sempre de ouvir Augusto Santos Silva, concorde ou não sempre com o que afirma ou defende. Santos Silva foi agora afastado do programa de comentário político que assegurava, há três anos ou coisa assim, na TVI24. O próprio descreveu, no programa, que acredita ter conduzido a esse afastamento, no caso, ter-se insurgido, na sua página do Facebook, contra as alterações constantes de horário (ou de dia!) do programa. Esperei, e esperei mais um bocado, que surgisse um veemente desmentido. Mas, nada, apesar de a acusação ter sido feita num programa da estação de televisão "acusada" e de o excerto pertinente estar até no site da TVI24. Assim, posso ter no mínimo como muito provável que Augusto Santos Silva viu o seu contrato ser terminado, ou não renovado, por ter exercido numa rede social a sua liberdade de expressão e de opinião. Não sei se isto é asfixia democrática, mas que parece pelo menos asma democrática, ai isso parece.

    Ah!, grande liberdade de expressão, amo-te desde que sejas só minha!

    Há dias, a Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança que se referia ao ocorrido em Srebrenica como genocídio. Agora, Augusto Santos Silva foi afastado do programa de comentário na TVI24 por ter exercido a sua liberdade de expressão.»

sexta-feira, julho 10, 2015

«Gosto de tempos de antena,
mesmo se são sempre ao serviço dos mesmos»

    «Não me interessando especialmente saber que em Celorico nasceu um porco com cinco patas, ou coisa do género, há muito tinha desertado do jornal da noite da RTP1. Agora estou de volta porque gosto de tempos de antena, mesmo se são sempre ao serviço dos mesmos. Hoje, por exemplo, fiquei regalado. O pivot decidiu que esta noite é que ia arrasar a Grécia de uma vez por todas, não fossem os gregos convencer-se que podiam fazer aos credores o que fizeram aos Persas em Maratona, com as suas falanges de evasores fiscais e pensionistas nababos. Incapaz de estabelecer em bases sólidas que a Grécia não tem um orçamento equilibrado desde o segundo governo Solon (550 a.c.), enveredou o Pivot por enviar a Atenas uma senhora loura, com a missão de inventariar as razões pelas quais o ajustamento grego falhou (ao contrário do nosso, entenda-se). A senhora esclareceu o assunto socorrendo-se dos relatórios do FMI (outra ideia do pivot). Semelhante empreitada dispensava a maçada da deslocação ao berço da democracia e da fraude orçamental. Podia perfeitamente ter lido os papéis confortavelmente sentada no grémio literário, na Lúcia Piloto, ou onde lhe apetecesse. Seja como for, lá explicou o que considerou ter compreendido, embora numa linguagem apropriada para menores de sete anos, categoria social que, como toda a gente sabe, não pode votar. O que não explicou, para nenhum grupo etário, é que o governo grego não podia avançar com as reformas sobre as quais havia acordo enquanto não cedessem na questão da dívida e do superavit primário. E que se o fizesse, tais reformas seriam declaradas "medidas unilaterais". Mas se calhar isto também não vinha nos relatórios do FMI. Não sei. É perguntar ao pivot, que ia tomando conhecimento do rosário de prevaricações com trejeitos de horror, qual Dario a escutar o relato das Termópilas. Enfim, a coisa lá acabou, de forma pouco digna para os tele-helenistas, e passou-se ao futebol, como de costume. Única certeza: amanhã há mais.»

quinta-feira, julho 09, 2015

Da asfixia democrática

    «A meio das peças noticiosas sobre o “Estado da Nação”, a RTP decidiu mostrar uma série de infografias no telejornal com os principais dados macroeconómicos, comparando 2011 com 2015. Até aqui tudo bem. A contextualização da informação faz parte do trabalho jornalístico e facilita a compreensão das peças. O que não faz parte do trabalho jornalístico é pegar nos dados fornecidos por um dos intervenientes, neste caso o governo, e apresentá-los como um contributo para a notícia. Os exemplos que se seguem nas fotos demonstram o nível de manipulação dos dados*. É propaganda. E má. A maioria dos indicadores que avaliam a legislatura são projeções - não por acaso todas favoráveis ao governo. Vejamos. A dívida está nos 130,3% (já agora, quando o governo tomou posse estava nos 106,6%¹ e não 111%). O défice em 2014 ficou nos 4,5%, mas, com Novo Banco, pode até chegar perto dos 6%. O PIB em 2014 cresceu 0,9%. As projeções são como os chapéus. Há muitas. E as do Governo raras vezes acertam. Como a RTP, neste caso.

    * é digno de nota que o site do governo da república não tenha o registo histórico dos anteriores governos, como devia num site oficial, mas tenha todo o tipo da dados com a "narrativa" da coligação.»

_______
¹ Salvo erro, a dívida em relação ao PIB estava então em 96%.

O CC errou — Pedro Sales corrigiu o que escrevi: «96% era o valor da dívida no início de 2011. No final do segundo trimestre, que coincide mais ou menos com tomada de posse do actual governo, o boletim do banco de portugal indica que a dívida estava nos 106,6%.»

quarta-feira, julho 08, 2015

Ainda o saneamento político de Augusto Santos Silva

«1. 17 horas depois da minha súmula dos factos que conduziram ao cancelamento, pela administração e a direção de informação da TVI, da minha rubrica na TVI24, verifico que nenhum destes factos foi posto em dúvida por absolutamente ninguém.

2. Como bom cientista um bocado positivista, dou-os, pois, por estabelecidos.

3. Estabelecidos os factos, podemos partir para as interpretações.

4. Logo serei entrevistado no Jornal da RTP2, que começa às 21h.

5. E, claro, se for perguntado sobre os porquês da política, responderei.»

Augusto Santos Silva e o seu saneamento político na TVI24


Extracto de «Os porquês da política» de ontem
(via Sítio com vista sobre a cidade)

domingo, julho 05, 2015

Asfixia antidemocrática


    «O arbitrário afastamento de Augusto Santos Silva do comentário político da TVI24, uma das poucas vozes da área do PS com presença regular (aliás de grande qualidade) no comentário politico nas televisões, vem acentuar o monopólio da direita na comunicação social. Já era assim nos canais de sinal aberto. É cada vez mais assim nos canais de assinatura.

    A poucos meses das eleições, o principal meio de difusão de ideias e argumentos políticos faz ostensiva campanha pela direita. Quando está em causa uma óbvia violação do mais elementar equilíbrio político e dos direitos da oposição, nem a autoridade reguladora nem o Presidente da República cuidam de emitir uma palavra em favor do pluralismo político nos media e do respeito pelas regras do debate democrático

sábado, julho 04, 2015

Um saneamento insólito


augusto+santos+silva

    «(...) o saneamento de Santos Silva do seu espaço na TVI – a crer nas notícias – é uma punição por delito de opinião. Independentemente de se concordar ou não com o formato, é para mim inesperado que o caso tenha acontecido numa estação de televisão em que pontificam dois jornalistas como José Alberto de Carvalho e Judite de Sousa. Não creio que o novo director de Informação – Sérgio Figueiredo (que não conheço) – pudesse tomar tal decisão sem o apoio do anterior director, que agora tem funções mais elevadas na hierarquia da estação.

    Santos Silva é um intelectual da política, dotado de uma inteligência fulgurante e de um verbo fácil, irónico e, não raras vezes, provocador. As suas opiniões, muitas vezes sofisticadas, irritam os adversários políticos, precisamente pela pertinência e acuidade do seu discurso. Profundo conhecedor dos meandros da política e da governação, foi várias vezes ministro, desconstrói com facilidade e conhecimento o discurso oficial e os argumentos da direita.

    As suas críticas à instabilidade horária do programa são pertinentes e representam respeito pelo telespectador, que tem o direito de ver respeitados os horários dos programas, desde logo pela TVI. Aliás, o contrato com os colaboradores deveria prever penalizações para alterações aos horários estabelecidos.

    A ser verdade que Santos Silva foi “despedido” por criticar o desrespeito dos horários do programa está criada uma situação grave para uma estação de televisão que está obrigada a respeitar a liberdade de expressão, incluindo a dos colaboradores que contrata.

    Aguardam-se pois, explicações da própria TVI sobre as causas do saneamento de Augusto Santos Silva.»

quinta-feira, julho 02, 2015

Sobre o afastamento de Augusto Santos Silva da TVI 24

Francisco Seixas da Costa reage ao afastamento de Augusto Santos Silva da TVI 24 num post intitulado Notas para dois amigos, que se reproduz:

                     

Caro Sérgio

Com a vida a ocupar-nos as agendas, ainda não falámos desde que trocámos mensagens por ocasião da tua nomeação para diretor de informação da TVI. E, podes crer, não é com gosto que esta minha nota, que tem de ser pública, seja para lamentar a decisão de afastamento do Augusto Santos Silva da sua "coluna" de comentário semanal. Sei que as coisas às vezes são mais complexas do que parecem. Por isso, por não conhecer os detalhes da decisão, imagino que eles possam eventualmente ser mais esclarecedores do que aquilo que já veio a público. Mas, para já, e antes que esses possíveis factos sejam conhecidos, apenas me posso pronunciar sobre os resultados. E esses são claros: o pluralismo dentro das nossas televisões sofreu um imenso "trambolhão" e, até ver, isso foi da tua responsabilidade pessoal. Sentir-me-ia mal se não to dissesse. Já nos conhecemos há muito tempo e, como sabes, nunca me dei ao luxo de esconder o que penso. Principalmente aos amigos, como tu és.

Um forte abraço

Francisco


                    


Caro Augusto

Agora que o teu mano-a-mano com o Paulo Magalhães saiu de cena, quero deixar-te um abraço de gratidão. Ao longo de muito tempo, foste capaz de dar voz a uma visão das coisas que, estando muitas vezes bem longe de ir com "l'air du temps", era importante que fosse conhecida. Só aos patetas soava como uma visão partidária oficiosa. É de quem te não conhece! A tua palavra, serena, inteligente e acutilante, com a dignidade de quem pensa sempre pela sua cabeça e sabe, como poucos, exprimir organizadamente as ideias, vai fazer falta nas noites da TVI 24, e digo-o agora mesmo ao Sérgio Figueiredo. Alguns, claro!, estão a exultar já, pelo mundo das "redes sociais", com a tua saída de cena. Não imaginam que é o maior elogio que te podem fazer! 

Um solidário abraço do

Francisco

terça-feira, junho 30, 2015

Augusto Santos Silva afastado da TVI


«Os Porquês da Política» da TVI 24, com Augusto Santos Silva à terça-feira, acaba no fim de Julho. Convidado a comentar o seu afastamento, o professor catedrático da Faculdade de Economia do Porto afirmou: «A TVI exerceu o seu direito contratual e ao exercê-lo afastou-me de antena. Não sei se tecnicamente é censura». Mas é.

Com efeito, não há nenhuma razão aceitável para acabar com um programa que tem uma das maiores audiências da TVI 24, tendo resistido às constantes mudanças de horário e até à circunstância de, não raras vezes, não ir para o ar a pretexto de dar lugar à estopada do futebol.

Numa estação de televisão em que imperasse a racionalidade financeira, Augusto Santos Silva teria de ser levado ao colo. Não há por aí muita gente com um pensamento tão estruturado e com competência para explicar a complexidade da política através de raciocínios simples. O afastamento desta voz muito incómoda, em vésperas de eleições, só pode ficar a dever-se a pressões políticas sobre a TVI.

Com o «comentário» político nas televisões em sinal aberto entregue a Marcelo e Marques Mendes, terá chegado o momento de afastar dos canais de informação (ou, pelo menos, da TVI 24) a linha de pensamento que Augusto Santos Silva representa. A sua eventual substituição por um inócuo boneco de palha não disfarça o que está em curso: uma gigantesca operação de asfixia democrática.