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segunda-feira, julho 06, 2015

Durão Barroso, o amnésico

— Pedro, Rio? E eu?

• João Galamba, Durão Barroso, o amnésico:
    «Durão Barroso, não contente em participar na despudorada e algo obscena operação de recauchutagem política de Miguel Relvas, também decidiu dar o seu valioso contributo para o processo de rescrita da história em curso. Aparentemente, o mesmo Durão Barroso que, em 2010, em 2011, em 2012, em 2013 e em 2014 sempre disse que Portugal não era a Grécia, vem agora, a três meses das eleições, dizer que, afinal, Portugal só não é a Grécia por obra e graça da determinação e firmeza de Passos Coelho.

    Não sei se estão recordados, mas, para além de ter passado os últimos cinco anos a dizer que Portugal não era a Grécia, Durão Barroso, antes da entrada da ‘troika' em Portugal, empenhou-se mesmo em dizer que Portugal não só não era a Grécia como, também, não seria a Irlanda. E não seria nem a Grécia nem a Irlanda porque, ao contrário destes dois países, Portugal não seria intervencionado pela ‘troika'.

    Havia um acordo, no qual o próprio Durão Barroso, na qualidade de presidente da Comissão Europeia, se empenhou, que envolvia Portugal, a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Banco Central Europeu e que visava impedir um terceiro resgate a um país da zona euro. O empenho de Durão Barroso no chamado PEC 4 foi público, bem como todas as tentativas de evitar que a oposição, e em particular Passos Coelho, não inviabilizassem o acordo que o Governo português e as instituições europeias, bem ou mal, consideravam suficiente para evitar a vinda da ‘troika'.

    Todos sabemos o que se passou. Passos Coelho, forçado a escolher entre os interesses do seu país e os interesses do seu partido, escolheu os segundos, tirou o tapete ao país e empurrou Portugal para a ajuda externa. Tudo isto com a oposição (pública) de Durão Barroso (e de outros líderes europeus). Por essa razão, se há algo que a determinação de Passos conseguiu foi mesmo dinamitar a possibilidade de esse acordo ser bem sucedido.

    Apesar de Portugal ser empurrado para o programa da ‘troika' pela irresponsabilidade de Passos Coelho, Durão Barroso continuou a dizer que, ainda assim, a Grécia era um caso singular. Não só a Grécia tinha um défice e uma dívida pública muito maiores que Portugal, não só o programa grego era significativamente mais duro que o nosso, como o nosso sector exportador já era bastante mais robusto e pujante que o grego, o que atenuou os efeitos da recessão. Portugal, ao contrário da Grécia, nunca teve quedas do PIB de 7% ao ano, nem o PIB português caiu 30% nos últimos quatro anos. Mas não foi certamente por obra e graça de Passos Coelho que isso aconteceu.

    Para além das diferenças que sempre existiram entre os dois casos, se há algo que explica que o caso português não tenha sido tão trágico como o grego é que, na Grécia, não houve Tribunal Constitucional a travar as loucuras austeritárias do governo e da ‘troika'. Se olharmos apenas para o ano de 2012, o ano em que o governo de Passos decidiu ir muito além da ‘troika' e aplicar a tese (grega) da austeridade expansionista, a economia portuguesa colapsou. Não tanto como a grega, é certo, mas foi o ano em que Portugal mais se aproximou dos gregos, com o PIB a cair 4% e com a destruição de 200 mil empregos. Essa loucura foi travada, mas não por Passos, para quem os cortes deviam ser aprofundados, como constava do seu alucinado plano de corte de quatro mil milhões de euros em salários e prestações sociais, anunciado em outubro de 2012 e reafirmado, depois, em abril de 2013. Se a despesa primária grega caiu 30%, a portuguesa, depois de uma queda de cerca de 9% em 2012, com a intervenção do Tribunal Constitucional, a situação mudou radicalmente e Passos Coelho foi obrigado a recuar em parte dos cortes e a devolver rendimento aos portugueses. Ou seja, se não tivemos outro ano igual ao de 2012, não foi seguramente porque Passos não quis; foi o oposto: foi porque não o deixaram.

    É uma pena que Durão Barroso tenha sido atacado pelo vírus dos mitos urbanos e se dedique, sem qualquer pudor ou respeito por quem o ouve, à prática da rescrita da história. É sabido que Durão Barroso ainda acalenta esperanças de ser apoiado por Passos Coelho para Belém. Mas, em política, não vale tudo.»

segunda-feira, abril 13, 2015

«Não precisámos de reinventar a roda economia»


Philip Lane, economista irlandês, é hoje entrevistado pelo Público. A ideia-chave da entrevista está reproduzida no título: «A troika deixou que a austeridade na Irlanda fosse mais gradual». O governo português, pelo contrário, fez questão não só de infligir aos portugueses uma violentíssima dose de austeridade à cabeça como também se dispôs a «ir além da troika».

Os diferentes resultados obtidos pela Irlanda e por Portugal estão à vista, como bem põe em evidência Philip Lane.

quinta-feira, fevereiro 26, 2015

O regresso do homem protegido por um escudo invisível


A TSF anunciou de véspera que Barroso iria estrear-se na Universidade Católica. Esta rádio antecipou o evento: «A expectativa é elevada entre os alunos que falam de um protagonista europeu e não hesitam em dizer que durante a última década ele foi o homem do leme.» Hoje, a palestra foi gravada (pelo menos) pela SIC e noticiada de novo pela TSF.

Ninguém estaria certamente à espera que o anterior presidente da Comissão Europeia tomasse a iniciativa de aproveitar o momento para fazer uma declaração sobre as palavras de Juncker, que objectivamente põem em causa a sua acção em Bruxelas. No entanto, dado o impacto das palavras do actual presidente da Comissão Europeia, o que surpreende é a comunicação social, tendo ali à mão Durão Barroso, não o ter compelido a pronunciar-se.

Afinal, quando Juncker afirmou que «Pecámos contra a dignidade dos povos da Grécia, Portugal e Irlanda», a Comissão Europeia era dirigida por um… português. Um tal Barroso.

sábado, fevereiro 21, 2015

quarta-feira, janeiro 14, 2015

Noonan, um esquerdista radical?

— Ó Guindos, explica à Marilu que não precisa de estar tão apreensiva,
porque a conferência sobre a dívida que defendo é semelhante à que foi feita para a Alemanha em 1953

quarta-feira, novembro 05, 2014

Portugal não é a Grécia (nem a Irlanda)

As previsões de Outono da Comissão Europeia puseram em relevo que o Orçamento do Estado para 2015 não passa de uma fantasia. Mas a Comissão Europeia fez mais. Prevê, por exemplo, que a retoma económica em Portugal seja feita a um ritmo muito mais moderado do que na Grécia e na Irlanda, os outros países sob intervenção da troika. Com efeito, a Comissão Europeia estima que:
    Portugal — a variação do PIB será de 1,3% em 2015 e de 1,7% em 2016;
    • Irlanda — a variação do PIB será de 3,6% em 2015 e de 3,7% em 2016 (depois de um crescimento de 4,6% em 2014);
    • Grécia — a variação do PIB será de 2,9% em 2015 e de 3,7% em 2016.

terça-feira, julho 29, 2014

Work in progress

Depois de mil e uma notícias sobre como a Irlanda está a tentar trocar dívida do FMI por dívida europeia, assim poupando no serviço da dívida, eis que António José Seguro acordou para o problema: Seguro quer trocar dívida do FMI por ajuda europeia. É a chamada «agenda para a década… em actualização permanente». Ou como quem diz: — Agenda para a década? Também temos cá disso…

Mais extraordinário ainda do que ver António José Seguro a sair paulatinamente do estado sonolento em que mergulhou é observar que o Governo, através de uma fonte, entende que, «a olho nu, não se vê que ganhos pode Portugal ter com isto».

sexta-feira, junho 27, 2014

O último subscritor do Manifesto dos 74


Técnicos do FMI chegaram à conclusão de que a reestruturação das dívidas dos países sob resgaste poderia ter evitado a devastação das suas economias — ou, pelo menos, poderia ter implicado benefícios «significativos», nomeadamente um ritmo de ajustamento orçamental menos violento. Na sequência da experiência europeia dos últimos anos, estes técnicos apresentaram ao conselho de administração do FMI um documento — The Fund's Lending Framework and Sovereign Debt — no qual defendem uma revisão das regras que são usadas nos seus resgates.

A notícia é dada hoje pelo Jornal de Negócios, que explica o que está em causa:
    «Segundo as regras de Washington, qualquer empréstimo significativo, como os que são necessários em crises de dívida, implica uma avaliação prévia da sustentabilidade das finanças públicas do país resgatado. Caso a análise conclua que a dívida é "sustentável com elevada probabilidade", a instituição pode emprestar sem problemas. Caso contrário, um empréstimo terá de ser precedido de uma reestruturação que garanta a sustentabilidade. Esta foi uma das novidades introduzidas em 2002 - após empréstimos do FMI no início da década à Argentina que acabou por reestruturar logo de seguida.

    O problema é que chegados a 2010, e dadas as dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida grega, esta regra foi flexibilizada. Isto porque uma reestruturação na Grécia foi considerada como inviável do ponto de vista político na Europa, mas também - foi o argumento oficial - porque tal reestruturação poderia ter implicações sistémicas difíceis de antecipar.

    E foi assim que, argumentando com o elevado risco implícito numa reestruturação de dívida, o Conselho Executivo do FMI, então liderado por Dominique Strauss Khan, criou uma "excepção sistémica", que permitiu empréstimos à Grécia em 2010 mesmo com muitas dúvidas sobre a sua capacidade de pagar - o mesmo se passou depois com os resgates à Irlanda e a Portugal.

    Quatro anos volvidos, as lições começam a surgir. No ano passado, o FMI defendeu que deveria ter avançado com uma reestruturação de dívida na Grécia logo à cabeça E os dados que dispõe agora parecem apontar para vantagens de se ter avançado com um reescalonamento das dívidas portuguesa e irlandesa.

    Estas são conclusões que se podem tirar do artigo apresentado ao Conselho Executivo do FMI ("The Fund's Lending Framework and Sovereign Debt"), no qual se defende que a regra de 2002 se mostrou demasiado rígida por "implicar uma reestruturação de dívida definitiva, mesmo quando possa vir a revelar-se desnecessário" - acabando por motivar a excepção de 2010. Os técnicos do Fundo propõem assim que essa "excepção sistémica" seja eliminada, para dar lugar a uma regra que defina que, nos casos em que a dívida não seja "sustentável com elevada probabilidade", o FMI seja forçado a ponderar a imposição de um reescalonamento da dívida, ou seja, uma extensão de maturidades. Trata-se de uma reestruturação "light", com custos mais baixos para os credores privados, mas que reduz os riscos dos credores oficiais e ainda baixa as necessidades de financiamento nos primeiros anos, permitindo ajustamentos orçamentais mais suaves - o que teria ajudado nos últimos resgates.»

Que dirão agora todos aqueles que se atiraram com unhas e dentes ao Manifesto dos 74, vendo que o FMI está a pedir licença para se tornar o 75.º subscritor do Manifesto?

sexta-feira, abril 18, 2014

Barroso rima com mentiroso


Um dos vários aspectos em que Barroso não reprimiu, na entrevista ao Expresso, a sua irresistível propensão para fugir a sete pés à verdade dos factos aconteceu quando o ainda presidente da Comissão Europeia afirmou que não havia aconselhado Portugal a fazer investimento público, incluindo o recurso a PPP, quando rebentou a crise em 2008. O Expresso reconstitui hoje os factos e revela que Barroso mentiu:
    «O plano de Barroso de combate à crise financeira de 2008 acabou por ser aprovado no início de 2009, só que pouco tempo mais tarde, já em 2010, foi abandonado subitamente com o eclodir da crise das dívidas públicas, que começou por apanhar a Grécia e alastrou pela UE, provocando ainda o resgate da Irlanda nesse ano e o de Portugal na primavera, seguinte. Quando a Europa de Barroso decidiu tirar o pé do acelerador do investimento, Sócrates defendeu que isso era um enorme erro e passou a dizer amiúde que "o mundo mudou". A versão dos acontecimentos nunca será coincidente, mas o incentivo ao investimento por parte da Comissão é absolutamente inequívoco.»

Está aqui a comunicação da Comissão Europeia para o Conselho Europeu, assinada por Barroso a 26 de Novembro de 2008, a propor a adopção do «Plano de relançamento da economia europeia».

Este canastrão, que anda por aí de comício em comício, tem em muito má conta o povo português, quando pensa que pode mentir e passar incólume.

ADENDA — A Shyznogud reproduz extractos da notícia do Expresso.

quinta-feira, abril 10, 2014

Com Passos ninguém treme


«(…) penso que [Vítor Gaspar] seja um ministro das Finanças da troika (…)»

• Pedro Nuno Santos, Com Passos ninguém treme:
    «Passos Coelho, no último debate quinzenal, e noutras intervenções posteriores, ensaiou a ideia de que a redução das taxas de juros e o alargamento das maturidades dos empréstimos da troika foram obtidos através de intensas negociações lideradas pelo governo português. Já todos sabemos que o primeiro-ministro português tem uma relação muito precária com a verdade mas há mentiras que chocam de tal forma com a realidade que revoltam o ouvinte mais tolerante e pacífico. Desde 2011 que foram sendo alteradas algumas condições dos empréstimos aos países intervencionados mas nenhuma se deveu à iniciativa ou reivindicação do governo português. A extensão das maturidades dos empréstimos para Portugal e para a Irlanda, por exemplo, resulta, em primeiro lugar, das condições dadas à Grécia na sequência do processo negocial para o seu segundo programa de ajustamento.

    A concessão destas condições a Portugal e à Irlanda não foi automática, foi antecedida de negociações e, como é público, o governo português não liderou coisa nenhuma, antes foi um obstáculo à obtenção de resultados melhores que os conseguidos no fim. É importante recordar que depois do ministro das Finanças irlandês ter afirmado que a extensão de maturidades seria de 15 anos, Vítor Gaspar, comportando-se como o quarto membro da troika, veio dizer que isso seria "inconcebível" - o resultado final acabou por ficar nos 7 anos.

    O governo português não liderou, prejudicou; não conseguiu nada por sua iniciativa, antes beneficiou do que os outros conseguiram. Nem podia ser diferente quando o governo é liderado por um primeiro-ministro que em Junho de 2011 disse que ia "surpreender e que ia mais além do acordo" com a troika, onde pontuou um ministro das Finanças que acabou contratado pelo FMI ou onde um secretário de Estado dos Assuntos Europeus é apresentado pela imprensa grega como "o alemão" quando na Grécia recusou uma frente de países do Sul. De Passos Coelho ninguém esperaria que fizesse "tremer as pernas dos alemães", nem ninguém lhe pede tanto, pede-se apenas alguma coragem e algum patriotismo.»

segunda-feira, março 31, 2014

Entre a narrativa oficial e a realidade


• Manuel Pinho, Vale a pena criar consensos?:
    «(...) A narrativa oficial é de que, primeiro, a crise não é sistémica, mas é culpa do anterior governo. Segundo, o euro serve igualmente todos os países que a ele aderiram, as suas regras de funcionamento são sagradas e o Banco Central Europeu (BCE) agiu bem durante o pico da crise. Terceiro, a estratégia de resolução da crise era a única possível. E quarto, Portugal está melhor por mérito de quem precipitou a crise em 2011 e aplicou, em dose reforçada, a receita da troika. O papel da Alemanha não é questionado, antes pelo contrário.

    Porém, há quem tenha uma visão diferente. Primeiro, a crise do euro é sistémica e foi amplificada pelo BCE (o resultado teria sido diferente se não tivesse esperado até 2012 para alterar a sua política). Segundo, a estratégia de resolução teve como base o pressuposto de que os ajustamentos orçamentais podiam ser expansionistas mesmo no curto prazo. Terceiro, os agentes políticos internos foram incapazes de se entender relativamente a uma solução que poderia ter tido custos muito menores (comparar Portugal com a Espanha, onde a direita e a esquerda se entenderam para evitar pedir ajuda à troika). E quarto, os resultados foram muito piores do que o previsto. Esta visão questiona o papel da Alemanha, que acima de tudo quer uma taxa de câmbio hiperdesvalorizada que permita à sua fantástica máquina de exportação conquistar o mundo, no que está a ter sucesso porque conseguiu um excedente da balança de pagamentos maior do que a China. De tal forma que a Alemanha não se pode dar ao luxo de que o euro acabe.

    (…)

    Os números mostram que a crise do euro é sistémica. Olhando para a situação de Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, verifica-se o seguinte comparando os anos de 2007 (crise do subprime), 2010 (crise da Grécia) e 2013:
      • Balança de pagamentos: em 2007, os quatro países tinham um elevado défice da balança de pagamentos que financiavam em grande parte nos mercados internacionais, os quais se fecharam bruscamente a seguir à crise da Grécia em 2009-10 porque os políticos transmitiram informação totalmente contraditória. Em 2013, a brutal compressão da despesa teve como resultado a eliminação dos défices da balança de pagamentos em todos estes países. Não há nenhum "milagre das exportações" específico a Portugal;
      • Despesa pública: em 2007, os quatro países tinham uma despesa pública inferior à média da zona euro. No caso da Espanha e Irlanda era inferior à Alemanha. Na altura, França, Holanda, Áustria, etc. já tinham, e continuam a ter, uma despesa pública superior a Portugal;
      • Défice orçamental: em 2007, Irlanda e Espanha tinham um excedente no saldo orçamental e Portugal tinha o menor défice desde há muitos anos. Em 2010, a situação orçamental dos quatro países tinha mudado fruto das políticas expansionistas para contrariar a recessão global e da necessidade de absorver perdas dos bancos. Em 2013 os défices orçamentais baixaram, porém ainda estão em todos os casos longe do exigido pelas regras de funcionamento do euro;
      • Dívida pública: em 2007, Irlanda e Espanha tinham uma dívida pública baixíssima e a de Portugal era inferior a 70% do PIB. Em 2007-10, a dívida pública aumentou vertiginosamente, tendo este processo continuado até 2013. A estratégia errada de resolução da crise levou a dívida pública a níveis muito dificilmente sustentáveis;
      • Taxas de juros: como é típico dos ataques especulativos, as taxas de juro da dívida pública subiram violentamente atingindo níveis que nada tinham que ver com os fundamentals, mas agora estão a cair a pique, de tal maneira que a Irlanda acaba de se financiar a 10 anos a 2,9%, uma taxa inferior à que pagava em 2007 quando a sua dívida pública era metade do que é hoje. O que mudou? A política do BCE. Quando mudou? Apenas em 2012. (…)»

sexta-feira, março 28, 2014

Paulo, outro artista português que faz milagres

No exacto momento em que a OCDE acabava de recomendar a opção por um programa cautelar para o pós-troika, Paulo Portas deu uma cambalhota em pleno parlamento: «Não há uma saída limpa e uma saída suja. Há uma saída limpa diretamente para os mercados e uma saída limpa com apoio de uma linha de crédito».

Recomposto, toca a vangloriar-se com a descida das taxas de juro da dívida. E só por imensa modéstia, o vice Portas não clamou vitória pelo movimento idêntico que está a verificar-se nos outros países periféricos: a Irlanda nunca antes conseguira, desde a adopção do euro, atingir taxas tão baixas; a Espanha e a Itália estão com juros iguais a 2005, no auge da bolha financeira. Veja-se o que relata o Expresso:
    «Portugal, Espanha, Itália e Irlanda têm estado, esta semana, a registar mínimos no prazo a 10 anos da sua dívida obrigacionista, com a Irlanda a fixar mínimos jamais atingidos durante o euro (menos de 3%, regista desde ontem 2,98%) e Espanha e Itália com mínimos desde 2005 (a rondar os 3%), durante o período da bolha financeira. A Grécia mantém uma taxa abaixo do limiar dos 7% no prazo a 10 anos, registando hoje de manhã 6,67%.»

quinta-feira, março 13, 2014

Tanta subserviência e os mercados viram-se para outras paragens

“As taxas de juro hoje estão ao nível de 2010”, dizia há pouco na Assembleia da República uma deputada do PSD saída do fundo do catálogo do PSD. Bem, não é para esmorecer o arrebatamento da deputada laranja cujo nome não fixei, mas a verdade é que parece que o país não tem o exclusivo — nem sequer as melhores condições.

Com efeito, hoje, a Irlanda (títulos com um prazo a dez anos) e a Itália (prazos a três e a 15 anos) obtiveram os custos de financiamento mais baixos da era do euro.

Acresce que a declaração da empolgada deputada do PSD é feita exactamente quando os «juros implícitos nos títulos de dívida de Portugal voltam hoje a subir em todos os prazos, com a taxa de referência a 10 anos a superar de novo a ‘taxa Machete' dos 4,5%.»

segunda-feira, março 10, 2014

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Comunidade dos Países Contagiados pelo Sucesso Português

Bloomberg

Os juros da Grécia estão abaixo dos 7%. A única explicação aceitável é o sucesso português ter contagiado a zona euro. É a grande oportunidade de Paulo Portas partir à conquista da Europa, propondo a criação da CPCSP (Comunidade dos Países Contagiados pelo Sucesso Português).

ADENDAPortugal em 5º lugar na descida dos juros da dívida em fevereiro, a seguir à Grécia, à Itália, à Irlanda e à Espanha.

terça-feira, janeiro 14, 2014

“Ir além da troika” sempre!


O Diário Económico teve acesso e compara as respostas dos governos dos países sob resgate ao inquérito em curso promovido pelo Parlamento Europeu. A conclusão é demolidora: as respostas da Miss Swaps são evasivas sobre os chumbos constitucionais e sobre o impacto social do programa de ajustamento, contrastando com as respostas dos restantes ministros das Finanças.

As quatro questões colocadas estão reproduzidas na imagem à esquerda. A primeira questão não é de resposta fácil para um governo que, desde o início, se dispôs a “ir além da troika” e que, em cada avaliação, se comprometeu a novos pacotes de austeridade, desfigurando por completo o memorando de entendimento inicial. Ao passo que os outros ministros das Finanças fazem um conjunto de críticas às escolhas dos representantes dos credores externos, a Miss Swaps apelida, segundo o Diário Económico, os sucessivos pacotes de austeridade de “adaptações resultantes de discussão com a troika”.

Quanto aos conflitos entre as medidas constantes dos memorandos e as leis nacionais, os responsáveis grego, irlandês e cipriota aproveitam para elencar os problemas com que se têm deparado. A resposta da Miss Swaps é desconcertante: “Tanto quanto sabemos não há casos de violação da lei nacional directamente ligados a medidas do MoU [memorando]”, para depois desvalorizar os chumbos do Tribunal Constitucional, alegando que “algumas medidas” consideradas inconstitucionais foram logo substituídas por outras.

À terceira questão, a Miss Swaps voltou a embatucar. Como poderia a substituta de Gaspar explicar ao Parlamento Europeu que, tendo havido um plano aprovado pelo Conselho Europeu (o PEC IV), os partidos que constituem o actual governo o tivessem inviabilizado? Ainda assim, a Miss Swaps, entre mesuras à troika, sustenta que o programa era “inevitável” e uma “oportunidade”. Ao contrário dos outros ministros, nem uma palavra sobre a crise internacional nem sobre as disfunções da arquitectura do euro.

Finalmente, enquanto os outros ministros das Finanças aproveitam a ocasião para criticar os demolidores efeitos sociais do programa da troika — “preço social extremamente alto” (Grécia), “desemprego alto” e “perda de rendimento” (Irlanda) e “efeitos secundários graves da imposição de perdas aos depositantes” (Chipre) —, a Miss Swaps limita-se a dizer, numa breve linha, que o desemprego ficou acima do esperado, sem uma única referência à perda do poder de compra que está a provocar o empobrecimento dos portugueses.

Entre os governos que se alçaram ao poder na sequência da crise das dívidas soberanas, saiu-nos a fava, é o que é.

sábado, dezembro 28, 2013

domingo, dezembro 01, 2013

Cobranças difíceis são com a agência de Madame Lagarde


      “A ajuda do FMI será bem-vinda”.
      "Tem-se diabolizado a questão do FMI porque o primeiro-ministro [José Sócrates] a tornou uma questão de honra do Estado".

Estive a ler a entrevista de Christine Lagarde, directora-geral do FMI, publicada hoje na revista do diário El País. Extrai-se da entrevista por que os métodos da agência que dirige são tidos em tão alta consideração pelas forças de direita em todo o mundo. E, em relação a Portugal, depreende-se o motivo pelo qual a direita, representada por Passos Coelho e Paulo Portas, fez finca-pé no chumbo do PEC IV para poder “pôr em marcha as reformas” que viriam a ser conhecidas como a “refundação do Estado”.

Eis duas passagens da entrevista:
    Y en países como Grecia y Portugal, usted y la señora Merkel son vistas como enimigas del Estado de bienestar y de la democracia. ¿Qué le sugiere eso?
    El FMI ha sido utilizado como chivo expiatorio en algunos países. (…) Así que solemos llegar en el momento más duro, cuando los Gobiernos no pueden poner em marcha las reformas. Y somos los chicos malos del lugar. (…)

    Quizá el problema es que cuando el FMI interviene un país acaba devaluando la moneda, cosa que en la zona euro no puede hacer. Y a cambio devalúan ustedes los sueldos y los derechos.
    En Irlanda, Grecia y Portugal se ha hecho una devaluación interna a través de una rebaja de los costes laborales unitarios para ponerlos en un nivel más razonable y similar a la media de su región monetária. Ese es un aspecto de los programas, pero no el único. (…)