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sábado, setembro 12, 2015

Jeremy Corbyn eleito líder dos trabalhistas britânicos


      «Não temos de ser desiguais, não tem de haver injustiça, a pobreza não é inevitável.»
ADENDA — What does Jeremy Corbyn think?

sexta-feira, setembro 04, 2015

Do populismo miserável

Imagem retirada daqui

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados estimou, em Julho deste ano, que haveria mais de quatro milhões de refugiados da Síria. A União Europeia sugeriu então que Portugal acolhesse 94 sírios. O governo de Passos & Portas mostrou-se relutante em os aceitar, sendo a única vez em que não seguiu caninamente a Alemanha.

Entretanto, a situação atingiu proporções inimagináveis, com os povos da Europa a exigir aos seus governos que acudam aos refugiados. De imediato, o governo português, que torcera o nariz a receber 94 sírios, dispôs-se a abrir as portas a 1.500, admitindo ontem o inefável ministro Maduro que haverá condições para acolher 3.000.

Esta manhã, com o maior desplante, Passos Coelho afirmou que a União Europeia tem obrigação moral de ajudar os refugiados. Ao lado do alegado primeiro-ministro, David Cameron aproveitou a oportunidade para anunciar que o Reino Unido iria também acolher mais sírios. O mesmo Cameron que, há um mês, apostava em recorrer a mais cães e vedações contra a «praga» dos imigrantes ilegais.

quinta-feira, maio 21, 2015

As aparências iludem

Despesa pública primária entre 2009 e 2014 (2010=100)

Quando os conservadores venceram as recentes eleições no Reino Unido, a direita doméstica — antes de mais o «social-democrata» Passos Coelho — tentou fazer crer haver alguma similitude com a situação portuguesa. Hugo Mendes deu-se ao trabalho de comparar a austeridade no Reino Unido com a que tem sido aplicada em Portugal e na Grécia num post intitulado Sobre a "austeridade expansionista" no Reino Unido.

É um post de leitura obrigatória para quem quiser compreender que esta interpretação dos resultados das eleições no Reino Unido não passa de mera propaganda, sem nenhuma relação com a realidade.

terça-feira, maio 12, 2015

Um Estado sem inteligência

• Mário Soares, Um Estado sem inteligência:
    «É um texto que o meu ilustre amigo Nicolau Santos, que tanto admiro, escolheu para referir o atual Estado português, que reduziu Portugal ao pior que já teve desde o tempo de Salazar, que, pelo menos, não roubava nem entregava aos estrangeiros, e muito menos aos chineses, parte da nossa terra.

    Na realidade, como escreveu, cito, "Nos últimos anos, gabinetes, laboratórios e departamentos públicos foram extintos ou definharam". E acrescenta: "O Estado não tem hoje pensamento político próprio."

    Na verdade, a coligação que faz a maioria não se entende e se não fosse o Presidente da República, que protege Passos Coelho acima de tudo, o governo, que não se sabe o que quer nem para onde vai, há muito tempo teria desaparecido.

    Pergunta Nicolau Santos: "Onde estão os gabinetes de estudo, planeamento e prospetiva idênticos àqueles que Félix Ribeiro liderou durante anos e que produziram alguns dos mais notáveis e estimulantes trabalhos sobre o futuro do país?

    Quem faz a gestão estratégica das participações do Estado depois da decisão politiqueira de extinguir o Instituto de Participações do Estado (IPE)? Onde estão os laboratórios e departamentos de Estado ligados às engenharias, à floresta e ao desenvolvimento agrícola, marítimo, industrial e cultural? A resposta é: não estão, não há, não se faz." Isto é: não se sabe.

    Na verdade, Passos Coelho fala muito mas muda de opinião como quem muda de camisa. À exceção da defesa da austeridade a todo o custo. E os seus ministros calam-se e obedecem. Embora com Paulo Portas não seja bem assim. Não se entendem, e ora diz que quer ir embora ou diz o contrário, e vai passeando pelo mundo inteiro...

    Mas o atual governo, em que nada funciona, está quase no fim e, apesar de o Presidente da República ter propositadamente atrasado as eleições, o fim é inevitável.

    Quer dizer, o país vai mudar... (…)

    SÓCRATES PRESO SEM QUALQUER RAZÃO

    José Sócrates continua na prisão, desde há quase seis meses, sem ter sido acusado e julgado.

    O juiz Carlos Alexandre foi o principal responsável pela sua prisão no convencimento, julgo eu, de que estava a fazer um grande serviço. A verdade é que, até hoje, não se conseguiu apurar qualquer motivo que justifique essa prisão. Nem sequer foi ouvido.

    O juiz Carlos Alexandre e o procurador Rosário Teixeira tentaram encontrar um motivo para que fosse julgado por qualquer ato que tenha praticado. Nunca o conseguiram. Daí que qualquer pessoa lúcida reconheça que deve ser posto em liberdade quanto antes e com os devidos pedidos de desculpa.

    Talvez por isso Carlos Alexandre esteja agora tão crítico em relação ao que ele diz que lhe tem vindo a suceder, sem saber porquê. Diz que está a ser maltratado por gente que desconhece. E começa a estar um pouco nervoso na sua vaidade. O melhor para todos seria que libertasse quanto antes José Sócrates e lhe apresentasse as devidas desculpas. (…)»

Acerca da dispersão de votos por várias alternativas

• Manuel Caldeira Cabral, Reino Unido: riscos, surpresas e lição dos resultados eleitorais:
    «(…) Que lições tirar destes resultados? O que é que estes podem dizer sobre o que vai acontecer noutros países, como Espanha e Portugal?

    Poucas lições se podem tirar. As circunstâncias económicas são muito diferentes. O Reino Unido tem um dos mais baixos desempregos da UE. Espanha e Portugal são dois dos países com maior nível de desemprego, e os resultados dependeram muito do sistema eleitoral inglês, muito diferente do de Portugal e Espanha No entanto, é importante salientar que o resultado desta eleição se deveu ao facto de os trabalhistas não terem conseguido conquistar mais do que uma pequena parte dos 15% que o Partido liberal perdeu. Foi isto que permitiu aos conservadores ganhar e ter maioria. Nesse sentido, o que aconteceu em Inglaterra pode ser um aviso para as eleições que se seguem em Espanha e mesmo em Portugal. A dispersão de votos por várias alternativas e movimentos teve como resultado que, mesmo num quadro de diminuição dos votos dos partidos que apoiavam o governo, se garantiu a manutenção da mesma política e dos mesmos conservadores no poder.»

domingo, maio 10, 2015

O PS, ao contrário dos camones,
resolveu a tempo os seus problemas


Passos Coelho foi o primeiro a cometer o disparate de procurar cavalgar a vitória dos conservadores. Só é convencido o pessoal do circuito da carne assada. Depois, vieram os seus anjos da guarda na blogosfera — por exemplo, um historiador amigo do Estado Novo e um discípulo do prof. Espada — enquadrar a declaração do alegado primeiro-ministro, afirmando que a derrota do Partido Trabalhista se ficou a dever ao seu radicalismo (de esquerda) e ao discurso contra a austeridade.

Este spinning da direita é manifestamente falso. A ter havido algo do género foi exactamente o oposto. Com efeito, o Partido Trabalhista nunca ousou dizer uma coisa muito simples (e que traduzia o que efectivamente aconteceu):
    • A economia do Reino Unido estava a crescer quando os trabalhistas perderam as anteriores eleições;
    • A economia caiu a pique quando David Cameron fez o front-loading (como aconteceu por cá); e
    • A economia começou a crescer quando os conservadores suspenderam a austeridade.

O Partido Trabalhista não só nunca denunciou esta política como assumiu a retoma como um corolário lógico da estratégia adoptada. Ed Miliband assumiu globalmente o discurso da austeridade e não tinha nada a oferecer a não ser umas propostas fofinhas para se distinguir de Cameron.

Aliás, o tema central da campanha de Ed Miliband era a «better prosperity». Ou seja, a «prosperity» estava aí, fruto do excelente trabalho de Cameron, não tendo Miliband que se maçar demasiado. Bastava-lhe dar um cariz mais humanista às propostas que viesse a apresentar.

Clique na imagem para a ampliar

Não é certamente por acaso que João Ribeiro, o secretário nacional de António José Seguro para as Relações Internacionais, glorificou o partido de Miliband: «Quando olhamos para o panorama europeu, o PS afirma-se como o partido de centro esquerda com maior expressão, com excepção do Labour no Reino Unido (razões que merecerão um debate interessante...).» [Um copo a encher, in i, 10.01.2013]

Sem papas na língua, o ex-secretário nacional —, num outro artigo, intitulado Seguro salvou o PS [i, 14.02.2013] — antevia que os «socialistas europeus», com a tal excepção do Labour no Reino Unido, «nunca "descolarão nas sondagens"», porque lhes falta «compreender» que se mantêm amarrados a uma «agenda conservadora sem sentido da história»:
    «A escolha histórica que se impõe aos socialistas europeus é clara; ou persistem exclusivamente na defesa dos sectores mais tradicionais do Estado Social de sucesso que construíram, com uma agenda conservadora sem sentido da história; ou congregam essa defesa com uma nova agenda de modernidade que, sem abandonar políticas abrangentes e colectivas de emancipação para largas franjas da população ainda em necessidade, abraça uma realidade de serviço público multidimensional, mais flexível aos interesses criticamente apreendidos por uma nova geração de cidadãos autónomos (produto do Estado Social), sem comprometer a igualdade de oportunidades, a solidariedade inclusiva e uma efectiva redistribuição de riqueza.»

Tocado por esta «nova agenda de modernidade», não surpreende que João Ribeiro se vangloriasse de que Seguro «liderou o PS na votação do Tratado Orçamental, sendo o primeiro partido de centro esquerda europeu a fazê-lo, comprovando o seu empenho com os compromissos internacionais e com o rigor orçamental.» [i, 10.01.2013]

Neste contexto, a direita tem razão para estar preocupada: o PS, ao contrário dos camones, resolveu a tempo os seus problemas.

sexta-feira, maio 08, 2015

O destino marca a hora


Conhecidos os resultados das eleições na Grã-Bretanha, o pantomineiro-mor não perdeu tempo para se agarrar aos fundilhos de David Cameron, deixando subentendido que a situação em que está é similar à que deu a vitória ao «colega inglês» [sic]. Acontece que não é. Veja-se:

1. A economia britânica cresceu a um ritmo mais rápido no final de 2014 do que o estimado. Um crescimento impulsionado pelo aumento das exportações e do orçamento anual familiar, o mais elevado em mais de quatro anos. Com efeito, o PIB cresceu 2,8%, como já não acontecia desde 2006.

Há cerca de um mês, Angus Campbell, analista da FX Pro, resumia a situação nestes termos: «O quadro geral e as perspectivas económicas para o Reino Unido ainda parecem relativamente cor-de-rosa. O desemprego está a cair, os salários a subir. Isso deve manter a confiança do consumidor bastante forte nos próximos meses».

A verdade é que nem a asfixia democrática chega para dissimular o estado em que se encontra a sociedade portuguesa: um crescimento anémico da economia que não impede que o desemprego volte a aumentar; uma dívida que não pára de crescer; um orçamento do Estado que, apesar das sucessivas doses de austeridade, não evita o procedimento da Comissão Europeia por défice excessivo; um agravamento indecoroso da pobreza e das desigualdades.

2. Ao longo do tempo, os estudos de opinião mostraram que os eleitores preferiam David Cameron a Ed Milliband. Em Portugal, acontece exactamente o oposto: em todas as sondagens, os portugueses vêm indicando que preferem António Costa a Passos Coelho, que, de resto, se vai afundando à medida que o tempo passa.

Acresce que António Costa revelou — com o documento dos 12 economistas — que há alternativas, no quadro europeu, à política austeritária de «ir além da troika». Uma política que serviu para uma enorme transferência de recursos do trabalho para o capital, mas que falhou os próprios objectivos a que se comprometera.

Em consequência, o que a direita de Passos & Portas tem para oferecer para a próxima legislatura, de acordo com o Programa de Estabilidade enviado para Bruxelas, é mais do mesmo: cortes para os pensionistas (salvo para as de montante mais elevado) e funcionários públicos, manutenção do «enorme aumento de impostos» para as famílias (com a garantia de que para as grandes empresas a tributação continuará a baixar), redução dos apoios sociais e asfixia progressiva do SNS.

A tentativa de se colar a Cameron denuncia que o alegado primeiro-ministro está em pânico. A pose de vendedor do elixir da longa vida esconde o pavor da aproximação da data do ajuste de contas.

quarta-feira, março 18, 2015

Também tu, Osborne?


    «The shabby truth, however, is that the success of Mr Osborne stems from the goals he has abandoned, rather than the guns he has stuck to. And next week, unless his budget plans are more apt, Britain risks paying a heavy price.»

domingo, março 15, 2015

terça-feira, outubro 07, 2014

A bênção de Belém

Num debate com Manuel Alegre que antecedeu as eleições presidenciais, Cavaco Silva, numa alusão à gestão do BPN, afirmou que o seu modelo de gestor bancário era António Horta Osório. Poderia ter citado Oliveira Costa, mas este gestor que tinha o condão de fazer brotar mais-valias instantâneas já não fez parte da comissão de honra da recandidatura de Cavaco, ao contrário de Horta Osório.

Cavaco Silva veio depois afirmar que fora mal interpretado, pois apenas estava pasmado com a circunstância de que «em Inglaterra ocorreram recuperações rápidas de grandes prejuízos».

Um mês depois, a imprensa deu conhecimento de que Horta Osório se socorria de métodos heterodoxos na gestão bancária. Mas, nessa altura, já Cavaco Silva preparava o discurso que iria dar o sinal verde para o chumbo do PEC IV e para o derrube do governo anterior.

Entretanto, sempre que se ouve falar de António Horta Osório, é porque vai haver novos despedimentos no Lloyds Bank, como se pode ver aqui ou aqui. Estes métodos de gestão podem agradar a Belém, mas é de supor que possam não agradar aos bancários portugueses.

terça-feira, julho 29, 2014

Afectos

• Ferreira Fernandes, Afetos tirados a ferrinhos:
    «(…) É natural que qualquer político que vá a votos necessite dessa tal empatia, a habilidade de parecer que sente a situação das pessoas e de se mostrar capaz de se pôr na posição e nas perspetivas dos outros. Ronald Reagan era mestre na matéria - por alguma razão era um ex-ator. Ed Miliband é um político preparadíssimo, desde a escola (Oxford, London School of Economics, Harvard...) até cargos governamentais e parlamentares - falha-lhe, ao que diz o atual debate, é a empatia. Sorte a dos socialistas britânicos. O líder da oposição portuguesa, o socialista António José Seguro, a quem falha quase tudo, tem um problema mais grave: quer ter empatia a mais. Confunde-a com uma sobredose de afetos (tirados a ferrinhos) que incomoda quem lhe sofre as intervenções públicas. É urgente que lhe encontrem um guru.»

domingo, janeiro 19, 2014

“A supply-side voodoo and ideological convergence”


É de leitura obrigatória o artigo de Wolfgang Münchau no Financial Times: The real scandal is France’s stagnant economic thinking. Münchau desfaz Hollande. Em suma: é um presidente zombie que decidiu aderir a um pensamento zombie (lei de say). Quando Münchau, que não é de esquerda, diz isto, algo de muito trágico se passa com a social-democracia.

Creio que o Diário Económico costuma publicar os artigos de Münchau (à terça-feira). Se não o fizer, procurarei reproduzir alguns extractos.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

A segunda condenação de Turing e de mais 50 mil


Parece que o logótipo da Apple recorda a forma como Alan Turing se suicidou. Teve muita sorte: Isabel II concedeu-lhe, cerca de 60 anos após a sua morte, o perdão porque era um “homem excepcional”. Há outros 50 mil no Reino Unido que não foram homens excepcionais.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Às ramas, às ramas

• Fernanda Câncio, Às ramas, às ramas:
    ‘Como ouso comparar Cavaco a Mandela, perguntar-me-ão. Ora bem: Cavaco, no lugar de Mandela, teria feito muito melhor. Teria sido, explica-nos ele na sua Autobiografia Política, "cauteloso". Como exemplifica na posição que tomou, enquanto primeiro-ministro de Portugal, quando em 1987 se apresentaram na ONU várias resoluções contra a África do Sul: vota, ao lado dos EUA de Reagan e do Reino Unido de Thatcher, contra as sanções económicas, contra a condenação do auxílio militar de Israel ao governo do apartheid e contra a libertação de Mandela numa resolução, votando a favor noutra. A distinção, explicou o atual PR nesta semana, deveu-se ao facto de a primeira resolução defender o direito do povo sul-africano à luta armada, enquanto ele considerava que o "desmantelamento do apartheid" deveria ocorrer "por meios pacíficos, devendo as autoridades de Pretória abrir o diálogo com os representantes da comunidade negra". Muito melhor do que andar aos tiros, com o risco de magoar alguém ou partir alguma coisa, ou até recorrer ao exagero das sanções económicas. Fazia-se cara feia, dizia-se "racista mau, racista feio", e era esperar que eles caíssem neles.

    Quando Cameron pede desculpa pela posição do seu país no passado (Obama não precisa, é Obama), Cavaco, admirável de coerência, mantém a sua: luta armada nem pensar; quem o critica é porque "não conheceu Mandela". Ele, que o conheceu, pode ter pedido a libertação de um homem condenado pela luta armada condenando a luta armada. Pode presidir às celebrações do golpe militar (armado) do 25 de Abril, até jurar defender uma Constituição que defende "o direito dos povos à insurreição [armada] contra todas as formas de opressão". Ok. Mas e A Portuguesa? Às armas, às armas? Não podemos fazer isto a um pacifista irrevogável. Mude-se o hino, já. Ou o Presidente.’

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Britânicos de cabelos em pé com o custo das escolas privadas

O programa lançado por David Cameron: Too far, too fast: Free schools are costing £1.1bn – twice as much as planned. A análise do National Audit Office (a instituição equivalente ao Tribunal de Contas português) está aqui.

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Política internacional? Sim, temos, a de Reagan e Thatcher

• Daniel Oliveira, Ainda os votos de Portugal na ONU :
    ‘A legitimidade do uso das armas para impor a democracia e erradicar um regime ilegítimo não é matéria de discussão e é improvável que Portugal a pusesse em causa. A nossa democracia foi imposta pelo uso das armas e apoiámos, no período logo a seguir, o direito dos timorenses a usarem a resistência armada. O que corresponde, aliás, ao que se pode ler na nossa Constituição, relativa às relações internacionais, onde Portugal reconhece o direito dos povos "à insurreição contra todas as formas de opressão". Se assim não fosse, Portugal seria o primeiro país radicalmente pacifista à face da terra, que negava o uso da força armada para impor a democracia e um poder legitimo. A posição constante naquela moção é a genericamente aceite em todos os casos semelhantes e foi, aliás, aquela que a ONU adoptou em relação a todos os países colonizados, por exemplo. Não é por acaso que a posição portuguesa foi tão minoritária naquele voto.

    Mas para provar a falta de validade deste argumento não precisamos de tanto debate. Basta olhar para as restantes votações desse mesmo dia. Portugal não votou apenas contra a resolução "A", mas também contra as resoluções "C" (que apelava a vários países, incluindo os EUA e o Reino Unido, a apoiarem as sanções) e "D" (que apelava ao fim da colaboração militar entre Israel e o regime sul-africano). E absteve-se nas resoluções "B" (que reafirmava e especificava sanções à África do Sul), "E" (que solicitava financiamento para o Comité Especial Contra o Apartheid) e "F" (que reforçava as medidas para o embargo de petróleo ao regime sul-africano). Das sete resoluções votadas nesse dia, Portugal apenas aprovou uma. E nenhuma das outras cinco resoluções que não contaram com o seu apoio fazia qualquer referência a qualquer tipo de luta armada.’

sexta-feira, dezembro 06, 2013

No ADN do PSD


Há momentos na política internacional em que não é possível não escolher um dos lados em confronto: ou o Governo está do lado dos opressores ou está do lado dos oprimidos; ou está ao lado dos agressores ou está ao lado dos agredidos. As passagens do PSD pelo poder mostram que a direita portuguesa escolheu sempre o lado errado da História. Aconteceu com Cavaco Silva, voltou a acontecer com Durão Barroso e, na hora actual, a vergonhosa opção repete-se com Passos Coelho.

Na época em que alguns julgavam que o regime de vilões que governava a África do Sul ainda estava para durar, os Estados Unidos da América (o de Reagan), o Reino Unido (o de Thatcher) e Portugal (o do primeiro-ministro Cavaco Silva) foram os únicos países que votaram contra a resolução 42/23A, aprovada pela Assembleia Geral da Nações Unidas em 1987, a defender o fim do apartheid e a libertação imediata e incondicional de Nelson Mandela. Perante o clamor que a recordação deste caso suscitou, Cavaco Silva mandou hoje dizer que Portugal votou contra, porque o ponto 2 da citada resolução poderia ser um “incentivo à violência”, preferindo o governo português “encorajar o diálogo”.

A verdade é que a política então seguida pelo governos de Cavaco fugiu sempre a confrontar o regime de vilões que governava a África do Sul, como o exemplifica Ana Gomes (que então exercia funções em Genebra, na Missão da ONU): “Lembro-me de um episódio em 1989, quando tínhamos uma resolução sobre as crianças vítimas do apartheid apresentada pelo grupo africano. Vergonhosamente, tivemos instruções para votar com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, numa posição contrária a essa resolução”. Ora, uma resolução sobre as crianças vítimas do apartheid não parece conter nenhum “incentivo à violência”, para fazer alusão à esfarrapada desculpa que Cavaco Silva hoje deu à TSF.

Com Durão Barroso como primeiro-ministro, assistimos ao vexatório episódio das Lajes. E com Passos Coelho como alegado primeiro-ministro, vemos um governo que se comporta como se fosse uma delegação de Berlim em Lisboa. Não se encontram grandes alterações na postura do PSD ao longo dos tempos. O ADN, com as suas instruções genéticas, é tramado.

domingo, agosto 25, 2013

Austeridade: parar de escavar o buraco ou fazê-lo mais devagar?


A posição sustentada aqui por João Ribeiro traduz as hesitações que a esquerda europeia tem revelado. Uma situação semelhante ocorre no Reino Unido e é excelentemente retratada por Robert Skidelsky num artigo intitulado Nonsense Economics:
    “In practice, the effect of deficit reduction policies depends not on the actual cuts made, but on the effect of these cuts on the level of economic activity. Spending cuts will not reduce the deficit if it reduces the economy at the same time, because the economy is the source of the government's revenues. Over the last two years, the government has taken about £100bn out of the economy in spending cuts and tax increases but there has been no reduction in the deficit as a percentage of GDP. This is because austerity has weakened the economy by just enough to nullify the fiscal ‘consolidation’.”

Neste contexto, seria assim tão difícil a João Ribeiro responder a Martim Silva que o PS fala tão pouco de cortes na despesa porque discorda que isso corresponda ao interesse do país — e que, ao contrário do consenso (pavloviano) nacional que a direita está a tentar construir, o PS não quer aproveitar esta crise — a política de “ir além da troika” — para desmantelar o Estado social?

É pela aceitação de posições como esta que a esquerda europeia está em crise — porque não está a revelar ser capaz de defender aquilo em que acredita nem de assumir uma estratégia que se distinga das políticas que a direita adoptou. No fundo, como acontece na entrevista de João Ribeiro ao Expresso, a esquerda europeia tem-se mostrado lacónica e evasiva quando questionada sobre a austeridade e, se pressionada a esclarecer a sua posição, confessa dispor-se a adoptar uma versão soft das políticas da direita.

Por isso, João Ribeiro parece ter acabado de chegar de Marte quando sustenta que “a direita europeia no seu todo está a roubar o discurso ao centro-esquerda”: