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quinta-feira, dezembro 03, 2015

O fantasma de Cavaco Silva


• Daniel Oliveira, O fantasma de Cavaco Silva:
    «(…) No seu último discurso politicamente relevante, há uma semana, Cavaco citou-se a si próprio para que os outros reconhecessem nas suas palavras a autoridade política que não consegue ter, ameaçou o governo que entrou em funções sabendo-se que dificilmente poderá fazer mais do que se mostrar contrariado e exibiu a sua costumeira falta de aprumo institucional. Um bom resumo do que Cavaco Silva é hoje: autorreferencial, incapaz de compreender os limites do seu poder, rancoroso e ressentido, imaginando-se sempre com uma maior influência política do que tem e sempre a pensar na posteridade. Cavaco já foi o português mais poderoso. Não o é há muito e ou não o sabe ou não se conforma. Cavaco Silva passeia-se pelo Palácio de Belém, rodeado das glórias do seu passado, dando ordens inúteis a um país onde foi, mas já não é, senhor incontestado. Cavaco é hoje uma representação anacrónica do cavaquismo.»

quarta-feira, junho 10, 2015

Porque Sócrates não verga

• Daniel Oliveira, Porque Sócrates não verga:
    «(…) Privado da sua liberdade, Sócrates não pode decidir grande coisa. Mas a lei permite-lhe recusar a pulseira eletrónica. E perante a possibilidade de fazer uma escolha, o ex-primeiro-ministro quis deixar clara a sua resistência ativa a esta prisão. Mandar Sócrates para casa com uma pulseira eletrónica era a única forma de, sem dar a torcer, reduzir a pressão pública para a apresentação de uma acusação formal. Mas José Sócrates não está disposto a facilitar a vida aos investigadores. E, nesta matéria, faz muito bem. Quem, ao fim de meio ano, continua a não ter uma acusação para apresentar, tem de permitir que o arguido espere em liberdade. Não se prende para investigar, investiga-se para julgar.

    A escolha que Sócrates fez é óbvia. Mas muitíssimo dura. Ela retrata a personalidade do ex-primeiro-ministro. Se é verdade que, como todos sempre souberam, ele se alimenta do combate e do conflito, decidir continuar a viver numa cela não é para qualquer um. Revela coragem. O que obriga as pessoas, independentemente das suas convicções sobre a culpa ou inocência de Sócrates, a reconhecer-lhe pelo menos essa qualidade. Só os maniqueístas, que não compreendem como todos os humanos são muitas coisas ao mesmo tempo, é que ainda não tinham dado por isso.»

quarta-feira, abril 29, 2015

Pires de Lima, o politiqueiro das taxinhas

• Daniel Oliveira, Pires de Lima, o politiqueiro das taxinhas [originalmente no Expresso Diário]:
    «(…) Este tipo de taxas, que existem, e com valores muitíssimo mais altos, em imensas cidades com grande afluência de turistas, é não só aceitável como recomendável. A alternativa é pôr os munícipes de Lisboa a pagar, sem apoio das empresas que mais lucram com o turismo, os custos públicos desta atividade. A atividade turística, que beneficiou, entre outras coisas, da trágica crise portuguesa, que reduziu os custos dos serviços, aguenta perfeitamente uma taxa com efeitos marginais. Na realidade, a ANA aguentou e nem se queixou.

    Perante esta proposta, o ministro Pires de Lima foi insistente no ataque ao que chamou, numa performance viral, de “taxas e taxinhas”. E voltou vezes sem conta ao tema. Sempre que lhe deram oportunidade para o fazer, na realidade. Segundo o ministro da Economia, estas taxas eram um ataque à nossa principal atividade exportadora em crescimento rápido: o turismo. O que não deixa de ser hilariante, quando é dito por um membro de um governo que atirou o IVA, incluindo o da restauração, para a estratosfera. A esta crítica, Pires de Lima responde que o seu ministério não criou taxas ou aumentou impostos. Como se o governo fosse uma manta de retalhos e não um único órgão político.

    Recentemente, Rui Moreira não descartou a possibilidade do Porto seguir o exemplo de Lisboa. Explicou, numa entrevista ao “Jornal de Notícias”, que a coisa existe noutras cidades e tem como função cobrir o “impacto da pegada turística”, que representa uma enorme sobrecarga nas infraestruturas urbanas. O presidente da Câmara Municipal do Porto apenas quer ver como a coisa corre na capital.

    Perante isto, foi, na altura, pedida uma reação a Pires de Lima, que fez da guerra às taxas para o turismo, em Lisboa, uma autêntica cruzada. E, extraordinariamente, a resposta foi lacónica: “não quero fazer comentários”. As taxas deixaram de o indignar. Como a política deve ser uma coisa séria, Pires de Lima tem de explicar a razão para ter passado da gritaria histérica para o silêncio absoluto. Ou passou a concordar com as taxas e taxinhas e devia dividir essa sua conversão com o povo; ou as taxas são más em Lisboa e indiferentes no Porto; ou elas eram importantes porque estavam a ser propostas pelo líder do principal partido da oposição e deixaram de ser importantes quando foram propostas por um autarca independente eleito com o apoio do partido do ministro da Economia. Com todas as discordâncias que tenho com Pires de Lima, achava, antes dele ser ministro, que era intelectualmente honesto. Este e outros episódios acabaram por revelar o pior dos politiqueiros.»

sexta-feira, março 13, 2015

Da Justiça


• Daniel Oliveira, ontem no Expresso Diário, reproduzido por Estátua de Sal:
    «A coisa foi publicada numa revista da imprensa cor de rosa. Infelizmente não a vi saltar ainda para a jornalismo sério, para que a devida investigação seja feita. Haverá uma página fechada de Facebook onde procuradores e juízes trocam opiniões acaloradas sobre a atualidade. E ler os excertos da coisa deixa qualquer cidadão em pânico. A propósito de José Sócrates escrevem-se coisas dignas de caixas de comentários de tablóides, fazem-se ameaças e exibe-se a ideia de que há um “nós” e um “eles”. Nesta página podem ler-se pérolas como estas:
      “Não se esqueçam que o PS vai para o governo e aí é que vamos ver... Estão ansiosos para nos por a pata no pescoço... Daí que quem estiver na ASJP ou no SMMP [sindicatos de juízes e procuradores] tem de ter a força suficiente para os bloquear.”

      “Que rodopio na cadeia de Évora... Estão todos com o rabo preso???? Dizem que quem lá vai são os entalados do regime. Se assim é, ainda a procissão vai no adro. Dizem que saem de lá todos satisfeitos. Talvez por se sentirem aliviados... por enquanto lol...”

      “Por estas e por outras eu tenho licença de uso e porte... nunca posso ter uma arma porque em dias como estes iam Claras Ferreiras Alves, Sousas Tavares e no Rato ficava só a porteira...”

    Já nem falo da boçalidade. É tenebroso pensar que pessoas que usam este estilo em comentários de facebook possam investigar e julgar pessoas. Possam ouvir as suas conversas, remexer nas suas vidas. Possam prendê-las. Vou partir do princípio que isto é uma pequena minoria de alarves que não representam uma classe. Mas havendo nestas frases, que entretanto foram tornadas públicas, sinais de crimes graves e sendo evidente ao lê-los que há magistrados sem qualquer capacidade ética para ocupar esse cargo, já foi feita, depois desta notícia sair, alguma investigação? Há processos disciplinares a correr? Podemos mesmo ser acusados ou julgados por alguém que escreve, numa página frequentada por agentes de justiça, que matava dois comentadores e todos os dirigentes de um partido? (…)»

sexta-feira, janeiro 30, 2015

A crise nas urgências é política

• Daniel Oliveira, A crise nas urgências é política:
    «(…) Paulo Macedo aceitou participar num governo que não tem, nas contas que faz, a saúde como prioridade. E aceitou gerir o emagrecimento do Serviço Nacional de Saúde até limites insustentáveis. É por isso politicamente responsável pelos efeitos dramáticos dessa escolha política. Pode ter feito esse emagrecimento de forma mais profissional do que fez o ministro da Educação ou do que outro faria. Mas as suas responsabilidades políticas não são menores por isso. Na realidade, até se pode dizer que são maiores. Ele tinha obrigação de prever os efeitos das decisões que tomou. E por isso que se torna ainda mais insuportável vê-lo tentar justificar o injustificável, como se um Inverno e uma gripe fossem uma catástrofe imprevisível.»