Anda por aí uma incompreensível algazarra enquanto se aguarda a decisão de Cavaco Silva. Ora, se há matéria em que a doutrina cavaquista é clara e transparente, é exactamente a que respeita à sua posição sobre a constituição dos governos.
Com efeito, Cavaco Silva avisou os portugueses, em devido tempo, de que não estava no seu horizonte a opção por governos de iniciativa presidencial. Invocando a revisão constitucional de 1982 para lembrar que, desde então, os governos respondem perante, e só, a Assembleia da República, Cavaco Silva sublinhou que «não faz qualquer sentido» que, vinte anos depois, possa ser congeminado um governo indicado pelo chefe de Estado.
Acresce que, em vésperas das eleições legislativas, Cavaco Silva entendeu que um acordo de incidência parlamentar daria a estabilidade necessária e suficiente para assegurar a governabilidade de que o país carece: «Em Portugal, o compromisso [para a formação do Governo] pode também revestir a forma de acordo de incidência parlamentar».
Tendo em conta a doutrina exposta e defendida pelo Presidente da República, qual é a razão para esta algazarra dos diabos? Gritemos então em uníssono: somos todos Cavaco!