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terça-feira, novembro 17, 2015

Porquê?


Como quem vem a rebolar desgovernadamente por uma ladeira, Cavaco comporta-se, na hora actual, como um Miguel Relvas de terceira categoria: no arrebique, nos argumentos aduzidos, na falta de respeito por tudo e por todos.

Esta postura tem algo de surpreendente — e não é pela circunstância de o inquilino de Belém fazer o jogo da direita. Sempre o fez, ao ter-se revelado incapaz de saber interpretar o papel que cabe ao presidente da República.

Na verdade, o que surpreende é o facto de Cavaco, visto como alguém que, em última instância, colocou sempre os seus interesses acima de tudo o mais, estar a actuar com tanta falta de pudor. Ao agir desta forma excessiva, parece estar manietado por Passos Coelho.

Daí a questão: que terá acontecido para que alguém que, ao longo da sua carreira, nem sequer hesitou em trucidar os mais próximos para manter intacta a sua imagem se deixe manipular como uma marioneta às mãos do pantomineiro-mor, sabendo que assim vai abandonar Belém como um autêntico farrapo?

sexta-feira, outubro 30, 2015

Sem sombra de pecado

• António Guerreiro, Sem sombra de pecado:
    «Sobre Miguel Relvas, não me vem nada à mente. Mas, tendo deparado há uma semana com um artigo dele neste jornal (servia-lhe de título um decorativo quiasmo: Entre a força da razão e a razão da força), fui levado ao exercício ocioso de tentar perceber esta reaparição. Segundo os preceitos de uma moral antiga e dos códigos não escritos daquilo a que os franceses chamam bienséance, esta “figura” teria de expiar em silêncio a sua “culpa”, que não é nenhuma culpa trágica, mas é inibitória porque entra no território da vergonha, como acontece a quem fica nu numa praça pública. Mas a salvação que dantes se obtinha pela retirada obtém-se agora pela exposição mediática. A mediocracia e o clero que a governa têm um poder amnésico e de branqueamento. Miguel Relvas pode ter passado de fugida pela universidade, mas, como muitos dos seus pares, aprendeu por observação directa que o mundo separado e organizado através dos media, a que Guy Debord chamou “espectáculo”, funciona de acordo com esta regra: “O que aparece é bom, o que é bom aparece”. Ele sabe que para reconquistar a bondade, para obter a reparação com toda a leveza, só precisa de aparecer ostensivamente. (…)»

quarta-feira, outubro 21, 2015

O passismo no muro das lamentações


Depois da demissão do Dr. Relvas em Abril de 2013, Passos Coelho não voltou a ser o mesmo. O estilo, a um tempo tosco e deslumbrado, alarve e estarola, perdeu brilho. Por isso o ano de 2012 foi o período mais fecundo do passismo. A par do «enorme aumento de impostos», dos cortes sem rei nem roque e do assalto ao pote, a escolha do Dr. Relvas para prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé marca indelevelmente o defunto consulado de Passos Coelho.

Foi neste período que Passos convidou os portugueses a serem «menos piegas» ou a verem no desemprego «uma oportunidade para mudar de vida». Havia, disse ele então, que assumir uma «cultura de risco». A 4 de Outubro, após o segundo pior resultado de sempre da direita, os portugueses impõem a Passos Coelho que ponha em prática o que andou a pregar. Parece fácil, não?

sexta-feira, setembro 11, 2015

Asfixia democrática: caso prático


O Governo já não emprega os métodos animalescos do Dr. Relvas: safanões a jornalistas da TVI ou ameaças a jornalistas do Público. Depois de um início algo atribulado em 2011, os estarolas aprenderam a socorrer-se de métodos mais sofisticados para aplicar a asfixia democrática.

Uma entrevista de Rui Reininho e Tóli César Machado na última edição da Blitz ajuda a perceber como se calam as vozes incómodas. Como o vocalista dos GNR explica, até o inofensivo rock sofre represálias — o que mostra a extensão do cerco montado — se aparecer desalinhado da nova normalidade:
Blitz, Lisboa, n.º 11, Setembro de 2015, pp. 6-10

segunda-feira, julho 06, 2015

Durão Barroso, o amnésico

— Pedro, Rio? E eu?

• João Galamba, Durão Barroso, o amnésico:
    «Durão Barroso, não contente em participar na despudorada e algo obscena operação de recauchutagem política de Miguel Relvas, também decidiu dar o seu valioso contributo para o processo de rescrita da história em curso. Aparentemente, o mesmo Durão Barroso que, em 2010, em 2011, em 2012, em 2013 e em 2014 sempre disse que Portugal não era a Grécia, vem agora, a três meses das eleições, dizer que, afinal, Portugal só não é a Grécia por obra e graça da determinação e firmeza de Passos Coelho.

    Não sei se estão recordados, mas, para além de ter passado os últimos cinco anos a dizer que Portugal não era a Grécia, Durão Barroso, antes da entrada da ‘troika' em Portugal, empenhou-se mesmo em dizer que Portugal não só não era a Grécia como, também, não seria a Irlanda. E não seria nem a Grécia nem a Irlanda porque, ao contrário destes dois países, Portugal não seria intervencionado pela ‘troika'.

    Havia um acordo, no qual o próprio Durão Barroso, na qualidade de presidente da Comissão Europeia, se empenhou, que envolvia Portugal, a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Banco Central Europeu e que visava impedir um terceiro resgate a um país da zona euro. O empenho de Durão Barroso no chamado PEC 4 foi público, bem como todas as tentativas de evitar que a oposição, e em particular Passos Coelho, não inviabilizassem o acordo que o Governo português e as instituições europeias, bem ou mal, consideravam suficiente para evitar a vinda da ‘troika'.

    Todos sabemos o que se passou. Passos Coelho, forçado a escolher entre os interesses do seu país e os interesses do seu partido, escolheu os segundos, tirou o tapete ao país e empurrou Portugal para a ajuda externa. Tudo isto com a oposição (pública) de Durão Barroso (e de outros líderes europeus). Por essa razão, se há algo que a determinação de Passos conseguiu foi mesmo dinamitar a possibilidade de esse acordo ser bem sucedido.

    Apesar de Portugal ser empurrado para o programa da ‘troika' pela irresponsabilidade de Passos Coelho, Durão Barroso continuou a dizer que, ainda assim, a Grécia era um caso singular. Não só a Grécia tinha um défice e uma dívida pública muito maiores que Portugal, não só o programa grego era significativamente mais duro que o nosso, como o nosso sector exportador já era bastante mais robusto e pujante que o grego, o que atenuou os efeitos da recessão. Portugal, ao contrário da Grécia, nunca teve quedas do PIB de 7% ao ano, nem o PIB português caiu 30% nos últimos quatro anos. Mas não foi certamente por obra e graça de Passos Coelho que isso aconteceu.

    Para além das diferenças que sempre existiram entre os dois casos, se há algo que explica que o caso português não tenha sido tão trágico como o grego é que, na Grécia, não houve Tribunal Constitucional a travar as loucuras austeritárias do governo e da ‘troika'. Se olharmos apenas para o ano de 2012, o ano em que o governo de Passos decidiu ir muito além da ‘troika' e aplicar a tese (grega) da austeridade expansionista, a economia portuguesa colapsou. Não tanto como a grega, é certo, mas foi o ano em que Portugal mais se aproximou dos gregos, com o PIB a cair 4% e com a destruição de 200 mil empregos. Essa loucura foi travada, mas não por Passos, para quem os cortes deviam ser aprofundados, como constava do seu alucinado plano de corte de quatro mil milhões de euros em salários e prestações sociais, anunciado em outubro de 2012 e reafirmado, depois, em abril de 2013. Se a despesa primária grega caiu 30%, a portuguesa, depois de uma queda de cerca de 9% em 2012, com a intervenção do Tribunal Constitucional, a situação mudou radicalmente e Passos Coelho foi obrigado a recuar em parte dos cortes e a devolver rendimento aos portugueses. Ou seja, se não tivemos outro ano igual ao de 2012, não foi seguramente porque Passos não quis; foi o oposto: foi porque não o deixaram.

    É uma pena que Durão Barroso tenha sido atacado pelo vírus dos mitos urbanos e se dedique, sem qualquer pudor ou respeito por quem o ouve, à prática da rescrita da história. É sabido que Durão Barroso ainda acalenta esperanças de ser apoiado por Passos Coelho para Belém. Mas, em política, não vale tudo.»

sexta-feira, junho 05, 2015

«Não lançaremos a privatização
a poucos meses das eleições legislativas»
[Pires de Lima, a 19 de Julho de 2014]


• Pedro Sousa Carvalho, Quem está a ganhar com esta privatização da TAP?:
    “Não lançaremos a privatização a poucos meses das eleições legislativas.” Palavra de Pires de Lima. Uma promessa feita ao jornal Expresso no dia 19 de Julho de 2014, a propósito da venda da TAP. Estamos a poucos meses das eleições, até já se conhecem os programas eleitorais, e o Governo está a privatizar a TAP. Usando uma expressão do próprio ministro da Economia, o Governo já deu “corda aos sapatos” e nada parece travar a intenção de vender a TAP, custe o custar. Mesmo que não custe nada. Mesmo que a companhia de bandeira nacional seja vendida por um vintém.

    A pressão e a dramatização que colocou na venda da TAP é tal que o Governo deixou pouca ou nenhuma margem de recuo para abortar a operação, mesmo que as propostas de Germán Efromovich e de David Neeleman sejam más e lesivas para o interesse do Estado. Mesmo que a credibilidade de alguns dos candidatos deixe muito a desejar. Há uma pressão enorme para vender a empresa antes da viragem do ciclo político. São escritórios de advogados, são consultores, são facilitadores de negócios, todos de mão estendida à espera dos honorários, das comissões, das avenças e dos success fee. O failure fee, se o negócio for ruinoso para o Estado, ficará para os contribuintes. Até há comentadores que opinam semanalmente sobre o negócio na TAP, e os escritórios onde trabalham estão ligados aos candidatos à compra.

    (…)

    Germán Efromovich há dois anos ganhou a privatização da TAP. Assumiu o compromisso de pagar 35 milhões de euros ao Estado, injectar 300 milhões na empresa e assumir dívida de mais de mil milhões de euros. Quando chegou a altura de passar o cheque ao Estado, disse que não tinha garantias bancárias. Um mau cartão-de-visita para quem pelos vistos não tinha um grande cartão de crédito. David Neeleman, que já tentou por três vezes colocar a sua empresa em bolsa e falhou, tem passaporte americano e brasileiro e, segundo as leis europeias, não pode comprar mais de 50% do capital da TAP. Como tal, Humberto Pedrosa, presidente da Barraqueiro, é quem aparece como líder do seu consórcio com 50,1% do capital. Esta tentativa pateta e tosca de contornar as regras europeias vai passar? Um destes dois senhores será o futuro dono da TAP. (…)»

quarta-feira, maio 06, 2015

A bandeira do PSD

— Ó Manel, eu não te dizia que o Pedro nunca te deixaria cair?

No dia em que se soube que a PJ está impedida de investigar Manuel Dias Loureiro no caso BPN, o alegado primeiro-ministro fez questão de voltar a elogiar o antigo braço direito de Cavaco Silva, desta feita em pleno debate quinzenal na Assembleia da República:
    «Com o que viu no mundo e com a experiência que adquiriu, sabe que não é por viver no interior que não podemos vencer na vida e ter negócios bem-sucedidos. Julgo que o Dr. Dias Loureiro também sabe disso e também sabe a generalidade dos portugueses.»
Manuel Dias Loureiro bem pode vir a ser a bandeira que faltava ao PSD nas próximas eleições para que não subsistam dúvidas de que no Outono serão submetidos aos portugueses dois projectos distintos. Ninguém se surpreenda se a palavra de ordem laranja na próxima campanha eleitoral for qualquer coisa como isto: «Se queremos vencer, podemos tomar o exemplo do grande Manuel Dias Loureiro.»

terça-feira, maio 05, 2015

Uma tecnoforma de estar na vida

No Diário de Notícias

Se já não era possível rasurar o retrato do «empresário português de sucesso» feito por Passos Coelho, a máquina de propaganda do PSD pôs em marcha os seus peões para procurar atenuar os estragos. O Expresso, por exemplo, foi ouvir Dias Loureiro, que se limitou a dizer que tinha abandonado há muito a política. Mas, do que se retém da comunicação social, a realidade é outra.

Com efeito, Dias Loureiro colaborou activamente para alçar os estarolas a São Bento, indiciando que, em momentos de aperto, Passos Coelho terá apelado ao aconselhamento do antigo braço direito de Cavaco Silva: — Chamem o Manel! Questionado sobre se Dias Loureiro estava entre os seus conselheiros, Passos Coelho não poderia ter sido mais esclarecedor: «Era o que me faltava, responder a inquéritos sobre as pessoas com quem me aconselho.»

O próprio Miguel Relvas nunca escondeu que Dias Loureiro é o seu «ídolo», tendo um lugar cativo no politburo de Passos Coelho — talvez aspecto mais relevante do que os encontros reservados em Miami ou os convites para as festas do 50.º aniversário do Dr. Relvas.

Essa ligação entre os estarolas e Dias Loureiro perdurou até aos dias de hoje — tendo merecido uma ou outra breve referência na comunicação social: «Por isso é relevante trazer à liça um facto que tem espantado os corredores da política em Lisboa - a de que Dias Loureiro é uma figura cada vez mais próxima e influenciadora das decisões do primeiro-ministro. Ora, com o currículo como o de Loureiro (figura atolada no escândalo BPN e na utilização de offshores como poucos), trata-se de um despudor total. Uma espécie de exibição de um poder despótico, sem controlo nem respeito pelos cidadãos.»

É, como dizia um leitor do CC, «uma tecnoforma de estar na vida».

sexta-feira, abril 24, 2015

PSD-Porto visto de dentro


Paulo Vieira da Silva foi secretário-geral da distrital do Porto do JSD. Foi também membro da comissão política da distrital do Porto do PSD. Ontem, num muito longo texto no Facebook, dá o seu testemunho sobre a vida e obra do homem que, na hora actual, dirige o PSD: MARCO ANTÓNIO COSTA - O “ALPINISTA POLITICO”, OS “SHM” [seus homens de mão] E A SUA “REDE”.

ADENDA: Ex-dirigente do PSD denuncia Marco António Costa à PJ e à PGR

domingo, abril 12, 2015

Anatomia e dissecação de um colossal falhanço


Em Anatomia e dissecação de um colossal falhanço, Nicolau Santos faz, na edição de ontem do Expresso, um breve balanço dos quatro anos de troika. Eis um excerto, podendo o artigo ser lido na íntegra aqui:
    «(…) 1. A 4 de abril, Angela Merkel elogia os esforços do Governo português para combater a crise, através de um novo plano de austeridade, o PEC 4. Com o apoio da chanceler alemã e do presidente da Comissão Europeia havia a real possibilidade de Portugal conseguir um resgate mais suave, idêntico ao que Espanha depois veio a ter. O primeiro-ministro, José Sócrates, dá conta ao líder da oposição, Pedro Passos Coelho, do que se passa. Este, pressionado pelo seu mentor e principal apoio partidário, Miguel Relvas, recusa-se a deixar passar o PEC 4, dizendo que não sabia de nada e que não apoiava novos sacrifícios. O seu objetivo é a queda do Governo e eleições antecipadas (ver o livro “Resgatados”, dos insuspeitos jornalistas David Dinis e Hugo Filipe Coelho). O Presidente da República, Cavaco Silva, faz um violento ataque ao Governo no seu discurso de posse, a 4 de abril, afirmando não haver espaço para mais austeridade. Os banqueiros em concertação pressionavam o ministro das Finanças. Teixeira dos Santos cede e coloca o primeiro-ministro perante o facto consumado, ao anunciar ao “Jornal de Negócios” que Portugal precisa de recorrer aos mecanismos de ajuda disponíveis. Sócrates é forçado a pedir a intervenção da troika. Merkel recebe a notícia com estupefação e irritação.

    2. O memorando de entendimento (MoU) é saudado por políticos alinhados com a futura maioria, por economistas de águas doces, por banqueiros cúpidos e por comentadores fundamentalistas e bastas vezes ignorantes, pois, segundo eles, por cá nunca ninguém conseguiria elaborar tal maravilha. Hoje, pegando nas projeções para a economia portuguesa contidas no MoU, é espantoso constatar a disparidade com o que aconteceu. Em vez de um ano de austeridade tivemos três. Em vez de uma recessão não superior a 4%, tivemos quase 8%. Em vez de um ajustamento em 2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo lado da receita, tivemos exatamente o contrário: uma austeridade de 23 mil milhões reduziu o défice orçamental em apenas 9 mil milhões. Em vez de um desemprego na casa dos 13%, ultrapassámos os 17%. Em vez de uma emigração que não estava prevista, vimos sair do país mais de 300 mil pessoas. E em vez da recuperação ser forte e assente nas exportações e no investimento, ela está a ser lenta e anémica, assentando nas exportações e no consumo interno. A única coisa que não falhou foi o regresso da República aos mercados. Mas tal seria possível sem as palavras do governador do BCE, Mario Draghi, no verão de 2013, ou sem o programa de compra de dívida pública dos países da zona euro? Alguém acredita que teríamos as atuais taxas de juro se não fosse isso, quando as agências de rating mantêm em lixo a nossa dívida pública? Só mesmo quem crê em contos de crianças. (…)»

sábado, março 07, 2015

Testemunha abonatória


Se é Miguel Relvas que o confirma ao Expresso, podemos ficar descansados.

segunda-feira, março 02, 2015

Há um tecto para o crescimento? Há, diz-nos o Maduro.


Poiares Maduro comportou-se como um meteorito na vida política portuguesa: apresentado como um estrangeirado que tinha a mais o que o Dr. Relvas tinha a menos, o ministro da propaganda esfumou-se com os briefs mal passados do Lomba. Agora, limita-se a fazer de vez em quando prova de vida. A Antena 1 (no sábado) e o Diário Económico (reproduzindo hoje a entrevista) deram-lhe a possibilidade de fazer essa necessária prova de vida.

A entrevista é um mero exercício de propaganda, não raras vezes assente em dados viciados. É pouco relevante. O que me chamou a atenção foram as seguintes palavras do ministro Maduro (ditas por volta do minuto 30) que o Diário Económico teve a gentileza de omitir:
    «Vamos em primeiro lugar às exportações, porque eu vi infelizmente alguns órgãos de comunicação social a passarem essa mensagem, que era: “O pior ano das exportações”. Até cheguei a ver este título: “O pior ano das exportações vi desde 2010”. Isso é um bocadinho o mesmo que um clube de futebol — que ganha um campeonato com dois pontos de avanço, depois ganha no ano seguinte com quatro pontos de avanço, depois ganha no ano subsequente com seis pontos de avanço e a seguir ganha com sete pontos de avanço — dizer [que n]o ano em que ganha com sete pontos de avanço é o pior de todos. Isso não faz qualquer sentido. Foi o ano em que nós ganhámos com sete pontos de avanço (o ano passado). É natural que, à medida que nós vamos crescendo, o ritmo de crescimento vá diminuindo. A dada altura, chegamos a 100 por cento e já não podemos crescer mais
É o grande contributo do ministro Maduro para ciência económica: estabelecer um limite máximo a partir do qual as exportações não podem crescer. O Dr. Relvas está perdoado.

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

«Limitações à emissão de publicidade – a RTP1 tem apenas acesso
a metade do tempo dos operadores comerciais
e a RTP2, como os canais de rádio, não a podem emitir…»


• Alberto Arons de Carvalho, Os desafios da RTP:
    «O processo de substituição do Conselho de Administração (CA) não beneficiou nada a imagem da RTP, já perturbada pela agonia em que a empresa foi mergulhada pelos erros de Relvas.

    A atribulada demissão do CA fez a RTP regressar aos tempos de instabilidade, quando muitos dos conselhos não chegavam ao fim dos seus mandatos. Recorde-se que, entre 1974 e 2002, a RTP teve 24 diferentes conselhos de administração, ou seja, praticamente, uma média de um por ano! As recentes alterações legais à regra da inamovibilidade dos gestores constituem um claro retrocesso.

    O novo CA defronta-se com os tradicionais desafios impostos à RTP: a definição da sua estratégia de conteúdos, a sustentação financeira, a garantia da sua independência e a valorização da sua estrutura multimédia.

    O mais difícil desafio da RTP, sobretudo do serviço público de televisão, consiste na conjugação entre a qualidade e o caráter distintivo da sua programação e a procura de uma maior audiência. O recente documento do CGI definindo as Linhas de Orientação Estratégica aponta como primeiro objetivo “a qualidade dos serviços que presta e, só depois, as audiências que conquista”. Discordo da desvalorização da luta pelas audiências! Não invoco apenas documentos de instâncias europeias que consideram legítima a procura de amplas audiências. A doutrina sobre o serviço público, expressa em dezenas de documentos de várias instâncias, desde a Comissão ao Parlamento Europeu, distancia claramente o conceito de serviço público europeu do vigente, por exemplo, nos EUA. Aqui sim, a oferta de conteúdos de serviço público é meramente complementar, para referir uma expressão sem dúvida equívoca e infeliz utilizada pelo futuro p residente da RTP em entrevista recente. Ora a RTP deve dirigir-se a todos os públicos e não pode limitar-se a difundir os conteúdos que os operadores comerciais não escolhem por opções económicas…

    A ambição de ter maiores audiências não tem necessariamente a ver com a obtenção de mais receitas publicitárias. As limitações à emissão de publicidade – a RTP1 tem apenas acesso a metade do tempo dos operadores comerciais e a RTP2, como os canais de rádio, não a podem emitir… – desvalorizam a relevância das suas receitas. Mais audiências representam, antes, mais legitimidade e uma acrescida influência social e cultural, imprescindíveis a um adequado desempenho do operador público. Entre 2013 e 2014, a RTP1 aumentou o seu share médio de 13,1 para 15,6, sendo o único dos quatro canais de acesso livre que o conseguiu subir. É verdade que a qualidade, a diversidade e a inovação, marcas imprescindíveis numa programação de serviço público, foram demasiadas vezes, no quadro de um forte desinvestimento em grelha, inaceitavelmente sacrificadas, mas a relevância desta subida não pode ser desvalorizada. Sublinhe-se até que, apesar disso, a RTP continua a ser um dos serviços públicos europeus com menores shares na rádio como na televisão. Por exemplo, a RTP1 e a RTP2 chegam em conjunto perto dos 18% de share, enquanto em países como Islândia, Alemanha, Grã-Bretanha, Finlândia, Noruega e Bélgica (flamenga) os canais públicos televisivos de acesso livre ultrapassam os 40% e, em 15 países europeus, a liderança nas audiências continua a caber a um canal público... (…)»

domingo, novembro 16, 2014

O estranho caso do homem que se dedicava a sacar fundos europeus
e acabou como (alegado) primeiro-ministro


É claro que o pantomineiro-mor já fazia das suas antes de ser (alegado) primeiro-ministro. É óbvio que a competência que demonstrou antes de se alçar a São Bento ajuda a traçar um retrato mais rigoroso da personagem. Contudo, se nos cingirmos a olhar isoladamente para cada uma das peripécias em que se envolveu, podemos ver muitas árvores e não ver a floresta.

Vem isto a propósito de uma peça na edição de sexta-feira do Público¹. Pode-se discutir a incompetência do estarola. Pode-se discutir se foi remunerado pelos serviços que prestou à ONG fantasma (matéria sobre a qual o alegado primeiro-ministro se esquivou delicadamente a esclarecer). Pode-se discutir em que termos se processou a sua colaboração com a ONG fantasma, sendo deputado em regime de exclusividade. Pode-se discutir tudo isto e muito mais.

Em todo o caso, cada uma destas discussões só faz sentido se, a priori, se discutir a questão nuclear: pode um tipo, cuja única actividade durante anos foi arranjar artimanhas para sacar fundos europeus, ser primeiro-ministro?

_________
¹ Infere-se da peça do Público que a passagem de Passos Coelho pela ONG fantasma foi um rotundo fracasso. Tendo a ONG fantasma «em carteira cinco projectos com um valor superior a 12 milhões de euros», conclui o Público:
    ««As acções programadas pelo CPPC [Centro Português para a Cooperação] saldaram-se por quase nada. Das cinco para as quais procurava financiamento no início de 1998, apenas uma, para formar costureiras em Oeiras, foi por diante».

Comparando com o que a Tecnoforma fazia antes, o investimento em Passos Coelho apresentou, de facto, um retorno modesto: «A Tecnoforma obteve, entre 1993 e 1996, antes de criar o CPPC, subsídios no valor de 62.980 contos (314 mil euros), quase três vezes mais do que os 137.500 angariados pelo CPPC para Oeiras».

É certo que, em sua defesa, Passos Coelho poderá argumentar que, depois, foi muito mais competente. Quando ingressou na Tecnoforma, obteve milhões de euros a dar formação a funcionários municipais para aeródromos desertos. Mas poderá contra-argumentar-se que aí a estrela que brilhou não foi Passos Coelho, mas um tal Miguel Relvas, que, enquanto governante, fazia a distribuição dos fundos europeus.

quinta-feira, novembro 13, 2014

Poderia ser uma história romântica, mas não é

Hoje no i

Enquanto a Miss Swaps retoca o Orçamento do Estado, António, o marido, poderia, ali ao lado, recrear-se a montar o cavalo de D. José, sem que isso pudesse vir a ter relevância política. Mas o que a Sábado revelou tem uma natureza distinta. É intolerável que António Albuquerque se dedique a preencher os tempos mortos a policiar o que é noticiado sobre os actos políticos de sua mulher, procurando atormentar os seus autores.

Para além do que a Sábado escreve, o i relata que, «em Novembro de 2013, já tinha sido revelado pelo Correio da Manhã que António Albuquerque andava a enviar emails ao jornalistas que escreviam notícias negativas da sua mulher.» E o próprio Correio da Manha diz hoje que «sabe que vários jornalistas serão chamados a depor, sendo que alguns poderão relatar mais casos.» Estamos perante um evidente condicionamento da liberdade de imprensa — socorrendo-se de métodos muito populares nos regimes autocráticos.

Quer se queira ou não, António Albuquerque colocou a ministra das Finanças, e não a sua mulher, numa situação insustentável: ou repudia a política de comunicação musculada do marido ou somos levados a concluir que o caso Relvas não foi um episódio isolado no seio do Governo. O que poderia ser uma enternecedora prova de amor é de, facto, um inqualificável acto de asfixia democrática.

sexta-feira, novembro 07, 2014

O rasto do dinheiro das campanhas sujas

A família Madaleno é proprietária da Newshold, que, além de possuir o Sol e o i, detém participações noutros órgãos de comunicação social, designadamente através da Cofina (Correio da Manha, Sábado e Negócios). A Newshold pertence à Pineview Overseas, empresa registada no paraíso fiscal do Panamá. Trata-se da empresa que esteve em adiantadas negociações com Miguel Relvas para adquirir a RTP, projecto do Governo travado à última hora.

Na família Madaleno, destaca-se Álvaro Madaleno Sobrinho, que foi presidente do BES Angola. Naturalmente, não se espere que as peripécias que envolveram a destruição do BES Angola sejam notícia nos pasquins que a família controla.

Ora as campanhas contra José Sócrates surgem invariavelmente em órgãos de comunicação social detidos ou participados pela Newshold. Hoje, no Sol e no i, temos mais do mesmo, com tentativas canhestras de criar clivagens no seio do PS. Por isso, cabe perguntar: tendo os créditos do BES Angola «sido concedidos sem garantias ou colaterais, em muitos casos sem sequer um registo cabal de quem os recebeu ou para que finalidades», não podemos admitir que esse dinheiro foi canalizado para financiar as campanhas sujas, designadamente contra José Sócrates?

sexta-feira, outubro 24, 2014

Dos “facilitadores” da democracia

Estava plenamente convencido de que Pedro Lomba tinha ido com os Briefs do Lomba. Mas, hoje, o ajudante do ministro Maduro fez prova de vida, ao aparecer por aí a fazer lobbying, «sem complexos», pela legalização do lóbi em Portugal. Com Mendes Bota ao leme, os lobistas concluíram que o lóbi é «um “facilitador” da democracia». O Dr. Relvas, ou alguém por ele, já havia teorizado sobre o assunto.

sexta-feira, outubro 10, 2014

Golden share


1. Ainda na oposição, Passos Coelho & Miguel Relvas insurgiram-se contra a circunstância de o Governo de José Sócrates se ter oposto à venda da Vivo à espanhola Telefónica, utilizando para o efeito a golden share detida pelo Estado. Então, Ricardo Salgado atirou-se ao Governo, disparando que, se a Telefónica quisesse, comprava a própria Portugal Telecom (PT). Belmiro de Azevedo não fez a coisa por menos: «É muito difícil haver outra oportunidade como esta para vender.» Cerca de um mês depois, a Telefónica pagava mais 400 milhões de euros do que a proposta inicial.

2. Foi uma das primeiras medidas de Passos Coelho logo que se alçou a São Bento: oferecer aos accionistas privados da PT a golden share. Não tendo havido qualquer contrapartida para o Estado, esta dádiva significou dar de mão beijada milhões de euros aos accionistas da PT. A oposição não se indignou, os media não se surpreenderam, o Ministério Público não se moveu. Os «donos disto tudo» rejubilaram. A dádiva foi atribuída ao fanatismo ideológico dos estarolas. Ninguém quis desassossegar o país.

3. Ontem na TVI 24, Manuela Ferreira Leite fez notar que a situação actual da PT poderia ter sido evitada se o Estado ainda detivesse a golden share, sabendo-se que as principais decisões estratégicas não poderiam ser tomadas sem o consentimento do Estado. Hoje, a PT vale 1,2 milhões de euros, quando, em 2007, valia 12 mil milhões de euros. Vale dez vezes menos do que em 2007 — ou menos de metade do que valia no início do ano.

4. Belmiro de Azevedo aproveitou a degradação da situação da PT para mostrar uma vez mais que não conseguiu digerir o resultado da OPA que lançou. Convém recordar que a Sonaecom pretendia «pagar o cão com o pêlo do próprio cão», designadamente através da venda de uma das redes (cobre ou cabo) da PT e da própria Vivo¹.

Agora, só resta satisfazer o pedido ontem feito por Belmiro de Azevedo aos jornalistas: «A história da PT há-de ser devidamente contada, mas não é por mim, é pelos jornalistas.» Provavelmente, a história da golden share daria um best seller.

__________
¹ Três anos depois da OPA da Sonaecom, a Telefónica pagou pela Vivo 7,5 mil milhões. Longe dos dois mil milhões de euros pelos quais Belmiro de Azevedo disse que iria vender a Vivo.

quarta-feira, outubro 01, 2014

«Do desperdício de fundos comunitários
aos abusos das redes de influência,
das escapatórias fiscais
às mentiras e encobrimentos»

• Rui Tavares, A mulher de César, morta e enterrada:
    «(…) Nos anos 90, Pedro Passos Coelho já colaborava com a Tecnoforma, a ponto de ser fundador e presidente da ONG da empresa. Este facto foi omitido das declarações à Assembleia da República, de que Passos Coelho era deputado. Não se sabe que fazia esta ONG; aparentemente, em três anos, nada. O máximo de que Passos Coelho se lembra é de uma universidade em Cabo Verde que nunca chegou a acontecer. Na sua biografia política, Passos Coelho não diz nada sobre o Conselho Português Para a Cooperação, que galhardamente dirigia. É legítimo dizer que a sigla CPPC, da caridosa organização, significava sobretudo "Cooperar com o Pedro Passos Coelho". E, claro, com o inenarrável Miguel Relvas: o episódio da formação de inexistentes funcionários para semi-existentes aeródromos da zona centro, com o qual a Tecnoforma pôs uns milhões comunitários ao bolso, seria hilariante se não fosse trágico. É inevitável olhar para aquela cultura empresarial e política e ver nela o catálogo dos nossos mais vergonhosos erros: do desperdício de fundos comunitários aos abusos das redes de influência, das escapatórias fiscais às mentiras e encobrimentos. Passos Coelhos foi comparticipante, voluntário e autor de toda essa vergonha.

    Pedro Passos Coelho colaborou com uma empresa sem comunicar tal facto ao parlamento, participou de ações dessa empresa que se destinava a obter fundos comunitários para projetos inexistentes ou, na melhor das hipóteses, semi-existentes, e foi presidente de uma ONG de cooperação que nunca cooperou nada que se visse, e que provavelmente nunca teve tal intenção. E isso sem entrar na questão ainda por responder de quanto dinheiro recebeu ele, direta ou indiretamente, por trabalho que parece ter sido pouco mais do que nada. (…)»

sexta-feira, setembro 26, 2014

Porquê?!

Via Tiago Antunes

Podendo a actividade cívica contribuir para dar mais brilho a um curriculum, porque é que Passos Coelho explica — no «livro» Mudar — todo o seu percurso profissional, omitindo sempre a sua colaboração à «ONG»? Porquê?!

E em relação à Tecnoforma — a empresa que obteve fundos comunitários entregues pelo Dr. Relvas para formar funcionários municipais para os afectar a aeródromos concelhios, na sua maioria desertos ou desactivados —, Passos Coelho sustenta que se tratou de um «projecto bastante bem-sucedido».