quinta-feira, março 06, 2008

A rua não tem sempre razão…

... é o título de um artigo de opinião de João Freire no Público de hoje. Está transcrito na caixa de comentários.

8 comentários :

Miguel Abrantes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Abrantes disse...

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A rua não tem sempre razão



É curioso e surpreendente situar-me eu na posição de criticar movimentos populares de contestação ao poder político, sem que me sinta obrigado a defender este, ou qualquer outro, Governo. Mas nem o facto de ter dado um contributo técnico, profissional, para o início deste processo me inibe de exprimir agora uma opinião.

As reformas no sector da educação e as relações laborais entre professores e ministério de tutela transformaram-se em conflito social e assumem já uma dimensão política. Não é uma novidade. O sindicalismo é uma entidade de representação de interesses colectivos (dos assalariados) mas que, institucionalizando-se, também cria os seus interesses "próprios": os dos dirigentes, dos militantes, dos funcionários do "aparelho", da salvaguarda da sua própria função e respectiva imagem pública.

No caso português, os vectores mais dinâmicos e dominantes do sindicalismo são conduzidos por gente com uma iluminação ideológica e, frequentemente, com alinhamentos partidários: quando a conjuntura o permite, jogam o peso da acção social na cena política, geralmente contra o Governo em funções, no que tendem a ser acompanhados pelas diversas forças da oposição.

Ninguém sabe como esta crise irá terminar, mas o diagnóstico compreensivo da situação não é muito difícil de fazer.

A novidade da conjuntura presente é a de que o malestar latente no corpo professoral transbordou agora para a rua, sob a forma de mobilização contestadora (mais do que reivindicadora), amplamente multiplicada pelos ecos mediáticos, onde se exprimem emoções e frustrações diversas.

Não nos iludamos: as convocatórias e manifestações ad hoc, possibilitadas pelos gadgets de comunicação interpessoal, não são mais do que a forma pós-moderna do tam-tam africano ou do velho rumor urbano ocidental.

Mas as "minorias activas" tentam controlar e canalizar este fluxo para objectivos que só elas saberão precisamente quais são. Quase todas as revoluções se fizeram assim. Contudo, não é porque um relatório de "sábios" alerta para os perigos de uma "crise social" ou um general reformado chama a atenção para a deslegitimação progressiva do nosso regime democrático que o país vacila nas suas convicções profundas de querer continuar a "ser", num clima de liberdade e com a prosperidade possível.

Os professores terão certamente algumas razões de queixa: a inadequação das instalações para a sua permanência e trabalho nas escolas exige fortes e urgentes investimentos; a avalancha das normas administrativas que sobre eles desaba carece provavelmente de algum simplex; etc.

Mas qualquer observador atento que conheça um pouco o ambiente nas nossas escolas públicas teria percebido a existência, entre os professores, de uma implícita hierarquia de reconhecimento profissional que cindia o corpo docente em três grupos, grosso modo: um importante sector de indivíduos competentes, dedicadíssimos e experientes, merecedores de todos os encómios (até pelas crescentes dificuldades da missão educativa); uma pequena minoria de equivocados na profissão, incapazes de melhoria e perturbadores do clima relacional na organização escolar; e, como sempre, uma maioria de pessoas de boa vontade e com todas as capacidades para progredir e incrementar as suas qualidades profissionais, com benefícios directos para a aprendizagem das crianças e os resultados (qualitativos e quantitativos) do ensino. A organização da carreira docente em categorias profissionais e uma real avaliação do desempenho (que não tinha qualquer efectividade no estatuto anterior) procuraram traduzir organicamente aquelas clivagens, "partindo" o falso princípio da igualdade nas recompensas (quando os contributos são tão diferenciados) e tentando construir um sistema meritocrático e de responsabilidade (individual e grupal, no seio na comunidade escolar) no exercício da função docente.

É provável que o processo administrativo (concurso) que levou já à nomeação de uns milhares de professores-titulares tenha corrido com deficiências, produzindo casos de injustiça individual, no sentir dos próprios e dos seus pares, e distorcendo a "hierarquia reconhecida". Mas é precisamente àquele "igualitarismo" e "irresponsabilidade" que os líderes sindicais (e outros) têm vindo a apelar, na batalha que querem travar contra estas reformas.

A sociedade (e o Estado) atribui aos professores um "poder social" considerável: não apenas a responsabilidade de ensinar, mas também a faculdade de "julgar e avaliar" (os saberes adquiridos e, implicitamente, as pessoas que os exibem) e de se mostrarem eles próprios como "modelos educativos" para as crianças e jovens em formação.

Aos professores - meus colegas de missão -, eu desejaria que não se enganassem de alvo. O direito à opinião, à indignação e ao protesto são hoje irrecusáveis, mas, numa democracia, as grandes decisões de orientação política tomamse através do voto de todos os cidadãos.

E os cidadãos-professores têm de ter (e merecer) a autoridade e o respeito necessários para se apresentarem diariamente perante os seus alunos na sala de aula. A rua não tem sempre razão.

Sociólogo

João Freire

Anónimo disse...

Eu até concordo com o princípio. Então porque é que o PS/governo vai realizar um comício?

Anónimo disse...

Deve ser amigo da ministra Lurdes

Nicolae Santos disse...

Miguel
Adorei a forma que usaste para nos dar acesso ao artigo sem ser pelo link do pasquim. Assim pelo menos não contribuímos para as visitas diárias ao esgoto do Belmiro Manuel Fernandes

Nuno disse...

O PS vai fazer um comicio pq estamos em democracia, qual o espanto?
Eu bem sei q há praí uns velhos do restelo a gritar q há censura e há um asfixiamento da democracia e outras inanidades do género, parece q afinal não é bem assim!
É verdade eu tb sou amigo da ministra Lurdes.
Sra Ministra por favor não desista!

Anónimo disse...

É curioso como há um blog que`postou sobre o mesmo assunto, tirando a mesma conclusão no fim, mas pegando num ponto de vista completamente diferente:
http://novomundo3.wordpress.com/2008/03/04/a-rua

Quem anda a fazer fretes ao governo na blogosfera?

No fundo dizem que a contestação não tem legitimidade para exigir nada, excepto mandarem umas bocas!Essa é que era boa!...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.