- ‘Não venham cá com os vossos factos que eu tenho as minhas suspeitas - eis Portugal cada vez mais assim. Já tínhamos os inspectores da Judiciária que falhavam uma investigação sobre factos e acabavam a vender livros sobre as suas suposições. Isso era a prática corrente - as vitórias morais no futebol eram a expressão mais popular dessa tendência. Há semanas, uma líder partidária, Manuela Ferreira Leite, decidiu dar base programática à coisa: "Eu não quero saber se há escutas ou não, eu não quero saber se há retaliações ou não, o que é grave é que as pessoas acham que há." O nacional-achismo passou a doutrina oficial.
Tão oficial que chegou a Belém. Belém acha-se escutado. Logo, Belém é e está a ser escutado. E o que faz um Presidente escutado? Num país menos virado para o etéreo, procurava-se o facto (…).
Por cá, pelo Portugal do achismo, o Presidente chama o Lima e diz-se: "Eu acho." Isto é gente de muitas suspeitas e poucas palavras e Lima viu logo o filme todo. Vai a um café discreto e diz a um jornalista: "Eu acho." O jornalista espanta-se, naturalmente. Lima olha para todos os lados e sussurra: "E estou habilitado para poder dizer que o Presidente também acha."
É daquelas informações que têm de amadurecer em casco de carvalho durante 17 meses. Findo os quais, a manchete: "Belém acha!" Foi há um mês. Desde esse achamento, conheceram-se os seguintes não factos: o Presidente NÃO alertou a Procuradoria NEM os Serviços Secretos para investigarem; o Presidente NÃO alertou o Parlamento para se mobilizar contra o escândalo. A esses 'nãos' acrescente-se que os militares, tendo sido convidados pelo Presidente a passar o palácio de Belém a pente fino, NÃO encontram nada.
Ficou assim comprovadíssima a suspeita de Cavaco Silva. Como se sabe, o achismo vive numa nebulosa e alimenta-se de leves impressões - tivesse sido encontrado um pequeno facto e lá ia a tese de Belém por água abaixo. Felizmente, podemos continuar a achar, a suspeitar, a desconfiar. É um modo de vida como outro qualquer. Só peca quando descamba para a sua variante de apontar o "clima de medo que se vive." A frase destrói a tese. Se houvesse mesmo um clima de medo, eu acho, suspeito e desconfio que não havia tanta gente a apontá-lo.’
5 comentários :
É a política do falso-testemunho. Este Ppd-Psd actual tornou-se uma autêntica alcateira de lobos perigosos que são capazes de tudo para tentar alcançar o poder. Se Sá Carneiro fosse vivo não tenho dúvidas que pediría a desfiliação e provavelmente iría para o Ps porque este Psd e seus apaniguados chegaram ao ponto zero da falta de lisura e credibilidade.
Caiu a máscara a Cavaco Silva. Lamentável actuação. Já não tem dignidade para sequer acabar o mandato.
Este PR não tem estatura moral nem ética para o exercício do cargo.
Cavaco Silva deu outro tom ao que a História rezará dele.
Será que o Marcelo só quis dizer que Cavaco é INIMPUTÁVEL?
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