Nervoso miudinho

• Editorial do Público (excerto), O regresso do nervosismo político:

‘0 Governo revelou que, com a emissão da dívida de ontem, mais de 30 por cento das necessidades de financiamento do Estado para este ano estão garantidas. A informação surge num momento em que as alterações das regras europeias afastaram o fantasma do FMI. Música para os ouvidos do PS, que quer apresentar este alívio na frente externa como o triunfo de um primeiro-ministro que manteve a cabeça fria quando todos entravam em pânico. A realidade, evidentemente, é menos sedutora. Os juros a que a dívida está a ser colocada continuam muito altos e não é certamente o Governo quem faz a chuva e o bom tempo em Bruxelas. Sócrates poderá, quando muito, dizer que a sorte está do seu lado e que a sorte protege os audazes.

Mas, na frente interna, esse alívio está a agitar as águas. Belém deixa cair sinais de querer precipitar uma crise política, ainda que se saiba que este não é o tempo que convém a um Presidente que gosta pouco da actual liderança do PSD. Mas se a sorte sorri aos audazes, os comunistas decidiriam ser os primeiros a levantar o fantasma da moção de censura. Colocando sob pressão o PSD, que, no entanto, admite apoiar uma moção do PCP - uma forma de pôr o Governo a andar sem ter de pagar a factura da operação. Fica a perder o Bloco, ultrapassado pela esquerda pelos seus rivais comunistas. E como o PP já disse que alinha na moção de censura, desenha-se no horizonte o regresso das coligações negativas do princípio da legislatura. Com a frente financeira aparentemente mais calma, o nervosismo político está de volta. Mas os únicos que não têm nada a perder são mesmo os comunistas. Quanto aos outros, a pressa pode ser má conselheira.’