Este idílio não dura

• Vasco Pulido Valente, Este idílio não dura [hoje no Público]:

‘(…) Um bom exemplo de improviso e de amadorismo foi a chamada "festa" do Pontal. Em primeiro lugar, o Pontal era um comício sem formalidades, de acesso livre e entrada "gratuita" para qualquer pessoa. Sabemos que, pouco a pouco, evoluiu para o horrível "jantar de militantes", com o fim de esconder o desinteresse geral pela ocasião. Mas precisamente este ano não se admitia a esplanada de Quarteira, com as suas barreiras, com o seu ar turístico e com os seus criados de casaco branco. Depois Passos Coelho não se lembrou de que não estava a falar ao PSD, estava a falar aos portugueses. O discurso, que devia ser claro, acabou por ser repetitivo, retórico e uma digressão desordenada por isto e por aquilo, insusceptível de orientar ou entusiasmar ninguém. Se o sr. primeiro-ministro não sabe escrever, arranje rapidamente quem escreva por ele. E também quem o aconselhe a não se lançar num elogio e num agradecimento ao PSD, transmitido em directo pela televisão.

Com a falta de um centro orientador, os ministros não se atrevem - e bem - a explicar à populaça o que querem e para onde vão. Fora a banalidade de que tencionam cumprir minuciosamente o programa da troika e alguns gestos de que não se percebem bem o alcance e as consequências, nenhum até agora avançou um plano exacto e compreensível. Há surpresas dia sim dia não e nenhum sentimento de que se vai por um caminho meditado e seguro. (…)’