Esquizofrenia

• António Correia de Campos, Esquizofrenia [hoje no Público]:

'Aqui temos como vai a governação europeia. Começa-se a desejar secretamente o contrário daquilo que se proclama: Merkel e o seu partido desejam descartar-se da Grécia e de outros, receando o contágio, sem todavia terem a coragem de o dizer abertamente. Sarkozy fez voz grossa contra a Grécia, para confundir a iminente perda da cotação triple A, o que acabaria por o relegar ao estatuto de pajem. Os ingleses dividem-se internamente, como já se esperava, Van Rompuy compensa a sua irrelevância com ameaças de sanções que o Parlamento já rejeitou. A Comissão tenta comportar-se com decência, reconhecendo, sem o afirmar, que o poder se lhe vai escoando por entre os dedos. O Parlamento, com a dignidade da representação directa, arvora uma unidade louvável, mas frágil.

Nesta grande nave de loucos que é a governação europeia, ainda se tem mantido uma compostura formal. Não durará sempre. A instabilidade surgirá de várias origens: com a eventual persistência da cotação desfavorável da Itália e agora da Espanha, com a provável perda do triple A pela França, com a recessão a aproximar-se da Áustria, Bélgica e até da Holanda (a contrair 0,3% no último trimestre), com a persistência de uma preocupante dívida pública na Alemanha, como friamente retaliou Juncker. Uma primeira saída do euro gerará um rosário de eventos imprevisíveis.'