quinta-feira, março 22, 2012

As ilusões de Março

Manuel Caldeira Cabral, As ilusões de Março:
    'A primeira partia da noção de que os portugueses não podiam ser sujeitos a mais sacrifícios, sendo necessário e possível fazer a consolidação de uma forma diferente, cortando as gorduras do Estado, reduzindo consumos intermédios, gastos com pareceres, despesas dos gabinetes ministeriais e das fundações e institutos, e conseguindo maior eficiência na execução orçamental, em vez de cortar salários, pensões, reduzir serviços públicos, ou aumentar impostos. Era a ilusão de que era possível mais consolidação com menos dor.

    As primeiras medidas tomadas pelo novo Governo e o Orçamento de 2012 enterraram esta ilusão. O Governo começou por aumentar os impostos e logo apresentou um orçamento com fortes reduções de salários e das pensões, onde se prevê que as despesas com consumos intermédios e pareceres aumentem. Ainda é cedo para avaliar a eficiência na execução orçamental, mas os dados dos dois primeiros meses de 2012 dificilmente revelam uma melhoria. A despesa não está a diminuir de acordo com o que era previsto (e tem um grau execução superior ao do ano anterior), a receita fiscal está a cair, quando se esperava que crescesse (e tem um grau de execução inferior ao de 2011).

    A segunda ideia, de que a credibilidade seria rapidamente recuperada, substituindo um Governo descredibilizado por um novo Governo com maioria absoluta, foi contrariada logo a seguir às eleições, com o murro no estômago das descidas adicionais de "rating" e com a subida das taxas de juro do mercado secundário, que se mantêm no dobro do que estavam nos meses antes do chumbo do PEC IV. A credibilidade de um país perde-se muito rapidamente, quando não há consenso político, mas demora muito a ser recuperada.

    A terceira ideia, de que era possível acelerar o ritmo de reformas e introduzir novas medidas de apoio ao crescimento e emprego, teve o primeiro revés na queda da descida da taxa social única, medida introduzida no Memorando de Entendimento a pedido do PSD, abandonada quatro meses depois das eleições.'

2 comentários :

Anónimo disse...

Talvez o economista em questão e os assessores da bancarrota socrática pudessem comentar a descida substancial das taxas de juro com que Portugal ontem se financiou. A melhor notícia nos últimos tempos, a seguir a derrota de Sócrates em Junho de 2011

Mata-ratos disse...

Festeja rápido, que a tua festarola tem já os dias contados, sabujo.