sábado, outubro 06, 2012

O regresso da “política de verdade”: nós é que conseguimos “ir além da troika

Um segundo bouquetpara a Manuela”?

Depois de ter intimado na última edição da Quadratura do Círculo o Presidente da República a “parar para pensar duas vezes [no que está a acontecer ao (e no) país]”, Pacheco Pereira decide antecipar-se aos resultados da reflexão de Cavaco e, hoje no Público, dá orientações a Belém e prepara-lhe o terreno para uma intervenção ainda sem data marcada:
    ‘O Presidente está perdido no seu labirinto e tem apenas uma tentativa possível, aquilo que impropriamente se designa por "governo de salvação nacional", que é hoje mais provável do que há um ano e que pode vir a ter um escasso tempo útil no meio do desespero vigente. Teria que ser mesmo feito pelo Presidente, fora da partidocracia actual, com acordo parlamentar escrito e assinado por parte do PS, PSD e CDS que lhe desse legitimidade democrática, com um compromisso mais alargado do que o deste Governo. Esse acordo deveria incluir, preto no branco, todas as medidas julgadas necessárias para cumprir o memorando da troika, algumas que deveriam ser renegociadas sem pôr em causa os compromissos de fundo com os nossos credores.

    Esse Governo teria como prazo-limite o fim da intervenção estrangeira, que é o seu principal objectivo, e deveria, a seguir, haver eleições. A austeridade não acabava, podia até estabilizar-se num patamar superior, mas teria que absolutamente ter um prazo, no fim do qual começaria a abrandar. Todas as medidas de emergência deveriam ter um prazo vívido, 2014 por exemplo, porque prazos vagos e indefinidos, ou de dez anos para cima, não são "vívidos" (…).’

Ou seja, o que Pacheco Pereira nos diz é que a malograda Dr.ª Manuela foi, há uns quatro anos na Câmara de Comércio Luso-Americana, desastrada a enunciar os seus propósitos, mas que esse velho projecto não foi abandonado, devendo agora ser embrulhado e apresentado noutros moldes:
    • A “suspensão da democracia”, apresentada a frio, transformou-se numa ideia abstrusa, pelo que é melhor substituí-la por «aquilo que impropriamente se designa por "governo de salvação nacional"»;
    • O “prazo de seis meses”, então referido pela Dr.ª Manuela, é manifestamente curto para “meter tudo na ordem”, pelo que a “suspensão da democracia” o “governo de salvação nacional” “teria como prazo-limite o fim da intervenção estrangeira”;
    • Com o país colocado nos eixos, ou seja, dentro de um colete-de-forças bem apertado, os detentores da “política de verdade” até condescenderiam em auscultar o povo em eleições, mas a “austeridade não acabava, podia até estabilizar-se [sic] num patamar superior” (um outro caminho para “ir (e ficar) além da troika);
    • Os detentores da “política de verdade” teriam legitimidade para ocultar ou, pelo menos, não pôr o acento tónico na destruição da classe média e na miséria para que está a ser atirado o povo desde que estabeleçam um “prazo vívido [sic]”, que não deve exceder… dez anos («prazos vagos e indefinidos, ou de dez anos para cima, não são "vívidos"»).

Nos próximos tempos, vai intensificar-se esta conversa dos pescadores de águas turvas do populismo.

6 comentários :

Anónimo disse...

Mas o Seguro é muito bem capaz de ir na cantiga!

james disse...

"Ou seja, o que Pacheco Pereira nos diz é que a malograda Dr.ª Manuela foi, há uns quatro anos na Câmara de Comércio Luso-Americana, desastrada a enunciar os seus propósitos, mas que esse velho projecto não foi abandonado, devendo agora ser embrulhado e apresentado noutros moldes:[...].

É mesmo isto.

E "assim" desmembra-se a procissão trapalhona que tem como tapete de fundo Portugal e os portugueses.

Anónimo disse...

Eleições e já!
Os vencedores que se entendam depois para formar nova coligação. Estes que lá estão é que têm de ser atirados borda fora, se possivel numa fossa bem funda, de onde nunca mais consigam sair.
E se posso dar um conselho a Cavaco e Manela, expulsem-nos todos do partido enquanto é tempo ou o PSD deixa mesmo de existir, já em 2013.

José Neves disse...

O mais pulha desta proposta de PP está no facto do mesmo dizer,quase invariavelmente nas "quadraturas" no "Público" ou na "Sábado", que 'o PS hoje não conta para nada' ou "o PS não interessa a ninguém' ou ditos equivalentes e, nesta proposta querer que o PS assine este acordo a mando do Cavaco.
Este homem é mesmo um génio político.

Ze Maria disse...

Este basbaque, que se deve ter numa grande conta é e sempre será, enquanto politico, uma merda.
É um "enterteiner televisivo", uma comediante que vai fazendo "carreira" de triste figurante ou figurão. Sendo ( mau) historiador deveria saber qual o seu lugar no futuro: O LIXO!

Piolheira (Séc. 21) disse...



Isso até seria possível, uma solução à Monti, mas para isso era preciso que tivéssemos um Presidente da República a sério, que não fosse mero um bibelô cheio de pó e descorado, a pedir já para ir descansar para uma arrecadação esconsa, antes de ser finalmente transladado para o arquivo subterrâneo...