Uma lei ao serviço da renovação dos autarcas |
• Rui Pereira, Exemplo autárquico:
- ‘A revisão constitucional de 2004 veio admitir limites à renovação sucessiva de mandatos dos titulares de cargos políticos executivos e a Lei nº 46/2005 determinou que os presidentes de câmara municipal e de junta de freguesia só podem ser eleitos para três mandatos consecutivos. No entanto, o parto desta lei não foi fácil (os presidentes dos Governos Regionais, inicialmente abrangidos, ficaram de fora) e a sua interpretação é controversa: o número de mandatos torna-se ilimitado quando os autarcas mudam de concelho ou de freguesia?
Juridicamente, há argumentos para todos os gostos. Como a lei não faz distinções, poderia dizer-se que o intérprete também não as deverá fazer e que a contagem do limite de mandatos inclui mudanças de autarquia. Todavia, a expressão utilizada pelo legislador ("mandato consecutivo") parece apontar para mandatos exercidos na mesma autarquia. Por outro lado, os trabalhos preparatórios do novo regime legal não parecem conclusivos e os seus protagonistas fazem apelo a um nível de subjectividade que não permite apreender com nitidez o espírito da lei.
Mas o problema não é só jurídico e a Constituição nem sequer impõe uma das interpretações. Embora se destine a evitar a criação de nichos de poder e a viabilizar a alternância, a limitação de mandatos também deve ser posta ao serviço da renovação dos autarcas, como se assumiu aquando da aprovação da lei. Ora, a mudança de cadeiras nas próximas eleições será entendida como um modo de defraudar o novo regime legal. Assim, os partidos devem adoptar a interpretação mais rigorosa e apresentar candidatos que não tenham esgotado o limite de mandatos.’
5 comentários :
Salvo o devido respeito académico, consecutivo é sucessivo, que se segue, implicando uma ideia temporal e não espacial. Cada mandato é um novo mandato que se segue, seja ali ou acoli. Se fosse só ali falar-se-ia em renovação do mandato.
"Mandato consecutivo" não é, de facto, uma expressão clara. Santana Lopes, por exemplo, quando foi eleito para Lisboa pode considerar-se como tendo sido eleito para o terceiro mandato consecutivo como Presidente de Câmara, ainda que em duas Cidades diferentes. O problema é que se a Lei se pretendia clara, havia muitas maneiras de o ser usando a Língua Portuguesa. Se não o foi, deve penalizar-se o Legislador, não o Português...
Quanto à proposta de Rui Pereira, diria que compete a cada Partido optar pela interpretação que entender, cientes porém de que cada uma delas tem consequências políticas.
A mim nem me choca a continuidade indefinida dos mandatos, se essa for a escolha do eleitorado. Preocupa-me, isso sim, a qualidade do eleitorado e a democraticidade do processo eleitoral subjacente aos procedimentos formais.
Ou seja, a escrutinibilidade da atuação dos Autarcas (e dos governantes em geral), que sustenta tanto a qualidade da Democracia como a liberdade de voto e a imparcialidade das consultas eleitorais.
Querem ver uma boa do Menezes? Vejam estes links, isto é de bradar aos céus, estes gajos sao mesmo criminosos:
Esta é a notícia no IOL: http://www.tvi24.iol.pt/503/sociedade/gaia-video-terrenos-avenida-anastacia-tvi24/1390912-4071.html
Este é o vídeo da dona dos terrenos no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=hUW6oPnzdv8
E este é um programa onde o Dr. Marinho Pinto fala no caso, a partir dos 8 minutos: http://www.rtp.pt/programa/tv/p28165/c34
O lamentável de tudo isto para um leigo na matéria jurídica como é o meu caso, é que quem fez a lei e todos os ditos "experts", têm interesse que este estado de confusão vingue, para que os seus interesses pessoais não saiam defraudados. Pode não ser a melhor análise política, esta que faço, mas para esses que querem manter o status quo e continuar no "tacho" (como se ouve insistentemente na rua), convém "dar a volta" à Lei... e, portanto, não se admirem de se ouvir dizer: "... se eles fogem, nós também podemos fugir...". E é neste triste fado que vamos (des)andando...
Concordo com o leitor acima.
A lei está mal feita de raiz para permitir estes desvios e " interpretações" a quem convém.
E o PS não teve os tomates para a impôr com clareza e sem ambiguidades pois os seus autarcas também beneficiariam de uma interpretação mais lata.
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