Nem radicais, nem moderados

• Pedro Nuno Santos, Nem radicais, nem moderados:

‘O debate, dentro do Partido Socialista, sobre radicalismo e moderação é um debate estéril e fútil que serve apenas o propósito de alguns – que se auto-intitulam de moderados – de racionalizar e justificar a sua própria incapacidade de discordarem do programa liberal que a direita europeia e portuguesa tem vindo a implementar. A concordância em relação ao caminho que tem sido seguido em Portugal e na Europa, de facto, justifica o apelo ao consenso, a um acordo eleitoral com o PSD e/ou o CDS, a uma oposição suave e pouco contundente, e justifica até a defesa da moderação no pensamento e na acção.

Se os militantes socialistas, e sobretudo a nova geração, pensassem assim, o PS estaria condenado a desaparecer a médio prazo. Vivemos, de facto, tempos políticos difíceis e desafiantes para o socialismo democrático; as alternativas não são óbvias, nem limpas de incerteza e risco. Mas aqueles que hoje apelam à moderação – por oposição a um suposto inimigo radical, que não é mais que imaginário – são, na realidade, derrotados política e ideologicamente, sem capacidade para fazer oposição e sem alternativa. A direita radical governa o nosso país e a única direita moderada que existe está dentro do PS, a pedir moderação e uma coligação consigo própria. O PS não deve ser radical nem moderado, mas sim um verdadeiro partido socialista que, no respeito pelo seu quadro de valores, sabe interpretar a realidade e agir em conformidade com ela. O debate sobre a dicotomia moderados/radicais deve ser rejeitado, uma vez que nos desvia do debate necessário sobre as soluções para a crise compatíveis com a matriz ideológica da social-democracia.’