segunda-feira, fevereiro 16, 2015

«A Grécia está no estado que Portugal estaria
se a desvairada paixão pela austeridade de Passos Coelho
não tivesse sido (parcialmente) travada pelo Tribunal Constitucional»

• João Galamba, O cachecol de Varoufakis:
    «Vale a pena comparar as declarações de Obama e de outros responsáveis da Casa Branca sobre a Grécia com as de Passos Coelho, Cavaco, Machete, Marques Guedes e afins. Os americanos, que percebem o que está em causa, saem em defesa do projecto europeu (e dos Gregos) denunciando a irracionalidade da austeridade e a falta de bom senso dos países credores. Os representantes lusitanos, com Cavaco à cabeça, fazem o oposto e, em vez de se solidarizarem com a Grécia — percebendo que é isso que serve o interesse da Europa (e de Portugal) —, comportam-se como alemães e fingem que também são credores, se necessário inventando dados. Parece que os EUA podem voltar a estar condenados a salvar a Europa da sua própria estupidez.

    O Governo e o Presidente da República, não se solidarizando com a Grécia, não defendem o interesse nacional e não defendem o interesse europeu; limitam-se a defender-se a si próprios, a defender a sua narrativa moralista (e errada) sobre a crise e a tentar, por todos os meios (mesmo os mais mesquinhos), salvar a face. É triste, mas, até às eleições, é certo que não teremos governantes que percebam que o caso grego não é mais do que a redução ao absurdo das políticas que foram implementadas em Portugal.

    Nós somos a Grécia, pela simples razão que os gregos estão como estão, não porque não tenham cumprido, não porque não tenham feito o suficiente, não porque não se tenham esforçado, mas porque tentaram, mais do que todos os outros, responder à crise com austeridade e "reformas estruturais" (leia-se desregulação do mercado laborai e esmagamento de direitos sociais). A Grécia está no estado que Portugal estaria se a desvairada paixão pela austeridade de Passos Coelho não tivesse sido (parcialmente) travada pelo Tribunal Constitucional. Aliás, uma parte das medidas do governo grego não são mais do que a reposição de medidas que, em Portugal, foram consideradas inconstitucionais.

    Sim, os gregos foram quem mais cortou na despesa pública, foram quem mais reduziu o défice e, segundo a OCDE, foram quem mais apostou nas salvíficas e redentoras reformas estruturais. Os resultados são aqueles que se conhece. Segundo a lógica de Passos Coelho, os gregos deviam ser uma hiper-Alemanha. Mas não, são apenas Portugal, mas em muito pior. É por esta razão que a solidariedade com os gregos, para além de inteiramente justificada, é também uma forma de defender Portugal. E tudo isso, no fundo, é única forma que hoje existe de defender a Europa. A vergonha portuguesa não é a de ser um país incumpridor, é a de ser um país cujos governantes se comportam como o caseiro que acha que é o dono da quinta. Triste destino, o dos que acham que nas costas dos outros não vêem as suas.»

8 comentários :

Morgado De Basto disse...


Vou ser simpático,sem ser mole:Nos últimos, quase,quatro anos,Portugal,foi governado por um bando de cegos,Que,espanto dos espantos,teimosamente(vingativamente?)faz de tudo para se manter no mesmo caminho.Rasgaram o conteudo da Carta de Vitor Gaspar na hora da despedida.Agora,atiram para a Fogueira o Ensaio de Vitor Bento publicado no Jornal Público.Quem é esta gente?Quem servem?(...)

Joaquim Tavares de Moura disse...

As recentes tomadas de posição de Vital Moreira, estão em linha com as de Francisco Assis, de Dijsselbloem e Moscovici.
A leitura que eles fazem da política de austeridade que arrastou a Europa para a actual crise económica e social, não é muito diferente da direita.
Esta gente não entende que é exactamente por os eleitores não verem grande diferença entre o que defendem os partidos socialistas e sociais-democratas no poder (ou fora dele) que chegaram ao ponto onde estão.
Ver e ouvir Dijsselbloem hoje na conferência de imprensa, fazer a chantagem mais desbragada contra o governo grego em nome da ortodoxia alemã, é simplesmente revoltante:

"Pergunta: Why doesn’t the eurogroup understand that Greece feels trapped by the commitments of the previous government?

R: Eurogroup chief Dijsselbloem replies that there is some flexibility in the current bailout programme, but that Athens must also stick to its main principles and targets.

P: And how different would a new Greek programme be?

R: Not very different, Dijsselbloem replies. It would have to be based on three principles -- fiscal and debt sustainability, reforming its economy to make it more competitive, and ensuring the stability of its financial sector.

Será que o voto expresso livremente pelos eleitores conta para alguma coisa para Moreira, Assis e Cª.?

Anónimo disse...

Esse decadente VITAL Moreira está pura e simplesmente seguir o mesmo destino da ZITA Seabra, lembram-se? Caminho do vígaro PINA Moura...e de tantos outros. A certa altura, estes intelectuais militantes, de raiz PC-estalinista, que absorveram desde a adolescência o terrível pensamento dogmático que em nome da defesa do povo, nega um dos lados do lado extremo mal, inevitavelmente começam, mais cedo ou mais tarde, a sofrer de um síndrome terrível, baseado no despeito por não terem sido gratificados pela politica como julgam ter direito. Lá fundo esta o ódio que nutrem pelo seu próprio passado e o horror que memorizaram pela extrema insegurança e falta de liberdade que sentiram anos a fio. Vai daí, dá-se-lhes uma volta na cabeça, uma viragem de 360º mas em cornucópia, progressiva, inevitável, e viram burocratas obsessivos da extrema direita, dogmáticos defensores de um "liberalismo" securitário, por vezes virando apoiantes sofisticados do capitalismo selvagem, aquele que lhes deu, ou dará, instrumental guarida e bem estar. O Vital esta a caminho. Aquela não colocação na lista do parlamento europeu foi o detonador! A Maria Manuela Leitão (uma grande senhora por sinal) que se cuide, esta em marcha um insuportável velho marido. E a Ana Gomes, que já atura o celerado Carlos Amorim todos os 15 dias, que se prepare para demarcação ou morte.

Anónimo disse...

A hostilidade do Governo portugues para com a Grécia é incomprensível e só se pode comprender por fanatismo político ideológico.Um fanatismo muito perigoso que vai contra o interesse Nacional e pode dar origem a tentações autoritárias.

Rosa disse...



João Galamba, muito bem! É um dos grandes "emissários"do PS...e, além de conhecedor das políticas, é muito claro nos seus raciocínios e...escreve em bom português.

Anónimo disse...

A proposito de alguns comentários queria aqui lembrar que Antonio Jose Seguro fez uma limpeza no Grupo Parlamentar do PS ao Parlamento Europeu. Aliás este parlamento , é um parlamento fantoche em que os seus membros são pagos principescamente e apenas servem para fazer relatórios que ninguem lê.

Anónimo disse...

Pelo excelente texto queria dar os meus parabens ao meu camarada João Galamba.

Anónimo disse...

"qua fev 18, 12:20:00 da tarde"

Quis "lembrar que Antonio Jose Seguro fez uma limpeza no Grupo Parlamentar do PS ao Parlamento Europeu"

E?

Limpeza pq? Não me recordo de especiais continuidades nos eurodeputados do PS nas figuras de primeira linha. Vitorino, [...], Soares, Vital Moreira e Assis são os de que me lembro?

E Assis será substancialmente diferente de Vital?