segunda-feira, março 30, 2015

Crónica de uma retoma não anunciada


• João Galamba, Crónica de uma retoma não anunciada:
    «Na passada sexta-feira, a ministra das Finanças decidiu entrar em modo farsa e acusou a oposição de falhar todas as previsões. E fez isso sem se rir. Vejamos o que o actual Governo, no seu primeiro Documento de Estratégia Orçamental (DEO), apresentado no final de Agosto de 2011, anunciava ao país. A recessão ia durar apenas um ano, com o PIB a cair 1,8 em 2012; em 2013, vinha a retoma, com a economia a crescer de forma robusta e sustentável. O que verdadeiramente aconteceu foi que a economia colapsou, caindo 4% em 2012 e 1,8% em 2013; e a dívida pública, que o Governo disse que ia aumentar apenas seis pontos percentuais (pp), cresceu mais de 20 pp, ultrapassando os 130% do PIB.

    O objectivo inicial de regressar aos níveis de endividamento de 2011 logo em 2015 foi adiado lá para 2020. Para além de uma recessão muito maior e mais duradoura do que o previsto, com os custos económicos e sociais que todos conhecemos, a retoma que o Governo está a celebrar consegue a dupla proeza de ser anémica e insustentável...segundo os critérios de sucesso definidos pelo próprio governo no seu primeiro DEO. Em vez de um crescimento de 2,5% assente na estagnação do consumo e inteiramente dependente do investimento e da procura externa líquida, temos um crescimento que é um terço do previsto e que depende quase exclusivamente do consumo, uma vez que a procura externa líquida foi negativa, e o investimento, em vez de crescer em torno dos 4%, cresceu apenas 2,3%, desacelerando no último trimestre, devido à forte travagem do investimento público.

    Crescimento do consumo superior ao crescimento do PIB, crescimento das exportações que é metade do previsto, crescimento das importações muito acima do previsto, investimento que regressou a níveis pré-adesão à CEE, mais concretamente a 1984 - o ano de 2014 mostra que o Governo está á celebrar uma retoma que é o contrário do que o próprio governo sempre defendeu. Esta retoma, embora insustentável, é, no curto prazo a melhor do ponto de vista orçamental: o crescimento assente no consumo, sobretudo na compra de automóveis, é o que mais faz crescer as receitas fiscais, que é o que explica toda a redução do défice de 2014.

    Sim, a economia cresce, como crescem todas as economias em que um governo é obrigado a recuar na austeridade que previa executar. Mas 2014 não é o ano do sucesso das políticas do governo: é o ano em que a economia portuguesa se libertou de parte das políticas de austeridade da maioria e também é o ano em que se confirma que não houve qualquer tipo de transformação estrutural que assegure a sustentabilidade futura da economia portuguesa. Um crescimento de 0,9%, que degrada a balança externa em 30% e que depende quase exclusivamente do consumo, é a prova disso mesmo.

    2014 não é o ano do sucesso das políticas do governo: é o ano em que a economia portuguesa se libertou de parte das políticas de austeridade da maioria.»

4 comentários :

Anónimo disse...

Estas teses do Joao Galamba começam a ficar muito pobres. Vira o disco e toca a mesma. É necessário ir mais fundo e dar uns passos em frente. Não houve transformação estrutural?Pois não.Mas houve destruição estrutural. E que transformação quer e espera que venha a haver? Ou seja, qual será possível, impulsionada por que circunstancias e que politica.

Antonio Lourenço disse...

Eu gostaria que se comentasse a pesada derrota do PS na Madeira. E se começasse a discutir o mau desempenho de Antonio Costa como lider da oposição (tão mau como Seguro) encobrindo não discutindo, vamos continuar a ter esta direita psicopata no governo ai vamos vamos!

Anónimo disse...

É verdade. Se em 2014, Portugal cresceu 0,9%, foi porque o Tribunal Constitucional impôs um limite à Loucura.

Recordo aos leitores que, no primeiro trimestre de 2013, a Loucura culminou numa recessão de 4,4% e na perda de cem mil empregos (sim! Cem mil empregos em 90 dias!)

Isto aconteceu. Não é fantasia. Aconteceu mesmo.

Por isso mesmo, devemo-nos lembrar disso, quando nos tentam vender isto como "um sucesso". Porque não o foi. A prova absoluta e inquestionável do falhanço desta Loucura, são os três pedidos de demissão de Vítor Gaspar, onde o último destes foi determinante.

O que se passou e ainda se passa em Portugal, é uma Vergonha, que ficará para sempre na História do nosso país. Nunca se apagará e não deve apagar-se. Deve ali estar, para nos lembrar o que acontece, quando não nos importamos, quando nos conformamos.

Agora, espero que nunca mais sejamos bananas.

Anónimo disse...

Derrota triste do na Madeira, de quem foi a brilhante ideia de fazer uma coligação? que conhecimento essas luminárias tinham do terreno local-Regional?
Terá sido aquele senhor, que teve de dar a cara na noite da derrota?