• Francisco Seixas da Costa, NÃO LHES PERDOO!:
- «(…) Desde logo, a mentira, a descarada mentira com que conquistaram os votos crédulos dos portugueses em 2011, para, poucas semanas depois, virem a pôr em prática uma governação em que viriam a fazer precisamente o contrário daquilo que haviam prometido. As palavras fortes existem para serem usadas e a isso chama-se desonestidade política.
Depois, a insensibilidade social. Assistimos no governo que agora se vai, sempre com cobertura ao nível mais elevado, a uma obscena política de agravamento das clivagens sociais, destruidora do tecido de solidariedade que faz parte da nossa matriz como país, como que insultando e tratando com desprezo as pessoas idosas e mais frágeis, desenvolvendo uma doutrina que teve o seu expoente na frase de um anormal que jocosamente falou, sem reação de ninguém com responsabilidade, de "peste grisalha". Vimos surgir, escudado na cumplicidade objetiva do primeiro-ministro, um discurso "jeuniste" que chegou mesmo a procurar filosofar sobre a legitimidade da quebra da solidariedade inter-geracional.
Um dia, ouvi da boca de um dos "golden boys" desta governação, a enormidade de assumir que considerava "legítimo que os reformados e pensionistas fossem os mais sacrificados nos cortes, pela fatia que isso representava nas despesas do Estado mas, igualmente, pela circunstância da sua capacidade reivindicativa de reação ser muito menor dos que os trabalhadores no ativo", o que suscitava menos problemas políticos na execução das medidas. Essa personagem foi ao ponto de sugerir a necessidade de medidas que estimulassem, presumo que de forma não constrangente, o regresso dos velhos reformados e pensionistas, residentes nas grandes cidades, "à provincia de onde tinham saído", onde uma vida mais barata poderia ser mais compatível com a redução dos seus meios de subsistência.
Fui testemunha de atos de desprezo por interesses económicos geoestratégicos do país, pela assunção, por mera opção ideológica, por sectarismo político nunca antes visto, de um desmantelar do papel do Estado na economia, que chegou a limites quase criminosos. Assisti a um governante, que hoje sai do poder feito ministro, dizer um dia, com ar orgulhosamente convicto, perante investidores estrangeiros, que "depois deste processo de privatizações, o Estado não ficará na sua posse com nada que dê lucro".
Ouvi da boca de outro alto responsável, a propósito do processo de privatizações, que "o encaixe de capital está longe de ser a nossa principal preocupação. O que queremos mostrar com a aceleração desse processo, bem como com o fim das "golden shares" e pela anulação de todos os mecanismos de intervenção e controlo do Estado na economia, é que Portugal passa a ser a sociedade mais liberal da Europa, onde o investimento encontra um terreno sem o menor obstáculo, com a menor regulação possível, ao nível dos países mais "business-friendly" do mundo". (…)»
9 comentários :
o delicadinho das ironias tem evoluído para o combate político desde que entranhou o governo costa. fica sempre bem, pena que não se tenha lembrado quando foi necessário.
Muito bem, ignatz.
E muito mais do que um simples e individual "não lhes perdoo", ecoa nos ares de Portugal um clamor irreprimível e coletivo: NÃO LHES PERDOAMOS!
N U N C A L H E S P E R D O A R E M O S!!
Boa, ignatz. Tb o topei!
Não culpem a garotada - nada se fez sem o acordo de S Excelencia - é o meu parecer
Zé dos Pirolitos
Muito bem FSC.
É bom que se diga. Melhor ainda, como dito da forma que o disse.
"Muito bem FSC.
É bom que se diga. Melhor ainda, como dito da forma que o disse."
era bom que o tivesse dito quando foi necessário, agora parece mais recado para não se esquecerem dele. já agora qual é o candidato presidencial que o seixas apoia ou será que é amigo de todos e para não ferir susceptibilidades só revela quando for conhecidos o vencedor.
Pois! Assim à moda do valentão Baldaia, que só bate forte e feio quando os vê já bem mortos e escarrapachados na valeta...
Vejamos no que discordo, não deixando de concordar perante a surpresa quase geral.
O Seixas da Costa é embaixador, ponto. Ora, também eu o vi a ser crítico mas demasiado brando com os tipos do PSD/CDS durante estes quatro anos o que pode ser uma deformação de diplomata, a dele, e de pescador de água doce, a minha. Mais: nos pontos que para mim são importantes sobre política externa do MNE quase sempre o vejo do outro lado, ou ausente, assim foi no dossier da toupe do JES em Angola, do BES e da lavagem de dinheiro até ao processo de Luaty Beirão e companheiros, na errática acção da CPLP que assim é pouco mais do que dispensável, na invisibilidade de Rui Machete perante o drama dos refugiados, no crime file de Obiang na Guiné Equatorial, etc.
Mas há aspectos importantes neste artigo do Acção Socialista que começou por ser um
post no blogue do Seixas da Costa e a ele que me refiro pelo que, na verdade, estou a repetir-me porque já o disse a um amigo.
1. Deveriam ter sido encaminhados para a PGR, pois percebe-se que ele fala
em delapidação do património no tempo do Portas à frente do MNE (não tenho tempo de o reler mas o acentuar deste período poderá ter-lhe permitido que tenha sido esponjoso com o consulado de Rui Machete a frente dos negócios literalmente).
2. Impressionam-me também os 60 comentários (hoje serão mais), na sua esmagadora maioria sinceros, porque dá para perceber que muita gente andou por aí perdida
e que há um enorme alívio com o fim do pesadelo.
3. O pesadelo, em detalhe: o Cavaco Silva sobre quem temos de aguardar pacientemente mais uns dias, os gajos da PàF que actuarão aparentemente como se estivessem coligados até quando não sei e a comunicação social que não pode continuar a mentir a toda a hora.
Mais do que nos centrarmos na pessoa, e depois das reservas que ecoam nos leitores do CC, o post/artigo do Seixas da Costa é importante por isto.
Estranho esta sanha cíclica contra o Seixas da Costa. Está-se a pedir militância a quem nunca o foi. O homem já deixou patente que está reformado e sem ambições políticas. Deixemos que comente. Às vezes dá jeito. Mas parece que tem inimigos íntimos. Aquilo da diplomacia é uma família estranha
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