Lisboa a arder

Maluda

1. A cidade de Lisboa apresenta problemas graves: equipamentos e bairros sociais degradados, prédios a ruir, estaleiros ao virar de cada esquina, jardins ao abandono, lixo nas ruas, trânsito caótico… Quando se esperaria que a Câmara Municipal tirasse da cartola uma estratégia para resolver a balbúrdia instalada, eis que surge das trevas Maria José Nogueira Pinto com um plano para a reconversão da Baixa e do Chiado, que envolverá o esventramento das colinas e o que mais se virá a descobrir.

2. Não conheço suficientemente a proposta — pelo que não nego que possa conter aspectos positivos. Mas a forma como foi desencadeado o processo tem duas consequências imediatas:

• A solução dos problemas globais de Lisboa é empurrada com a barriga para a frente;
• A discussão, revelado o projecto, desloca-se do planeamento urbano para a contabilidade (o custo, numa primeira estimativa, andará por 1,1 mil milhões de euros).

3. Num momento em que o país faz um esforço para reduzir o défice, a Câmara Municipal reclama volumosos apoios financeiros da administração central.

E bom não esquecer que Lisboa é um dos municípios mais endividados do país. De resto, para se ter noção do real défice da autarquia, deveriam ser-lhe imputadas determinadas despesas que estão a cargo do Orçamento do Estado (v.g., os défices, numa determinada percentagem, do Metro, da Carris e parte do da CP).

4. De um ponto de vista pessoal, a estratégia da única vereadora do CDS-PP é notável. Emparedada entre um PSD que anda entretido com os negócios obscuros da EPUL e uma oposição que passou procuração a José Sá Fernandes, esta iniciativa coloca Maria José Nogueira Pinto como a única voz que se faz ouvir em Lisboa. E, se o projecto não for por diante, como provavelmente acontecerá, o que será discutido é a questão financeira do projecto — e não se era este o projecto de que Lisboa necessita.

Não sendo responsável pela existência de meios financeiros para concretizar o projecto, Maria José Nogueira Pinto pode dormir descansada. Fica no entanto por encontrar uma estratégia para os problemas da capital — mas Lisboa pode esperar.