sexta-feira, dezembro 07, 2007

“Quem reescreveu o 25 de Novembro?”


Universidade criada pelo Opus Dei



Quem reescreveu o 25 de Novembro?” é o título do artigo de Luís Campos e Cunha no Público de hoje. É um contributo para perceber a actuação do PCP no 25 de Novembro — esse mesmo partido que anda agora tão preocupado com a qualidade da democracia — e o papel de actor secundário de Eanes nesta peça levada à cena no século passado. Aqui fica uma passagem, podendo o artigo ser lido na íntegra na caixa de comentários:

    “Mas algo de estranho se passou e continua a obscurecer o 25 de Novembro. Logo em 1976, houve ordens para que o acontecimento não fosse celebrado publicamente. Porquê? Se o PCP foi o aparente derrotado, porque continuou no Governo e a dominar o aparelho de Estado? Quem foram os actores no 25 de Novembro? Do meu ponto de vista, o problema é muito complexo, tenho explicações, mas não certezas. De qualquer modo, os historiadores estão tipicamente a alinhar por uma versão politicamente correcta, mas factualmente falsa.

    O PCP esteve certamente envolvido até muito tarde naquilo que veio a ser a tentativa de golpe do 25 de Novembro. No entanto, parece claro que atempadamente se retirou, deixando a extrema esquerda no terreno, sozinha e, naturalmente, derrotada, o que terá comovido muito pouco Álvaro Cunhal. É possível que algumas das bases comunistas não se tenham desmobilizado até à madrugada do dia 25 ou por serem aguerridas ou por dificuldade nas comunicações. O que parece também claro é que não só o PCP esteve e se retirou a tempo, mas também que, passados anos, podemos ver que os comunistas ganharam, pelo menos em parte. Ganharam porque erradicaram a extrema esquerda do poder, ganharam porque conseguiram manter a Constituição tal qual, ganharam porque permaneceram no Governo e, muito importante, mantiveram o controlo do aparelho de Estado e que, à altura, incluía quase todo o tecido empresarial.

    Tudo parece indicar que a retirada das tropas do PCP terá sido negociada por alguns elementos do chamado “grupo dos 9”, uns dias antes, a troco daquelas facilidades e concessões. Mas o 25 de Novembro, contrariamente ao propalado, foi ganho por Costa Gomes (embora isto custe a muitos), Jaime Neves, Vasco Lourenço, Pires Veloso e outros, em que conto o meu Pai (tenente-coronel Ferreira da Cunha), mas não me fica bem ir além desta referência. Houve ainda os vencedores do dia 28 e esses apropriaram-se da vitória. O famoso comando da Amadora não passou disso: um comando famoso do dia 28 e que pouco ou nada comandou. Jaime Neves e Pires Veloso o dizem e confirmou também meu Pai.”

9 comentários :

Miguel Abrantes disse...

Luís Campos e Cunha

Quem reescreveu o 25 de Novembro?

A história é escrita é escrita pelos vencedores. Este é um princípio que os historiadores me ensinaram, mas que não sei se é sempre verdade.

Vem isto a propósito das recentes não-comemorações do 25 de Novembro. Por razões familiares, apesar dos meus 20 anos, vivi muito por dentro os acontecimentos políticos desde antes do 25 de Abril e até às primeiras eleições parlamentares de 1976. De facto, naquele tempo, posso dizer que estive muito próximo (de alguns) dos segredos dos deuses. Lembro-me que na noite de 24, já com a população em Rio Maior a cortar o Norte do Sul, estava em minha casa o então director do Expresso, Augusto de carvalho, e o meu Pai o avisou à saída: “Se eu fosse jornalista, esta noite não me deitava”. O 25 de Novembro estava em marcha.

Mas algo de estranho se passou e continua a obscurecer o 25 de Novembro. Logo em 1976, houve ordens para que o acontecimento não fosse celebrado publicamente. Porquê? Se o PCP foi o aparente derrotado, porque continuou no Governo e a dominar o aparelho de Estado? Quem foram os actores no 25 de Novembro? Do meu ponto de vista, o problema é muito complexo, tenho explicações, mas não certezas. De qualquer modo, os historiadores estão tipicamente a alinhar por uma versão politicamente correcta, mas factualmente falsa.

O PCP esteve certamente envolvido até muito tarde naquilo que veio a ser a tentativa de golpe do 25 de Novembro. No entanto, parece claro que atempadamente se retirou, deixando a extrema esquerda no terreno, sozinha e, naturalmente, derrotada, o que terá comovido muito pouco Álvaro Cunhal. É possível que algumas das bases comunistas não se tenham desmobilizado até à madrugada do dia 25 ou por serem aguerridas ou por dificuldade nas comunicações. O que parece também claro é que não só o PCP esteve e se retirou a tempo, mas também que, passados anos, podemos ver que os comunistas ganharam, pelo menos em parte. Ganharam porque erradicaram a extrema esquerda do poder, ganharam porque conseguiram manter a Constituição tal qual, ganharam porque permaneceram no Governo e, muito importante, mantiveram o controlo do aparelho de Estado e que, à altura, incluía quase todo o tecido empresarial.

Tudo parece indicar que a retirada das tropas do PCP terá sido negociada por alguns elementos do chamado “grupo dos 9”, uns dias antes, a troco daquelas facilidades e concessões. Mas o 25 de Novembro, contrariamente ao propalado, foi ganho por Costa Gomes (embora isto custe a muitos), Jaime Neves, Vasco Lourenço, Pires Veloso e outros, em que conto o meu Pai (tenente-coronel Ferreira da Cunha), mas não me fica bem ir além desta referência. Houve ainda os vencedores do dia 28 e esses apropriaram-se da vitória. O famoso comando da Amadora não passou disso: um comando famoso do dia 28 e que pouco ou nada comandou. Jaime Neves e Pires Veloso o dizem e confirmou também meu Pai.

O ano passado, se bem me recordo, uma historiadora, que prezo e respeito, num longo artigo sobre o 25 de Novembro, nunca referiu a situação no Norte do país e nunca mencionou Pires Veloso. Ele (e o Povo do Norte) foi um elemento determinante nesse período. Era no Norte que a aviação se tinha realojado, era no Norte que as unidades do Exército estavam sob controlo e operacionais e o Norte foi a retaguarda das operações em Lisboa. Qualquer militar sabe bem que ter uma retaguarda segura é fundamental para a capacidade militar e moral das tropas. Foi Pires Veloso que pôde dizer à Marinha que qualquer navio que fosse avistado a norte de Peniche seria considerado hostil e abatido pela Força Aérea. Foi ele que permitiu a segurança das operações em Lisboa e arredores. Temos uma vitória militar contra inimigos (da democracia) e o PCP a negociar atempadamente a sua retirada. O PCP perdeu no dia 23 (ou 24), mas não no dia 25 de Novembro. E a 28 alguém deixou que partilhasse também a vitória.

O PCP continuar a ser um partido legal era inevitável e, acima de tudo, desejável. Mas que o deixassem manter as (extraordinárias) influências no aparelho de Estado foi um erro que se pagou caro; foi um golpe dentro de um contragolpe. Foram precisos mais 10 anos para que as privatizações tivessem lugar, e 20 para perder a sua força ideológica, com o desaparecimento da URSS. Foi muito caro para o país.

Há cerca de quinze dias, houve uma homenagem a Pires Veloso, onde apareci porque o meu Pai já não pôde estar e fi-lo com muito gosto. Homenagear um Amigo e um herói da democracia é para mim uma honra. Devo dizer que não gosto de participar em homenagens, soa-me a bajulice, prebendas e sinecuras. Mas Pires Veloso só tem para oferecer a sua amizade e essa é para a vida. Bem vistas as coisas, a História é sempre escrita pelos vencedores. Quem está a escrever a história de 24 a 28 de Novembro é quem, na prática, acabou por sair vencedor (no dia 28). Esta crónica não faz parte dessa história, nem do politicamente correcto sobre o que se passou nesse período. Os meus heróis são outros.

Anónimo disse...

Mas para a VERDADE ser finalmente conhecida só falta o Miguel Abrantes revelar o terceiro segredo: por trás da promoção do Eanes a chefe do 25 de Novembro esteve o FCPorto, o Pedroto e o Pinto da Costa. Agora o Eanes só anda a pagar os favores recebidos.
Isto anda tudo ligado. Não fosse o Miguel abrantes e o CC e íamos morrer na ignorância. Isto explica o chorrilho de campeonatos ganhos desde o 25 de Abril, perdão, de Novembro. Voilà!

Anónimo disse...

Análise rica em conteúdo, imparcial e isenta de subjectividade, sem dúvida. E tinha já o seu Autor 20 anos à data dos acontecimentos? Hum...

Um reconhecido e afamado perito em qualquer coisa parecida com "retiradas estratégicas de elevados cargos ministeriais por razões menos claras" vem-nos elucidar sobre os acontecimentos militares do 25 de Novembro, que "os historiadores estão a falsear" (nada como um especialista para corrigir os ignorantes).


Com que então, o P. C. P. foi um dos vencedores do 25 de Novembro? Se não é o quarto segredo de Fátima, deve ser o maior que o Cunhal levou consigo para a cova: deste facto nem os próprios comunistas suspeitavam...


Ora recordemos a situação do P. C. P. antes e depois do 25/11: ficou "no Governo"? Pois foi, mas apenas por mais seis meses. E depois disso NUNCA MAIS o integrou!


Manteve o controlo do poder económico? Ah, pois, a banca estava nacionalizada... Mas quem controlou o poder económico nos tais dez anos seguintes foram... os sucessivos Governos! Vamos recordá-los?


Mário Soares sózinho (e já "com o socialismo na gaveta", talvez por pressão de Cunhal...): dois anos; P. S./C. D. S.: seis meses; Eng.º Nobre da Costa (eanista): nem tomou posse; Mota Pinto (eanista): um ano; Lurdes Pintassilgo (independente): três meses; Sá Carneiro (A. D.): um ano; Pinto Balsemão (A. D.): um ano e meio; Soares/Mota Pinto (Bloco Central): dois anos e meio! Será que Campos e Cunha considera que nestes dez anos o P. C. P. controlou estes Governos todos?


Bem, as opiniões são de facto livres, a dele também. O crédito que se lhes dá, esse, fica com a consciência de cada um. Em todo o caso, de alguém que diz que os navios seriam "abatidos" pela Força Aérea (linguagem militar altamente vanguardista...) e olvida Salgueiro Maia como um dos intervenientes militares decisivos no 25 de Novembro tudo ou quase tudo se pode esperar.



Só falta mesmo reclamar que o grande vitorioso do 25 de Novembro foi... o BLOCO DE ESQUERDA (digo eu, que na altura tinha menos que vinte anos, mas já tinha muito boa memória...).


Zé Ralis.

Anónimo disse...

Pois, a história do pós 25 N é muito rica. Neste caso, em concreto, basta ter andado na tropa, por largos e longos anos antes da famosa lei dos coronéis, para ter ouvido, acerca do 25 N, histórias do arco da velha. Quantas e quantas vezes os militares, nas Messes e naquele tempo, se pegaram em grosseiras discussões sobre esses mesmos acontecimentos. As opiniões divergiam no meio daqueles que de canhota na mão ou nas salas de operações, não foi o meu caso, tinham participado activamente nos acontecimentos. Mas, a sociedade civil tem destas coisas, como em calão militar se dizia "certeza no c..ar". Eu, caro Miguel, sem querer por em causa a sua elevada cultura académica e conhecimentos políticos, que os tem, duvido de algumas passagens deste e de outros artigos que aqui tem publicado. Dessas tertúlias militares, em que participei, resultou um emaranhado de acontecimentos dificeis, por enquanto, de ordenar. Talvez um dia, alguém com capacidade e paciência, ouvindo desapaixonadamente os principais intervenientes, permita que se faça luz e se consiga chegar a conclusões que nos levem a aferir do que realmente se passou na época. Talvez até seja o Miguel a fazê-lo, se assim for, terá de certeza o meu louvor mas, por enquanto penso que ainda estamos muito longe da verdade. No fundo, estes escribas, não passam de uns cadetes armados em generais.

Asa Negra

Anónimo disse...

Por vezes em Hollywood também é assim: um actor mediocre ganha o óscar de actor principal.

Anónimo disse...

Alguém consegue esclarecer-me sobre esta dúvida: foi após o 25 de Novembro de 1975 que o Eanes passou de major a general (de aviário)?

Anónimo disse...

Sim, era Tenente-coronel. Foi graduado em General para assumir o cargo de CEME em 75.

Anónimo disse...

notícia publicada no DN de 26/11/2005 do jornalista Manuel Carlos Freire

"Exército irrita Vasco Lourenço por causa do 25 de Novembro

O Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Valença Pinto, quis fazer do 30.º aniversário do 25 de Novembro de 1975 - quando morreram três militares na luta entre facções do ramo - um dia de "unidade e paz entre tropas do Exército e dos Comandos". Para a exibição pública de coesão interna, num momento de imposição de reformas às Forças Armadas, só convidou o general Ramalho Eanes - "como representante de todos os militares" envolvidos naquele combate político-militar.

Mas se o general Tomé Pinto foi "clandestinamente" ao Regimento de Lanceiros na Ajuda, como o próprio disse ao DN, o coronel Vasco Lourenço não apareceu. Contactado, mostrou irritação "Estranho que não convidassem quem esteve a comandar [as forças moderadas] como n.º 2, a seguir ao Presidente da República e CEME" Costa Gomes.

"No Exército devem ignorar o que se passou", ironizou Vasco Lourenço, acrescentando "Como comandante directo do general Eanes, meu adjunto nas operações, não me sinto representado por ele" nas cerimónias de ontem. A própria ausência de figuras do "outro" lado da barricada, como Mário Tomé, "é incompreensível" quando se fala em unidade, observou o coronel.

No seu discurso, o CEME defendeu prudência no processo de reformas das Forças Armadas e alertou contra "o atrofiamento da cadeia de comando por [efeito] da limitação de competências inerentes ao desempenho das funções" de chefia. "

Anónimo disse...

Por detrás daquele seu ar de honestidade e integridade, está uma pessoa que não passa de um intriguista e que joga forte nas manobras de bastidores. Intelectualmente mediano, a roçar mesmo a mediocridade, conseguiu, fruto da instabilidade vivida nessa época, alcandorar-se a um lugar que pelas vias normais não lhe era permitido.
Não obstante os brandos costumes dos portugueses ajudarem a encobrir a farsa do Eanes, a verdade, mais cedo ou mais tarde, tinha que vir ao de cima. Era inevitável. Pessoas acima de qualquer suspeita como Pires Veloso e Vasco Lourenço, entre outras, que nunca se aproveitaram da situação então vivida para benefícios pessoais têm vindo a denunciar a situação. É pena que o General Costa Gomes não possa também testemunhar.

Politicamente falando Eanes é hoje um cadáver mal cheiroso e nauseabundo. Actualmente, apenas lhe resta ser testemunha de defesa do Pinto da Costa ao lado do chefe da claque dos super dragões. Há-de chegar o dia em que o iremos ver ao lado de Reinaldo Teles e dos super dragões a fazer uma manifestação de apoio a Pinto da Costa em frente ao tribunal.