Quando os procuradores se puseram aos tiros uns com os outros, o presidente vitalício da Fenfrop do Ministério Público escondeu-se. Pela mão de Menezes, António Cluny regressou e tem andado por aí nestes dias.
Entre umas vagas críticas, nunca concretizadas, acerca das alterações em curso na área da justiça, designadamente do mapa judiciário (que procura dar solução ao problema de haver um elevado número de comarcas que contém meia dúzia de processos por ano, enquanto as que se situam nas áreas metropolitanas estão congestionadas), Cluny acaba por revelar, em entrevista ao Sol, que o que move não é a melhoria do estado da justiça:
“Não há nada que tenha a ver com o estatuto socio-profissional dos magistrados que este Governo não queira destruir.”
O presidente vitalício do sindicato refere-se ao regime especial de assistência na saúde, à redução das férias judiciais e ao subsídio de habitação compensação ilegalmente livre de impostos [apesar de 150 das 425 casas de função estarem há vários anos desocupadas, 80 por certo dos 3.500 magistrados optam por receber sempre o tal subsídio, que é dado mesmo aos que estão aposentados].
É claro que, quando uma juíza interveio no VII Congresso dos Juízes Portugueses a defender exactamente o mesmo sem rodriguinhos, foi deixada à sua sorte. Mas não foram sempre esses os “fundamentos” das tomadas de posição de António Cluny? Veja-se o que disse, então, a juíza em causa, de que o CC reproduziu aqui alguns extractos:
• Afinal, há um problema com as férias
"A redução das férias judiciais que, com a publicação do diploma que veio consagrar tal alteração, se transformaram e se confundem ainda com as férias dos Juízes, prejudicando-nos gravemente, nomeadamente, em relação ao poder legislativo, uma vez que o período normal de funcionamento da Assembleia da República decorre de 15 de Setembro a 15 de Junho, sem prejuízo das suspensões que a Assembleia deliberar por maioria de dois terços dos deputados presentes (v. artº. 174, nº. 2, da Constituição da República Portuguesa) – o que implica que possamos dizer, com toda a clareza, que os deputados podem gozar férias a partir do dia 16 de Junho até 14 de Setembro, já para não falar das férias dos Professores do Ensino Básico e Secundário, os quais leccionam durante 37 semanas, a que acrescem umas reuniões e exames, e Professores do Ensino Superior Politécnico e Universitário, com as suas singelas 30 semanas de aulas, acrescidas de umas semanas de exames.
Esse prejuízo, para nós, advém ainda do facto de, obrigatoriamente, os juízes terão de gozar as suas férias, preferencialmente, no mês de Agosto, e também entre 15 a 31 de Julho.
Cumpre-me perguntar: Porque razão a Assembleia da República encerra cerca de três meses para férias ? e, já agora, no Ensino, porque motivos os Srs. Professores mantêm as suas férias dentro de um período muito alargado, já que podem ir de Junho a Setembro, ressalvando os intervalos de interrupção lectiva ?”
• A independência dos juízes vista sob um prisma inovador
“Será possível afirmar que os juízes são independentes quando estão dependentes na questão da escolha das suas férias, atrelados ao mês de Agosto que coincide com as férias judiciais, não podendo escolher, contrariamente a outros, o período em que desejam, harmoniosamente com a sua família ou amigos, gozar uns merecidos dias de descanso ?
Isto é independência ou dependência ?”
• A independência dos juízes vista sob um outro prisma inovador
“É também possível afirmar que os juízes são independentes quando estão dependentes do sistema nacional de saúde, que os obriga a ingressar numa fila única às 6:00 horas da manhã para marcar consulta com o seu médico de família, sem qualquer garantia que serão atendidos no dia que pretendem e a horas que não perturbem a sua agenda do Tribunal ?
Isto é independência ou dependência ?”
13 comentários :
Reza o art.206 da Constituição:"Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei".
Mas os Srs. Magistrados nem à lei querem estar sujeitos!
O vitalicio está em todas, ou com todos.
Lambe as botas à extrema esquerda não esquecendo a direita. Grande camaleão me saiu este noia.
O grande educador dos magistrados licenciados do MP sabe tudo sobre oprtunismo politico, não fosse ele um elemento da UEC dos tempos do PREC.Todo revolucionario, todo vanguardista, como morte à direita, direita nunca mais.
E agora é ve-lo a mamar na teta materna da direita. Estes comunistas são ferteis nestas cambalhotas.Renegam o proprio pai se necessario.
... Esta de ressuscitar o que disse a juíza, há cem anos atrás -depois de meses de frontespício neste blog - só podia lembrar a quem já moeu a rosca ... (mais a mais, numa altura em que os deuses já mudaram a causa)
Mas, enfim, um post é sempre um post e, para quem gosta, não deixa de ser um bom bost ...
JOVEM: falsíssima questão.
É óbvio que o sindicato defende, em primeiro lugar, o estatuto sócio-profissional dos magistrados, pois todos os sindicatos visam defender os direitos dos trabalhadores que os integram.
E mais:
Os sindicatos não são todos comunistas.
Os sindicatos são legais (sabia?).
Defender os direitos dos trabalhadores é legal, é permitido e não é imoral (sabia?).
O principal objectivo do sindicato é defender os direitos e interesses dos magistrados do MP: sim, eles também podem ter direitos e interesses, sabia?
O seu principal objectivo não é a melhoria do sistema judicial: para isso existe o ministério da justiça, o conselho superior do MP, etc, etc.
Portanto, não baralhe as coisas de modo demagógico e simplista, rotulando todos de comunistas, e lançando a confusão entre melhorar a justiça e a necessidade que qualquer trabalhador tem de lutar pelos seus interesses e direitos, pois a não ser assim, voltavamos aos gloriosos tempos da revolução industrial!!!!
Não me venha dizer que está totalmente convencido que os males da justiça são todos da responsabilidade dos magistrados, e os coitadinhos dos senhores que fazem leis e são ministros nada conseguem fazer contra esses mauzões???
Pois claro que há um problema com as férias.
É que, como o próprio ministério foi obrigado a reconhecer, não é possível meter o Rossio na Rua da Betesga, ou seja, não é possível meter as férias dos juízes, sobretudo dos mais antigos, calculadas de acordo com as regras gerais da função pública, num só mês, o mês de Agosto, e assegurar, ao mesmo tempo, o serviço de turno.
Compreendeste, ó lacaio?
Esse problema, real e criado pelo governo, não esconde a demagogia de confundir férias dos juízes com as férias judicias, antes a torna mais evidente.
E não esconde a injustiça de, a pretexto de igualdade, manter as desigulades dos deputados e outros, assim como o agravameento da desiguldade dos magistrados que antes podiam escolher as suas férias num período razoável e agora só podem escolher as suas férias em Agosto, e, excepcionalmente, na última quinzena de Julho.
Vê se te calas com a conversa, ó lacaio, que já enjoas.
"É óbvio que o sindicato defende, em primeiro lugar, o estatuto sócio-profissional dos magistrados, pois todos os sindicatos visam defender os direitos dos trabalhadores que os integram."
Ao anonimo que responde a Trovisco só tenho a dizer o seguinte:
No texto refer os magistrados como meros trabalhadores, razão pela qual segundo afirma há razão do sindicato,todo normal. O que deixa de ser normal é quando fazem exigencias e reclamam previlegios que pertencem exclusivamente a corpos especiais do estado.Ou seja por um lado querem ser tratados como não funcionarios publicos, por outro reclamam esse estatuto. Onde ficamos com tanto esperteza saloia?
Essa confusão não chega a ser como a dos políticos que querem ser deputados e advogados e deixar de ser deputados para serem gestores das empresas que criaram ou a quem concederam concessões enquanto governantes, etc..
Esses é que ao menos são tudo e apenas quando lhes convém.
Vale mais estares calado ó Trovisco.
Ainda sobre a 'redução' das "férias judiciais", que continuam a alucinar o Senhor Dr. Miguel Abrantes (que 'continua' a querer confundir com "férias dos juízes"):
Nuno Garoupa
Professor catedrático na Universidade de Illinois, EUA
por Nuno Garoupa - 06 Mar 2008
- A redução das férias judiciais: zero, medida puramente populista sem qualquer razão de ser.
Já agora, mais uma posição sobre a 'redução' das 'férias judiciais', subscrita por 'não juízes' :
CDLOA - Mensagem sobre férias judiciais
11-Mar-2008
«O Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados, considerando que a Ordem dos Advogados tem relegado para segundo plano a questão das férias judiciais […] que o assunto deixou, há muito, de estar na ordem do dia […],que atenta a circunstância de cerca de 83% dos Advogados exercerem a profissão em prática individual e o facto de o Conselho Distrital de Lisboa representar cerca de metade dos Advogados inscritos no país, se deveria tomar uma posição própria e audível sobre o assunto deliberou que a questão das férias judiciais é, e devia continuar a ser, preocupação premente e assunto prioritário e urgente, para não dizer emergente, de alteração legislativa, a favor da advocacia e da cidadania.
Assim, e após discussão, foi deliberado, por unanimidade, retomar e aprovar como deliberação de proposta do Conselho Distrital de Lisboa uma das duas posições advogadas pelo Conselho Geral no triénio 2004/2007, ou seja deliberar que ainda este ano o Governo legisle no sentido de que as férias judiciais devem, ao menos, decorrer entre o dia 15 de Julho e o dia 31 de Agosto do ano civil, por ser aquela solução que melhor assegura o equilíbrio e o bom funcionamento da estrutura organizativa dos Tribunais, porque lhe permite a articulação harmónica dos seus vários profissionais, das diligências e dos turnos, sem desencontros, sobressaltos e descontinuidades, por ser igualmente a que mais beneficia os Cidadãos, porque mais produtiva, previsível e fácil de entender, quer no que toca ao agendamento comum e fluido das diligências, quer até no que toca à maior disponibilidade do advogado, e por ser a que melhor realizará por parte dos Advogados, sobretudo daqueles que ainda são a grande maioria e exercem a profissão a título individual como profissionais liberais, mas com os constrangimentos normais de quem não está, nem tem que estar, associado ou coadjuvado, o legítimo direito ao gozo, não de férias, mas de um curto e merecido descanso com as suas famílias, ainda assim muito menor até do que o dos restantes cidadãos em geral. [sublinhado nosso].
Foi ainda decidido publicitar devidamente esta deliberação através do site do CDL e de envio de mailing para a Classe, para além da respectiva comunicação ao Conselho Geral, restantes Conselhos Distritais e Delegações para que se sensibilize o poder político, Governo e Assembleia da República para a urgência da implementação desta proposta concreta que tanto quanto se sabe não foi ainda revogada pelo Conselho Geral nem objecto de decisão pelo Governo.
Cordiais cumprimentos
Carlos Pinto de Abreu»
CDLOA | 10.03.2008
Toda a gente sabia que os principais visados coma redução das férias judiciais seriam os advogados, particularmente os que não estão integrados em grandes escritórios.
O governo errou o alvo, ao julgar que, com tal medida, punha os madraços dos magistrados na ordem.
Com a medida ( e outras afins) provocou um enorme desânimo no sector da justiça.
Se o objectivo foi melhorar a justiça, falhou redondamente.
Se o objectivo foi desacreditar o sentimento de justiça da população e a descrença dos cidadãos nas suas instituições acertou.
Agora, o cansado argumento de que os responsáveis pelo adiamento das reformas são as "corporações" está definitivamente ultrapassado.
Sr. Trovisco, desculpe o atraso. Da primeira vez não lhe estava a responder a si (não lhe liguei nenhuma...), apenas comentava o post, mas desta vez é que queria responder-lhe o seguinte.
O senhor está muito enganado, anda aí a baralhar algumas coisinhas.
Diga lá que exigências é que os magistrados fazem?
E diga lá os privilégios que têm?
Podia enumerá-los, s.f.f.?
E que tenham alguns, o senhor sabe o que são juízes, não sabe? Sabe o que fazem? Sabe, porventura, que são titulares de órgãos de soberania?
Ou julga que são tarefeiros?
O senhor questiona que o presidente da república tenha segurança e motorista?
E sabe que os assessores dos ministros, que não são órgãos de soberania do Estado Português, têm muitos deles motoristas pagos pelo Estado?
Mas os magistrados não têm!!! Nem o pedem!!!
Julga que eles devem ser tratados abaixo de cão ou com a dignidade que merecem, pelas funções que exercem?
Se calhar faz-lhe espécie que tenham algum tratamento a condizer com a nobreza das funções que exercem...
Mas não são tarefeiros, nem funcionários públicos!
Mas têm sindicato, e sabe porquê?
Porque são uma carreira e trabalham uma vida inteira, como os trabalhadores em geral.
Não há sindicato dos presidentes da república nem dos ministros, mas isso não é uma carreira profissional, não é?
Temos que rever o velho Marx:
"Magistrados de todo o país, uni-vos; tendes um mundo a ganhar, e não tendes nada a perder senão... 5.000 euros por mês, 14 vezes por ano, mais "subsídio de habitação" isento de IRS!"
Coitado do velho Marx! Que voltas que deve dar na tumba!
Este "horacio" é um verdadeiro canastrão dos blogs !
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