terça-feira, setembro 30, 2008

Leituras

• Ferreira Fernandes, DIAS HISTÓRICOS QUE ERA MELHOR NÃO CONHECER:
    “Enquanto focada na loucura por papéis - seja de jogadores tubarões ou pequenos accionistas - a Bolsa parece assunto de ficção. Dá bons filmes e livros, mas não lhe reconhecemos aquele suor com que se vive o quotidiano. Fazemos mal em pensar assim. Àquele crash de um dia, seguiram-se anos de Grande Depressão. Desemprego generalizado. Já não é tão fascinante e custa mais a passar.”
• João Miguel Tavares, O CASO 'LISBOAGATE' E A CULTURA DA CUNHA:
    “O escritor Baptista-Bastos, que já tanto deu a Lisboa, podia ter direito a ser ajudado numa altura de dificuldade, como parece ter sido o caso. O jornalista Baptista-Bastos, não. Porque pediu um favor ao poder autárquico. Porque auferiu de um privilégio vedado ao cidadão comum. Que alguém que sempre foi tão moralmente exigente nos seus artigos de imprensa não perceba isto faz-me confusão. Quem, como ele, acredita na nobreza do jornalismo, tem de reconhecer uma cunha quando a vê. E, sobretudo, deve reconhecê-la quando a mete.”
• João Rodrigues, Lições da crise: A história não acabou:
    “Um dado ilustra a conjugação de medíocre crescimento dos rendimentos e de injustiça social, indissociáveis da configuração de capitalismo sob hegemonia da finança de mercado que emergiu nos EUA, a golpes de política, a partir dos anos setenta: entre 1947 e 1973, época de consenso keynesiano, de contra-poderes sindicais fortes e de mercados muito mais limitados e politicamente enquadrados, o rendimento das famílias mais pobres (20% da população) cresceu, em termos reais, aproximadamente 116,1% e o rendimento das famílias mais ricas (20% da população) cresceu 84,8%; entre 1974 e 2004, na chamada "Era de Milton Friedman", esse crescimento foi, respectivamente, de 2,8% e de 63,6%.”
• Pedro Adão e Silva, Lisboagate ou Democraciagate?:
    «“Património disperso da Câmara”, assim se chama o conjunto de habitações camarárias que vive num limbo há mais de trinta anos. De acordo com o que se tem percebido, ao contrário do que acontece com a habitação social, não há qualquer critério para atribuição do que se estima serem 4.000 fogos. A consequência desta ausência de critérios começa a ser demasiado conhecida: distribuição arbitrária de casas da Câmara beneficiando famílias carenciadas, funcionários e dirigentes da autarquia, vereadores, jornalistas, artistas. Indiscriminadamente e sempre com “rendas técnicas” que têm um valor bem abaixo do mercado.»
• Wolfgang Munchau, A lição da Suécia:
    “Os acontecimentos dramáticos da semana passada permitem à América e à Europa retirar ilações importantes face ao que está a actualmente a acontecer. A primeira lição vem da Suécia, país que passou por uma grave crise financeira no início dos anos 90, país que aplicou um pacote de medidas de salvação dos seus bancos bem pensado e sob a forma de injecções directas de capital.

    Tal como nos EUA, a crise financeira sueca foi precedida também por uma bolha no imobiliário, bolha esta que rebentou no seguimento do forte aumento das taxas de juro. Seguiu-se depois um período conturbado no sistema financeiro e na economia do país, o que levaria o produto interno bruto sueco a cair, em termos reais, a uma taxa acumulada de 5% em 1991, 92 e 93.

    A resposta do governo sueco foi a criação de uma agência com o objectivo de recapitalizar o sector financeiro. Mas os accionistas dos bancos não foram compensados e o governo sueco não estendeu o pacote de ajuda a todos os bancos, mas sim a um pequeno grupo apenas. Para tal usou um modelo microeconómico para determinar quais os bancos que tinham possibilidades de sobreviver e os que não tinham hipótese alguma. Todos os depositantes receberam a promessa explícita do governo de que seriam devidamente compensados. O objectivo era minimizar os custos para o contribuinte; o governo conseguiu cumpri-lo. Este caso ficaria para a história como um dos melhores pacotes de salvação de bancos.”

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