terça-feira, dezembro 09, 2008

Pior a emenda do que o soneto

Eu bem vos digo que, não se podendo ver na blogosfera se a fralda da camisa está por dentro ou por fora das calças, é uma tarefa ciclópica conseguir distinguir os simpatizantes do PCP e do BE. Vem isto a propósito do Congresso Internacional Karl Marx, relativamente ao qual Vasco Pulido Valente serviu uma das suas requentadas sopas de cavalo cansado.

Alguns dos participantes no colóquio ficaram muito enxofrados com a “investigação” de VPV e decidiram responder-lhe. Vários blogues reproduziram o artigo, entre eles o Cinco Dias, onde co-habitam simpatizantes do PCP e do BE, tendo sido incumbido de o postar o moço que já nos dera conta do andamento dos trabalhos do congresso do Campo Pequeno.

Ficámos assim a saber que os autores do artigo (e, por extensão, os que o publicaram) recriminam VPV por fazer uma leitura ortodoxa de Marx. Não acreditam? Então, leiam: “Sem surpresa, em relação a estas e outras questões, a animar o antimarxismo de V.P.V. acabamos por encontrar uma concepção ortodoxa do próprio marxismo.” Certamente que, em final de carreira e cada vez mais encostado à direita, VPV já não esperava um elogio destes.

E onde é que VPV revela a sua “concepção ortodoxa”? Aqui: “Quanto à extinção do proletariado, a sua afirmação só é possível na medida em que o Marx de (sic) V.P.V. partilha duas características definidoras de um marxismo ao qual se contrapuseram inúmeros marxismos: por um lado, a ideia de que só a classe operária industrial é proletariado; e, por outro lado, o provincianismo nacionalista que desde logo ignora os processos de proletarização industrial em curso em países como a China ou a Índia.” Ou por outras palavras, se VPV diz mata Marx, os bloggers do Cinco Dias dizem esfola.

Presumo que os “defensores” de Marx tenham posto na gaveta os Grundisse e regressado aos Manuscritos Económico-filosóficos de 1844. E tão heterodoxos se revelam que colocam Marx ao mesmo nível de Carl Schmitt, uma figura que se envolveu com o nazismo: “Não surpreende, por isso, que V.P.V. se limite a tomar um pensador como Marx (mas poderíamos dizer o mesmo de Adam Smith, Carl Schmidt ou outros) com a mesma leviandade com que julgará as previsões do meteorologista de serviço cujas previsões falham ou acertam.

Com defensores assim, Marx não precisa de detractores. E o velho VPV, que é agora uma estrela da TVI, deve ter pensado como o diabo: — Eu não sou mais inteligente do que eles, tenho é mais experiência.

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