sábado, janeiro 24, 2009

Leituras

• Fernando Madrinha, Freeport: depressa e bem [Expresso, p. 11]:
    “As diligências da Polícia Judiciária no âmbito do caso Freeport — buscas à empresa de um tio de José Sócrates, aos escritórios dos advogados e dos arquitectos do empreendimento — vieram alimentar as suspeitas levantadas em 2005, e retomadas há pouco pelo semanário "Sol", em torno do antigo ministro do Ambiente e hoje chefe do Governo.

    Essas suspeitas são as mais graves alguma vez lançadas sobre um primeiro-ministro. Qualquer que seja o seu fundamento, ou a falta dele, já estão a causar danos irreparáveis na imagem do chefe do Executivo e candidato nas próximas eleições gerais.

    É preciso que as autoridades policiais e judiciais tenham consciência desse facto e ajam em conformidade. O interesse publicamente declarado por José Sócrates em que os investigadores façam o seu trabalho, que o façam bem e com rapidez coincide inteiramente com o interesse de um país em crise e num ano crítico.”
• Henrique Monteiro, JUSTIÇA, POLÍTICA OU LAMA? [Expresso, p. 3]:
    “Em Portugal tornou-se difícil confiar na investigação judicial. Como se vê por comentários na rua e na Internet, em vez de ser respeitada é discutida. A meu ver, porque ela, há muito tempo, não se dá ao respeito

    Quem rouba, desvia ou malbarata dinheiro ou património públicos deve ser punido. Não interessa o lugar que ocupa ou ocupou. Este é um princípio sagrado dos Estados de Direito próprios das sociedades livres.

    Em Portugal isto não acontece. Mas, infelizmente, também ninguém fica totalmente ilibado. Habitualmente, aqueles que são visados ficam num limbo de suspeição que corrói e destrói o sistema democrático e não responsabiliza ninguém.

    Vamos a factos:

    Carlos Melancia foi absolvido de um processo de corrupção que nasceu pouco antes das eleições presidenciais de 1991. Era governador de Macau nomeado pelo Presidente que se recandidatava, Mário Soares. O processo é meio kafkiano, uma vez que houve gente próxima dele condenada por o corromper.

    No processo Casa Pia, Ferro Rodrigues foi envolvido, mas nunca acusado; Paulo Pedroso foi detido, mas despronunciado. De qualquer modo, as suas vidas foram semiarruinadas num processo estranho e tortuoso.

    Nas últimas eleições de Lisboa, vieram a lume diversas suspeitas relacionadas com Portas: os submarinos, os sobreiros, o Casino Lisboa. Nada se sabe, mas não admira que voltem um dia destes.

    Sempre que Santana avança saltam processos mais ou menos estranhos que o envolvem. E agora, saltou de novo o caso 'Freeport', que anda desde 2004 a ser investigado. Mais uma vez irrompeu num ano eleitoral. Posso estar a ser injusto e a induzir conclusões que não são válidas. Mas é sinceramente o que me parece acontecer neste país desgraçado.

    Não se percebe que, perante notícias de um jornal (neste caso "O Sol") a Procuradoria faça um desmentido tão tortuoso ("os autos não contêm, até este momento, indícios juridicamente relevantes que mostrem o envolvimento de um qualquer ministro", etc, etc), para dias depois ir fazer buscas à empresa do tio do primeiro-ministro.

    Naturalmente, o tio e o sobrinho têm personalidades diferentes. Mas a mim, o que me parece é que há uma gestão política do processo. Vai em crescendo, aproximando-se do alvo qual caçador furtivo, utilizando a caixa amplificadora da comunicação social para alavancar investigações.

    A lama é, então, espalhada e sobra sempre um manto de dúvida. Nada é, depois, esclarecido por quem mexeu no processo. Entre o que se arquiva e o que fica em banho-maria, está a esmagadora maioria dos processos que envolvem figuras políticas. A verdade e a mentira diluem-se numa massa repugnante.”

1 comentário :

Anónimo disse...

Excelente analise.

O objectivo é unicamente atacar pessoalmente Socrates, na sua dignidade e honestidade e por essa via impedi-lo de conseguir a maioria absoluta.

Mas esses vis e repugnantes srs.vão levar um grande soco no estomago, Socrates ganhará e por maioria absoluta. O povo não é palerma, todos nós sabemos que tudo isto é orquestrado e tem um mestre.